Ouvi ontem Durão Barroso expressar a mais profunda preocupação do PSD acerca da possibilidade de um referendo pouco participado, justificando assim a sua intenção de o "agarrar" às eleições europeias.
Não te parece que é ver o problema ao contrário - em vez de lutar pelo referendo (informando, publicitando, incentivando o acto), assume à partida que é complicado os eleitores participarem em número suficiente?
A estratégia parece cristalina: obrigar o PS a rever a Constituição (já que a posição dos socialistas é contrária à da junção dos dois plebiscitos) o que este, para não ir a reboque, não o fará, e depois dizer com ar seráfico, "Como não estão criadas as condições para fazer um referendo em tempo útil, por causa da oposição, por mais que queiramos, não o podemos fazer".
Fim da história.
outubro 31, 2003
ESDES COMBUDADORES SÃO UBA DOIA
...o meu constipou-se de uma tal maneira que entupiu o canal do Explorer. Fartei-me de telefonar a amigos, conhecidos, especialistas mais ou menos sérios, especialistas da treta como este teu amigo, ignorantes, meros utilizadores. Todos se desmanchavam a rir quando eu lhes falava do programa que "arranca sem arrancar - não aparece nada no ecran e quando faço ctrl+alt+del lá está ele muito não funcional". Tive manifestações de solidariedade, pois tive, tão incapazes de adiantar soluções como a dos outros mas, pelo menos, momentos de simpatia que me deixavam mais bem-disposto, para logo de seguida cair na mais profunda irritação por não haver aspirina, antibiótico ou supositório que lhe enfiasse que desse resultado.
"É vírus", diziam todos, olha que resposta mais óbvia de se dar. "Mas qual vírus, se tenho o anti-vírus a funcionar e a avaria é selectiva, só dá neste?". Reinstalei o programa, desinstalei, verifiquei a memória, apaguei metade dos programas supérfluos, apaguei programas que me vão fazer falta qualquer dia, actualizei o anti-vírus, desliguei/liguei uma infinidade de vezes, rangi os dentes, rezei, implorei, cocei o couro cabeludo, chamei-lhe mil nomes, a ele, à fábrica que o pariu, aos americanos, japoneses, europeus, asiáticos e toda a clique mundial que inventou a informática para nos levar ao céu e depois nos deixar cair - nada.
De repente, a luz. Encontrei, no meio dos programas activos, prontos a ser desinstalados, um tal N-Case que eu julgava morto e enterrado desde o dia anterior. "Por aqui ainda?" Zumbas - delete. Fez-se rogado, pediu uma ligação urgente à internet, fiquei sem saber se se ia embora ou não.
Experimentei o Explorer outra vez. Funcionou. Oh alegria! Oh felicidade! Não era vírus era bactéria!
(E já agora: se me souberes dizer quem é esta coisa n-case que só sabe criar conflitos, agradeço um mail. É que, assim que religo o pc, lá vem ela, insidiosa, refazer-se no meu espaço para mo entupir outra vez. E não se pode exterminá-la?)
"É vírus", diziam todos, olha que resposta mais óbvia de se dar. "Mas qual vírus, se tenho o anti-vírus a funcionar e a avaria é selectiva, só dá neste?". Reinstalei o programa, desinstalei, verifiquei a memória, apaguei metade dos programas supérfluos, apaguei programas que me vão fazer falta qualquer dia, actualizei o anti-vírus, desliguei/liguei uma infinidade de vezes, rangi os dentes, rezei, implorei, cocei o couro cabeludo, chamei-lhe mil nomes, a ele, à fábrica que o pariu, aos americanos, japoneses, europeus, asiáticos e toda a clique mundial que inventou a informática para nos levar ao céu e depois nos deixar cair - nada.
De repente, a luz. Encontrei, no meio dos programas activos, prontos a ser desinstalados, um tal N-Case que eu julgava morto e enterrado desde o dia anterior. "Por aqui ainda?" Zumbas - delete. Fez-se rogado, pediu uma ligação urgente à internet, fiquei sem saber se se ia embora ou não.
Experimentei o Explorer outra vez. Funcionou. Oh alegria! Oh felicidade! Não era vírus era bactéria!
(E já agora: se me souberes dizer quem é esta coisa n-case que só sabe criar conflitos, agradeço um mail. É que, assim que religo o pc, lá vem ela, insidiosa, refazer-se no meu espaço para mo entupir outra vez. E não se pode exterminá-la?)
outubro 30, 2003
SHEILA CHANDRA
Ia escrever um post encomiástico em relação a esta VOZ. Ao procurar na net mais informações sobre o CD que encontrei ontem na FNAC, lá escondido no meio da world music, descobri que tinha cantado um dos temas do Senhor do Aneis - As 2 Torres.
Curiosos rios que nos correm no fundo da memória.
Olha, ouve já "Speaking in Tongues III" do album "Zen Kisses" e depois envia-o à Maria João. Talvez possam trocar ideias.
Curiosos rios que nos correm no fundo da memória.
Olha, ouve já "Speaking in Tongues III" do album "Zen Kisses" e depois envia-o à Maria João. Talvez possam trocar ideias.
outubro 29, 2003
CUMPLICIDADES
Talvez por pudicícia, talvez por achar que seria mais um passo em direcção a uma comunicação em circuito fechado, nunca fiz o que vou fazer hoje. Uma declaração de empatia quase total com um blog.
Hoje, quero que tu vás directa daqui para a Janela Indiscreta. E saboreies, como eu, o prazer de descobrir e redescobrir coisas muito bonitas escritas por outros poetas, de poderes partilhares percursos, olhares, emoções com as suas (e os seus) autores. Tenho uma particular afeição pelas fotografias apresentadas. E desafiado, roubo uma e falo dela aqui um bocadinho:
© Raymond Depardon
A solidão americana evoca-me sempre uma pintura de Hopper, espaços da noite habitados por espectros, rodeados por um silêncio insuportável. Espaços aquário, um mundo outro que não o nosso, porque aceitá-lo como nosso seria aceitar a nossa solidão.
Depardon retrata essa solidão de um modo diverso. Tudo é feérico em Times Square, há um movimento de vida em todas as coisas (um outro link para os quadros americanos de Mondrian): as luzes, os carros, as pessoas desfocadas da velocidade com que passam. Estático, um homem de sobretudo nega essa vida, essa vivência, coloca-se exterior à acção (repara no pormenor dos sinais: todos apontam em direcções opostas). Um homem solitário mas que parece ser voluntariamente solitário - não é o mundo que o fecha, mas ele que se fecha ao mundo.
Hoje, quero que tu vás directa daqui para a Janela Indiscreta. E saboreies, como eu, o prazer de descobrir e redescobrir coisas muito bonitas escritas por outros poetas, de poderes partilhares percursos, olhares, emoções com as suas (e os seus) autores. Tenho uma particular afeição pelas fotografias apresentadas. E desafiado, roubo uma e falo dela aqui um bocadinho:
© Raymond Depardon
A solidão americana evoca-me sempre uma pintura de Hopper, espaços da noite habitados por espectros, rodeados por um silêncio insuportável. Espaços aquário, um mundo outro que não o nosso, porque aceitá-lo como nosso seria aceitar a nossa solidão.
Depardon retrata essa solidão de um modo diverso. Tudo é feérico em Times Square, há um movimento de vida em todas as coisas (um outro link para os quadros americanos de Mondrian): as luzes, os carros, as pessoas desfocadas da velocidade com que passam. Estático, um homem de sobretudo nega essa vida, essa vivência, coloca-se exterior à acção (repara no pormenor dos sinais: todos apontam em direcções opostas). Um homem solitário mas que parece ser voluntariamente solitário - não é o mundo que o fecha, mas ele que se fecha ao mundo.
Corè, Samos,570-560 aC,MLouvre - Frank Stella,Mas o Menos,Centre Pompidou
"(...)"Cá está ela. Não percebo porque é que a colocam a um canto, é a melhor peça desta época que eles cá têm. Repare na delicadeza dos ritmos, na mestria da composição, na harmonia que emana. Fique quieto, não comece já a olhar para o lado. Deixe que a sucessão de ritmos o envolva, e o olhar os siga." Apaixonado com sempre ao ponto de ter fúrias com a distracção dos outros. O meu mestre, CT, professor perdido na inoperância universitária portuguesa. "Agora não se esqueça, guarde-a na sua memória".
Anos mais tarde, um telefonema, "vá ao Pompidou, eles acabam de comprar o Stella. Lembra-se do Corè do Louvre? Vá lá espreitar o Stella..."
in Os Cadernos de Viagem de Abel Sotero, Paris e outros espaços, sd
Umberto Boccioni. Unique Forms of Continuity in Space. 1913. Bronze (cast 1931), (111.2 x 88.5 x 40 cm), MoMA, Nova Iorque.
"In Unique Forms of Continuity in Space, Boccioni puts speed and force into sculptural form. The figure strides forward. Surpassing the limits of the body, its lines ripple outward in curving and streamlined flags, as if molded by the wind of its passing. Boccioni had developed these shapes over two years in paintings, drawings, and sculptures, exacting studies of human musculature. The result is a three-dimensional portrait of a powerful body in action.
In the early twentieth century, the new speed and force of machinery seemed to pour its power into radical social energy. The new technologies and the ideas attached to them would later reveal threatening aspects, but for Futurist artists like Boccioni, they were tremendously exhilarating. Innovative as Boccioni was, he fell short of his own ambition. In 1912, he had attacked the domination of sculpture by "the blind and foolish imitation of formulas inherited from the past," and particularly by "the burdensome weight of Greece." Yet Unique Forms of Continuity in Space bears an underlying resemblance to a classical work over 2,000 years old, the Nike of Samothrace. There, however, speed is encoded in the flowing stone draperies that wash around, and in the wake of, the figure. Here the body itself is reshaped, as if the new conditions of modernity were producing a new man." in www.moma.org/collection
Foi como se o mundo tivesse perdido todo o ar respirável e, por momentos, tivesse de guardar o pouco que me restava nos pulmões. De boca aberta, sem respirar, a escultura atingiu-me na ignorância do que iria encontrar. Toda aquela massa que, inerte, se movia, o ondular magnífico, inesperado. O dinamismo exposto, declaradamente exposto. Nada de subtis alusões, nada de profundos ritmos, camuflados na matéria à espera de serem descobertos. Aqui, o movimento é uma declaração de guerra: burgueses, despertai!
outubro 28, 2003
REFERENDOS
Se...
- A República não foi referendada (a monarquia também não, mas pelo menos não é obrigatória na Constituição),
- A Constituição não foi referendada,
- A entrada na CEE não foi referendada,
- O tratado de Maastrich não foi referendado,
- A adopção do euro não foi referendada,
então porque é que o Estado Português estaria interessado em que os seus cidadãos referendassem a constituição europeia?
- A República não foi referendada (a monarquia também não, mas pelo menos não é obrigatória na Constituição),
- A Constituição não foi referendada,
- A entrada na CEE não foi referendada,
- O tratado de Maastrich não foi referendado,
- A adopção do euro não foi referendada,
então porque é que o Estado Português estaria interessado em que os seus cidadãos referendassem a constituição europeia?
CLUBITE E IMPERIALISMOS
Bom bate-bola que se avizinha a propósito (ainda e durante muito mais tempo) do Iraque, com começos auspiciosos entre o Terras do Nunca e o "Mar Salgado".
Sabes como sou. Sinto uma comichão muito grande quando me dizem o que devo fazer. Os missionários sempre me causaram muita impressão, tanta boa vontade muitas vezes tão mal aproveitada (não, não estou a falar das campanhas de alfabetização ou de saneamento ou de higiene, estou a falar da introdução da noção de pecado, de culpa, do "mal" em sociedades estáveis que não precisavam desses conceitos para nada, estou a falar de um olhar intuso que, munido do facho da verdade se sobrepõe ao nosso olhar, em nome de uma auto-denominada supremacia moral). Recomendo-te "A Chuva" do Somerset Maugham (com uma chapelada ao Luís Varela Pinto) para me tentar explicar melhor.
Há que levar as coisas com um certo distanciamento para não tomarmos posições demasiadamente influenciadas pela emoção do momento, sem grande apoio factual. A minha costela imprecisa de historiador. É engraçado, ainda há quem acredite na bondade das nações. No caso vertente, na justificação de que os Estados Unidos invadiram o Iraque para lhe oferecer PAZ, PÃO e POVO EM LIBERDADE. Sejamos honestos: invadiram-no para defender o seu modo de vida, para defenderem os seus interesses.
Ah sim, dizes tu que, para nós, ocidentais, os seus interesses são os nossos interesses. Sim, sim. A nós também não nos interessa nada que os EUA assinem os acordos de Quioto. Nem que as tradições culturais, gastronómicas, sociais das Nações se vão perdendo na massa anónima e anódina de um caldo chocho fabricado por colarinhos brancos de empresas localizadas sabe-se lá onde, naturalmente aculturais. Francisco, lá voltamos nós ao nosso "Português Suave" e aos túbaros perdidos.
Voltando ao Iraque e aos EUA: lá por ser ocidental, social-democrata (vá lá, não faças esse sorriso irónico, eu disse "social-democrata", não disse PSD), gostar de montanhas-russas (é uma private joke, sim...), de Nova Iorque e da latitude que é permitida à liberdade de expressão pelas terras do tio Sam, de beber ocasionalmente uma Coca-Cola, não me vou põr a bater com a mão no peito, a rasgar as roupas e a gritar "traição" de cada vez que se aponta um dedo com razão às asneiras que os americanos fazem.
Que a esquerda "bête" critique cegamente tudo o que tem origem por lá, apenas porque sim, não é admiração por aí além, agora eu acreditava que ainda havia alguma direita reflexiva que falava só depois de alguma ponderação. O direitismo primário não é a melhor resposta ao esquerdismo primata, acho. Que pensas tu?
PS - Gosto do "twist" de NMP - "(...) já haviam passado 10 anos sobre o 25 de Abril, e ainda havia meia dúzia de lunáticos que punham bombas em Portugal (...)". Ainda. Ou seja, durante dez anos houve bombas em Portugal aos fim dos quais, ainda havia meia dúzia de lunáticos que as punham. (Vejam lá como são as coisas, a guerra acabou em 45 e trinta anos depois ainda havia meia dúzia de lunáticos que punha bombas na Alemanha e em Itália!)
E já agora: responder às acusações de imperialismo cultural americano com citações da "alta cultura" produzida por lá, é tão imbecil como defender o regime de Saddam com base no bom trabalho feito no Museu Nacional de Bagdad.
Sabes como sou. Sinto uma comichão muito grande quando me dizem o que devo fazer. Os missionários sempre me causaram muita impressão, tanta boa vontade muitas vezes tão mal aproveitada (não, não estou a falar das campanhas de alfabetização ou de saneamento ou de higiene, estou a falar da introdução da noção de pecado, de culpa, do "mal" em sociedades estáveis que não precisavam desses conceitos para nada, estou a falar de um olhar intuso que, munido do facho da verdade se sobrepõe ao nosso olhar, em nome de uma auto-denominada supremacia moral). Recomendo-te "A Chuva" do Somerset Maugham (com uma chapelada ao Luís Varela Pinto) para me tentar explicar melhor.
Há que levar as coisas com um certo distanciamento para não tomarmos posições demasiadamente influenciadas pela emoção do momento, sem grande apoio factual. A minha costela imprecisa de historiador. É engraçado, ainda há quem acredite na bondade das nações. No caso vertente, na justificação de que os Estados Unidos invadiram o Iraque para lhe oferecer PAZ, PÃO e POVO EM LIBERDADE. Sejamos honestos: invadiram-no para defender o seu modo de vida, para defenderem os seus interesses.
Ah sim, dizes tu que, para nós, ocidentais, os seus interesses são os nossos interesses. Sim, sim. A nós também não nos interessa nada que os EUA assinem os acordos de Quioto. Nem que as tradições culturais, gastronómicas, sociais das Nações se vão perdendo na massa anónima e anódina de um caldo chocho fabricado por colarinhos brancos de empresas localizadas sabe-se lá onde, naturalmente aculturais. Francisco, lá voltamos nós ao nosso "Português Suave" e aos túbaros perdidos.
Voltando ao Iraque e aos EUA: lá por ser ocidental, social-democrata (vá lá, não faças esse sorriso irónico, eu disse "social-democrata", não disse PSD), gostar de montanhas-russas (é uma private joke, sim...), de Nova Iorque e da latitude que é permitida à liberdade de expressão pelas terras do tio Sam, de beber ocasionalmente uma Coca-Cola, não me vou põr a bater com a mão no peito, a rasgar as roupas e a gritar "traição" de cada vez que se aponta um dedo com razão às asneiras que os americanos fazem.
Que a esquerda "bête" critique cegamente tudo o que tem origem por lá, apenas porque sim, não é admiração por aí além, agora eu acreditava que ainda havia alguma direita reflexiva que falava só depois de alguma ponderação. O direitismo primário não é a melhor resposta ao esquerdismo primata, acho. Que pensas tu?
PS - Gosto do "twist" de NMP - "(...) já haviam passado 10 anos sobre o 25 de Abril, e ainda havia meia dúzia de lunáticos que punham bombas em Portugal (...)". Ainda. Ou seja, durante dez anos houve bombas em Portugal aos fim dos quais, ainda havia meia dúzia de lunáticos que as punham. (Vejam lá como são as coisas, a guerra acabou em 45 e trinta anos depois ainda havia meia dúzia de lunáticos que punha bombas na Alemanha e em Itália!)
E já agora: responder às acusações de imperialismo cultural americano com citações da "alta cultura" produzida por lá, é tão imbecil como defender o regime de Saddam com base no bom trabalho feito no Museu Nacional de Bagdad.
outubro 27, 2003
MEDICINA
Contributo para mais uma discussão sobre o futuro.
Quantos alunos entram nos cursos de Medicina, por ano?
Quantos licenciados em Medicina se formam, por ano?
Quantos médicos se reformam, por ano?
Porque é que o país precisa de contratar médicos estrangeiros quando (penso que o actual; pode ter sido um antecessor) o ministro da Educação diz que não é preciso abrir mais vagas nas Faculdades de Medicina?
Qual é o reflexo, em termos de características humanas (empatia com os doentes, formação humanística), de todos os recentes actuais e futuros formandos terem uma média de liceu superior a 18 valores?
Que consequências teria, em termos de honorários médicos e ocupação de vagas no interior, um aumento de, por exemplo, 50% no número de licenciados em Medicina?
A quem aproveita este estado de coisas (se é que a alguém)?
Quantos alunos entram nos cursos de Medicina, por ano?
Quantos licenciados em Medicina se formam, por ano?
Quantos médicos se reformam, por ano?
Porque é que o país precisa de contratar médicos estrangeiros quando (penso que o actual; pode ter sido um antecessor) o ministro da Educação diz que não é preciso abrir mais vagas nas Faculdades de Medicina?
Qual é o reflexo, em termos de características humanas (empatia com os doentes, formação humanística), de todos os recentes actuais e futuros formandos terem uma média de liceu superior a 18 valores?
Que consequências teria, em termos de honorários médicos e ocupação de vagas no interior, um aumento de, por exemplo, 50% no número de licenciados em Medicina?
A quem aproveita este estado de coisas (se é que a alguém)?
APUPOS
Uns rejubilam, outros desvalorizam. Uns sabem, mas como lhes dá jeito, fazem de conta que não. Outros não percebem mesmo.
Comentadores oficiais e blogocomentadores:
- Jorge Sampaio, Durão Barroso e Pedro Santana Lopes são todos lagartos. Queriam que 65 mil lampiões os aplaudissem no seu estádio?
Comentadores oficiais e blogocomentadores:
- Jorge Sampaio, Durão Barroso e Pedro Santana Lopes são todos lagartos. Queriam que 65 mil lampiões os aplaudissem no seu estádio?
SLOW FOOD II
"(...) os olhos colaram-se à montra, extasiados. A Luísa nunca tinha assistido a uma mise-en-scéne tão perfeita em torno de personagens que, de tão corriqueiras em Lisboa, merecem apenas um amontoar nas bancas dos magarefes. Pareceu-me o nosso Jacinto, deslumbrado perante as favas de Tormes. (...)"
in Os Cadernos de Viagem de Abel Sotero, Alemanha e Aústria, sd
Gosto muito da composição desta fotografia, ainda que sinta que lhe falta um maior equilíbrio de tons.
Por um momento senti-me presenciar um daqueles momentos únicos que fizeram de Cartier-Bresson um mestre. O Homem que, sentado, parede escutar em confissão a menina do quadro; as duas verticais, do espectador e da figura pintada, em consonância; a mulher que parece deslocar-se em obediência ao braço esticado na tela; o guarda, à maneira de um encomendante renascentista que se alheia da cena, fazendo e não fazendo parte dela; o pórtico que limita a acção, criando uma fronteira entre o lado do observador exterior à fotografia e o lado da acção.
AS MENINAS QUE PAGUEM A CRISE
Ouvi a "ameaça" há mais de um ano feita por um responsável das Finanças e achei que, apesar do posto importante ocupado pelo senhor, não passava de esperança retórica, própria de um manga-de-alpaca sequioso de mais receita, sem hipótese de passar no crivo político do seu ministério ou, em último caso, na análise do conselho de ministros.
Enganei-me.
Este é mais um degrau descido a caminho da amoralidade estatal. Uma actividade pode ser ilegal à vontade, mas lá deixar de pagar o seu impostozinho, isso é que não!. Tu, que já me vais conhecendo, explica-me, desmente-me, convence-me da bondade da coisa. O Estado que proíbe a existência é o mesmo que, tacitamente a aceita?
Mas uma esperança se mantém: será que isto afinal é uma magistral armaldilha para apanhar profissionais "ilegais"? Estou a imaginar um diácono Remédios sentado à sua secretária, a dizer, "Bom, meus filhos, este ano extorquisteis muito dinheiro aos vossos clientes... taxa de 40%... passem lá os chequezinhos ... e agora ide... ide... falar com aqueles dois senhores de preto com umas algemas na mão que querem muito falar convosco!"
Enganei-me.
Este é mais um degrau descido a caminho da amoralidade estatal. Uma actividade pode ser ilegal à vontade, mas lá deixar de pagar o seu impostozinho, isso é que não!. Tu, que já me vais conhecendo, explica-me, desmente-me, convence-me da bondade da coisa. O Estado que proíbe a existência é o mesmo que, tacitamente a aceita?
Mas uma esperança se mantém: será que isto afinal é uma magistral armaldilha para apanhar profissionais "ilegais"? Estou a imaginar um diácono Remédios sentado à sua secretária, a dizer, "Bom, meus filhos, este ano extorquisteis muito dinheiro aos vossos clientes... taxa de 40%... passem lá os chequezinhos ... e agora ide... ide... falar com aqueles dois senhores de preto com umas algemas na mão que querem muito falar convosco!"
KILL BILL
Tarantino mantém o fraccionamento temporal usado anteriormente com sucesso.
Tarantino, mais do que encenar violência, corporiza os manga.
Tarantino usa a música como contraponto à violência: o humor contra o terror.
As citações são múltiplas. A mais óbvia é a da cena "mosh/desmosh" do Matrix Reloaded que inicia a fantástica sequência do restaurante.
Depois da tempestade a bonança: a batalha final, ao invés de ser o culminar da violência é encenada num idílico cenário. Curiosa a escolha do jardim japonês como palco. O espaço artificial artificial por excelência, a negação da natureza. A negação da realidade.
O plano com a pequena nora em primeiro plano e as combatentes no fundo - dos planos mais bonitos que vi recentemente.
Tarantino, mais do que encenar violência, corporiza os manga.
Tarantino usa a música como contraponto à violência: o humor contra o terror.
As citações são múltiplas. A mais óbvia é a da cena "mosh/desmosh" do Matrix Reloaded que inicia a fantástica sequência do restaurante.
Depois da tempestade a bonança: a batalha final, ao invés de ser o culminar da violência é encenada num idílico cenário. Curiosa a escolha do jardim japonês como palco. O espaço artificial artificial por excelência, a negação da natureza. A negação da realidade.
O plano com a pequena nora em primeiro plano e as combatentes no fundo - dos planos mais bonitos que vi recentemente.
SLOW FOOD
Desde que o Expresso me fez o favor de publicar um livro de Montalbán em regime de episódios no distante Verão de noventa e tal, tenho estado fascinado por essa personagem fantástica, Pepe Carvalho. Não tanto pelos seus dotes investigatórios, o seu passado contraditório, os seus amigos extra-ordinários, a sua cidade. Não, o que me fascina e sempre invejei ao autor é a cultura gastronómica, a forma como organiza a sua vida à volta de um revuelto, uma tortilla, um guiso, um vinho profundo de uma adega desconhecida.
Terá sido talvez o último de uma longa série de impulsos para me apaixonar pelo que sabe bem, pelo que é genuíno e nos chegou legado pelo passar das idades do homem e da terra.
Em Itália, começou esse movimento em direcção às raízes que, muito apropriadamente, se crismou Slow Food. Visitei hoje o seu site, coisa que não fazia desde o ano passado. Parece uma corporação. Espero que não globalize.
Terá sido talvez o último de uma longa série de impulsos para me apaixonar pelo que sabe bem, pelo que é genuíno e nos chegou legado pelo passar das idades do homem e da terra.
Em Itália, começou esse movimento em direcção às raízes que, muito apropriadamente, se crismou Slow Food. Visitei hoje o seu site, coisa que não fazia desde o ano passado. Parece uma corporação. Espero que não globalize.
outubro 26, 2003
ALVALADE XXI - ARQUITECTURA?
Olha, fiquei tão em estado de choque que me foge o pé para a chinela. Não tenho forças para teorizar, para discutir em termos racionais. O que é que deu a gente que deve estar habituada a ver e a usar arquitectura decente, que deveria saber que, neste caso (por razões de imagem, de auto-estima de associados e simpatizantes e, last not least porque precisam de atrair clientes) era importante apresentar um espaço marcante, simpático, envolvente, o que é que deu a esta gente, insisto, para ir na conversa do autor do projecto e aceitar UMA MERDA DAQUELAS?
Falo, claro está, do centro comercial que o Sporting espera vir a ser uma das pedras de sustentação económica e que está adjacente ao novo campo de futebol. Sinteticamente:
- Uma diferença de cotas entre a plataforma dos transportes públicos e a de acesso ao centro, para além de muito grande (talvez a ser pensada com recurso a uma solução de socalcos?), mal resolvida com uma escadaria muito íngreme, difícil de transpor. Ao cortar a vista do edifício, cria uma expectativa de grandiosidade que é completamente derrotada com a banalidade do pátio superior;
- Casinhotos a fazer de bilheteiras que disfarçam a banalidade do traço com a suposta inventiva dos azulejos - nem a provocação resulta (por mais feéricos que sejam, ficarão sempre associados a revestimento de casa-de-banho, de cozinhas) nem esconde o facto de tudo parecer forçado, feito em cima do joelho, por aprendizes de desenhador. Caso óbvio de função sem um pingo de forma;
- Soluções de acabamentos interiores incoerentes entre si e completamente descabidos - porquê riscas laranja no pavimento, porquê vãos forrados a pseudo-cabedal azul, porquê (e é a pirosice-mor!) pseudo-relva pendurada de vigas?
- Pobreza geral de acabamentos- tudo muito longe da (pseudo)ousadia das Amoreiras e muito pouco convicente para o público-alvo que se pretende "roubar" a Colombos, Vascos da Gama, Cortes Inglês, etc. Até os novos centros comerciais de subúrbio se portam melhor!
- Pouca uva para tanta parra anunciada: espaços pequenos, pouco estimulantes. A janela que espreita para o interior do estádio parece pouca oferta para os visitantes, com a agravante de dar uma imagem de um espaço muito menor do que aparece na televisão.
Uma saloice pegada. Esperemos que não seja este igualmente o destino do Parque Mayer, já que os começos parecem iguais: arquitecto "de prestígio", grandes intenções, controlo orçamental apertado para as necessidades do projectista, projectos de execução feitos por outrém que não o autor do projecto geral e estudo prévio...
Ai, ai....
Falo, claro está, do centro comercial que o Sporting espera vir a ser uma das pedras de sustentação económica e que está adjacente ao novo campo de futebol. Sinteticamente:
- Uma diferença de cotas entre a plataforma dos transportes públicos e a de acesso ao centro, para além de muito grande (talvez a ser pensada com recurso a uma solução de socalcos?), mal resolvida com uma escadaria muito íngreme, difícil de transpor. Ao cortar a vista do edifício, cria uma expectativa de grandiosidade que é completamente derrotada com a banalidade do pátio superior;
- Casinhotos a fazer de bilheteiras que disfarçam a banalidade do traço com a suposta inventiva dos azulejos - nem a provocação resulta (por mais feéricos que sejam, ficarão sempre associados a revestimento de casa-de-banho, de cozinhas) nem esconde o facto de tudo parecer forçado, feito em cima do joelho, por aprendizes de desenhador. Caso óbvio de função sem um pingo de forma;
- Soluções de acabamentos interiores incoerentes entre si e completamente descabidos - porquê riscas laranja no pavimento, porquê vãos forrados a pseudo-cabedal azul, porquê (e é a pirosice-mor!) pseudo-relva pendurada de vigas?
- Pobreza geral de acabamentos- tudo muito longe da (pseudo)ousadia das Amoreiras e muito pouco convicente para o público-alvo que se pretende "roubar" a Colombos, Vascos da Gama, Cortes Inglês, etc. Até os novos centros comerciais de subúrbio se portam melhor!
- Pouca uva para tanta parra anunciada: espaços pequenos, pouco estimulantes. A janela que espreita para o interior do estádio parece pouca oferta para os visitantes, com a agravante de dar uma imagem de um espaço muito menor do que aparece na televisão.
Uma saloice pegada. Esperemos que não seja este igualmente o destino do Parque Mayer, já que os começos parecem iguais: arquitecto "de prestígio", grandes intenções, controlo orçamental apertado para as necessidades do projectista, projectos de execução feitos por outrém que não o autor do projecto geral e estudo prévio...
Ai, ai....
PANTEÕES
Tenho amigos de esquerda que se sentiram ofendidos com a possibilidade de transladação dos restos mortais de Amália Rodrigues para os Jerónimos ou mesmo para o Panteão Nacional. "Tanta gente que merecia muito mais..." diziam. Acredito assim que, para eles como, generalizando, para a esquerda em geral, a discussão se centra em torno do merecimento e não da existência de um local onde se elevem a exemplo as vidas e os actos dos mais excelsos.
Para os meus amigos de direita, um símbolo nacional é um símbolo nacional que há que respeitar e honrar sem grandes questões de fundo. Seja A Pátria, Deus, a Nossa Senhora de Fátima, os Heróis ou a Gesta Marítima, todos merecem devoção e respeito, entidade já incorpóreas que consubustanciam referências que balizam certezas e apagam dúvidas.
Assim sendo, onde está o clamor, onde os protestos enérgicos? Onde se meteu o Paulo Portas que ajoelhou e rezou junto dos restos mortais do Coronel Magiolo Gouveia? Onde está o Pedro Roseta que é suposto velar pela Cultura e Monumentos Nacionais? Onde está o Manuel Maria Carrilho? O Vasco Graça Moura? O Eduardo prado Coelho? O Francisco Louçã?
Que o povinho ande adormecido e já se esteja borrifando para tudo o que seja símbolo da República, já se tinha percebido. Os outros... estranho não achas?
Do que é que eu estou a falar? Ainda não disse, pois é. Do aluguer do Panteão Nacional para apresentação de um livro. Se isto não escandaliza ninguém, se é normal rentabilizar os monumentos e edifícios de referência deste país, bom, alugue-se a igreja dos Jerónimos para raves, a Batalha para escaladas, o monumento ao 25 de Abril para colocar banners de publicidade e a Assembleia da República para a próxima festa de noivado do deputado mais mediático dos últimos tempos.
(Se eu quisesse ser mesmo ofensivo - só para exprimir melhor o grau de indignação que esta perda do sentido das coisas me provoca - acrescentaria "e os Palácios de Belém e de S.Bento para casas de meninas" mas não digo, obviamente. Ele há coisas que ainda provocam muita animosidade).
Para os meus amigos de direita, um símbolo nacional é um símbolo nacional que há que respeitar e honrar sem grandes questões de fundo. Seja A Pátria, Deus, a Nossa Senhora de Fátima, os Heróis ou a Gesta Marítima, todos merecem devoção e respeito, entidade já incorpóreas que consubustanciam referências que balizam certezas e apagam dúvidas.
Assim sendo, onde está o clamor, onde os protestos enérgicos? Onde se meteu o Paulo Portas que ajoelhou e rezou junto dos restos mortais do Coronel Magiolo Gouveia? Onde está o Pedro Roseta que é suposto velar pela Cultura e Monumentos Nacionais? Onde está o Manuel Maria Carrilho? O Vasco Graça Moura? O Eduardo prado Coelho? O Francisco Louçã?
Que o povinho ande adormecido e já se esteja borrifando para tudo o que seja símbolo da República, já se tinha percebido. Os outros... estranho não achas?
Do que é que eu estou a falar? Ainda não disse, pois é. Do aluguer do Panteão Nacional para apresentação de um livro. Se isto não escandaliza ninguém, se é normal rentabilizar os monumentos e edifícios de referência deste país, bom, alugue-se a igreja dos Jerónimos para raves, a Batalha para escaladas, o monumento ao 25 de Abril para colocar banners de publicidade e a Assembleia da República para a próxima festa de noivado do deputado mais mediático dos últimos tempos.
(Se eu quisesse ser mesmo ofensivo - só para exprimir melhor o grau de indignação que esta perda do sentido das coisas me provoca - acrescentaria "e os Palácios de Belém e de S.Bento para casas de meninas" mas não digo, obviamente. Ele há coisas que ainda provocam muita animosidade).
outubro 25, 2003
IMAGENS
Já que o tema da sucessão de Ferro Rodrigues está lançado (e um dia gostaria de te escrever um post sobre as simetrias deste com Portas) proponho-te uma análise que, fosse este um país descomplexado, já estaria a fervinhar na redacção da Caras: qual o candidato com imagem para vencer as próximas eleições? (Os nossos publicitários bem que podiam dar uma ajuda, aqui ou aqui)
Num país que elegeu candidatos de patilha ribatejana e ray-bans enigmáticos; de irritante voz metálica e saliva no canto da boca (o pão-de-ló já veio perto do fim); com bigode sul-americano (cortou-o a tempo, eu sei) e pose de cura de aldeia; com cabelo seboso a sujar o colarinho da gravata e regulares apitos asmáticos; de estatura tão meã que parecia estar sempre sentado nas cimeiras internacionais; de proverbial má pronúncia francesa, esta análise afigurar-se-ia pouco fiável. E no entanto
- Jorge Coelho?
Num país que elegeu candidatos de patilha ribatejana e ray-bans enigmáticos; de irritante voz metálica e saliva no canto da boca (o pão-de-ló já veio perto do fim); com bigode sul-americano (cortou-o a tempo, eu sei) e pose de cura de aldeia; com cabelo seboso a sujar o colarinho da gravata e regulares apitos asmáticos; de estatura tão meã que parecia estar sempre sentado nas cimeiras internacionais; de proverbial má pronúncia francesa, esta análise afigurar-se-ia pouco fiável. E no entanto
- Jorge Coelho?
MÚSICA
Para fugir ao julgamento do tempo, refugiei-me nos valores seguros, filtrados, coados pela recepção crítica de anos e anos: o jazz, a música erudita.
Nos teus blogs comecei a ler nomes que me tinha desacostumado de procurar. Lamb. Mazzy Star. Natalie Merchant. Lambchop. Beth Gibbons.
Reciclarmo-nos sabe bem.
RELIGIÕES
O Terras do Nunca começou a reflexão a propósito do encontro interreligioso promovido pela Fundação Eugénio de Almeida, que o Aviz comentou ontem - vai lê-los (se o não fizeste já...)
Sendo crentes, sendo praticantes da religião que professamos, não nos sobra espaço para aceitarmos os dogmas ou as premissas da religião diferente do outro porque isso seria aceitar a falibilidade dos nossos dogmas.
Podemos permitirmo-nos a condescendência de aceitar a sua posição religiosa - é uma questão de bondade. Como tal, assumiremos sempre uma posição de superioridade em relação ao outro. E o diálogo estará então, condenado sempre à nossa disponibilidade, passando a ser uma questão de disposição e não de princípio, uma audição sem recepção. Uma conversa de surdos.
E sendo os lapsos linguais a mais fascinante janela sobre os rios profundos que em nós correm, uso como exemplo as expressões que toda a imprensa desportiva vem citando ou inventando em relação ao novo campo de futebol do benfica: catedral e inferno da luz. Fernando Seara tem a bondade de me ajudar, confessando-se católico praticante, falando da sensação de catedral que o estádio lhe dá e do inferno que irá ser para os adversários. Que melhor imagem? A nossa religião é o inferno dos outros.
Sendo crentes, sendo praticantes da religião que professamos, não nos sobra espaço para aceitarmos os dogmas ou as premissas da religião diferente do outro porque isso seria aceitar a falibilidade dos nossos dogmas.
Podemos permitirmo-nos a condescendência de aceitar a sua posição religiosa - é uma questão de bondade. Como tal, assumiremos sempre uma posição de superioridade em relação ao outro. E o diálogo estará então, condenado sempre à nossa disponibilidade, passando a ser uma questão de disposição e não de princípio, uma audição sem recepção. Uma conversa de surdos.
E sendo os lapsos linguais a mais fascinante janela sobre os rios profundos que em nós correm, uso como exemplo as expressões que toda a imprensa desportiva vem citando ou inventando em relação ao novo campo de futebol do benfica: catedral e inferno da luz. Fernando Seara tem a bondade de me ajudar, confessando-se católico praticante, falando da sensação de catedral que o estádio lhe dá e do inferno que irá ser para os adversários. Que melhor imagem? A nossa religião é o inferno dos outros.
ABAIXO A TIRANIA
A Bravenet libertou-me da tirania das estatísticas. Estou impedido de verificar o número de vezes que me visitas, os heterónimos que trazes, as repetições, as desistências de mim. Sem a maldição dos shares, a vida torna-se mais fácil.
GOLDBERG
A ti deu-te para outra coisa,claro. A mim, esta paixão pelas "Variações Goldberg" deu-me para comprar tudo quanto é versão. A de Gould continua a ser a referência. Para além da mestria, da visão magnífica, há aquele murmúrio subjacente, aquele cantarolar que, ao mesmo tempo que destroi a austeridade dos intérpretes clássicos (o Nigel Kennedy é um palhaço, não conta...), constroi uma segunda versão, mais pessoal porque provavelmente inconsciente ou, pelo menos involuntária (talvez mais sem a determinação da razão do que da vontade, mas chamar-lhe irracional...).
Ontem comprei o Leonhardt. O rigor de sempre, uma beleza austera, correcta sim, talvez um pouco árida, muito apetecível, no entanto. Lembrei-me do único concerto a que assisti dele, 6 da noite na Gulbenkian (where else?). Uma mise-en-scene extraordinária: o cravo, um candeeiro de pé, e aquela figura, quase um João de Deus a sair dos esgotos em Alfama, sem a noção de Mal. Foi quase como se estivese na minmha sala, sózinho, a ouvir um amigo tocar.
Ontem comprei o Leonhardt. O rigor de sempre, uma beleza austera, correcta sim, talvez um pouco árida, muito apetecível, no entanto. Lembrei-me do único concerto a que assisti dele, 6 da noite na Gulbenkian (where else?). Uma mise-en-scene extraordinária: o cravo, um candeeiro de pé, e aquela figura, quase um João de Deus a sair dos esgotos em Alfama, sem a noção de Mal. Foi quase como se estivese na minmha sala, sózinho, a ouvir um amigo tocar.
outubro 23, 2003
DEMAGOGIA ou THE MAYOR'S PARK part II
Aviso desde já. Este post está cheio de demagogia.
O último desenvolvimento do caso que PSL fosse o mais mediático do ano - a recuperação do Parque Mayer -, é a comunicação, feita pelo Presidente em Barcelona, de que a CML está disponÃvel para pagar a parte do projecto referente aos edifícios que ficarão propriedade municipal, deixando aos promotores privados (subentende-se que já colocados em fila e de braço no ar a pedir "escolhe-me a mim! escolhe-me a mim!") a suprema honra de arcar com os restantes 50% dos honorários do ilustre arquitecto.
Mais uma vez as razões apresentadas são falaciosas ("há muita gente disposta a pagar o pedido pela honra de ter um projecto assinado por Gehry") e demonstrativas ou de uma total ignorância face às realidades do mundo da promoção imobiliária ou de uma total demagogia.
Eu bem sei que há muita gente a comprar gato por lebre no mercado imobiliário, em especial no sector da habitação. Mas aqui estamos a falar de investimento nos sectores do comércio e seerviços, ou seja, nos sectores em que os investimentos são (ou deverão ser) criteriosamente estudados, onde cada euro tem o valor real e não o inconsistente peso de um item nas contas do erário público.
Ajudem-me a fazer contas. Simples, só para começo de conversa. A um preço de construção por metro quadrado, já muito inflacionado, para um edifício de comércio e serviços de 150 contos, corresponderá, cumprindo-se os valores determinados por lei para honorários (os reais são sempre inferiores) cerca de 10% para a globalidade dos projectos. Ou seja, aos 3,5 milhõs de contos para pagamento de honorários reservados
aos privados, corresponderiam (caso os autores do projecto fossem portugueses) cerca de 230.000 metros quadrados de área de construção. Por exemplo, um edifício de 46 andares com uma área de implantação equivalente a um campo de futebol (100x50m).
De acordo com o preconizado no Plano Director, a área de construção total permitida é de cerca de 29.500 metros quadrados que o protocolo assinado por Jorge Sampaio enquanto Presidente da Câmara aumentou para 36.000 de área vendável. Contas redondas, um valor 6 vezes inferior ao determinado no parágrafo anterior. Quem quer pagar 6 vezes mais por um projecto?
Há por aí uns quantos exibicionistas que gostam de pagar o valor equivalente ao de um apartamento por um carro que está limitado por lei a andar a menos de metade da sua velocidade de ponta, que de revisão de oficina paga o mesmo que umas férias nas Caraíbas e que consome o mesmo de gasolina que uma frota inteira de taxistas. Mas empresários dispostos a deitar dinheiro pela janela desta forma....
Só mais um pequeno pormenor: o valor dos honorários pela qual PSL se responsabiliza equivale à recuperação de 50.000 (cinquenta mil) metros quadrados da Baixa Pombalina. Na balança equívoca das comparações qual é a que pesa mais?
O último desenvolvimento do caso que PSL fosse o mais mediático do ano - a recuperação do Parque Mayer -, é a comunicação, feita pelo Presidente em Barcelona, de que a CML está disponÃvel para pagar a parte do projecto referente aos edifícios que ficarão propriedade municipal, deixando aos promotores privados (subentende-se que já colocados em fila e de braço no ar a pedir "escolhe-me a mim! escolhe-me a mim!") a suprema honra de arcar com os restantes 50% dos honorários do ilustre arquitecto.
Mais uma vez as razões apresentadas são falaciosas ("há muita gente disposta a pagar o pedido pela honra de ter um projecto assinado por Gehry") e demonstrativas ou de uma total ignorância face às realidades do mundo da promoção imobiliária ou de uma total demagogia.
Eu bem sei que há muita gente a comprar gato por lebre no mercado imobiliário, em especial no sector da habitação. Mas aqui estamos a falar de investimento nos sectores do comércio e seerviços, ou seja, nos sectores em que os investimentos são (ou deverão ser) criteriosamente estudados, onde cada euro tem o valor real e não o inconsistente peso de um item nas contas do erário público.
Ajudem-me a fazer contas. Simples, só para começo de conversa. A um preço de construção por metro quadrado, já muito inflacionado, para um edifício de comércio e serviços de 150 contos, corresponderá, cumprindo-se os valores determinados por lei para honorários (os reais são sempre inferiores) cerca de 10% para a globalidade dos projectos. Ou seja, aos 3,5 milhõs de contos para pagamento de honorários reservados
aos privados, corresponderiam (caso os autores do projecto fossem portugueses) cerca de 230.000 metros quadrados de área de construção. Por exemplo, um edifício de 46 andares com uma área de implantação equivalente a um campo de futebol (100x50m).
De acordo com o preconizado no Plano Director, a área de construção total permitida é de cerca de 29.500 metros quadrados que o protocolo assinado por Jorge Sampaio enquanto Presidente da Câmara aumentou para 36.000 de área vendável. Contas redondas, um valor 6 vezes inferior ao determinado no parágrafo anterior. Quem quer pagar 6 vezes mais por um projecto?
Há por aí uns quantos exibicionistas que gostam de pagar o valor equivalente ao de um apartamento por um carro que está limitado por lei a andar a menos de metade da sua velocidade de ponta, que de revisão de oficina paga o mesmo que umas férias nas Caraíbas e que consome o mesmo de gasolina que uma frota inteira de taxistas. Mas empresários dispostos a deitar dinheiro pela janela desta forma....
Só mais um pequeno pormenor: o valor dos honorários pela qual PSL se responsabiliza equivale à recuperação de 50.000 (cinquenta mil) metros quadrados da Baixa Pombalina. Na balança equívoca das comparações qual é a que pesa mais?
ARQUITECTURA 2 (a propósito do mais recente projecto de Frank Gehry)
Post arquitectónico não necessariamente ortodoxo
Num mundo saturado de imagens, sedento de referentes visuais, embriagado de signos, "boa arquitectura" não significa necessariamente tudo sacrificar no altar da forma - a arquitectura utilizável não precisa do show-off. Mas a arquitectura fruível sim.
Não me pronunciando sobre a organização interior dos espaços, a sua distribuição, a lógica dos mesmos, a banalidade ou exequibilidade ou racionalidade dos percursos possíveis, a interactividade e as cumplicidades geradas entre edifício e utilizadores porque o não visitei, apenas quero deixar algumas sugestões para o olhar exterior:
- Será que o fascínio que se sente pelos edifícios da mais recente obra de Gehry começa na voluptuosidade das curvas?
- É a diferença no tratamento dos volumes?
- A aparente aleatoriedade do traço, uma sensorialidade que se parece sobrepor à racionalidade?
- A utilização de materiais incomuns que subverte as expectativas do espectador no que considera ser o estabelecido?
- A insustentável leveza do construído?
- O feérico, o lúdico, o lado infantil que se introduz no mundo adulto?
Para ver
Num mundo saturado de imagens, sedento de referentes visuais, embriagado de signos, "boa arquitectura" não significa necessariamente tudo sacrificar no altar da forma - a arquitectura utilizável não precisa do show-off. Mas a arquitectura fruível sim.
Não me pronunciando sobre a organização interior dos espaços, a sua distribuição, a lógica dos mesmos, a banalidade ou exequibilidade ou racionalidade dos percursos possíveis, a interactividade e as cumplicidades geradas entre edifício e utilizadores porque o não visitei, apenas quero deixar algumas sugestões para o olhar exterior:
- Será que o fascínio que se sente pelos edifícios da mais recente obra de Gehry começa na voluptuosidade das curvas?
- É a diferença no tratamento dos volumes?
- A aparente aleatoriedade do traço, uma sensorialidade que se parece sobrepor à racionalidade?
- A utilização de materiais incomuns que subverte as expectativas do espectador no que considera ser o estabelecido?
- A insustentável leveza do construído?
- O feérico, o lúdico, o lado infantil que se introduz no mundo adulto?
Para ver
outubro 22, 2003
ARQUITECTURA I
Post arquitectónico não necessariamente ortodoxo
Começando como a criação de um espaço estranho dentro do espaço natural movida pela necessidade do homem de construir um abrigo que o protegesse das agressões desse mesmo espaço maior (onde cabiam os deuses do céu e da terra, das águas e dos ares)) a arquitectura evoluiu com o nascimento do gosto, esse filho dilecto do ócio. De um espaço puramente funcional ao espaço onde deuses e homens são incensados vai uma caminhada de séculos que traduz a evolução do homem migrante ao homem sedentário, da tribo à nação.
A arquitectura realiza o sonho, publicita o poder, demonstra teologias. Cumpre a função mas acrescenta a forma, utiliza os materiais e molda-os num gesto, cria técnicas para avançar na ousadia.
A forma é um fim, a função um pretexto.
Herdeiras profundas da Revolução francesa, as teorias modernistas pretenderam pôr fim ao sonho em nome de um outro sonho - liberdade, fraternidade, igualdade. A função, estribada no uso quase exclusivo da razão, assumiria um poder absoluto, restando à forma o papel submisso do complemento. A recta sobrepor-se-ia à curva. O cubo, à esfera.
Infelizmente, para além de utopicamente errada (e demonstrativamente errada na evolução da maioria dos seus criadores), esta era possibilitou a multiplicação exponencial de edifícios concebidos segundo a fórmula "less is more" - menos custos mais lucros : o santo credo capitalista em pujante demonstração de força.
Os subúrbios europeus são o retrato desse assalto à arquitectura. As cidades sofrem também do mesmo mal. Edifícios sem alma, sem gesto, sem provocação. Sem alegria.
Reacções pontuais procuram contrariar este espírito. Arquitectura espectáculo, arquitectura "statement": as grandes obras impulsionadas por Miterrand marcam o estilo. Promotores iluminados públicos e privados, seguem-lhe as pisadas. Portugal, tímido e atrasado procura o mesmo: sede da CGD, Centro Cultural de Belém, EXPO 92. Taveira procura explorar os sentimentos de inferioridade cultural de promotores e cavalga a onda com a sua arquitectura plasmante de referências múltiplas.
Tudo isto vem a propósito de uma referência do Mar Salgado ao novo Gehry e um convite à sua crítica. Mas o post já vai tão longo, que o Gehry fica para a próxima.
Começando como a criação de um espaço estranho dentro do espaço natural movida pela necessidade do homem de construir um abrigo que o protegesse das agressões desse mesmo espaço maior (onde cabiam os deuses do céu e da terra, das águas e dos ares)) a arquitectura evoluiu com o nascimento do gosto, esse filho dilecto do ócio. De um espaço puramente funcional ao espaço onde deuses e homens são incensados vai uma caminhada de séculos que traduz a evolução do homem migrante ao homem sedentário, da tribo à nação.
A arquitectura realiza o sonho, publicita o poder, demonstra teologias. Cumpre a função mas acrescenta a forma, utiliza os materiais e molda-os num gesto, cria técnicas para avançar na ousadia.
A forma é um fim, a função um pretexto.
Herdeiras profundas da Revolução francesa, as teorias modernistas pretenderam pôr fim ao sonho em nome de um outro sonho - liberdade, fraternidade, igualdade. A função, estribada no uso quase exclusivo da razão, assumiria um poder absoluto, restando à forma o papel submisso do complemento. A recta sobrepor-se-ia à curva. O cubo, à esfera.
Infelizmente, para além de utopicamente errada (e demonstrativamente errada na evolução da maioria dos seus criadores), esta era possibilitou a multiplicação exponencial de edifícios concebidos segundo a fórmula "less is more" - menos custos mais lucros : o santo credo capitalista em pujante demonstração de força.
Os subúrbios europeus são o retrato desse assalto à arquitectura. As cidades sofrem também do mesmo mal. Edifícios sem alma, sem gesto, sem provocação. Sem alegria.
Reacções pontuais procuram contrariar este espírito. Arquitectura espectáculo, arquitectura "statement": as grandes obras impulsionadas por Miterrand marcam o estilo. Promotores iluminados públicos e privados, seguem-lhe as pisadas. Portugal, tímido e atrasado procura o mesmo: sede da CGD, Centro Cultural de Belém, EXPO 92. Taveira procura explorar os sentimentos de inferioridade cultural de promotores e cavalga a onda com a sua arquitectura plasmante de referências múltiplas.
Tudo isto vem a propósito de uma referência do Mar Salgado ao novo Gehry e um convite à sua crítica. Mas o post já vai tão longo, que o Gehry fica para a próxima.
O QUE É A NOITE
A minha pequena contribuição para os que se interrogam sobre a natureza da noite:
A janela que se abre sobre as luzes laranja triste da rua sózinha. A música de Vuelvo al Sur tocada em Nova Iorque por Galliano. Imagens da cidade nocturna no computador, ruas molhadas, reflexos de neon. A melancolia que a solidão transporta. O desejo de me esquecer que deixei de fumar há muito e encher de fumo o quarto, sentir o calor do cigarro, o amargo na boca, a sensação de ser Bogart.
A janela que se abre sobre as luzes laranja triste da rua sózinha. A música de Vuelvo al Sur tocada em Nova Iorque por Galliano. Imagens da cidade nocturna no computador, ruas molhadas, reflexos de neon. A melancolia que a solidão transporta. O desejo de me esquecer que deixei de fumar há muito e encher de fumo o quarto, sentir o calor do cigarro, o amargo na boca, a sensação de ser Bogart.
outubro 21, 2003
E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LA
Aquela senhora com pose irritante de dona do boteco, que não deixa falar o Miguel Sousa Tavares, que está cheia de verdades feitas.
Como era mesmo o nome daquela peça...?
Como era mesmo o nome daquela peça...?
CLIN D'OEIL ÀS TERRAS DO NUNCA
Transcrevo um mail que enviei a "Terras do Nunca" a propósito do seu post "O que está em causa" onde transcrevia parte de um artigo de Clara Ferreira Alves e acrescentava alguns comentários:
"(...)
Está tudo em causa, não tenho dúvidas. Mas já estava, sempre esteve e sempre estará uma vez que o exercício do poder (o executivo, o legislativo, o judicial) se faz muito mais no aconchego dos gabinetes do que na praça pública. E quanto mais "secreto" for o exercício do poder, quanto menos necessário fôr o dever de dar explicações, maior será a tentação ou a tendência de navegar autisticamente. "Eles" não sabem o que eu sei, logo "eles" não percebem as razões como eu percebo, logo eu tenho razão em tudo o que faço.
É inevitável decisões longe das massas? Claro que é. Quanto mais não seja porque há medidas, acções, decisões que, sendo necessárias não serão populares. Eventualmente algumas não serão cânones de moralidade ou de coerência, mas têm de ser tomadas. Onde se traça a fronteira, onde fica a linha que separa a democracia da ditadura?
A única resposta que o Ocidente deu até agora parece ser a que é traçada por uma opinião pública bem informada. E é para a qualidade da informação, ou da desinformação (como V. estará a objectar neste momento) que se transfere o problema. Como parece ser o fulcro da questão neste momento em Portugal. Existe desinformação de ambos os lados; existirá provavelmente o aproveitamento por parte dos actores que estão no poder de aproveitar as escorregadelas dos membros do PS para os desacreditar.
Mas que diabo! Os homens sabiam, ou não sabiam, coisas que estavam no domínio do segredo de justiça? Houve ou não houve tentativas de meter cunhas para evitar a prisão ou o pronunciamento de Paulo Pedroso? Se havia uma cabala mesmo, não era muito melhor deixá-la expor-se para a desmontar ponto por ponto? Então se V. soubesse que ia ser injustamente acusado de um homicídio, não preferia provar em tribunal que era inocente (ou provar por a+b nos jornais, tanto faz) do que estar a telefonar ao amigo polícia para varrer a denúncia para debaixo do tapete?"
e a resposta,
"Sobre este caso, comecei por expressar mais perplexidades que certezas. Confesso-lhe que me tenho vindo a inclinar para as certezas. Para isso tem contribuido o conhecimento que vou tendo do caso - como o comum dos mortais, sei o que vem nos media, mas vou tentando separar o trigo do joio - mas, principalmente, o comportamento da justiça. As contradições e as incompetências, que começam a ser excessivas. Dou-lhe apenas um exemplo: então há uma rede pedófila e ao fim de nove meses só há uma dezena de detidos?
Quanto à série de questões que levanta no último parágrafo, permito-me lembrar-lhe o seguinte. O que se soube agoras das escutas já consta do processo desde o incício. Ora, Ferro Rodrigue e António Costa já foram ouvidos pela investigação. Não só não foram constituídos arguidos como não foi aberto qualquer processo sobre obstrução à justiça. O PGR, nomeadamente, facultou uma declaração sobre a conversa que teve com A. Costa atestando que não houve tentativa de influenciar o processo. Mais tarde, foi o próprio Tribunal da Relação a considerar as escutas inócuas.
Acescre que Costa e Ferro disseram, logo de início, que tudo fizeram para que Pedroso depusesse sem que fosse preciso montar aquele circo mediático com a ida do juiz ao Parlamento. Ou seja, se alguém tentou separar política e justiça foi o PS. E, como compreende, a própria justiça, embora a custo, tem vindo a confirmar isso (vide acórdão da Relação).
É por tudo isto que escrevo o que escrevo. Tento não surfar a onda mediática. Acredite que não é fácil."
Volto a fazer as mesmas perguntas, porque me parece que, ainda que acerte muito no alvo, continua a evitar fazer pontaria ao centro. Ou seja: apesar do comentário da PGR, considera que as conversas tornadas públicas indiciam ou não uma tentativa de abafar o caso, de manipular os inquéritos, no mínimo de condicionar a actuação do juiz? Considera ou não que o que deveria ser secreto era do conhecimento dos dirigentes do PS? Acha ou não preocupante que alguns suspeitos sejam informados, antes de serem formalmente convocados para inquirição, das investigações sobre si realizadas? E, por último, acha ou não que todo o comportamento dos dirigentes do PS revela uma notável falta de senso político, independentemente das cabalas, das manipulações, das falsidades?
E eu que gostava tanto de discutir o futuro de Portugal...
"(...)
Está tudo em causa, não tenho dúvidas. Mas já estava, sempre esteve e sempre estará uma vez que o exercício do poder (o executivo, o legislativo, o judicial) se faz muito mais no aconchego dos gabinetes do que na praça pública. E quanto mais "secreto" for o exercício do poder, quanto menos necessário fôr o dever de dar explicações, maior será a tentação ou a tendência de navegar autisticamente. "Eles" não sabem o que eu sei, logo "eles" não percebem as razões como eu percebo, logo eu tenho razão em tudo o que faço.
É inevitável decisões longe das massas? Claro que é. Quanto mais não seja porque há medidas, acções, decisões que, sendo necessárias não serão populares. Eventualmente algumas não serão cânones de moralidade ou de coerência, mas têm de ser tomadas. Onde se traça a fronteira, onde fica a linha que separa a democracia da ditadura?
A única resposta que o Ocidente deu até agora parece ser a que é traçada por uma opinião pública bem informada. E é para a qualidade da informação, ou da desinformação (como V. estará a objectar neste momento) que se transfere o problema. Como parece ser o fulcro da questão neste momento em Portugal. Existe desinformação de ambos os lados; existirá provavelmente o aproveitamento por parte dos actores que estão no poder de aproveitar as escorregadelas dos membros do PS para os desacreditar.
Mas que diabo! Os homens sabiam, ou não sabiam, coisas que estavam no domínio do segredo de justiça? Houve ou não houve tentativas de meter cunhas para evitar a prisão ou o pronunciamento de Paulo Pedroso? Se havia uma cabala mesmo, não era muito melhor deixá-la expor-se para a desmontar ponto por ponto? Então se V. soubesse que ia ser injustamente acusado de um homicídio, não preferia provar em tribunal que era inocente (ou provar por a+b nos jornais, tanto faz) do que estar a telefonar ao amigo polícia para varrer a denúncia para debaixo do tapete?"
e a resposta,
"Sobre este caso, comecei por expressar mais perplexidades que certezas. Confesso-lhe que me tenho vindo a inclinar para as certezas. Para isso tem contribuido o conhecimento que vou tendo do caso - como o comum dos mortais, sei o que vem nos media, mas vou tentando separar o trigo do joio - mas, principalmente, o comportamento da justiça. As contradições e as incompetências, que começam a ser excessivas. Dou-lhe apenas um exemplo: então há uma rede pedófila e ao fim de nove meses só há uma dezena de detidos?
Quanto à série de questões que levanta no último parágrafo, permito-me lembrar-lhe o seguinte. O que se soube agoras das escutas já consta do processo desde o incício. Ora, Ferro Rodrigue e António Costa já foram ouvidos pela investigação. Não só não foram constituídos arguidos como não foi aberto qualquer processo sobre obstrução à justiça. O PGR, nomeadamente, facultou uma declaração sobre a conversa que teve com A. Costa atestando que não houve tentativa de influenciar o processo. Mais tarde, foi o próprio Tribunal da Relação a considerar as escutas inócuas.
Acescre que Costa e Ferro disseram, logo de início, que tudo fizeram para que Pedroso depusesse sem que fosse preciso montar aquele circo mediático com a ida do juiz ao Parlamento. Ou seja, se alguém tentou separar política e justiça foi o PS. E, como compreende, a própria justiça, embora a custo, tem vindo a confirmar isso (vide acórdão da Relação).
É por tudo isto que escrevo o que escrevo. Tento não surfar a onda mediática. Acredite que não é fácil."
Volto a fazer as mesmas perguntas, porque me parece que, ainda que acerte muito no alvo, continua a evitar fazer pontaria ao centro. Ou seja: apesar do comentário da PGR, considera que as conversas tornadas públicas indiciam ou não uma tentativa de abafar o caso, de manipular os inquéritos, no mínimo de condicionar a actuação do juiz? Considera ou não que o que deveria ser secreto era do conhecimento dos dirigentes do PS? Acha ou não preocupante que alguns suspeitos sejam informados, antes de serem formalmente convocados para inquirição, das investigações sobre si realizadas? E, por último, acha ou não que todo o comportamento dos dirigentes do PS revela uma notável falta de senso político, independentemente das cabalas, das manipulações, das falsidades?
E eu que gostava tanto de discutir o futuro de Portugal...
E PRONTO
Tanto brinquei com o template que embaralhei o server.
Almas caridosas deste planeta: não há ninguém que me queira dar umas lições de html?
Almas caridosas deste planeta: não há ninguém que me queira dar umas lições de html?
LAST MAN WALKING
Deixem-me recuperar uma antiga manchete do Expresso (um prémio a quem se lembrar da ocasião!) para caracterizar a situação de Ferro Rodrigues no seio do PS:
" De vitória em vitória até à derrota final "
" De vitória em vitória até à derrota final "
outubro 20, 2003
PERGUNTAS
1. Terá Ferro Rodrigues vontade e resistência para continuar como secretário-geral até ao próximo Congresso Extaordinário?
2. Assistir-se-à a mais um "passeio triunfal" de um leader que só o é por conveniência pontual?
3. Qual é o dirigente ligado a Mário Sores que vai ser o Carvalhas do PS?
2. Assistir-se-à a mais um "passeio triunfal" de um leader que só o é por conveniência pontual?
3. Qual é o dirigente ligado a Mário Sores que vai ser o Carvalhas do PS?
LÉXICO POLÍTICO-PARTIDÁRIO III
Do Dr. Ferro Rodrigues, recebemo mais uma achega para o léxico:
Populista - Dirigente máximo do Partido Popular
Populista - Dirigente máximo do Partido Popular
PROPOSTAS PARA O FUTURO? (1)
Qual barata tonta, o país tenta percorrer desde há muito os caminhos desse negrume insondável que é o futuro. Tem uma vaga ideia do que quer, não sabe por onde ir, nem porquê chegar.
Nos primeiros tempos da Ditadura Nacional, havia um projecto: "mais Portugal". Curiosamente, isso traduzia-se em menos Portugal: menos indústria, menos cultura, menos alfabetização, menos liberdade. Em contrapartida, o ênfase era dado a mais religião, mais família, mais autoridade. Pelo menos, sabia-se o que se queria. Ainda que não se soubesse onde se queria chegar. Como se o fim fosse o caminho e não a chegada: o futuro, a manutenção do status quo. Até à guerra, o entusiasmo que a juventude dos dirigentes permitia, ainda possibilitou a excelência de um Duarte Pacheco (não há niguém que se entretenha a editar um blog dedicado à santíssima trindade - Marquês de Pombal, Fontes Pereira de Melo, Duarte Pacheco?), o frenesim de um António Ferro, as encomendas ao Mestre Almada. Depois, o reumatismo de todos, carunchou tudo e, até 74, o país cabia todo num documentário cinzentão comentado por monótona voz-off. Infelizmente, o entusiasmo não durou muito. Nestes tempos mediáticos, em technicolor, temos mais do de sempre: à pergunta "quem és, de onde vens, para onde vais" não será descabido ouvir responder "daaahhh! sou o tuga, não vou à escola, e não sei para onde vou, mesmo que dispares a pistola".
Portugal tem viabilidade como país industrial? De subsistência. Tem viabilidade como país da chamada 3ª vaga de industrialização, à maneira da Irlanda? Com as coisas como estão... implica destinar pelo menos 3 ou 4 vezes mais verbas para os Ministérios da Educação, Ensino Superior, Ciência e tecnologia, implica mudar radicalmente as leis e as mentalidades no que respeita ao trabalho, à criação de novas empresas, aos impostos. Existirá a coragem para diminuir na proporção os orçamentos de ministérios tão sensíveis como os da Saúde, Segurança Social, Defesa?
Provavelmente - e é para aí que eu me inclino -, Portugal só terá viabilidade se apostar na diferença. Ou seja, ir por um caminho que seja o primeiro (ou dos primeiros) a desbravar, em vez de correr por onde os outros já passaram. E é seguindo essa ideia que defendo a escolha de Portugal como destino de turismo cultural, definindo esta cultura como a soma de três componentes: cultura histórica (arquitectura, arte medieval e renascentista), cultura (à falta de melhor termo) socilógica (as gentes, a gastronomia, o artesanato) e cultura ecológica (os espaços, a especificidade dos vários territórios).
Já lá vão os tempos da "sunny beaches"! Não sendo diferente da oferta dos outros locais turísticos, resume o número de visitantes a uma batalha de preços, com consequências nefastas na economia e no ambiente (vejam-se as aberrações do Algarve, veja-se o que se prepara para a costa vicentina).
Não sendo eu propriamente a primeira pessoa a falar disto, fazendo algumas destas ideias parte dos vários discursos oficiais que temos tido, o que se verifica é que elas não têm tido aplicação prática, sinal óbvio de que o discurso não está interiorizado. O que significa que esta não é uma prioridade para ninguém.
Prioridade será, equilibrar as contas no presente, para algum distraído as desiquilibrar num futuro próximo, quando a prioridade fôr, novamente, panem et circenses...
Nos primeiros tempos da Ditadura Nacional, havia um projecto: "mais Portugal". Curiosamente, isso traduzia-se em menos Portugal: menos indústria, menos cultura, menos alfabetização, menos liberdade. Em contrapartida, o ênfase era dado a mais religião, mais família, mais autoridade. Pelo menos, sabia-se o que se queria. Ainda que não se soubesse onde se queria chegar. Como se o fim fosse o caminho e não a chegada: o futuro, a manutenção do status quo. Até à guerra, o entusiasmo que a juventude dos dirigentes permitia, ainda possibilitou a excelência de um Duarte Pacheco (não há niguém que se entretenha a editar um blog dedicado à santíssima trindade - Marquês de Pombal, Fontes Pereira de Melo, Duarte Pacheco?), o frenesim de um António Ferro, as encomendas ao Mestre Almada. Depois, o reumatismo de todos, carunchou tudo e, até 74, o país cabia todo num documentário cinzentão comentado por monótona voz-off. Infelizmente, o entusiasmo não durou muito. Nestes tempos mediáticos, em technicolor, temos mais do de sempre: à pergunta "quem és, de onde vens, para onde vais" não será descabido ouvir responder "daaahhh! sou o tuga, não vou à escola, e não sei para onde vou, mesmo que dispares a pistola".
Portugal tem viabilidade como país industrial? De subsistência. Tem viabilidade como país da chamada 3ª vaga de industrialização, à maneira da Irlanda? Com as coisas como estão... implica destinar pelo menos 3 ou 4 vezes mais verbas para os Ministérios da Educação, Ensino Superior, Ciência e tecnologia, implica mudar radicalmente as leis e as mentalidades no que respeita ao trabalho, à criação de novas empresas, aos impostos. Existirá a coragem para diminuir na proporção os orçamentos de ministérios tão sensíveis como os da Saúde, Segurança Social, Defesa?
Provavelmente - e é para aí que eu me inclino -, Portugal só terá viabilidade se apostar na diferença. Ou seja, ir por um caminho que seja o primeiro (ou dos primeiros) a desbravar, em vez de correr por onde os outros já passaram. E é seguindo essa ideia que defendo a escolha de Portugal como destino de turismo cultural, definindo esta cultura como a soma de três componentes: cultura histórica (arquitectura, arte medieval e renascentista), cultura (à falta de melhor termo) socilógica (as gentes, a gastronomia, o artesanato) e cultura ecológica (os espaços, a especificidade dos vários territórios).
Já lá vão os tempos da "sunny beaches"! Não sendo diferente da oferta dos outros locais turísticos, resume o número de visitantes a uma batalha de preços, com consequências nefastas na economia e no ambiente (vejam-se as aberrações do Algarve, veja-se o que se prepara para a costa vicentina).
Não sendo eu propriamente a primeira pessoa a falar disto, fazendo algumas destas ideias parte dos vários discursos oficiais que temos tido, o que se verifica é que elas não têm tido aplicação prática, sinal óbvio de que o discurso não está interiorizado. O que significa que esta não é uma prioridade para ninguém.
Prioridade será, equilibrar as contas no presente, para algum distraído as desiquilibrar num futuro próximo, quando a prioridade fôr, novamente, panem et circenses...
outubro 19, 2003
DESAFIO
Deixem-me dizer-vos, leitores mais ou menos irregulares deste blog e todos os outros que a minha imaginação inventa:
- Estou farto. Não só destas trapalhadas juridico-políticas. Não só desta história que, historicamente se repete. Não só da tacanhez, da pequenice, da menoridade que nos afecta.
- Estou farto de sermos brilhantes a criticar. Estou farto da nossa cultura redundante. Estu farto de apontarmos os defeitos e não conseguirmos apresentar soluções.
Este espaço representa parte da elite deste país: gente que se sabe exprimir, gente que pensa, gente que sabe o que quer e o que não quer; gente com experiências, com ideias. Com propostas?
Eis o desafio que lanço:
1. Partindo do princípio de que os políticos são executores de ideias e não produtores de ideias, confiando no que os seus acessores produzem;
2. Partindo do princípio de que os acessores dos políticos ou não sabem produzir soluções, propõem soluções ineficazes ou não têm suficiente força para as impôr;
Desafio-vos a solucionarem o futuro - que futuro para Portugal e como o conseguir?
Ou isto não passa de uma conversa de comadres?
- Estou farto. Não só destas trapalhadas juridico-políticas. Não só desta história que, historicamente se repete. Não só da tacanhez, da pequenice, da menoridade que nos afecta.
- Estou farto de sermos brilhantes a criticar. Estou farto da nossa cultura redundante. Estu farto de apontarmos os defeitos e não conseguirmos apresentar soluções.
Este espaço representa parte da elite deste país: gente que se sabe exprimir, gente que pensa, gente que sabe o que quer e o que não quer; gente com experiências, com ideias. Com propostas?
Eis o desafio que lanço:
1. Partindo do princípio de que os políticos são executores de ideias e não produtores de ideias, confiando no que os seus acessores produzem;
2. Partindo do princípio de que os acessores dos políticos ou não sabem produzir soluções, propõem soluções ineficazes ou não têm suficiente força para as impôr;
Desafio-vos a solucionarem o futuro - que futuro para Portugal e como o conseguir?
Ou isto não passa de uma conversa de comadres?
outubro 18, 2003
DESABAFOS TELEFÓNICOS
Pelo que tenho lido, por aqui e por ali, uma frase de Ferro Rodrigues está a desfazer mais o PS do que tudo o que se passou desde que António Guterres renunciou ao país. Ora, na sequência das discusões sobre a fronteira entre o que é público e privado, entre o que é publicável e o que deve morrer nas bocas de redacção, da vida das nossas figuras públicas, parece-me óbvio que o já célebre desabafo escatológico do secretário-geral que só aconteceu em privado - não é uma declaração pública, nem sequer foi pronunciado num jantar de companheiros políticos mais ou menos dados à facultação de cachas a amigos jornalistas - não tem que ser divulgada. E se foi dita num contexto extremamente privado (quase em segredo: foi de boca a orelha), não tinha necessariamente de ser politicamente correcta; nem sequer tinha de ser generalista - terá provavelmente ocorrido como resposta a uma eventual preocupação do interlocutor face a um aspecto do caso específico que estavam a discutir. Quantos de nós não terão já dito, "estou-me a borrifar para os impostos", "quero lá saber do meu pai", "quero que a moral se lixe" (isto com maior ou menor grau de calão utilizado) sem que isso possa ser considerado uma declaração formal e generalista sobre a nossa posição na vida em relação ao Estado, à Família ou à Igreja? (E os espanhois não dizem "me cago en la puta madre que me parió"?)
É por isso que não vejo nesta frase O ESCÂNDALO. Mas que me dá gozo ver o incómodo da Esquerda virgem, aquela entidade pura e sumamente íntegra, respeitadora das instituições, perante coisas como esta, lá isso dá...
É por isso que não vejo nesta frase O ESCÂNDALO. Mas que me dá gozo ver o incómodo da Esquerda virgem, aquela entidade pura e sumamente íntegra, respeitadora das instituições, perante coisas como esta, lá isso dá...
PERDI O PEPE
Mais um que descobriu a resposta à pergunta maior.
Apetece-me citar Camões.
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste
Apetece-me citar Camões.
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste
SÓ AR?
Leio, na "Actual" do Expresso, uma pequena recensão sobre um livro publicado em Espanha, "El Síndrome de la Hormiga" de Hans Nurlufts, alegado pseudónimo literário de João Soares.
Tal Manuel Tiago, eis o nosso júnior, a enveredar, envergonhado pelas lides literárias. Será mesmo ele?
Bom, Hans / Johann será o equivalente alemão de João, Nurlufts será a junção de Nur - só, somente e Lufts - ares.
Si non e vero...
Tal Manuel Tiago, eis o nosso júnior, a enveredar, envergonhado pelas lides literárias. Será mesmo ele?
Bom, Hans / Johann será o equivalente alemão de João, Nurlufts será a junção de Nur - só, somente e Lufts - ares.
Si non e vero...
NOVAS MÚSICAS
Bisbilhoto as sugestões dos outros na fnac. Ao contrário da "Sofia", não me encantei com a Mazzy Star. Já a Natalie Merchant, foi uma descoberta bem-vinda, uma boa companhia nas horas mais introspectivas.
Encomendei a Virginia Astley. Sou mais um maduro que sente a nostalgia dos anos 80, do Frágil, das crónicas do MEC no Expresso, dos Durutti Columm, de alguma inocência que então se vivia ainda - política, fraternidade universal, cultura.
O "Farnace" de Vivaldi, versão Jordi Savall é mais bloco no encantatório castelo de sons barroco que construo na minha discoteca. Alienação ou não, a música barroca entranha-se e não se estranha.
Termino com (outra vez) a Helen Merrill. "no tears... no goodbyes" com Gordon Beck é um bom exemplo do que escrevi há uns dias (não sei como me "crosso referencio"...).
Encomendei a Virginia Astley. Sou mais um maduro que sente a nostalgia dos anos 80, do Frágil, das crónicas do MEC no Expresso, dos Durutti Columm, de alguma inocência que então se vivia ainda - política, fraternidade universal, cultura.
O "Farnace" de Vivaldi, versão Jordi Savall é mais bloco no encantatório castelo de sons barroco que construo na minha discoteca. Alienação ou não, a música barroca entranha-se e não se estranha.
Termino com (outra vez) a Helen Merrill. "no tears... no goodbyes" com Gordon Beck é um bom exemplo do que escrevi há uns dias (não sei como me "crosso referencio"...).
TRAIÇÔES
Uma noite sem internet. Uma traição, do computador, da netcabo, da minha inépcia ao fazer de infomédico.
O que fica é o desespero por não conseguir aceder aos meus vizinhos planetas, por não poder partilhar, ver, aprender. Tornou-se um vício, esta consulta diária.
O que fica é o desespero por não conseguir aceder aos meus vizinhos planetas, por não poder partilhar, ver, aprender. Tornou-se um vício, esta consulta diária.
outubro 16, 2003
SUGESTÃO URGENTE ou HÁ QUE SALVAR OS ANÉIS QUE AINDA TEMOS ou "CHIÇA, O QUE É QUE EU POSSO FAZER PARA GANHAR AS ELEIÇÕES?"
Carta fechada ao Senhor Presidente desta Câmara de Lisboa, senhor doutor Santana Lopes
Senhor presidente,
Conhecido o seu amor pelos destinos da cidade que o viu nascer e aos destinos da qual por ora preside;
Conhecida a sua profunda devoção aos seus habitantes;
Conhecida a sua já antiga reflexão teórica sobre a prática urbanística e as inovadoras propostas que tem apresentado ao longo dos anos para resolução dos problemas que afectam as cidades no geral e Lisboa em particular;
Conhecido o justificado entusiasmo com que todos os sectores da sociedade portuguesa receberam a anunciada intervenção no Parque Mayer;
e verificando com preocupação que:
- A inépcia de todos aqueles com quem tem de trabalhar,
- A má-vontade manifesta de alguns "opinion makers",
- A inconveniente situação económica da autarquia com que se defrontou,
- A de todo inesperada exorbitância que os projectistas internacionais cobram pelos seus honorários,
o têm impedido de levar a bom porto todas as grandiosas operações que apresentou no decurso do seu mandato.
TEMOS A HONRA DE, HUMILDEMENTE,PROPOR,
"A SOLUÇÃO!"
para o problema premente do parque Mayer pois:
- Na senda do caminho inaugurado pelo Sport Lisboa e Benfica, o projecto já está feito e aprovado podendo dar-se de imediato início aos trabalhos o que permitirá a apresentação de um estaleiro de obras com bom aspecto por alturas das presidenciais;
- O preço de um projecto em segunda mão é bem mais económico para o erário público;
- O prestígio de ter uma obra assinada pelo arquitecto Gehry mantém-se;
- Pode continuar a dizer, nas revistas da moda, nas reuniões da moda, nas noites de quinta-feira "(...) ainda outro dia o Frank me disse quanto a sua carreira melhorou após o projecto do Mayor's Park";
- Com uma pequena alteração do local de implantação, resolve o problema das múltiplas localizações do casino e da nova localização da feira popular - a qual se passará a chamar "Feira de vaidades popular", nos tempos que correm, todo o populismo é pouco.
Um seu humilde colaborador que, desde os tempos em que rachava cabeças aos militantes do MRPP na faculdade de direito, o admira,
Possidónio
Senhor presidente,
Conhecido o seu amor pelos destinos da cidade que o viu nascer e aos destinos da qual por ora preside;
Conhecida a sua profunda devoção aos seus habitantes;
Conhecida a sua já antiga reflexão teórica sobre a prática urbanística e as inovadoras propostas que tem apresentado ao longo dos anos para resolução dos problemas que afectam as cidades no geral e Lisboa em particular;
Conhecido o justificado entusiasmo com que todos os sectores da sociedade portuguesa receberam a anunciada intervenção no Parque Mayer;
e verificando com preocupação que:
- A inépcia de todos aqueles com quem tem de trabalhar,
- A má-vontade manifesta de alguns "opinion makers",
- A inconveniente situação económica da autarquia com que se defrontou,
- A de todo inesperada exorbitância que os projectistas internacionais cobram pelos seus honorários,
o têm impedido de levar a bom porto todas as grandiosas operações que apresentou no decurso do seu mandato.
TEMOS A HONRA DE, HUMILDEMENTE,PROPOR,
"A SOLUÇÃO!"
para o problema premente do parque Mayer pois:
- Na senda do caminho inaugurado pelo Sport Lisboa e Benfica, o projecto já está feito e aprovado podendo dar-se de imediato início aos trabalhos o que permitirá a apresentação de um estaleiro de obras com bom aspecto por alturas das presidenciais;
- O preço de um projecto em segunda mão é bem mais económico para o erário público;
- O prestígio de ter uma obra assinada pelo arquitecto Gehry mantém-se;
- Pode continuar a dizer, nas revistas da moda, nas reuniões da moda, nas noites de quinta-feira "(...) ainda outro dia o Frank me disse quanto a sua carreira melhorou após o projecto do Mayor's Park";
- Com uma pequena alteração do local de implantação, resolve o problema das múltiplas localizações do casino e da nova localização da feira popular - a qual se passará a chamar "Feira de vaidades popular", nos tempos que correm, todo o populismo é pouco.
Um seu humilde colaborador que, desde os tempos em que rachava cabeças aos militantes do MRPP na faculdade de direito, o admira,
Possidónio
JAZZ FEMALE SINGERS
Causa-me um certo desânimo este entusiasmo mediático que se transpõe em discos de ouro, grammies e outros que tais à volta de cantoras como Diana Krall, Jane Monheit ou Norah Jones. Confesso a minha incompatibilidade de estimação com a primeira. Estou até convencido de que, não fora ela loura e bonitinha, estaria a ganhar a vida no circuito de bares e night clubs americano. Nas três, a produção muito cuidada, a lisura dos arranjos, a escolha dos temas, tudo muito profissional, muito perfeito, muito vendável, esconde a ausência do essencial: a alma.
Ouçam-se as gravações com debilidades técnicas da Billie Holiday em que, mesmo com a voz semi-destruída dos últimos anos, se nota em cada frase uma profunda emoção, uma torrente de sentidos e sentimentos. Ouça-se, por exemplo Sarah Vaugham. Ouça-se ainda Ella, de preferência as gravações dos últimos 10, 20 anos de carreira (quantas estrelas de hoje se atreveriam ao improviso de "Mack the Knife" do concerto em Berlim?). E goze-se com a diferença.
Estou a ouvir Helen Merrill. Tive de parar de fazer o que estava a fazer e obedecer a uma imperiosa vontade de partilhar este prazer. O intróito serviu apenas para contextualizar o que vou dizer a seguir:
Deixem as Krall deste mundo nos fundos das discotecas e esgotem os stocks de "Music Makers"!
(Helen Merril / Gordon Beck / Stephane Grapelli / Steve Lacy - "Music Makers" - Universal Music France, 1986)
Ouçam-se as gravações com debilidades técnicas da Billie Holiday em que, mesmo com a voz semi-destruída dos últimos anos, se nota em cada frase uma profunda emoção, uma torrente de sentidos e sentimentos. Ouça-se, por exemplo Sarah Vaugham. Ouça-se ainda Ella, de preferência as gravações dos últimos 10, 20 anos de carreira (quantas estrelas de hoje se atreveriam ao improviso de "Mack the Knife" do concerto em Berlim?). E goze-se com a diferença.
Estou a ouvir Helen Merrill. Tive de parar de fazer o que estava a fazer e obedecer a uma imperiosa vontade de partilhar este prazer. O intróito serviu apenas para contextualizar o que vou dizer a seguir:
Deixem as Krall deste mundo nos fundos das discotecas e esgotem os stocks de "Music Makers"!
(Helen Merril / Gordon Beck / Stephane Grapelli / Steve Lacy - "Music Makers" - Universal Music France, 1986)
5 MILHÕES
Um milhão de contos, em dinheiro de gente, jazem mortos e apodrecem nos registos das contas-solidariedade abertas em prol das vítimas dos incêndios de Verão. Oficialmente, porque ainda não há verba suficiente para acudir a toda a gente e evitar "tratamento de favor" de uns em relação a outros.
Mas não há inteligência? Mas não há imaginação? Mas não há coragem para avançar e, correndo o risco de sofrer críticas, começar a aplicar o dinheiro naquilo para o qual foi doado?
Não é nos lucros dos bancos! É nas gentes!
Mas não há inteligência? Mas não há imaginação? Mas não há coragem para avançar e, correndo o risco de sofrer críticas, começar a aplicar o dinheiro naquilo para o qual foi doado?
Não é nos lucros dos bancos! É nas gentes!
inverno
Lavar as castanhas, cozê-las em água salgada e pelá-las ainda quentes (a segunda pele também - é importante). Esmagá-las com um garfo - reservar algumas inteiras.
E agora, o sagrado: escolher belos exemplares de funghi porcini e delicadamente, com toda a ternura deste mundo, limpá-los da terra - com um pano, sem água! -, tomando cuidado para os não partir. Reservar.
Refogar suavemente uma cebola em bom azeite virgem, cozinhar os funghi , juntando um pouco de soave. Estará pronta quando o vinho tiver evaporado e ficar certo de sal e pimenta.
Aromatizar o puré de castanhas ao qual se juntou caldo ("brodo" explica muito melhor este caldo) em fogo muito brando com algumas folhas de salva (salvia, sabia, sage, virtuosa erva) e um ramo de tomilho durante uns quinze minutos.
Juntar os nobres porcini e as castanhas inteiras. Servir numa tigela e, sobre o caldo fumegante, deixar um fiozinho de azeite.
Cadernos de Viagem de Abel Sotero, Itália, sd
E agora, o sagrado: escolher belos exemplares de funghi porcini e delicadamente, com toda a ternura deste mundo, limpá-los da terra - com um pano, sem água! -, tomando cuidado para os não partir. Reservar.
Refogar suavemente uma cebola em bom azeite virgem, cozinhar os funghi , juntando um pouco de soave. Estará pronta quando o vinho tiver evaporado e ficar certo de sal e pimenta.
Aromatizar o puré de castanhas ao qual se juntou caldo ("brodo" explica muito melhor este caldo) em fogo muito brando com algumas folhas de salva (salvia, sabia, sage, virtuosa erva) e um ramo de tomilho durante uns quinze minutos.
Juntar os nobres porcini e as castanhas inteiras. Servir numa tigela e, sobre o caldo fumegante, deixar um fiozinho de azeite.
Cadernos de Viagem de Abel Sotero, Itália, sd
outubro 14, 2003
RUÍDO BRANCO
És tu fui eu a culpa é dele as minhas razões o problema dos outros as denúncias do outro a má cara deste os pedidos obtidos as desgraças os desastres as maneiras de subir na vida os coitados que a perderam os ricos os pobres os gritos dos que sofrem o que tem de ser porque acho que sim o que tu não deves porque não é treta não é treta dahhhh duhhhh minha prioridade tua asneira nosso dinheiro impostos deles jornalistas jornaleiros banqueiros benfiquistas quistos malquistos orfãos pais pediatras pacientes injustiças justiça judiciária policiária mercenária mercearia pão por deus pão de deus pelo amor de deus ateus agnósticos polacos jesuítas opus dei opus gay ministros malvistos malvestidos bemvestidos despidos minha culpa culpa dele nós mais vós menos temos não temos segredos obtemos sabemos não sabemos corremos ficamos morremos
MONÓLOGO I
(...)
