outubro 25, 2003

GOLDBERG

A ti deu-te para outra coisa,claro. A mim, esta paixão pelas "Variações Goldberg" deu-me para comprar tudo quanto é versão. A de Gould continua a ser a referência. Para além da mestria, da visão magnífica, há aquele murmúrio subjacente, aquele cantarolar que, ao mesmo tempo que destroi a austeridade dos intérpretes clássicos (o Nigel Kennedy é um palhaço, não conta...), constroi uma segunda versão, mais pessoal porque provavelmente inconsciente ou, pelo menos involuntária (talvez mais sem a determinação da razão do que da vontade, mas chamar-lhe irracional...).

Ontem comprei o Leonhardt. O rigor de sempre, uma beleza austera, correcta sim, talvez um pouco árida, muito apetecível, no entanto. Lembrei-me do único concerto a que assisti dele, 6 da noite na Gulbenkian (where else?). Uma mise-en-scene extraordinária: o cravo, um candeeiro de pé, e aquela figura, quase um João de Deus a sair dos esgotos em Alfama, sem a noção de Mal. Foi quase como se estivese na minmha sala, sózinho, a ouvir um amigo tocar.

Sem comentários: