outubro 12, 2003

PSL E JS - A MESMA LUTA

Até os cinéfilos distraí­dos concordarão que o formato mais sucedido dos filmes cómicos é o que apresenta uma dupla com caracterí­sticas antagónicas, na linha circense do "palhaço rico / palhaço pobre". Para mim, "Laurel & Hardy" são o ápice desse formato, ainda que as histerias de Costello continuem a ressoar-me nos ouvidos, tantos anos passados desde a última vez que as ouvi. Há ainda um Jerry Lewis em princí­pio de carreira a levar a tiracolo o "rico" Dean Martin, as recentes parelhas étnicas e politicamente correctas, os irmãos Marx que começaram por ser quatro e depois passaram a três (e nunca chegaram a dois), os deprimentes 3 Estarolas and so on...

E o que é que este introito tem a ver com o tí­tulo? Só a minha lembrança, quando mentalmente comparava as imagens e os feitos dos últimos presidentes da Câmara de Lisboa, o derrotado e o presente. Fisicamente, são tão antagónicos como os referidos Bucha e Estica. Um é elitista de esquerda, o outro, populista de direita. Gostam ambos de folgar publicamente, têm fúrias ao vivo quando as coisas não lhes correm como querem e são capazes de frases politicamente perigosas quando encostados à  parede por perguntas mais atrevidas. O palhaço rico e o palhaço pobre são, afinal, tão parecidos.

JS teve o começo do seu funeral na que pretendia ser a sua obra de regime : o mamarracho elevatório para o Castelo;
PSL terá o seu funeral anunciado com o túnel das Amoreiras (aposto com quem quiser que, a ser concluí­do a tempo, só com recurso a "habilidades"). Isto se não se demitir primeiro para concorrer às presidenciais.

JS foi um revisionista histórico. A frase "o meu antecessor tentou fazer alguma obra, mas agora é que vai ser" esquecia o trabalho de sapa da equipa de Sampaio no que respeita à revisão do PDM e demais arquitectura jurí­dica que permitiria à  Câmara decidir, aprovar e incentivar com mais rigor. E não me esqueço do "apagão" ao ex-monumento ao Marechal Carmona. Em vez de acrescentar uma explicação que o contextualizasse historicamente, preferiu eliminà-lo e colocar em substituição os dois peões de nica que lá estão (totalmente desproporcionados, sem escala para aquele espaço... nós sabemos que JS é republicano, mas tratar assim duas esculturas...);
PSL é um revisionista histórico. Porque é que apagou o Norman Foster do Parque Mayer? Será que o projecto nunca existiu?

JS era um malcriadão. Só quem nunca assistiu a uma das suas fúrias pode achar o contrário;
PSL é um desbocado deselegante. Que o diga a sua vereadora para o Planeamento Urbanístico.

JS tinha uma concepção da cidade feita à sua medida, isto é, para a cidade só era bom o que lhe fizesse ganhar votos. E é por isso que os bairros históricos foram deixados ao abandono, o crescimento desordenado de Telheiras se manteve e o projecto do elevador avançou - era a tal obra de regime que, a ser feita, lhe garantiria a visibilidade necessária para a História, para mais um mandato e... para Belém;
PSL tem uma concepção da cidade feita à sua medida, isto é, para a cidade só é bom o que lhe fizer ganhar votos. E é por isso que os bairros históricos continuam deixados ao abandono, o crescimento desordenado de Telheiras se mantém e se avança para o túnel da Joaquim António de Aguiar - é a tal obra de regime que, a ser feita, lhe garantirá a visibilidade necessária para a História, para mais um mandato e... para Belém.

Perguntas indiscretas:

- O que se passa com o projecto do Parque Mayer? Gehry diz-se desconsolado com os atrasos... vê-se mesmo que nunca teve de aprovar um projecto em Lisboa.

- Porque é que se manteve a política do PCP para a Reabilitação Urbana e se mudaram as pessoas, quando, visivemente, era a polí­tica que estava errada?

- A Feira Popular fechou - o que é que vai ser daquele espaço? Eu sugiro: um conglomerado de escritórios (como se não houvesse já excesso de oferta), mais uns apartamentos para novos-ricos, um centro comercial e uns repuxos a fingir de zona verde. De preferência projectados por um arquitecto estrangeiro de assinatura grande. Ou pelo Valsassina. Ou, em estilo de grande rentrée, pelo Taveira, ele que até projectou três dos campos de futebol do Euro.

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