outubro 23, 2003

DEMAGOGIA ou THE MAYOR'S PARK part II

Aviso desde já. Este post está cheio de demagogia.

O último desenvolvimento do caso que PSL fosse o mais mediático do ano - a recuperação do Parque Mayer -, é a comunicação, feita pelo Presidente em Barcelona, de que a CML está disponível para pagar a parte do projecto referente aos edifí­cios que ficarão propriedade municipal, deixando aos promotores privados (subentende-se que já colocados em fila e de braço no ar a pedir "escolhe-me a mim! escolhe-me a mim!") a suprema honra de arcar com os restantes 50% dos honorários do ilustre arquitecto.

Mais uma vez as razões apresentadas são falaciosas ("há muita gente disposta a pagar o pedido pela honra de ter um projecto assinado por Gehry") e demonstrativas ou de uma total ignorância face às realidades do mundo da promoção imobiliária ou de uma total demagogia.

Eu bem sei que há muita gente a comprar gato por lebre no mercado imobiliário, em especial no sector da habitação. Mas aqui estamos a falar de investimento nos sectores do comércio e seerviços, ou seja, nos sectores em que os investimentos são (ou deverão ser) criteriosamente estudados, onde cada euro tem o valor real e não o inconsistente peso de um item nas contas do erário público.

Ajudem-me a fazer contas. Simples, só para começo de conversa. A um preço de construção por metro quadrado, já muito inflacionado, para um edifí­cio de comércio e serviços de 150 contos, corresponderá, cumprindo-se os valores determinados por lei para honorários (os reais são sempre inferiores) cerca de 10% para a globalidade dos projectos. Ou seja, aos 3,5 milhõs de contos para pagamento de honorários reservados
aos privados, corresponderiam (caso os autores do projecto fossem portugueses) cerca de 230.000 metros quadrados de área de construção. Por exemplo, um edifício de 46 andares com uma área de implantação equivalente a um campo de futebol (100x50m).

De acordo com o preconizado no Plano Director, a área de construção total permitida é de cerca de 29.500 metros quadrados que o protocolo assinado por Jorge Sampaio enquanto Presidente da Câmara aumentou para 36.000 de área vendável. Contas redondas, um valor 6 vezes inferior ao determinado no parágrafo anterior. Quem quer pagar 6 vezes mais por um projecto?

Há por aí­ uns quantos exibicionistas que gostam de pagar o valor equivalente ao de um apartamento por um carro que está limitado por lei a andar a menos de metade da sua velocidade de ponta, que de revisão de oficina paga o mesmo que umas férias nas Caraíbas e que consome o mesmo de gasolina que uma frota inteira de taxistas. Mas empresários dispostos a deitar dinheiro pela janela desta forma....

Só mais um pequeno pormenor: o valor dos honorários pela qual PSL se responsabiliza equivale à recuperação de 50.000 (cinquenta mil) metros quadrados da Baixa Pombalina. Na balança equí­voca das comparações qual é a que pesa mais?

Sem comentários: