Os profissionais da central merecem cada cêntimo que ganham. Isto do ponto de vista de quem os empregou, claro. Duvido que quem lhes paga pense o mesmo.
Depois da orgia de comunicações e aparições mediáticas dos primeiros cem dias, estas duas últimas semanas parecem Agosto em Lisboa. E tão em silêncio anda todo o poder que esta travagem na descida dos impostos quase passava despercebida, não fora a natural sede de conflitos que anima a comunicação social.
Falando agora da medida em si: admitindo como altamente provável que, em Setembro de 2006 já quase nenhum dos beneficiários se lembrará dos avisos feitos agora, já viram o fartote de simpatia pelo Governo que a chegada dos cheques do reembolso fiscal engordecidos vai gerar? Uma pequena sugestão: porque não fazê-los acompanhar de uma pequena carta com a foto do senhor primeiro-ministro e a singela frase - Já reparou como a sua carteira anda mais recheada?
novembro 10, 2004
novembro 09, 2004
LISBOA, MAR

É um presente que não vai durar muito mais. Talvez a minha geração, duvido que a próxima. Por isso, circundemo-nos de rosas, amemos e bebamos. O mais será mesmo nada.
novembro 08, 2004
DEMOCRAZY
SKETCH CRAWL
Tenho-me referido algumas vezes ao fascínio que os diários ilustrados de viagem me causam. "Diário ilustrado" é um termo um bocado bacoco, datado. Caderno de viagem, talvez, traduzido directamente do francês carnet de voyage. Diary, journal. Eu, que gostaria de ser muito mais artista do que sou, de conseguir transmitir como vejo, deslumbro-me quando encontro quem o consiga fazer.
Descobri mais uma das possíveis maneiras: sketch crawl, por um italiano radicado em Nova Iorque, storyboarder nos estúdios Pixar. Com uma variante: as viagens são uma espécie de viagem à volta do meu quarto na própria cidade. No próximo 21 de Novembro propõe-se criar um passeio trans-nacional com os resultados a serem posteriormente publicados na net. Leiam-se pormenores aqui.
Descobri mais uma das possíveis maneiras: sketch crawl, por um italiano radicado em Nova Iorque, storyboarder nos estúdios Pixar. Com uma variante: as viagens são uma espécie de viagem à volta do meu quarto na própria cidade. No próximo 21 de Novembro propõe-se criar um passeio trans-nacional com os resultados a serem posteriormente publicados na net. Leiam-se pormenores aqui.
novembro 07, 2004
PRIMEIRO MUNDO
Tudo (que não todos) me quer convencer que sou um afortunado a viver no primeiro mundo: o meu país faz parte da União Europeia, pago com uma moeda forte, estou a ver na televisão um canal que transmite o Holandês Voador... Mas quando quero ser acarinhado por aquelas tontices consumistas que - essas sim! - caracterizam as delícias dum mercado atento e eficaz - zut, nada, niente!!!
Apetece-me pegar no telefone e encomendar comida tailandesa - onde está? A aproximação mais infinitesimal que consigo condena-me a enfiar os sapatos e palmilhar até ao 365 chinês mais próximo para o mais que ocidental chau-chau-chao-mi-chop-suey da ordem.
Nas sábias palavras do grande Calimero, it's an injustice, it is...!
Apetece-me pegar no telefone e encomendar comida tailandesa - onde está? A aproximação mais infinitesimal que consigo condena-me a enfiar os sapatos e palmilhar até ao 365 chinês mais próximo para o mais que ocidental chau-chau-chao-mi-chop-suey da ordem.
Nas sábias palavras do grande Calimero, it's an injustice, it is...!
novembro 06, 2004
NOVAS ADIÇÕES
... à categoria food. Sites gastrónimos. Ficam sempre bem na nossa gula (mais ou menos) descontrolada:
- An Obsession with Food
- Chocolate & Zucchini
- Il Forno
- Shiokadelicious!
- Tasting Menu
- The New York Times Dining & Wine
- Vinography, a Wine Blog
- An Obsession with Food
- Chocolate & Zucchini
- Il Forno
- Shiokadelicious!
- Tasting Menu
- The New York Times Dining & Wine
- Vinography, a Wine Blog
novembro 05, 2004
TACHAS
A piada da semana chega só hoje: justificar a criação de taxas de entrada na cidade para "diminuir a dependência que Portugal tem dos produtos petrolíferos" não é um "sound-byte", é um "morde-aqui-a-ver-se-eu-deixo". Um imposto para diminuir a dependência? E porque não uma taxa sobre os produtos alimentares para diminuir a dependência que Portugal tem dos produtos agrícolas espanhois?
Ai, ai, se o ridículo matasse...
Ai, ai, se o ridículo matasse...
PESPORRÊNCIAS
Há uma notícia que me martela os ouvidos desde o princípio da manhã via TSF e que irrita, irrita, irrita. Uma qualquer menoridade ministerial israelita (pois, não é só por cá) arroga-se o direito de conceder ao seu país poder não só sobre os vivos mas também sobre os mortos: segundo ele, Arafat não será "autorizado" a ser enterrado em Jerusalém porque "em Jerusalém só se enterram os reis judeus e não os teroristas árabes". É imbecil, é pesporrento. É um pecado. É tão para além do que deve ser o objectivo de um Estado e de uma Religião - a procura de uma convivência justa entre todos os homens - que me deixa sem palavras.
Só um pequeno comentário: eu sei que a definição do bem e do mal é relativa e que a última palavra cabe sempre aos vencedores. Mas, para além do credo e da nacionalidade, qual é a diferença entre o terrorismo que foi o de Arafat e o terrorismo que foi o de Begin, Dayan, Rabin, Shamir ou Sharon (e reporto-me só aos atentados e assassinatos que os mesmos efectuaram contra as tropas inglesas antes da criação do Estado de Israel)? Estar-lhes-à também vedado para todo o sempre o caminho do Paraíso?
Só um pequeno comentário: eu sei que a definição do bem e do mal é relativa e que a última palavra cabe sempre aos vencedores. Mas, para além do credo e da nacionalidade, qual é a diferença entre o terrorismo que foi o de Arafat e o terrorismo que foi o de Begin, Dayan, Rabin, Shamir ou Sharon (e reporto-me só aos atentados e assassinatos que os mesmos efectuaram contra as tropas inglesas antes da criação do Estado de Israel)? Estar-lhes-à também vedado para todo o sempre o caminho do Paraíso?
novembro 04, 2004
LINKS
Criei mais uma galeria de sites de blogs com ilustrações (continuo a perseguir "o" caderno de anotações ideal): artsy (à falta de melhor imaginação). (ena pá, tantos parenteses!!!)
Primeiras referências: Everyday Matters, Guild of Ghostwriters, Wish Jar Journal, Moleskinerie, Michael Dobs.
Como sempre, contribuições são bem vindas.
Primeiras referências: Everyday Matters, Guild of Ghostwriters, Wish Jar Journal, Moleskinerie, Michael Dobs.
Como sempre, contribuições são bem vindas.
NEM TODOS NO MESMO SACO
... ou alguns exemplos porque, ainda que tentador, não se deve tomar a árvore pela floresta:
1. Ten Reasons Not to move to Canada: Aqui (gosto especialmente de "americans are Not All YAHOOS")
2. George- Today, I am a disappointed woman. I have not voted for you and I do not like you. You say you would like to gain my trust. Here are a few ideas: Aqui
3. Sour grapes and bleeding hearts e os comentários subsequentes: Aqui
1. Ten Reasons Not to move to Canada: Aqui (gosto especialmente de "americans are Not All YAHOOS")
2. George- Today, I am a disappointed woman. I have not voted for you and I do not like you. You say you would like to gain my trust. Here are a few ideas: Aqui
3. Sour grapes and bleeding hearts e os comentários subsequentes: Aqui
novembro 03, 2004
novembro 02, 2004
VITRIOLICA
novembro 01, 2004
outubro 31, 2004
AS PRESIDENCIAIS AMERICANAS
Se há jogo político em que os papeis dos eleitores estão invertidos ele é o das eleições americanas. Não tenho dúvidas de que o seu resultado afectará muito mais o futuro dos que nelas não podem participar do que o dos que terão esse direito na próxima terça-feira.
Um dos que não pode votar mas que teve uma contribuição activa foi Bin Laden, com a sua comunicação apresentada ontem via Al-Jazeera.
Terá sido este, provavelmente, o empurrão decisivo para a vitória de Bush.
Um dos que não pode votar mas que teve uma contribuição activa foi Bin Laden, com a sua comunicação apresentada ontem via Al-Jazeera.
Terá sido este, provavelmente, o empurrão decisivo para a vitória de Bush.
outubro 30, 2004
BLOGS E PRIVACIDADE
Um dos efeitos mais marcantes que a feitura de um blog tem é a extrema curiosidade que se cria - qual governo da república - sobre tudo o que se relaciona com o mesmo. E quando refiro "que se relaciona", estou a ser literal: tudo que se mantém contacto com o blog - visitantes, notícias, links.
Se há uma coisa que este maravilhoso mundo novo informático faz bem é a capacidade de reter informação: é fácil saber quem de nós "fala" (escreve), quem nos "linka", de onde vêm quase todos os que nos visitam. Difícil, difícil, é descobrir os outros, os que não fazem parte desse "quase".
Consigo surpreender os meus amigos quando lhes falo da visita recente que fizeram a este blog - "Mas consegues saber isso? Como?" - denotando-lhes, na reacção, um susto que vai do assombramento pela "proeza" técnica ao desconforto por se sentirem controlados. Pouco a pouco, fui-me apercebendo o quanto esta curiosidade hedonista se aproxima de outros controlos. Como o que, recentemente, levou à busca judiciária à casa do autor de um Portugal profundo demais na revelação de informações supostamente abrangidas pelo segredo de justiça.
Desviei-me um pouco. Falava dos ignotos visitantes que, de moto próprio, digitam regularmente o meu endereço para - nunca o saberei com toda a certeza - lerem o que escrevo, o que penso, o que sinto. Apesar da página de comentários e do endereço de e-mail, optam por manter a privacidade por, discreta e incognitamente, entrar e sair, guardando para si o que daqui retiveram. É uma pena. Não sabem o quanto apreciaria ouvir os seus comentários, críticas, sugestões.
É o seu direito, o seu inalienável direito. Mas como moem a minha inata cusquice!
Se há uma coisa que este maravilhoso mundo novo informático faz bem é a capacidade de reter informação: é fácil saber quem de nós "fala" (escreve), quem nos "linka", de onde vêm quase todos os que nos visitam. Difícil, difícil, é descobrir os outros, os que não fazem parte desse "quase".
Consigo surpreender os meus amigos quando lhes falo da visita recente que fizeram a este blog - "Mas consegues saber isso? Como?" - denotando-lhes, na reacção, um susto que vai do assombramento pela "proeza" técnica ao desconforto por se sentirem controlados. Pouco a pouco, fui-me apercebendo o quanto esta curiosidade hedonista se aproxima de outros controlos. Como o que, recentemente, levou à busca judiciária à casa do autor de um Portugal profundo demais na revelação de informações supostamente abrangidas pelo segredo de justiça.
Desviei-me um pouco. Falava dos ignotos visitantes que, de moto próprio, digitam regularmente o meu endereço para - nunca o saberei com toda a certeza - lerem o que escrevo, o que penso, o que sinto. Apesar da página de comentários e do endereço de e-mail, optam por manter a privacidade por, discreta e incognitamente, entrar e sair, guardando para si o que daqui retiveram. É uma pena. Não sabem o quanto apreciaria ouvir os seus comentários, críticas, sugestões.
É o seu direito, o seu inalienável direito. Mas como moem a minha inata cusquice!
outubro 28, 2004
OS LEITORES (a)FEITOS AO SEU PLANETA
A propósito do REBOQUE TURNS GOURMET, escreve a Cláudia,
Pratos Nacionais? Arrisco nas migas que são confeccionadas por todo o País embora de formas distintas (feitas com pão, com broa, com pedacinhos de couve...); diria, também, o bacalhau cozido com batatas, grelos e ovo; lembro-me ainda do cozido à portuguesa, das caldeiradas de peixe e... tan na na na: (também valem sopas?!) o suculento caldo verde ;-)
As migas são, definitivamente uma hipótese. Aceito o envio de receitas. Modesto is my middle name.
Pratos Nacionais? Arrisco nas migas que são confeccionadas por todo o País embora de formas distintas (feitas com pão, com broa, com pedacinhos de couve...); diria, também, o bacalhau cozido com batatas, grelos e ovo; lembro-me ainda do cozido à portuguesa, das caldeiradas de peixe e... tan na na na: (também valem sopas?!) o suculento caldo verde ;-)
As migas são, definitivamente uma hipótese. Aceito o envio de receitas. Modesto is my middle name.
TRANSGÉNICOS
Passou relativamente ignorada a notícia de que, a partir do próximo ano, será possível cultivar-se milho transgénico em Portugal.
É natural. Casos tão transcendentais como a futura zanga de dois cunhados ou as actuais discussões entre uma socialite e uma porno star são muito mais importantes para o futuro dos portugueses dos que as possíveis perturbações físicas que as alterações genéticas dos alimentos lhes poderão causar.
Somos assim, destemidos do futuro e calhandreiros do presente.
Seria interessante, no entanto - que diabo, um pouco de informação também não fica mal! - ler qualquer coisa sobre o assunto. Eu recomendo vivamente o "Alimentos Transgénicos - Um Guia Para Consumidores Cautelosos" de Margarida Silva - doutorada em Biologia Molecular pela Universidade de Cornell - e publicado pela insuspeita (de "contaminações" antiglobalistas) Universidade Católica Editora em 2003.
Pode ser que se assustem. Ou que vão ao MacDo mais próximo afogar as mágoas.
É natural. Casos tão transcendentais como a futura zanga de dois cunhados ou as actuais discussões entre uma socialite e uma porno star são muito mais importantes para o futuro dos portugueses dos que as possíveis perturbações físicas que as alterações genéticas dos alimentos lhes poderão causar.
Somos assim, destemidos do futuro e calhandreiros do presente.
Seria interessante, no entanto - que diabo, um pouco de informação também não fica mal! - ler qualquer coisa sobre o assunto. Eu recomendo vivamente o "Alimentos Transgénicos - Um Guia Para Consumidores Cautelosos" de Margarida Silva - doutorada em Biologia Molecular pela Universidade de Cornell - e publicado pela insuspeita (de "contaminações" antiglobalistas) Universidade Católica Editora em 2003.
Pode ser que se assustem. Ou que vão ao MacDo mais próximo afogar as mágoas.
FREITAS DO AMARAL NA RTP
Não há dúvida que a idade - apesar da perda de faculdades físicas, da gordura, da calvície, das escleroses, das rugas, do reumático, do colesterol - traz muitas coisas boas.
O Diogo Freitas do Amaral que agora conversa com Judite de Sousa é um homem equilibrado, ponderado - centrista mesmo. Um democrata. Um homem lúcido (independentemente de se concordar ou não com as suas posições). (Acabou de se reafirmar como "centrista" desde sempre).
Longe vai aquela imagem de "papão" que a presidência do partido menos à esquerda do espectro político pós-revolução lhe conferia. Isso e a voz tremelicante evocadora de uma outra fantasmagórica voz, o ar "beto" e aquele inenarrável sobretudo verde.
O Diogo Freitas do Amaral que agora conversa com Judite de Sousa é um homem equilibrado, ponderado - centrista mesmo. Um democrata. Um homem lúcido (independentemente de se concordar ou não com as suas posições). (Acabou de se reafirmar como "centrista" desde sempre).
Longe vai aquela imagem de "papão" que a presidência do partido menos à esquerda do espectro político pós-revolução lhe conferia. Isso e a voz tremelicante evocadora de uma outra fantasmagórica voz, o ar "beto" e aquele inenarrável sobretudo verde.
outubro 27, 2004
A MAIORIA ASSOBIA E MARCELO PASSA
Ainda bem que existem estas pantominas semanais para nos aliviar um pouco das preocupações nacionais.
Como seria previsível, Marcelo Rebelo de Sousa - na sua segunda missa pós-demissão - partiu para além da loiça toda, as porcelanas e os cristais, tendo ainda tempo para ridicularizar o copeiro (Rui Gomes da Silva).
Mas, ainda que tivesse alguma piada o ar desencontrado de Paes do Amaral (ainda amigo?), em declarações justificativas ao jornal da TVI, o ridículo da semana fica a cargo dos vários elementos da maioria incitados a comentar as notas do professor:
- Guilherme Silva - como o cientista que concluía que uma mosca sem asas não ouve -, impante, congratula-se por, finalmente, se ter provado não terem existido pressões políticas, só económicas - é seu o dirreito à iluminação;
- O ministro Silva, ensaia um ar firme e retira-se, abrupto, face a perguntas impertinentes dos jornalistas - é seu o direito à indignação;
- O porta-voz do PP assegura que o seu partido não tem nada a ver com isso - é seu o direito à negação;
- Já o primeiro-ministro ensaia uma pose de Estado e, à falta de melhores ideias do seu centro de comunicadores, fica calado - é seu o direito à estagnação.
Será que Jorge Sampaio continua preocupado?
E Marcelo ri, e Marcelo ri...
Como seria previsível, Marcelo Rebelo de Sousa - na sua segunda missa pós-demissão - partiu para além da loiça toda, as porcelanas e os cristais, tendo ainda tempo para ridicularizar o copeiro (Rui Gomes da Silva).
Mas, ainda que tivesse alguma piada o ar desencontrado de Paes do Amaral (ainda amigo?), em declarações justificativas ao jornal da TVI, o ridículo da semana fica a cargo dos vários elementos da maioria incitados a comentar as notas do professor:
- Guilherme Silva - como o cientista que concluía que uma mosca sem asas não ouve -, impante, congratula-se por, finalmente, se ter provado não terem existido pressões políticas, só económicas - é seu o dirreito à iluminação;
- O ministro Silva, ensaia um ar firme e retira-se, abrupto, face a perguntas impertinentes dos jornalistas - é seu o direito à indignação;
- O porta-voz do PP assegura que o seu partido não tem nada a ver com isso - é seu o direito à negação;
- Já o primeiro-ministro ensaia uma pose de Estado e, à falta de melhores ideias do seu centro de comunicadores, fica calado - é seu o direito à estagnação.
Será que Jorge Sampaio continua preocupado?
E Marcelo ri, e Marcelo ri...
outubro 26, 2004
NEGRUME
Cavaco Silva confirmou, com as suas palavras desassombradas, o estado duvidoso (to say the least) da nossa economia e o futuro pouco menos que negro do país nos próximos anos.
Será que ele também faz parte da cabala?
Será que ele também faz parte da cabala?
REBOQUE TURNS GOURMET
Qual é O prato típico nacional? E qual é O prato típico de Lisboa?
Vá lá, contribuam com a vossa opinião, no Sábado tive 5 respostas diferentes de cinco pessoas. Usem o mail. Dá para repsonder melhor.
Vá lá, contribuam com a vossa opinião, no Sábado tive 5 respostas diferentes de cinco pessoas. Usem o mail. Dá para repsonder melhor.
outubro 25, 2004
O VOTO ELECTRÓNICO DA FLORIDA
Depois das confusões de há quatro anos, parece ter havido um esforço sério por parte dos responsáveis para agilizar e tornar claro o modo de votação no estado do Florida. Veja-se aqui a demonstração.
(Descoberto via Diário de Lisboa)
(Descoberto via Diário de Lisboa)
outubro 22, 2004
NOVIDADES
Acrescentei mais um capítulo à lista de links lateral: Lusofonias. Já que espalhámos língua e um modo de descodificar o mundo por todo esse mundo (e viva o Sr. Oliveira de Figueira!) porque não procurar o retorno e descodificar o mundo através das palavras dos descendentes desses caçadores de mistérios?
Começo pelo Brasil e espero descobrir (se contribuirem com sugestões ainda melhor!) nas restantes paragens da ex-diáspora novos habitantes da língua portuguesa.
Por agora, Balaio de Siri, Carta Aberta, Carlos Damião, Coluna Extra, Diário de Lisboa (de uma ex-residente em Lisboa) - todos sediados em Florianópolis com vista para o mundo (releiam, se quiserem, o meu Caderno de Viagem sobre a ilha) -, InternETC e D Madrid (de Madrid, mas brasileira).
E mais virão, agora que a minha obsessão se virou para estes lados.
Começo pelo Brasil e espero descobrir (se contribuirem com sugestões ainda melhor!) nas restantes paragens da ex-diáspora novos habitantes da língua portuguesa.
Por agora, Balaio de Siri, Carta Aberta, Carlos Damião, Coluna Extra, Diário de Lisboa (de uma ex-residente em Lisboa) - todos sediados em Florianópolis com vista para o mundo (releiam, se quiserem, o meu Caderno de Viagem sobre a ilha) -, InternETC e D Madrid (de Madrid, mas brasileira).
E mais virão, agora que a minha obsessão se virou para estes lados.
outubro 21, 2004
GOODBYE LENIN
Há vinte anos ouvia eu a uma professora alemã o reconhecimento de que, ainda que inscrita como objectivo na Constituição da República Federal Alemã, a reunificação era uma utopia.
Há 30 anos ofereciam-me estes selos, curiosidades "do lado de lá". Ainda era tempo dos amanhãs que cantarão, as paredes de Lisboa iam-se enchendo de estéticas idênticas, o povo libertava o camarada Arnaldo Matos e o agora indigitado presidente da comissão europeia, entre RGAs e frequências, planeava desvios de mobílias universitárias.
Na segunda metade do século vinte, metade da Europa ouviu ad nauseum estas palavras de ordem sem lhes saborear a verdade.
E o tempo passa e tudo se arrasta para o canto da História. Onde, finalmente, o indivíduo é apagado em favor do colectivo.
E o tempo passa e tudo se arrasta para o canto da História. Onde, finalmente, o indivíduo é apagado em favor do colectivo.
outubro 19, 2004
SÓ PERGUNTAS
Porque morre Lisboa? Porque perdeu Lisboa mais de 200 mil habitantes em 30 anos? Porque é que continua, apesar desse êxodo, a ser sede do emprego da maioria dos que a habitam perifericamente?
Como se inverte este processo?
Porque é que as pessoas continuam convencidas que é muito mais barato comprar casa nos subúrbios, apesar do acréscimo de custos de transporte?
Porque é que à esmagadora maioria dos promotores imobiliários lhes falta a cultura da diferença? Porque é que toda a gente se contenta em se endividar para o resto da vida com um produto sem qualidade? Porque é que toda a gente se resigna a morar em sítios deprimentes?
Que medidas que estratégias que acções para evitar que este estado de coisas se perpetue ad aeternum?
Como se inverte este processo?
Porque é que as pessoas continuam convencidas que é muito mais barato comprar casa nos subúrbios, apesar do acréscimo de custos de transporte?
Porque é que à esmagadora maioria dos promotores imobiliários lhes falta a cultura da diferença? Porque é que toda a gente se contenta em se endividar para o resto da vida com um produto sem qualidade? Porque é que toda a gente se resigna a morar em sítios deprimentes?
Que medidas que estratégias que acções para evitar que este estado de coisas se perpetue ad aeternum?
POIS
Hoje, na Associação 25 de Abril:
"Olha, esta parede parece uma sizada!... Esquece. Foi o Siza que fez o projecto."
"Olha, esta parede parece uma sizada!... Esquece. Foi o Siza que fez o projecto."
outubro 18, 2004
ARQUITECTURA
De uma certa forma,o que me fascina na arquitectura é a possibilidade que ela oferece de ver o mundo por outros olhos. Não só do arquitecto que projecta a sua visão sobre a pedra (poetica maneira de descrever o riscar sobre o branco vazio do papel) mas de cada um que ocupa a casa, que a habita e a transforma numa extensão de si próprio. Nós somos o nosso mundo, o que implica que o nosso mundo é um espelho de nós.
Seguir por uma avenida de Lisboa é perceber o presente e, principalmente os passados dos que a habitaram; é ser-lhe dado a oportunidade de retirar do turbilhão de testemunhos que perduram, as emoções, os vícios, os sonhos, as angústias de todos os momentos; é poder ouvir todas as vozes. Mundos sobre mundos, sobre mundos. Camadas e camadas que podem ser deslindadas.
Como na arte antiga, nunca os arquitectos das cidades tiveram a consciência do seu papel de artistas. Eram artesãos brilhantes dos espaços, construtores de soluções, adivinhos de ocupações. E, no entanto, como lhes devemos esta múltipla construção de visões, esta oferta de respostas para a vida.
Percorrer uma avenida, uma rua, é caminhar metafórica e geometricamente - para o infinito. Quantos de nós estamos preparados para o aceitar?
Seguir por uma avenida de Lisboa é perceber o presente e, principalmente os passados dos que a habitaram; é ser-lhe dado a oportunidade de retirar do turbilhão de testemunhos que perduram, as emoções, os vícios, os sonhos, as angústias de todos os momentos; é poder ouvir todas as vozes. Mundos sobre mundos, sobre mundos. Camadas e camadas que podem ser deslindadas.
Como na arte antiga, nunca os arquitectos das cidades tiveram a consciência do seu papel de artistas. Eram artesãos brilhantes dos espaços, construtores de soluções, adivinhos de ocupações. E, no entanto, como lhes devemos esta múltipla construção de visões, esta oferta de respostas para a vida.
Percorrer uma avenida, uma rua, é caminhar metafórica e geometricamente - para o infinito. Quantos de nós estamos preparados para o aceitar?
VIAGEM AO PASSADO
Almoço redescoberto no "Dragão De Ouro". Restaurante chinês pré-invasão, decoração portuguesa, empregada portuguesa, é um perfeito anacronismo que merece ser acarinhado. Comida chinesa e tailandesa.
Vão pela tailandesa, vão pela chinesa, vão simplesmente porque igual espaço não encontram. Tem ainda a vantagem de não se encher de famílias de fim-de-semana, é calmo, silencioso, muito anos sessenta, avenidas novas. Pareceu-me ver uma sugestão de Alexandra Alpha, muito de fugida, não me admirei.
Vão lá, vão.