Sabes, gosto de pensar que o Glenn Gould é um bocadinho de todos nós, de cada vez que o oiço tocar as Variações com aquele permanente trautear que é uma delícia dou comigo a imaginá-lo a sorrir trocista da porteira, ó senhor Glenn, toque essa coisa mais baixo que os vizinhos se andam a queixar, ó senhor Glenn tenha consideração pelos outros!, campainhas a tocar de protesto, um cabo de vassoura a bater furiosamente no tecto e o Gould majestático a tocar vezes sem fim as Variações, as variações das Variações enquanto as trauteia e mede o seu desempenho pelo murmurar da melodia, enquanto um sorriso cada vez maior lhe cresce a cara, completamente surdo aos justos e aflitos protestos das pobres criaturas que reclamam o seu silêncio. Para mim o Gould é sempre uma imagem que ficou de um documentário, uma sala com enormes portadas para um jardim a perder de vista, translúcidas cortinas que ondulam com uma leve brisa e nesse movimento revelam o exterior, a sala sem ninguém e a música das Variações, obsessiva, magnífica, omnipotente, vibrante, o centro de tudo, a razão de ser, nem princípio nem fim, porque apenas tudo.
E imagino-me assim, também eu a atravessar a vida, absorvido pelas minhas vozes, completamente alheio às palmadas na porta, aos gritos e chamadas de atenção, aos insistentes, indecorosos, inconvenientes pedidos de atenção, ajuda, socorro, às chamadas de atenção, às críticas e cumprimentos, aos alertas e felicitações, a todos aqueles ensaios de sociabilidade que me entediam ou frustram, cansam ou desmorecem, àquela infindável, incontornável procissão de contactos com o mundo.
Quando consigo ficar só com os meus murmúrios e perceber a maravilhosa polifonia que eles formam, quando me permito a misantropia que os liberta, quando finalmente enquadro a minha vivência com o rigor da sua harmonia, - oh, bem-vinda paz do meu espírito! -, finalmente me permito ser eu.
(...)
Sabes, gosto de pensar que o Glenn Gould é um bocadinho de todos nós, de cada vez que o oiço tocar as Variações com aquele permanente trautear que é uma delícia dou comigo a imaginá-lo a sorrir trocista da porteira, ó senhor Glenn, toque essa coisa mais baixo que os vizinhos se andam a queixar, ó senhor Glenn tenha consideração pelos outros!, campainhas a tocar de protesto, um cabo de vassoura a bater furiosamente no tecto e o Gould majestático a tocar vezes sem fim as Variações, as variações das Variações enquanto as trauteia e mede o seu desempenho pelo murmurar da melodia, enquanto um sorriso cada vez maior lhe cresce a cara, completamente surdo aos justos e aflitos protestos das pobres criaturas que reclamam o seu silêncio. Para mim o Gould é sempre uma imagem que ficou de um documentário, uma sala com enormes portadas para um jardim a perder de vista, translúcidas cortinas que ondulam com uma leve brisa e nesse movimento revelam o exterior, a sala sem ninguém e a música das Variações, obsessiva, magnífica, omnipotente, vibrante, o centro de tudo, a razão de ser, nem princípio nem fim, porque apenas tudo.
E imagino-me assim, também eu a atravessar a vida, absorvido pelas minhas vozes, completamente alheio às palmadas na porta, aos gritos e chamadas de atenção, aos insistentes, indecorosos, inconvenientes pedidos de atenção, ajuda, socorro, às chamadas de atenção, às críticas e cumprimentos, aos alertas e felicitações, a todos aqueles ensaios de sociabilidade que me entediam ou frustram, cansam ou desmorecem, àquela infindável, incontornável procissão de contactos com o mundo.
Quando consigo ficar só com os meus murmúrios e perceber a maravilhosa polifonia que eles formam, quando me permito a misantropia que os liberta, quando finalmente enquadro a minha vivência com o rigor da sua harmonia, - oh, bem-vinda paz do meu espírito! -, finalmente me permito ser eu.
(...)
A ANA GOMES...
Quer justiça quer que tudo se esclareça doa a quem doer quer que todos os políticos sejam investigados se oferecerem suspeitas.
Todos menos o Paulo Pedroso que, como toda a gente sabe, está inocente.
(lembram-se das escutas? Aquelas que eram absolutamente indispensáveis para a investigação criminal excepto se forem políticos que estão em causa)
Todos menos o Paulo Pedroso que, como toda a gente sabe, está inocente.
(lembram-se das escutas? Aquelas que eram absolutamente indispensáveis para a investigação criminal excepto se forem políticos que estão em causa)
outubro 13, 2003
DEUS, O IRMÃO DO FILHO PRÓDIGO E A BARTOLI
O prodigioso trabalho de montagem sonora na cena da composição do "Requiem". A música que a cada passo nos surpreende e, sussurrante ou estrepitosa, nos cativa. A sedução da intriga e da sugestão de assassinato.
Tudo e muito mais faz de "Amadeus" um filme marcante mas, no entanto, o que nele mais me fez reflectir foi aquela sibilina interrogação de Salieri, "Se eu dediquei a minha vida a Deus, se sempre O respeitei e cumpridor me fiz das minhas obrigações, porque é que a recompensa que me era devida foi oferecida a um labrego apatetado que a todo o instante nega a sua condição divina?" Este sentimento de irmão do filho pródigo que todos nós teremos sentido num momento ou outro das nossas vidas e que se tornava a mola impulsionadora de toda a acção, parece um pouco despropositado quando ouvimos o mais recente CD da divina Cecilia, "La Bartoli" - "The Salieri Album".
Salieri não foi um compositor medíocre, apenas não foi um génio. A diferença entre ele e Mozart, apetece-me compará-la à existente entre Rafael e Miguel Ângelo: enquanto o primeiro percorreu (e muito bem para quem gosta) os caminhos que outros abriram, o segundo traçou novos caminhos. E ouvir este CD é percorrer aqueles caminhos bem feitos, bem traçados, formalmente correctos. Nada de muito recordável, não fora a intérprete. E a Bartoli transforma um bocejo barroco com as suas voltas, torneados e demais enfeites, num êxtase permanente que se mantém do princípio ao fim da audição.
Por uma vez, Deus concede a graça e permite que um anjo toque a obra do seu servo.
Tudo e muito mais faz de "Amadeus" um filme marcante mas, no entanto, o que nele mais me fez reflectir foi aquela sibilina interrogação de Salieri, "Se eu dediquei a minha vida a Deus, se sempre O respeitei e cumpridor me fiz das minhas obrigações, porque é que a recompensa que me era devida foi oferecida a um labrego apatetado que a todo o instante nega a sua condição divina?" Este sentimento de irmão do filho pródigo que todos nós teremos sentido num momento ou outro das nossas vidas e que se tornava a mola impulsionadora de toda a acção, parece um pouco despropositado quando ouvimos o mais recente CD da divina Cecilia, "La Bartoli" - "The Salieri Album".
Salieri não foi um compositor medíocre, apenas não foi um génio. A diferença entre ele e Mozart, apetece-me compará-la à existente entre Rafael e Miguel Ângelo: enquanto o primeiro percorreu (e muito bem para quem gosta) os caminhos que outros abriram, o segundo traçou novos caminhos. E ouvir este CD é percorrer aqueles caminhos bem feitos, bem traçados, formalmente correctos. Nada de muito recordável, não fora a intérprete. E a Bartoli transforma um bocejo barroco com as suas voltas, torneados e demais enfeites, num êxtase permanente que se mantém do princípio ao fim da audição.
Por uma vez, Deus concede a graça e permite que um anjo toque a obra do seu servo.
outubro 12, 2003
PSL E JS - A MESMA LUTA
Até os cinéfilos distraídos concordarão que o formato mais sucedido dos filmes cómicos é o que apresenta uma dupla com características antagónicas, na linha circense do "palhaço rico / palhaço pobre". Para mim, "Laurel & Hardy" são o ápice desse formato, ainda que as histerias de Costello continuem a ressoar-me nos ouvidos, tantos anos passados desde a última vez que as ouvi. Há ainda um Jerry Lewis em princípio de carreira a levar a tiracolo o "rico" Dean Martin, as recentes parelhas étnicas e politicamente correctas, os irmãos Marx que começaram por ser quatro e depois passaram a três (e nunca chegaram a dois), os deprimentes 3 Estarolas and so on...
E o que é que este introito tem a ver com o título? Só a minha lembrança, quando mentalmente comparava as imagens e os feitos dos últimos presidentes da Câmara de Lisboa, o derrotado e o presente. Fisicamente, são tão antagónicos como os referidos Bucha e Estica. Um é elitista de esquerda, o outro, populista de direita. Gostam ambos de folgar publicamente, têm fúrias ao vivo quando as coisas não lhes correm como querem e são capazes de frases politicamente perigosas quando encostados à parede por perguntas mais atrevidas. O palhaço rico e o palhaço pobre são, afinal, tão parecidos.
JS teve o começo do seu funeral na que pretendia ser a sua obra de regime : o mamarracho elevatório para o Castelo;
PSL terá o seu funeral anunciado com o túnel das Amoreiras (aposto com quem quiser que, a ser concluído a tempo, só com recurso a "habilidades"). Isto se não se demitir primeiro para concorrer às presidenciais.
JS foi um revisionista histórico. A frase "o meu antecessor tentou fazer alguma obra, mas agora é que vai ser" esquecia o trabalho de sapa da equipa de Sampaio no que respeita à revisão do PDM e demais arquitectura jurídica que permitiria à Câmara decidir, aprovar e incentivar com mais rigor. E não me esqueço do "apagão" ao ex-monumento ao Marechal Carmona. Em vez de acrescentar uma explicação que o contextualizasse historicamente, preferiu eliminà-lo e colocar em substituição os dois peões de nica que lá estão (totalmente desproporcionados, sem escala para aquele espaço... nós sabemos que JS é republicano, mas tratar assim duas esculturas...);
PSL é um revisionista histórico. Porque é que apagou o Norman Foster do Parque Mayer? Será que o projecto nunca existiu?
JS era um malcriadão. Só quem nunca assistiu a uma das suas fúrias pode achar o contrário;
PSL é um desbocado deselegante. Que o diga a sua vereadora para o Planeamento Urbanístico.
JS tinha uma concepção da cidade feita à sua medida, isto é, para a cidade só era bom o que lhe fizesse ganhar votos. E é por isso que os bairros históricos foram deixados ao abandono, o crescimento desordenado de Telheiras se manteve e o projecto do elevador avançou - era a tal obra de regime que, a ser feita, lhe garantiria a visibilidade necessária para a História, para mais um mandato e... para Belém;
PSL tem uma concepção da cidade feita à sua medida, isto é, para a cidade só é bom o que lhe fizer ganhar votos. E é por isso que os bairros históricos continuam deixados ao abandono, o crescimento desordenado de Telheiras se mantém e se avança para o túnel da Joaquim António de Aguiar - é a tal obra de regime que, a ser feita, lhe garantirá a visibilidade necessária para a História, para mais um mandato e... para Belém.
Perguntas indiscretas:
- O que se passa com o projecto do Parque Mayer? Gehry diz-se desconsolado com os atrasos... vê-se mesmo que nunca teve de aprovar um projecto em Lisboa.
- Porque é que se manteve a política do PCP para a Reabilitação Urbana e se mudaram as pessoas, quando, visivemente, era a política que estava errada?
- A Feira Popular fechou - o que é que vai ser daquele espaço? Eu sugiro: um conglomerado de escritórios (como se não houvesse já excesso de oferta), mais uns apartamentos para novos-ricos, um centro comercial e uns repuxos a fingir de zona verde. De preferência projectados por um arquitecto estrangeiro de assinatura grande. Ou pelo Valsassina. Ou, em estilo de grande rentrée, pelo Taveira, ele que até projectou três dos campos de futebol do Euro.
E o que é que este introito tem a ver com o título? Só a minha lembrança, quando mentalmente comparava as imagens e os feitos dos últimos presidentes da Câmara de Lisboa, o derrotado e o presente. Fisicamente, são tão antagónicos como os referidos Bucha e Estica. Um é elitista de esquerda, o outro, populista de direita. Gostam ambos de folgar publicamente, têm fúrias ao vivo quando as coisas não lhes correm como querem e são capazes de frases politicamente perigosas quando encostados à parede por perguntas mais atrevidas. O palhaço rico e o palhaço pobre são, afinal, tão parecidos.
JS teve o começo do seu funeral na que pretendia ser a sua obra de regime : o mamarracho elevatório para o Castelo;
PSL terá o seu funeral anunciado com o túnel das Amoreiras (aposto com quem quiser que, a ser concluído a tempo, só com recurso a "habilidades"). Isto se não se demitir primeiro para concorrer às presidenciais.
JS foi um revisionista histórico. A frase "o meu antecessor tentou fazer alguma obra, mas agora é que vai ser" esquecia o trabalho de sapa da equipa de Sampaio no que respeita à revisão do PDM e demais arquitectura jurídica que permitiria à Câmara decidir, aprovar e incentivar com mais rigor. E não me esqueço do "apagão" ao ex-monumento ao Marechal Carmona. Em vez de acrescentar uma explicação que o contextualizasse historicamente, preferiu eliminà-lo e colocar em substituição os dois peões de nica que lá estão (totalmente desproporcionados, sem escala para aquele espaço... nós sabemos que JS é republicano, mas tratar assim duas esculturas...);
PSL é um revisionista histórico. Porque é que apagou o Norman Foster do Parque Mayer? Será que o projecto nunca existiu?
JS era um malcriadão. Só quem nunca assistiu a uma das suas fúrias pode achar o contrário;
PSL é um desbocado deselegante. Que o diga a sua vereadora para o Planeamento Urbanístico.
JS tinha uma concepção da cidade feita à sua medida, isto é, para a cidade só era bom o que lhe fizesse ganhar votos. E é por isso que os bairros históricos foram deixados ao abandono, o crescimento desordenado de Telheiras se manteve e o projecto do elevador avançou - era a tal obra de regime que, a ser feita, lhe garantiria a visibilidade necessária para a História, para mais um mandato e... para Belém;
PSL tem uma concepção da cidade feita à sua medida, isto é, para a cidade só é bom o que lhe fizer ganhar votos. E é por isso que os bairros históricos continuam deixados ao abandono, o crescimento desordenado de Telheiras se mantém e se avança para o túnel da Joaquim António de Aguiar - é a tal obra de regime que, a ser feita, lhe garantirá a visibilidade necessária para a História, para mais um mandato e... para Belém.
Perguntas indiscretas:
- O que se passa com o projecto do Parque Mayer? Gehry diz-se desconsolado com os atrasos... vê-se mesmo que nunca teve de aprovar um projecto em Lisboa.
- Porque é que se manteve a política do PCP para a Reabilitação Urbana e se mudaram as pessoas, quando, visivemente, era a política que estava errada?
- A Feira Popular fechou - o que é que vai ser daquele espaço? Eu sugiro: um conglomerado de escritórios (como se não houvesse já excesso de oferta), mais uns apartamentos para novos-ricos, um centro comercial e uns repuxos a fingir de zona verde. De preferência projectados por um arquitecto estrangeiro de assinatura grande. Ou pelo Valsassina. Ou, em estilo de grande rentrée, pelo Taveira, ele que até projectou três dos campos de futebol do Euro.
ANTI-DEPRESSIVO
Mais um fotógrafo. Grandes formatos (2 m x 3 m e variações) introduzem-nos no pormenor. Não são instantâneos de pormenores, são instantâneos, muitos deles, do comum, um hotel, um supermercado, uma paisagem à primeira vista trivial. O que nos atrai é um quadro maior do que nós, que nos engole que, pela sua estática (e pela nossa estática, de espectadores fora daquele mundo), nos permite ver com tempo cada detalhe, cada imperfeição, cada milímetro que permaneceria ignorado numa leitura apressada.
A visão em formato internet perde parte da sua força. No entanto, para uma introdução, "Andreas Gursky"
A visão em formato internet perde parte da sua força. No entanto, para uma introdução, "Andreas Gursky"
PINTORES DE MULHERES
Para os sonhadores, o Renascimento. Que melhor época para juntar a procura da pureza da representação humana com a idealização da mãe de Jesus? As sereníssimas madonnas de Botticelli, traços prolongados nas deusas pagãs, as perfeitas mulheres de da Vinci, com o mundo prenhe de vida como fundo, as valquírias de Miguel Ângelo, antevisão das olímpicas campeãs de natação da RDA...
Por belas que sejam, falta-lhes, no entanto, a humanidade. O sangue nas veias, as emoções, os sentimentos. As mulheres de Toulouse-Lautrec, de Schiele ou de Picasso valem por esse fragor da vida, pela perturbação que provocam, pelo fulgor da sua presença.
Encantei-me recentemente com esta "Rosa la Rouge". Absolutamente irresistível.
Por belas que sejam, falta-lhes, no entanto, a humanidade. O sangue nas veias, as emoções, os sentimentos. As mulheres de Toulouse-Lautrec, de Schiele ou de Picasso valem por esse fragor da vida, pela perturbação que provocam, pelo fulgor da sua presença.
Encantei-me recentemente com esta "Rosa la Rouge". Absolutamente irresistível.
DEPRESSIVOS 2
O sistemático incumprimento da lei a que nos vão habituando as entidades oficiais - Governo, autarquias, organismos públicos, empresas publicas, etc., etc., etc.. Dois exemplos: as operações urbanísticas em Lisboa feitas ao arrepio do PDM e de promessas públicas (vejam-se os edifícios na Ajuda, os "ataques" à Quinta das Conchas, a autorização de instalação de um posto de gasolina no local de um parque infantil público construído há menos de um ano) e a instalação de equipamento ruidoso ignorando o preceituado no Regulamento Geral sobre o Ruído (o novo estádio do Sporting, as vias rápidas junto de edifícios de habitação).
DEPRESSIVOS 1
O teor dos textos da Granta é suficientemente alarmante. A consciência de que a criação de um estado de alma da opinião pública que motive os políticos a implementar cortes radicais nas práticas poluidoras levará mais tempo do que a degradação do meio ambiente.
outubro 10, 2003
GRANTA 83
O número de Outono, intitulado "This Overheating World", revela-me um olhar desconhecido, Edward Burtynsky que vale a pena aprofundar.
