Pequena notícia na última página do caderno principal do Expresso - exposição fotográfica em Paris retrata Lisboa como uma cidade decadente, de bairros de lata e prédios a cair.
Não percebo se a localização da mesma é expressão de um envergonhado embaraçoo ou corresponde a uma dimensão de "fait-divers" ("fé divere"?). Choca-me a ausência de comentário. Tanto me fazia "ora tomem lá, os franceses a porem o dedo na ferida" como "vejam-me estes traiçoeiros destes camones a inventar mentiras", desde que, com isso, provocassem algum debate, cada vez mais indispensável.
Lisboa é uma cidade moribunda. Perde habitantes como um tinhoso perde pelo - e a tinha não é uma comparação gratuita. Entre os censos de 81 e de 2001 cerca de 250.000 habitantes abandonaram a cidade. No entanto, a área metropolitana cresceu, no mesmo período, em cerca de 180.000 habitantes... Copiamos das cidades americanas a fuga para o subúrbio, mas esquecemo-nos da qualidade de vida que os mesmos por lá apresentam (enfim, de uma monotonia absurda, mas que, comparada com Seixais, Brandoas, Odivelas, etc....). Da esquerda europeia herdámos a utopia e esquecemo-nos de perguntar como se faz...
Nas zonas menos modernaças, é doloroso erguer os olhos e encontrar metade dos andares abandonados. Nos bairros históricos é deprimente ver o estado de degradação absoluto a que chegaram construções e habitantes. Doi ver escritórios em apartamentos que, pela localização e dimensão seriam de generoso usufruto pelas classes médias. Doi ver destruir prédios com cem anos para neles se implantarem camafeus ainda mais descaracterizados. Em ruas estreitas. Em bairros que morrem ao entardecer.
Será assim tão difícil inverter a tendência?
Não há muitos anos, o principal responsável municipal pela reabilitação urbana defendia que era preciso, a todo o custo, manter as populações autóctones dos bairros históricos. Com cancelas e correntes? Trabalho desgastante - e sem vencedores. As populações empobrecidas e envelhecidas só se mantêm com subsídios (e onde o dinheiro, onde a auto-sustentabilidade que se pretende?). E a auto-sustentabilidade só se alcança com a criação de condições de geração de riqueza - melhores edifícios, melhores condições, mais dinheiro gerado em rendas e gasto no comércio local.
E na esterilidade que o dogmatismo impôs se desperdiçaram verbas, oportunidades e esperanças.
Porque é que se torna tão difícil encontrar um apartamento no centro de Lisboa por um preço aceitável? Porque é que os produtos disponíveis não têm qualidade e apresentam uma relação preço/satisfação muito desproporcionada? Porque é que ninguém se preocupa?
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