Vão pela tailandesa, vão pela chinesa, vão simplesmente porque igual espaço não encontram. Tem ainda a vantagem de não se encher de famílias de fim-de-semana, é calmo, silencioso, muito anos sessenta, avenidas novas. Pareceu-me ver uma sugestão de Alexandra Alpha, muito de fugida, não me admirei.
Vão lá, vão.
outubro 17, 2004
DORMIU? NÃO DORMIU?
Realmente... O que seria de nós, portugueses, se não fosse a atenção constante do gabinete de imagem - perdão, comunicação - do Governo? Alvo de pérfidos ataques contra o Bom Nome das Instituições e a Honra das Pessoas por parte dos orgãos de comunicação social, como a espúria notícia do Expresso de ontem (a alegada sesta do primeiro-ministro), como poderíamos manter a cabeça fria para julgar positivamente a Grande Obra que este Executivo tem vindo a desenvolver nestes últimos três meses, liderado pelo Grande Timoneiro que é o Senhor Doutor Pedro Santana Lopes?
Francamente, alegar que este Grande Homem dedicou alguns minutos do seu dia a um acto tão mesquinho como descansar é uma vergonha, uma vil acção, uma calúnia!!! Pergunto-me se não haverá nada de errado naquele jornal...
Francamente, alegar que este Grande Homem dedicou alguns minutos do seu dia a um acto tão mesquinho como descansar é uma vergonha, uma vil acção, uma calúnia!!! Pergunto-me se não haverá nada de errado naquele jornal...
O TIO TÓNIO
Há uns dias, o Lourenço referia-se, com alguma razão, à impossibilidade das capelas mortuárias da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Até pode ser.
Mas experimentem entrar na igreja num dia de Sol e digam lá se o impacto dos raios de luz que descem sobre o altar destacando-se na penumbra do resto da sala não provoca uma sentida emoção mesmo ao mais empedernido dos ateus.
Até pode ser.
Mas experimentem entrar na igreja num dia de Sol e digam lá se o impacto dos raios de luz que descem sobre o altar destacando-se na penumbra do resto da sala não provoca uma sentida emoção mesmo ao mais empedernido dos ateus.
MISSA
Afinal Marcelo não resistiu muito tempo ao seu silêncio. Este Sábado, transmissão em diferido da homilia proferida ontem aos amigos jornalistas da TVI, com a amável abertura aos canais concorrentes.
outubro 14, 2004
NOTORIOUS
Alberto "soba" Jardim ontem , num comício em Porto Santo:
"Se não gostam de mim não votem em mim mas também não votem contra mim".
Notável.
"Se não gostam de mim não votem em mim mas também não votem contra mim".
Notável.
outubro 13, 2004
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (XI) - A EBAHL E O CASTELO
À boleia da presente polémica (a que o Céu sobre Lisboa dá um valioso contributo) à volta da cobrança de entrada no Castelo de S. Jorge veio à tona o nome da EBAHL, a já esquecida empresa municipal criada pela coligação PS-PC para a gestão dos equipamentos culturais existentes e a criar nos "bairros históricos" da cidade.
O que começou como uma ideia de eficácia e agilização de processos - ninguém desconhece que os muitos constrangimentos que o Estado sofre no que respeita à contratação de pessoal, à realização de concursos, à "funcionarite" paralisante, à gestão de verbas são muito menores nas empresas públicas - rapidamente se transformou num saco fundo para onde foram atiradas muitas das realizações cuja rapidez impedia o calmo remanso dos processos municipais. A EBAHL foi responsável por algumas das coisas boas que ocorreram durante o consulado PC na Reabilitação Urbana - a gestão dos concursos dos projectos e empreitadas de renovação dos edifícios-âncora (Bernardas, Museu do Fado, por exemplo) -, por algumas coisas más - os gastos desnecessários com instalações, os ordenados de administradores e restantes colocados políticos - e por algumas coisas espúrias - os contratos a prazo feitos por encomenda da CML para contratar técnicos de que a autarquia tinha necessidade e os quais estava impossibilitada de contratar directamente.
Numa tentativa de alcançar a autonomia financeira, previu a criação de uma série de receitas que só poderiam advir da exploração dos espaços que estavam sob a sua gestão - e assim surgiu a bizarra ideia de cobrar a entrada aos visitantes do Castelo. Ideia bizarra porque esquecia a condição de espaço público do mesmo e a fortíssima relação de empatia que os lisboetas - e principalmente os que habitavam as freguesias vizinhas - com ele desde a renovação de 42 mantiveram. O Castelo era o jardim público da colina. Era um espaço aberto. Era um espaço de todos.
A contestação não tardou, começando pelo presidente da junta de freguesia - eleito pelo PC - que recusou liminarmente a hipótese dos seus eleitores pagarem bilhete. A ele se juntaram os presidentes das juntas limítrofes, também eles comunistas da velha guarda, pouco dispostos a aceitar tão (na sua óptica) absurdo imposto. Acredito que a polémica se tenha espalhado pelas opacas paredes de vidro do partido. E começaram as cedências. Primeiro aos moradores da junta do Castelo, depois aos habitantes dos bairros "populares". E a isenção prometida só não chegou a mais porque o vereador percebeu o ridículo da coisa e desistiu da ideia.
Vem agora a empresa sucessora da EBAHL retomar a ideia, justificando-a num comunicado emitido pelo seu Gabinete de Comunicação. Demagógico quanto baste, como parece ser necessário nos tempos correntes, compara o incomparável - os jardins do Castelo não são os jardins de Monserrate, este Castelo não é a Acrópole... - e justifica-se com os custos da reabilitação. O que, a aceitar-se como verdade implicaria que em todos os edifícios camarários se passasse a cobrar portagem aos munícipes aquando da transposição da entrada, numa salutar utilização do princípio de utilizador-pagador. Como passaria a fazer sentido o fecho do Terreiro do Paço - que não ficará atrás do Mosteiro da Batalha ou do Mosteiro dos Jerónimos na qualidade arquitectónica ou no número de visitantes - e a cobrança da passagem para pagamento das obras de reabilitação e manutenção.
O que fica a nú é, mais uma vez, a incapacidade dos responsáveis para inventar soluções criativas para a geração de receitas. O que se passa com as receitas da Olisipónia e do Periscópio? São poucas? Porquê? Quanto paga o restaurante pelo aluguer do espaço? Esses sim são espaços reservados onde é legítimo exigir um pagamento pelo valor acrescentado induzido. E não é obrigação da autarquia conservar os imóveis da qual é proprietária do mesmo modo que a lei exige aos proprietários particulares? Para onde vão então as receitas criadas? Se calhar para reabilitações de edifícios incógnitos pagas a preço de ouro ou em obras desajustadas em edifícios históricos como foi o caso do Museu do Fado ou do Palácio Pancas-Palha hoje alugado por alguns tostões a empresas de amigos...
Com esta recuperação de uma ideia enjeitada pelo próprio criador (o PCP) revela-se mais uma vez a fraca capacidade do PSD de pensar por si próprio os destinos da reabilitação urbana na cidade. Ou talvez neste caso não haja lugar para grandes admirações. A presidente do conselho de administração da EGEAC transitou do mesmo cargo que detinha da EBAHL. E tendo começado como acessora política do gabinete do vereador Vitor Costa (ainda militante do PCP na altura) é natural que não lhe desgoste ver agora aplicada uma medida para a génese da qual tanto contribuiu em 95.
O que começou como uma ideia de eficácia e agilização de processos - ninguém desconhece que os muitos constrangimentos que o Estado sofre no que respeita à contratação de pessoal, à realização de concursos, à "funcionarite" paralisante, à gestão de verbas são muito menores nas empresas públicas - rapidamente se transformou num saco fundo para onde foram atiradas muitas das realizações cuja rapidez impedia o calmo remanso dos processos municipais. A EBAHL foi responsável por algumas das coisas boas que ocorreram durante o consulado PC na Reabilitação Urbana - a gestão dos concursos dos projectos e empreitadas de renovação dos edifícios-âncora (Bernardas, Museu do Fado, por exemplo) -, por algumas coisas más - os gastos desnecessários com instalações, os ordenados de administradores e restantes colocados políticos - e por algumas coisas espúrias - os contratos a prazo feitos por encomenda da CML para contratar técnicos de que a autarquia tinha necessidade e os quais estava impossibilitada de contratar directamente.
Numa tentativa de alcançar a autonomia financeira, previu a criação de uma série de receitas que só poderiam advir da exploração dos espaços que estavam sob a sua gestão - e assim surgiu a bizarra ideia de cobrar a entrada aos visitantes do Castelo. Ideia bizarra porque esquecia a condição de espaço público do mesmo e a fortíssima relação de empatia que os lisboetas - e principalmente os que habitavam as freguesias vizinhas - com ele desde a renovação de 42 mantiveram. O Castelo era o jardim público da colina. Era um espaço aberto. Era um espaço de todos.
A contestação não tardou, começando pelo presidente da junta de freguesia - eleito pelo PC - que recusou liminarmente a hipótese dos seus eleitores pagarem bilhete. A ele se juntaram os presidentes das juntas limítrofes, também eles comunistas da velha guarda, pouco dispostos a aceitar tão (na sua óptica) absurdo imposto. Acredito que a polémica se tenha espalhado pelas opacas paredes de vidro do partido. E começaram as cedências. Primeiro aos moradores da junta do Castelo, depois aos habitantes dos bairros "populares". E a isenção prometida só não chegou a mais porque o vereador percebeu o ridículo da coisa e desistiu da ideia.
Vem agora a empresa sucessora da EBAHL retomar a ideia, justificando-a num comunicado emitido pelo seu Gabinete de Comunicação. Demagógico quanto baste, como parece ser necessário nos tempos correntes, compara o incomparável - os jardins do Castelo não são os jardins de Monserrate, este Castelo não é a Acrópole... - e justifica-se com os custos da reabilitação. O que, a aceitar-se como verdade implicaria que em todos os edifícios camarários se passasse a cobrar portagem aos munícipes aquando da transposição da entrada, numa salutar utilização do princípio de utilizador-pagador. Como passaria a fazer sentido o fecho do Terreiro do Paço - que não ficará atrás do Mosteiro da Batalha ou do Mosteiro dos Jerónimos na qualidade arquitectónica ou no número de visitantes - e a cobrança da passagem para pagamento das obras de reabilitação e manutenção.
O que fica a nú é, mais uma vez, a incapacidade dos responsáveis para inventar soluções criativas para a geração de receitas. O que se passa com as receitas da Olisipónia e do Periscópio? São poucas? Porquê? Quanto paga o restaurante pelo aluguer do espaço? Esses sim são espaços reservados onde é legítimo exigir um pagamento pelo valor acrescentado induzido. E não é obrigação da autarquia conservar os imóveis da qual é proprietária do mesmo modo que a lei exige aos proprietários particulares? Para onde vão então as receitas criadas? Se calhar para reabilitações de edifícios incógnitos pagas a preço de ouro ou em obras desajustadas em edifícios históricos como foi o caso do Museu do Fado ou do Palácio Pancas-Palha hoje alugado por alguns tostões a empresas de amigos...
Com esta recuperação de uma ideia enjeitada pelo próprio criador (o PCP) revela-se mais uma vez a fraca capacidade do PSD de pensar por si próprio os destinos da reabilitação urbana na cidade. Ou talvez neste caso não haja lugar para grandes admirações. A presidente do conselho de administração da EGEAC transitou do mesmo cargo que detinha da EBAHL. E tendo começado como acessora política do gabinete do vereador Vitor Costa (ainda militante do PCP na altura) é natural que não lhe desgoste ver agora aplicada uma medida para a génese da qual tanto contribuiu em 95.
outubro 12, 2004
MICHAEL PALIN NA 2:
Depois da sua participação na melhor troupe humorística televisiva de sempre até ao aparecimento de Jerry Seinfeld (que, a propósito, também está em re-exibição na SICRadical em vários dias da semana, a preparar-nos para a orgia de Novembro com o lançamento dos DVDs das 3 primeiras épocas) e em filmes de humor e sucesso vário, Michael Palin encetou uma outra carreira como viajante ao serviço da BBC.
Continuando a longa tradição anglo-saxónica de exploradores-escritores, Palin transformou-se no "explorador" televisivo por excelência, deixando a milhas a concorrência fraquinha cujos exemplos o canal People & Arts se entretém a mostrar. Bom, a casa-mãe produtora é a BBC que nem agora nestes tempos conturbados se permite produtos fora da legendária "qualidade BBC" - o que também ajuda. Mas Palin, para além de evidentemente muito bem preparado (briefed?) para o que vai encontrar, assume uma postura que, não sendo neutra nem perdendo o humor que sempre o acompanhou, é a de respeito pelo que vê e com quem interage.
Começou por seguir os passos de Phileas Fogg e apresentou "Around the World in 80 Days", continuou com "From Pole to Pole", a tentativa de ligar os dois polos pelo máximo percurso possível por via terrestre". Recentemente vi na 2: o "Sahara", o périplo pelo conhecido deserto. Hoje, apanhei por acaso o "Himalaya" e já não fiz mais nada. Descobri agora no site dele que já tinha perdido (ou a televisão esqueceu-se de mo apresentar, coisas da concorrência) mais umas quantas viagens: "Full Circle" e "Hemingway".
Para quem, como eu, colecciona tudo o que apanha de literatura de viagem - leiam por exemplo Theroux, leiam - claro! - Chatwin, leiam Rosa Mendes, por exemplo - ver estas "aventuras" é um divertimento.
Não haverá por aí um produtor interessado em financiar as minhas próprias viagens? Juro pela minha saúde que não se ia arrepender com o resultado final.
Continuando a longa tradição anglo-saxónica de exploradores-escritores, Palin transformou-se no "explorador" televisivo por excelência, deixando a milhas a concorrência fraquinha cujos exemplos o canal People & Arts se entretém a mostrar. Bom, a casa-mãe produtora é a BBC que nem agora nestes tempos conturbados se permite produtos fora da legendária "qualidade BBC" - o que também ajuda. Mas Palin, para além de evidentemente muito bem preparado (briefed?) para o que vai encontrar, assume uma postura que, não sendo neutra nem perdendo o humor que sempre o acompanhou, é a de respeito pelo que vê e com quem interage.
Começou por seguir os passos de Phileas Fogg e apresentou "Around the World in 80 Days", continuou com "From Pole to Pole", a tentativa de ligar os dois polos pelo máximo percurso possível por via terrestre". Recentemente vi na 2: o "Sahara", o périplo pelo conhecido deserto. Hoje, apanhei por acaso o "Himalaya" e já não fiz mais nada. Descobri agora no site dele que já tinha perdido (ou a televisão esqueceu-se de mo apresentar, coisas da concorrência) mais umas quantas viagens: "Full Circle" e "Hemingway".
Para quem, como eu, colecciona tudo o que apanha de literatura de viagem - leiam por exemplo Theroux, leiam - claro! - Chatwin, leiam Rosa Mendes, por exemplo - ver estas "aventuras" é um divertimento.
Não haverá por aí um produtor interessado em financiar as minhas próprias viagens? Juro pela minha saúde que não se ia arrepender com o resultado final.
NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO
Com estas coisas da política tenho andado mesmo distraído com o resto dos acontecimentos. Então houve um ajustamento do acordo ortográfico e ninguém comentou? Foi preciso a National Geographic do mês passado - um destacável onde se referia "começe agora as suas férias" - e agora o Instituto Fraco-Português no seu site - com a propaganda à "5ª Festa do Cinema Françês" - para me avisarem da mudança da regra do uso do çê çedilhado? Porra, pá, que amigos da onça voçês me saíram!!!
outubro 11, 2004
BOM POVO PORTUGUÊS!... (IV)
Se já não bastava a intervenção propagandística em si, o episódio do anúncio da escolha da RTP como o veículo da sua transmissão e a secreta cedência da cassete com o discurso às restantes estações televisivas é tão absurdo, tão canhestro, tão deplorável, tão IDIOTA, que consegue fazer esquecer o affaire Marcelo.
Para além de um Governo-propaganda temos um Governo-sabonete, com teasers, surpresas de última hora, acordos de exclusivos torpedeados e, novidade das novidades! a antecipação de uma comunicação de Estado - de ESTADO... - por um canal concorrente.
Se isto já é o grau zero do grau zero, até onde se conseguirá descer mais?
Para além de um Governo-propaganda temos um Governo-sabonete, com teasers, surpresas de última hora, acordos de exclusivos torpedeados e, novidade das novidades! a antecipação de uma comunicação de Estado - de ESTADO... - por um canal concorrente.
Se isto já é o grau zero do grau zero, até onde se conseguirá descer mais?
BOM POVO PORTUGUÊS!... (III)
(LUSA)
BOM POVO PORTUGUÊS!... (II)
(LUSA)
BOM POVO PORTUGUÊS!... (I)
(LUSA)
CICLONES
Em conversa hoje com um amigo manifestava-lhe a minha admiração pelo peso que a situação política e económica de Portugal está a ter no meu equilíbrio emocional. Parece estranho não é, alguém andar deprimido porque não vê solução para tanta incompetência, desleixo e egopatia. Mas eu estou assim, deprimido.
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (X) - OS INGLESINHOS
Recebi os mails e li os diversos posts em vários blogs sobre o condomínio fechado que se pretende fazer sobre as ruínas do Convento dos Inglesinhos no Bairro Alto. Estive alguns dias sem escrever nada, para ver se conseguia distinguir melhor as coisas depois de assentar a poeira levantada por toda esta agitação.
Num primeiro momento, senti-me tentado a endossar palavras de apoio aos manifestantes, a palavrar contra a destruição de mais uma memória, a incentivar os protestos. Isto porque, lá bem no fundo, sou um anarquista militante que defende que só a contestação permite a discussão e que é só a partir desta que é possível tornar visíveis os erros e perceptíveis as suas correcções. Nada pior do que as águas estagnadas para enquinar ainda mais o ambiente.
Aprendi, no entanto, que a cabeça fria nunca fez mal a ninguém (veja-se o caso notável da ascensão do ex-mini-ministro do ambiente de António Guterres a futuro primeiro-ministro de Portugal) e que muita da nossa paixão é vergonhosamente condicionada para servir de instrumento aos interesses particulares de terceiros, mais aptos para manipular do que nós próprios.
Ora neste caso dos Inglesinhos, esta necessidade de cabeça fria parece-me óbvia. O que é que se discute: a queda em ruína de um convento lisboeta? A "estranha" venda do património imobiliário de uma Instituição de Solidariedade Social tutelada pelo Estado a um grupo privado (terá havido concurso? terá sido a CML notificada da mesma?)? O não interesse da CML em exercer o direito de preferência (porquê, quando o faz perante S. Jorges, ou edifícios de habitação decadentes, ou ruínas que, a custo, se podem considerar reeregíveis?)? Não, não e não. À boa maneira portuguesa, discute-se a conclusão e não as premissas.
Contestar o quê, agora, quando não se apresentou em tempo a proposta de classificação do edifício (ou não se lutou por ela), quando não se apresentaram propostas de uso do edificado, quando não se protestou pelo abandono a que o convento foi votado pelos seus anteriores proprietários?
Por outro lado, todos os argumentos agora apresentados se parecem terrivelmente com as vetustas ideias da anterior coligação (que a actual não negou) de manutenção da composição social dos Bairros Históricos (o primeiro director municipal da reabilitação urbana resumiu-as numa frase célebre, repetida até à exaustão - "há que evitar a todo o custo a gentrificação dos Bairros!"), misturada com a bem portuguesa inveja do "sucesso" dos outros ("a gente não quer que venham pr'aqui os ricos darem cabo disto tudo com condomínios fechados", ouvi a manifestantes entrevistados pelas televisões). Porque é que um bairro histórico não pode ser interclassista, ao contrário do que é defendido para as zonas mais recentes da cidade (Olivais, Alto do Lumiar)? Que urbanismo de postal é este?