Na contra-capa, um texto / apresentação para perturbar as nossas consciências demasiado ocupadas com o lucro, os impostos, as criancinhas, os juízes, os apresentadores, os ministros e as notas, os jornalistas, os comentadores, as...:
The world we were born into has gone. We shall never completely recapture its climate, its seasons, the way its plants grew and its animals lived. This is not a wild-eyed prediction, a man on the street with a placard ('THE END IS NIGH'). Respectable science knows it and says it. Who is responsible? We are—our habits. Can we prevent it? Too late. Can we moderate it, slow it, eventually reverse it? Yes—if we try. This outdoor issue of Granta reports from our present and future world.
Na contra-capa, um texto / apresentação para perturbar as nossas consciências demasiado ocupadas com o lucro, os impostos, as criancinhas, os juízes, os apresentadores, os ministros e as notas, os jornalistas, os comentadores, as...:
The world we were born into has gone. We shall never completely recapture its climate, its seasons, the way its plants grew and its animals lived. This is not a wild-eyed prediction, a man on the street with a placard ('THE END IS NIGH'). Respectable science knows it and says it. Who is responsible? We are—our habits. Can we prevent it? Too late. Can we moderate it, slow it, eventually reverse it? Yes—if we try. This outdoor issue of Granta reports from our present and future world.
TRÊS POEMAS DE SOLIDÃO
Oh ! je voudrais tant que tu te souviennes
Des jours heureux où nous étions amis.
En ce temps-là la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle.
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais.
C'est une chanson qui nous ressemble.
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment.
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.
Les Feuilles Mortes, Jacques Prévert
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vue deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne Me Quitte Pas, Jacques Brel
Avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie le visage et l'on oublie la voix
le cœur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
l'autre qu'on devinait au détour d'un regard
entre les mots, entre les lignes et sous le fard
d'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
avec le temps tout s'évanouit
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules
à la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
l'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
avec le temps, va, tout va bien
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie les passions et l'on oublie les voix
qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
et l'on se sent floué par les années perdues- alors vraiment
avec le temps on n'aime plus
Avec le Temps, Léo Férré
Des jours heureux où nous étions amis.
En ce temps-là la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle.
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais.
C'est une chanson qui nous ressemble.
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment.
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.
Les Feuilles Mortes, Jacques Prévert
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vue deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne Me Quitte Pas, Jacques Brel
Avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie le visage et l'on oublie la voix
le cœur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
l'autre qu'on devinait au détour d'un regard
entre les mots, entre les lignes et sous le fard
d'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
avec le temps tout s'évanouit
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules
à la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
l'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
avec le temps, va, tout va bien
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie les passions et l'on oublie les voix
qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
et l'on se sent floué par les années perdues- alors vraiment
avec le temps on n'aime plus
Avec le Temps, Léo Férré
Fly Me to the Moon
Fly me to the moon
And let me play among the stars
Let me see what spring is like
On Jupiter and Mars
In other words hold my hand
In other words darling kiss me
Fill my life with song
And let me sing forevermore
You are all I hope for
All I worship and adore
In other words please be true
In other words I love you
And let me play among the stars
Let me see what spring is like
On Jupiter and Mars
In other words hold my hand
In other words darling kiss me
Fill my life with song
And let me sing forevermore
You are all I hope for
All I worship and adore
In other words please be true
In other words I love you
A PALA
"A Ordem dos Arquitectos manifestou a sua vontade em ocupar o Pavilhão de Portugal", cito de memória algo lido há uns dias. Dadas as diferenças entre o discurso oficial, politicamente correcto, e o que já ouvi à boca pequena a muitos dos arquitectos da chamada "escola de Lisboa" (onde cabem, por exclusão, todos os que não se sintonizam com a "escola do Porto"), pergunto-me se o anúncio não passará de publicidade encapotada à actual equipa dirigente.
Sobre o Siza, já ouvi de tudo. De bestial a besta. Eu, que até nem sou arquitecto, prefiro ver a obra e decidir por mim. E se tirarmos a citada pala (e só a pala) - que, justamente, se constituiu como um ícone do seu autor (ainda que eu considere que a asa do engenheiro que a projectou bateu ainda mais alto) - a obra que se construiu em Lisboa saída do atelier do luso prémio Pritzker, está ao mesmo nível da taveiradas que a esquerda BCBG se entreteve tanto a desdenhar nos anos 80/90. Ou seja, está mal integrada, destroi espaços em vez de os unir, apresenta pormenores piores que maus. É um bocado como os quadros que os novos-ricos põem nos salões dos T10 recentemente comprados: com uma assinatura suficientemente grande para se ver ao longe e de dimensões generosas. "Já viu o meu novo Siza?"
Um dia, perguntei a um seu colega, igualmente portista, esquerdista e elitista, se não havia uma cabala dos arquitectos do Porto para, propositadamente, projectar mamarrachos para a terra dos mouros. Levou a mal. "Já olhaste como deve de ser para as traseiras do Grandela? Já viste os pátios do Chiado? O que me dizes da cloaca do Metro no Largo do Chiado?" Continuou a levar a mal.
Quando ao Pavilhão de Portugal: a ser uma obra grandiosa, porque é que não encontram ocupação para ela? Deve ser como a Torre de Belém - de tão monumental, só serve para os turistas.
Sobre o Siza, já ouvi de tudo. De bestial a besta. Eu, que até nem sou arquitecto, prefiro ver a obra e decidir por mim. E se tirarmos a citada pala (e só a pala) - que, justamente, se constituiu como um ícone do seu autor (ainda que eu considere que a asa do engenheiro que a projectou bateu ainda mais alto) - a obra que se construiu em Lisboa saída do atelier do luso prémio Pritzker, está ao mesmo nível da taveiradas que a esquerda BCBG se entreteve tanto a desdenhar nos anos 80/90. Ou seja, está mal integrada, destroi espaços em vez de os unir, apresenta pormenores piores que maus. É um bocado como os quadros que os novos-ricos põem nos salões dos T10 recentemente comprados: com uma assinatura suficientemente grande para se ver ao longe e de dimensões generosas. "Já viu o meu novo Siza?"
Um dia, perguntei a um seu colega, igualmente portista, esquerdista e elitista, se não havia uma cabala dos arquitectos do Porto para, propositadamente, projectar mamarrachos para a terra dos mouros. Levou a mal. "Já olhaste como deve de ser para as traseiras do Grandela? Já viste os pátios do Chiado? O que me dizes da cloaca do Metro no Largo do Chiado?" Continuou a levar a mal.
Quando ao Pavilhão de Portugal: a ser uma obra grandiosa, porque é que não encontram ocupação para ela? Deve ser como a Torre de Belém - de tão monumental, só serve para os turistas.
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO
A RTP1 está a exibir "O Gosto dos Outros". A RTP2 a "Twelfth Night".
Parece que voltei ao passado e o embaraço da escolha estava entre escolher de entre o que mais se gostava e não o que menos entedia.
PS - A propósito de filmes de Shakespeare, "Looking for Richard" do Al Pacino, é um exercício fascinante.
Parece que voltei ao passado e o embaraço da escolha estava entre escolher de entre o que mais se gostava e não o que menos entedia.
PS - A propósito de filmes de Shakespeare, "Looking for Richard" do Al Pacino, é um exercício fascinante.
NUNO GONÇALVES
A produção da escola portuguesa do renascimento está repleta de grandes obras, injustamente desvalorizadas, esquecidas nesses sarcófagos que são os museus nacionais ou, pior, em igrejas perdidas de fé e de clientes, geridas por padres ignorantes dos tesouros que têm entre mãos.
No ranking de popularidade dos pintores portugueses, Nuno Gonçalves talvez apareça em primeiro lugar, categoria "mortos e enterrados" mercê das exaltações patriotico-salazarentas às particularidades lusitanas dos Painéis da Capela de S. Vicente cujos ecos ainda hoje perduram e dos aparecimentos - mais ou menos esporádicos - em versão ilustração de capas de livros e de artigos de revistas.
No entanto, mais do que os "Painéis", o quadro que me enche de uma perturbação que vai muito para lá dos limites da razão é o "Ecce Homo" - essa figura a quem não nos é permitido ver o olhar, a quem é cortada a possibilidade de comunicar, de nos olhar. A perca da sua condição humana não lhe adveio das torturas a que foi submetido; nem a coroa de espinhos, nem as mãos atadas nem a fragilidade do corpo chegaram para o humilhar; nem penso, chegarão para nos impressionar, a nós receptáculos dessa transferência de sentimentos a quem a história já foi contada tantas vezes antes. O que verdadeiramente o aniquila é esse corte com o outro, essa mancha branca em forma de lençol que lhe cobre parcialmente o rosto. Quem é este homem que vem do desconhecido e se mantém desconhecido? Quem somos nós, algozes e espectadores passivos?
A pintura foi executada na segunda metade do século XV. A pintura italiana refulgia na sua miríade de descobridores artistas, na sua descoberta da natureza e do papel do homem nessa natureza, na descoberta do próprio homem. A pintura flamenga brilhava igualmente com a exploração da relação do homem com o seu ambiente urbano, espiritual. Em Portugal, país pequeno, pobre, atrasado, um homem ousava interrogar assim, muito antes do tempo. E esta marca, esta pergunta, esta perturbação, de actuais que ainda são, merecem muito mais o prime time do que as obscenas figuras que nos ocupam o tempo neste presente deplorável.
No ranking de popularidade dos pintores portugueses, Nuno Gonçalves talvez apareça em primeiro lugar, categoria "mortos e enterrados" mercê das exaltações patriotico-salazarentas às particularidades lusitanas dos Painéis da Capela de S. Vicente cujos ecos ainda hoje perduram e dos aparecimentos - mais ou menos esporádicos - em versão ilustração de capas de livros e de artigos de revistas.
No entanto, mais do que os "Painéis", o quadro que me enche de uma perturbação que vai muito para lá dos limites da razão é o "Ecce Homo" - essa figura a quem não nos é permitido ver o olhar, a quem é cortada a possibilidade de comunicar, de nos olhar. A perca da sua condição humana não lhe adveio das torturas a que foi submetido; nem a coroa de espinhos, nem as mãos atadas nem a fragilidade do corpo chegaram para o humilhar; nem penso, chegarão para nos impressionar, a nós receptáculos dessa transferência de sentimentos a quem a história já foi contada tantas vezes antes. O que verdadeiramente o aniquila é esse corte com o outro, essa mancha branca em forma de lençol que lhe cobre parcialmente o rosto. Quem é este homem que vem do desconhecido e se mantém desconhecido? Quem somos nós, algozes e espectadores passivos?
A pintura foi executada na segunda metade do século XV. A pintura italiana refulgia na sua miríade de descobridores artistas, na sua descoberta da natureza e do papel do homem nessa natureza, na descoberta do próprio homem. A pintura flamenga brilhava igualmente com a exploração da relação do homem com o seu ambiente urbano, espiritual. Em Portugal, país pequeno, pobre, atrasado, um homem ousava interrogar assim, muito antes do tempo. E esta marca, esta pergunta, esta perturbação, de actuais que ainda são, merecem muito mais o prime time do que as obscenas figuras que nos ocupam o tempo neste presente deplorável.
ALEXANDRE O'NEIL
E já que falo do poeta, eis a que considero a mais genial das frases publicitárias concebidas para o Metro:
"Vá de metro, Satanás!"
"Vá de metro, Satanás!"
A NOSSA MINISTRA FAVORITA
Há que dizê-lo com frontalidade - Teresa Patrício Gouveia é:
1. A resposta portuguesa ao estado de orfandade em que a União Europeia caiu depois do desaparecimento de Anna Lind;
2. Uma segunda homenagem à memória de Alexandre O'Neil, depois da adoção de "O Cherne" como hino oficial do PSD da era Durão;
3. O Nuno Rogeiro dos ministros portugueses - depois da Cultura e do Ambiente ei-la encarregue dos Negócios Estrangeiros;
4 - Ainda uma mulher ravissante.
1. A resposta portuguesa ao estado de orfandade em que a União Europeia caiu depois do desaparecimento de Anna Lind;
2. Uma segunda homenagem à memória de Alexandre O'Neil, depois da adoção de "O Cherne" como hino oficial do PSD da era Durão;
3. O Nuno Rogeiro dos ministros portugueses - depois da Cultura e do Ambiente ei-la encarregue dos Negócios Estrangeiros;
4 - Ainda uma mulher ravissante.
outubro 09, 2003
RÁDIO COMERCIAL
Houve um tempo, não há muito tempo, em que Portugal era um país inocente, procurando o seu caminho entre dois cinzentismos - o passado e o futuro.
Nesse tempo, onde não havia auto-estradas mas também ainda ninguém tinha experimentado a absoluta necessidade de enriquecer em 2 anos, onde não havia revistas de moda mas ninguém se preocupava muito com a vida do "jet-set", onde só havia RTP mas ainda haviam noites televisivas dedicadas ao teatro, à ópera, às entrevistas e a filmes importantes da história do cinema, nesse tempo, uma rádio entretinha-se a ganhar o seu lugar nas memórias, nos gostos, nos gestos dos muitos que a ouviam.
Veio esta lembrança agora, a propósito dos entusiasmos militantes por Brel, declarados aqui e ali por alguns dos meus bloguistas de estimação. Há muitos anos, um radialista ousou (pelos parâmetros de hoje, duplamente ousou) passar duas vezes seguidas o "Ne me quitte pas". Duas vezes seguidas, para meu espanto e delícia.
Um outro tempo.
E as conversas do "Café Concerto" da Maria José Mauperrin, todas as noites, das 10 à meia-noite? Os delírios do "Pão com Manteiga" ("incesto" é um jogo de basquetebol entre dois irmãos) ?
O 25 de Abril ainda não tinha esfriado, as utopias eram passíveis de ser acreditadas, o dinheiro tinha importância mas ninguém lhe dava assim tanta importância.
Saudosismo? Não. Mas saudades do hábito quotidiano de ouvir coisas interessantes.
Nesse tempo, onde não havia auto-estradas mas também ainda ninguém tinha experimentado a absoluta necessidade de enriquecer em 2 anos, onde não havia revistas de moda mas ninguém se preocupava muito com a vida do "jet-set", onde só havia RTP mas ainda haviam noites televisivas dedicadas ao teatro, à ópera, às entrevistas e a filmes importantes da história do cinema, nesse tempo, uma rádio entretinha-se a ganhar o seu lugar nas memórias, nos gostos, nos gestos dos muitos que a ouviam.
Veio esta lembrança agora, a propósito dos entusiasmos militantes por Brel, declarados aqui e ali por alguns dos meus bloguistas de estimação. Há muitos anos, um radialista ousou (pelos parâmetros de hoje, duplamente ousou) passar duas vezes seguidas o "Ne me quitte pas". Duas vezes seguidas, para meu espanto e delícia.
Um outro tempo.
E as conversas do "Café Concerto" da Maria José Mauperrin, todas as noites, das 10 à meia-noite? Os delírios do "Pão com Manteiga" ("incesto" é um jogo de basquetebol entre dois irmãos) ?
O 25 de Abril ainda não tinha esfriado, as utopias eram passíveis de ser acreditadas, o dinheiro tinha importância mas ninguém lhe dava assim tanta importância.
Saudosismo? Não. Mas saudades do hábito quotidiano de ouvir coisas interessantes.
LÉXICO POLÍTICO-PARTIDÁRIO II
Abraçar - acto pelo qual se conseguem uns segundos de exposição em "prime-time"
MAS NÃO HÁ MAIS NADA PARA FAZER?
Não tenho dúvidas acerca da importância do correcto funcionamento da justiça, assim como os juízes tirados pela média são como os árbitros de futebol: parecem que podem errar impunemente e, em simultâneo, que obedecem a desconhecidos critérios, a mais que secretas pressões. Para além de, muitas das vezes, decidirem com base em provas, relatórios ou peritagens muito débeis.
Até acho muito bem que se erga a voz pública para apontar, protestar, defender ou acusar, numa palavra, fazer o que lhe compete fazer. Mas, não há mais nada para fazer? O país não sabe traçar um rumo a mais de 6 meses, todas as desgraças do mundo parecem aproximar-se via União Europeia, não há uma estratégia global, não há respostas, não há PERGUNTAS?
Até acho muito bem que se erga a voz pública para apontar, protestar, defender ou acusar, numa palavra, fazer o que lhe compete fazer. Mas, não há mais nada para fazer? O país não sabe traçar um rumo a mais de 6 meses, todas as desgraças do mundo parecem aproximar-se via União Europeia, não há uma estratégia global, não há respostas, não há PERGUNTAS?
I WISH
Gostava de ser jornalista. Grafar erradamente palavras estrangeiras e ter a grata surpresa de, anos mais tarde, ver o meu erro citado como exemplo de grafia correcta num novíssimo dicionário da língua portuguesa. Deve ser bom fazer avançar o mundo assim.
outubro 08, 2003
QUAL É O PARTIDO DO JUIZ RUI TEIXEIRA?
Partido Judicial. Acima de qualquer partido. Acima de qualquer democracia.
O POVO LIBERTOU O CAMARADA ARNALDO MATOS
Nos idos de 75, Lisboa encheu-se de murais e cartazes tonitruantes onde, no seu grafismo a vermelho e amarelo, se revelava urbi et orbi a grandiosa libertação do Grande Educador: uma mole imensa levava em ombros o camarada dirigente após, subentendendo-se, uma heróica marcha de protesto à qual os agentes social-fascistas não tiveram outro remédio senão obedecer.
Hoje, o parlamento parecia um mural do MR. Palmas, abraços ("sou a tua libertação - trouxe confettis!"), sorrisos de dever cumprido, " a democracia salvou-se" - a alegria de ver um amigo fora da prisão aproximando-se rapidamente da demagogia.
Como bem observou Bettencourt Resendes, Paulo Pedroso "está tão inocente hoje como em Maio". E tão indiciado hoje como em Maio.
No final dos julgamentos espero que não fique a ideia que tudo isto não passou de um alegre carnaval para entreter burgueses. Les cons.
Hoje, o parlamento parecia um mural do MR. Palmas, abraços ("sou a tua libertação - trouxe confettis!"), sorrisos de dever cumprido, " a democracia salvou-se" - a alegria de ver um amigo fora da prisão aproximando-se rapidamente da demagogia.
Como bem observou Bettencourt Resendes, Paulo Pedroso "está tão inocente hoje como em Maio". E tão indiciado hoje como em Maio.
No final dos julgamentos espero que não fique a ideia que tudo isto não passou de um alegre carnaval para entreter burgueses. Les cons.
outubro 07, 2003
DESAFIO
Aos jornalistas seniores. Durante uma semana, tomem o poder nas redacções e calem o fait-divers ensurdecedor. Durante uma semana, levem-nos a discutir o futuro e a preparar o referendo acerca da constituição europeizante.
COMENTÁRIO
- Senhor Embaixador, o que me diz da situação política do país?
- C'est grave, c'est excessivement grave....
- E da relevância que a mesma tem no contexto dos problemas que atravessamos?
- C'est fort, c'est excessivement fort...
- C'est grave, c'est excessivement grave....
- E da relevância que a mesma tem no contexto dos problemas que atravessamos?
- C'est fort, c'est excessivement fort...
TRIGUEIRAL
Miguel Portas à SIC: "Tudo isto é tão triste que não vale a pena dizer muito mais". Conciso e contudente, poupou-nos a verborreia estéril da restante oposição. Sigam o seu exemplo.
CALAFONAS
A propósito das eleições para governador da Califórnia:
- Ainda que ditatoriais na sua relação com o resto do mundo, os americanos levam a sua primeira emenda muito a sério: seria possível em Portugal dizer - "Sampaio e Santana: dumb and dumberer"?
- A candidatura democrata é tão má que a do Sr. Universo passa por salvadora.
Classe política nacional: aprendam com os erros dos outros!
- Ainda que ditatoriais na sua relação com o resto do mundo, os americanos levam a sua primeira emenda muito a sério: seria possível em Portugal dizer - "Sampaio e Santana: dumb and dumberer"?
- A candidatura democrata é tão má que a do Sr. Universo passa por salvadora.
Classe política nacional: aprendam com os erros dos outros!
MOLINA
Muñoz Molina escreve "(...) Nem a voz nem as pupilas pareciam pertencer-lhe: talvez fossem suas muitos anos depois, quando já nada tivesse na sua vida que não fosse irreparável."
Que tristeza pensar que a vida chegará a um ponto em que tudo parece irreparável.
Que tristeza pensar que a vida chegará a um ponto em que tudo parece irreparável.
MARIA RITA
A nova "buzz word" nos meios musicais brasileiros. Filha de dois peixões - Elis Regina e César Camargo Mariano -, parece destinada a nadar no mito Elis.
Para além de aceitar o seu destino "genético" em resposta aqueles que lhe apontam as parecenças musicais com a mãe, o primeiro album é uma invocação das suas memórias, ainda que purgado de originais antes interpretados por Elis. Ouvir "Encontros e Despedidas" é embarcar num regresso ao passado. "Menina da Lua" é de uma ternura, uma beleza...
Fica feito o convite.
Maria Rita
Para além de aceitar o seu destino "genético" em resposta aqueles que lhe apontam as parecenças musicais com a mãe, o primeiro album é uma invocação das suas memórias, ainda que purgado de originais antes interpretados por Elis. Ouvir "Encontros e Despedidas" é embarcar num regresso ao passado. "Menina da Lua" é de uma ternura, uma beleza...
Fica feito o convite.
LÉXICO POLÍTICO-PARTIDÁRIO
Olho de Lynce - O mesmo que "sem olho para o negócio"
Cruzar - Combinar uma excepção à lei com um chefe de gabinete
Cruzar - Combinar uma excepção à lei com um chefe de gabinete
outubro 06, 2003
LIGEIRAMENTE APREENSIVO
A maior parte do conhecimento objectivo que temos do mundo chega-nos filtrada pela comunicação social. A qual, ainda que numa menor percentagem, também recebe essa informação já filtrada pelas fontes.
É utópico almejar a um acesso directo às coisas, aos acontecimentos, às gentes, mas não se sentem "ligeiramente" apreensivos por terem as vossas escolhas condicionadas pelas escolhas de outrém?
É utópico almejar a um acesso directo às coisas, aos acontecimentos, às gentes, mas não se sentem "ligeiramente" apreensivos por terem as vossas escolhas condicionadas pelas escolhas de outrém?
outubro 05, 2003
LISBOA EM PARIS
Pequena notícia na última página do caderno principal do Expresso - exposição fotográfica em Paris retrata Lisboa como uma cidade decadente, de bairros de lata e prédios a cair.
Não percebo se a localização da mesma é expressão de um envergonhado embaraçoo ou corresponde a uma dimensão de "fait-divers" ("fé divere"?). Choca-me a ausência de comentário. Tanto me fazia "ora tomem lá, os franceses a porem o dedo na ferida" como "vejam-me estes traiçoeiros destes camones a inventar mentiras", desde que, com isso, provocassem algum debate, cada vez mais indispensável.
Lisboa é uma cidade moribunda. Perde habitantes como um tinhoso perde pelo - e a tinha não é uma comparação gratuita. Entre os censos de 81 e de 2001 cerca de 250.000 habitantes abandonaram a cidade. No entanto, a área metropolitana cresceu, no mesmo período, em cerca de 180.000 habitantes... Copiamos das cidades americanas a fuga para o subúrbio, mas esquecemo-nos da qualidade de vida que os mesmos por lá apresentam (enfim, de uma monotonia absurda, mas que, comparada com Seixais, Brandoas, Odivelas, etc....). Da esquerda europeia herdámos a utopia e esquecemo-nos de perguntar como se faz...
Nas zonas menos modernaças, é doloroso erguer os olhos e encontrar metade dos andares abandonados. Nos bairros históricos é deprimente ver o estado de degradação absoluto a que chegaram construções e habitantes. Doi ver escritórios em apartamentos que, pela localização e dimensão seriam de generoso usufruto pelas classes médias. Doi ver destruir prédios com cem anos para neles se implantarem camafeus ainda mais descaracterizados. Em ruas estreitas. Em bairros que morrem ao entardecer.
Será assim tão difícil inverter a tendência?
Não há muitos anos, o principal responsável municipal pela reabilitação urbana defendia que era preciso, a todo o custo, manter as populações autóctones dos bairros históricos. Com cancelas e correntes? Trabalho desgastante - e sem vencedores. As populações empobrecidas e envelhecidas só se mantêm com subsídios (e onde o dinheiro, onde a auto-sustentabilidade que se pretende?). E a auto-sustentabilidade só se alcança com a criação de condições de geração de riqueza - melhores edifícios, melhores condições, mais dinheiro gerado em rendas e gasto no comércio local.
E na esterilidade que o dogmatismo impôs se desperdiçaram verbas, oportunidades e esperanças.
Porque é que se torna tão difícil encontrar um apartamento no centro de Lisboa por um preço aceitável? Porque é que os produtos disponíveis não têm qualidade e apresentam uma relação preço/satisfação muito desproporcionada? Porque é que ninguém se preocupa?
Não percebo se a localização da mesma é expressão de um envergonhado embaraçoo ou corresponde a uma dimensão de "fait-divers" ("fé divere"?). Choca-me a ausência de comentário. Tanto me fazia "ora tomem lá, os franceses a porem o dedo na ferida" como "vejam-me estes traiçoeiros destes camones a inventar mentiras", desde que, com isso, provocassem algum debate, cada vez mais indispensável.
Lisboa é uma cidade moribunda. Perde habitantes como um tinhoso perde pelo - e a tinha não é uma comparação gratuita. Entre os censos de 81 e de 2001 cerca de 250.000 habitantes abandonaram a cidade. No entanto, a área metropolitana cresceu, no mesmo período, em cerca de 180.000 habitantes... Copiamos das cidades americanas a fuga para o subúrbio, mas esquecemo-nos da qualidade de vida que os mesmos por lá apresentam (enfim, de uma monotonia absurda, mas que, comparada com Seixais, Brandoas, Odivelas, etc....). Da esquerda europeia herdámos a utopia e esquecemo-nos de perguntar como se faz...
Nas zonas menos modernaças, é doloroso erguer os olhos e encontrar metade dos andares abandonados. Nos bairros históricos é deprimente ver o estado de degradação absoluto a que chegaram construções e habitantes. Doi ver escritórios em apartamentos que, pela localização e dimensão seriam de generoso usufruto pelas classes médias. Doi ver destruir prédios com cem anos para neles se implantarem camafeus ainda mais descaracterizados. Em ruas estreitas. Em bairros que morrem ao entardecer.
Será assim tão difícil inverter a tendência?
Não há muitos anos, o principal responsável municipal pela reabilitação urbana defendia que era preciso, a todo o custo, manter as populações autóctones dos bairros históricos. Com cancelas e correntes? Trabalho desgastante - e sem vencedores. As populações empobrecidas e envelhecidas só se mantêm com subsídios (e onde o dinheiro, onde a auto-sustentabilidade que se pretende?). E a auto-sustentabilidade só se alcança com a criação de condições de geração de riqueza - melhores edifícios, melhores condições, mais dinheiro gerado em rendas e gasto no comércio local.
E na esterilidade que o dogmatismo impôs se desperdiçaram verbas, oportunidades e esperanças.
Porque é que se torna tão difícil encontrar um apartamento no centro de Lisboa por um preço aceitável? Porque é que os produtos disponíveis não têm qualidade e apresentam uma relação preço/satisfação muito desproporcionada? Porque é que ninguém se preocupa?
PIAZZOLLA
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam um desejo absurdo de sofrer.
Na música de Piazzolla assenta este mesmo desejo de sofrimento, uma raiva desesperada, domada mas incontrolável de sentir. Para mim, é um grito de solidão, a falta de ar que se sente em locais muito vastos e muito ermos, muito cheios de vazio. Já sentiram este incongruente estado, onde a ausência do outro é insuportável, em simultâneo com a impossibilidade de se aceitar a sua presença?
Quando a oiço, sempre que a oiço, coexistem com ela imagens do rio, de portos cheios de abstractas máquinas paradas que em ferrugem se perdem. Ao longe, o marulhar de pequenas ondas de maré e o resto da cidade que não se vê. Perto, paredes de tijolo descarnadas, rugosas, mudas. Por certo é sempre Inverno e o vento e o frio são companhias. Porque será que todas são filmadas em 8mm, cheias de grão e já riscadas de tanto vistas?
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam um desejo absurdo de sofrer.
Na música de Piazzolla assenta este mesmo desejo de sofrimento, uma raiva desesperada, domada mas incontrolável de sentir. Para mim, é um grito de solidão, a falta de ar que se sente em locais muito vastos e muito ermos, muito cheios de vazio. Já sentiram este incongruente estado, onde a ausência do outro é insuportável, em simultâneo com a impossibilidade de se aceitar a sua presença?
Quando a oiço, sempre que a oiço, coexistem com ela imagens do rio, de portos cheios de abstractas máquinas paradas que em ferrugem se perdem. Ao longe, o marulhar de pequenas ondas de maré e o resto da cidade que não se vê. Perto, paredes de tijolo descarnadas, rugosas, mudas. Por certo é sempre Inverno e o vento e o frio são companhias. Porque será que todas são filmadas em 8mm, cheias de grão e já riscadas de tanto vistas?
outubro 02, 2003
SOPHIA
Tenho a esperança de encontrar quem tenha também vivido o secreto prazer de descobrir nas palavras de um poema a tela que o inspirou. Secreto porque mal parece gabarmo-nos de algo que só diz muito a nós próprios, prazer porque essa descoberta nos aparenta uma intimidade "especial" com a autora.
Estou farto de explicações. Quem quiser...
Confundindo os seus cabelos com os cabelos
do vento, têm o corpo feliz de ser tão seu e
tão denso em plena liberdade.
Lançam os braços pela praia fora e a brancura
dos seus pulsos penetra nas espumas.
Passam aves de asas agudas e a curva dos seus
olhos prologa o interminável rastro no céu
branco.
Com a boca colada ao horizonte aspiram longa-
mente a virgindade de um mundo que nasceu.
O extremo dos seus dedos toca o cimo de
delícia e vertigem onde o ar acaba e começa.
E aos seus ombros cola-se uma alga, feliz de
ser tão verde.
Estou farto de explicações. Quem quiser...
Confundindo os seus cabelos com os cabelos
do vento, têm o corpo feliz de ser tão seu e
tão denso em plena liberdade.
Lançam os braços pela praia fora e a brancura
dos seus pulsos penetra nas espumas.
Passam aves de asas agudas e a curva dos seus
olhos prologa o interminável rastro no céu
branco.
Com a boca colada ao horizonte aspiram longa-
mente a virgindade de um mundo que nasceu.
O extremo dos seus dedos toca o cimo de
delícia e vertigem onde o ar acaba e começa.
E aos seus ombros cola-se uma alga, feliz de
ser tão verde.
S P OHHHHHH
Old news. Os novos dirigentes da SPA parecem árbitros do futebol nacional a fingir que não vêem penalties (penaltis não, não não!). Numa demonstrativa e prolongada exibição de "old boys network", fecharam os olhos durante anos às liberdades poéticas do seu presidente e mais-que-tudo. Eram normais as birras, o esbanjamento de dinheiro (por exemplo, não vi ninguém, até agora, questionar os custos da segunda sede), os diversos cargos da herdeira (consultora estética? com que habilitações?) e tudo o mais que, só agora, se tornou público.
Porque é que se ignoraram as queixas de muitos autores "menores" (na sociedade), porque é que as acusações do Paco Bandeira foram branqueadas? Compadrio político, suborno?
É claro que não. A SPA mudou de nome há muito, só que se esqueceram de fazer o respectivo registo. Sociedade Portuguesa de OTÁRIOS.
E já agora: porque é que o organismo que se encarrega de defender os direitos do autor em Portugal nunca cumpriu a lei, "esquecendo-se" de afixar na fachada o nome do autor do projecto de arquitectura do edifício da Gonçalves Crespo?
Porque é que se ignoraram as queixas de muitos autores "menores" (na sociedade), porque é que as acusações do Paco Bandeira foram branqueadas? Compadrio político, suborno?
É claro que não. A SPA mudou de nome há muito, só que se esqueceram de fazer o respectivo registo. Sociedade Portuguesa de OTÁRIOS.
E já agora: porque é que o organismo que se encarrega de defender os direitos do autor em Portugal nunca cumpriu a lei, "esquecendo-se" de afixar na fachada o nome do autor do projecto de arquitectura do edifício da Gonçalves Crespo?
NORDESTE BRASILEIRO
Não, não é o que berra a moda do turismo classe média português.
Os melhores segredos do Recife são a Oficina - Museu Francisco Brennand, o restaurante Oficina do Sabor (outra oficina...) e a pujante edição discográfica local.
Quatro sentidos plenamente satisfeitos.
Os melhores segredos do Recife são a Oficina - Museu Francisco Brennand, o restaurante Oficina do Sabor (outra oficina...) e a pujante edição discográfica local.
Quatro sentidos plenamente satisfeitos.
outubro 01, 2003
VOLTO PARA CASA
Parado numa fila de trânsito no Saldanha. O Marechal, empoleirado num pedestal tornado ridiculamente pequeno pela pespectiva e pelos mamarrachos vítreos que o enquadram, parece apontar a saída, de sobretudo debaixo do braço. Saída de quê ou para quem? Mais à frente, na avenida, um desfile de motoqueiros oficiais, abrindo caminho quase à força para uma ignota comitiva.
Quem volta para casa sou eu, cansado já por esta chuva que ainda agora começou.
Quem volta para casa sou eu, cansado já por esta chuva que ainda agora começou.
DIESKAU
Por vezes compensa viver neste país alienígena. Alguns CDs da edição comemorativa do 75 anos de Fischer-Dieskau são oferecidos na Worten a 4,98€.
Confesso a descoberta das lieder de Beethoven. Um prazer.
Confesso a descoberta das lieder de Beethoven. Um prazer.
A MINHA OPINIÃO COLECTIVA
Estou farto. "A minha opinião pessoal...", "O meu amigo pessoal...".
Mas esta gente tem medo que lhes apaguem o nome ou quê???
Mas esta gente tem medo que lhes apaguem o nome ou quê???
CRIADO NOVO MOVIMENTO POLÍTICO EUROPEU!
No passado fim-de-semana, lá para o Norte, Estalinegrado, acho. Não, o revisionismo histórico esteve presente mas não era este o nome... Porto. É isso.
Bom, mas a notícia ultrapassa este fait-divers. O importante é a reconversão, muito cristã, muito politicamente correcta de quem tão mal andou, pelos caminhos do cepticismo europeu.
Ora bolas. Os EUROMANSOS chegaram. Duas orelhas e uma volta à arena.
Bom, mas a notícia ultrapassa este fait-divers. O importante é a reconversão, muito cristã, muito politicamente correcta de quem tão mal andou, pelos caminhos do cepticismo europeu.
Ora bolas. Os EUROMANSOS chegaram. Duas orelhas e uma volta à arena.
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