Quanto ao demonizado "condomínio fechado" não vejo onde está o mal - qual é o quarteirão do Bairro Alto que é aberto? Quantos moradores estariam dispostos a abrir os seus logradouros à fruição pública?
Não, defnitivamente não estou contra esta promoção do grupo Amorim. Estou contra a destruição do convento, porque acho que é sempre possível reinventar os edifícios - principalmente quando estes não são criminosa e propositadamente deixados ao abandono e à intervenção do tempo e dos agentes atmosféricos. Estou contra a CML porque prefere deitar dinheiro fora em reabilitações duvidosas e de retorno - financeiro e social - impossível a usar o direito de preferência que a lei lhe confere para evitar o desaparecimento de edifícios que se podem constituir como polos de renascimento de zonas da cidade. Estou contra este país que se preocupa mais com o fio dental de um novo-rico aspirante a vedeta do que com a qualidade de vida nas suas cidades. Estou contra aqueles que, tendo a cultura e o conhecimento necessário, despertam tarde e a más horas para o que os cerca, numa espécie de ressabiamento tolo perante a desenvoltura negocial dos outros. Estarei contra os tolos que se irão publicitar nas revistas sociais nos salões pagos a preço de ouro e que não valem mais do que lata. Mas não estou contra quem viu uma oportunidade de negócio e soube actuar, aproveitando a passividade de uns e a incompetência de outros.
E repito o que já comentei no Céu de Lisboa: antes um condomínio privado que uma ruína pública.
Num primeiro momento, senti-me tentado a endossar palavras de apoio aos manifestantes, a palavrar contra a destruição de mais uma memória, a incentivar os protestos. Isto porque, lá bem no fundo, sou um anarquista militante que defende que só a contestação permite a discussão e que é só a partir desta que é possível tornar visíveis os erros e perceptíveis as suas correcções. Nada pior do que as águas estagnadas para enquinar ainda mais o ambiente.
Aprendi, no entanto, que a cabeça fria nunca fez mal a ninguém (veja-se o caso notável da ascensão do ex-mini-ministro do ambiente de António Guterres a futuro primeiro-ministro de Portugal) e que muita da nossa paixão é vergonhosamente condicionada para servir de instrumento aos interesses particulares de terceiros, mais aptos para manipular do que nós próprios.
Ora neste caso dos Inglesinhos, esta necessidade de cabeça fria parece-me óbvia. O que é que se discute: a queda em ruína de um convento lisboeta? A "estranha" venda do património imobiliário de uma Instituição de Solidariedade Social tutelada pelo Estado a um grupo privado (terá havido concurso? terá sido a CML notificada da mesma?)? O não interesse da CML em exercer o direito de preferência (porquê, quando o faz perante S. Jorges, ou edifícios de habitação decadentes, ou ruínas que, a custo, se podem considerar reeregíveis?)? Não, não e não. À boa maneira portuguesa, discute-se a conclusão e não as premissas.
Contestar o quê, agora, quando não se apresentou em tempo a proposta de classificação do edifício (ou não se lutou por ela), quando não se apresentaram propostas de uso do edificado, quando não se protestou pelo abandono a que o convento foi votado pelos seus anteriores proprietários?
Por outro lado, todos os argumentos agora apresentados se parecem terrivelmente com as vetustas ideias da anterior coligação (que a actual não negou) de manutenção da composição social dos Bairros Históricos (o primeiro director municipal da reabilitação urbana resumiu-as numa frase célebre, repetida até à exaustão - "há que evitar a todo o custo a gentrificação dos Bairros!"), misturada com a bem portuguesa inveja do "sucesso" dos outros ("a gente não quer que venham pr'aqui os ricos darem cabo disto tudo com condomínios fechados", ouvi a manifestantes entrevistados pelas televisões). Porque é que um bairro histórico não pode ser interclassista, ao contrário do que é defendido para as zonas mais recentes da cidade (Olivais, Alto do Lumiar)? Que urbanismo de postal é este?
Quanto ao demonizado "condomínio fechado" não vejo onde está o mal - qual é o quarteirão do Bairro Alto que é aberto? Quantos moradores estariam dispostos a abrir os seus logradouros à fruição pública?
Não, defnitivamente não estou contra esta promoção do grupo Amorim. Estou contra a destruição do convento, porque acho que é sempre possível reinventar os edifícios - principalmente quando estes não são criminosa e propositadamente deixados ao abandono e à intervenção do tempo e dos agentes atmosféricos. Estou contra a CML porque prefere deitar dinheiro fora em reabilitações duvidosas e de retorno - financeiro e social - impossível a usar o direito de preferência que a lei lhe confere para evitar o desaparecimento de edifícios que se podem constituir como polos de renascimento de zonas da cidade. Estou contra este país que se preocupa mais com o fio dental de um novo-rico aspirante a vedeta do que com a qualidade de vida nas suas cidades. Estou contra aqueles que, tendo a cultura e o conhecimento necessário, despertam tarde e a más horas para o que os cerca, numa espécie de ressabiamento tolo perante a desenvoltura negocial dos outros. Estarei contra os tolos que se irão publicitar nas revistas sociais nos salões pagos a preço de ouro e que não valem mais do que lata. Mas não estou contra quem viu uma oportunidade de negócio e soube actuar, aproveitando a passividade de uns e a incompetência de outros.
E repito o que já comentei no Céu de Lisboa: antes um condomínio privado que uma ruína pública.
THREE MO' TENORS
Não sei se o DVD já foi editado por cá, pelo que fica por esclarecer se o que vou escrever a seguir é comprovável, mas lá vai de qualquer maneira.
Se os espectáculos dos 3 Tenores tiveram a graça da novidade no início, rapidamente se tornaram num exercício penoso de seguir pela monotonia com que se repetiam e com a progressiva e acentuada quebra de qualidade sonora que os três artistas começaram a exibir ( a idade não perdoa). Ora, em 2000, três tenores americanos resolveram unir-se num espectáculo que deixou a quilómetros o que, deste lado do Atlântico se tinha iniciado.
O espectáculo, gravado pela PBS é um notável exercício de versatilidade (só possível por aquelas paragens) e de amor a todos os tipos de música. Um enormíssimo espectáculo.
Fico sem palavras. É de ver e rever e (aplica-se muito bem aqui) chorar por mais.
Ler mais um pouco aqui , aqui (os comentários do compradores)
THIS SUSPENSE IS KILLING ME
Ainda faltam tantas horas para a comunicação ao país do Primeiro-ministro... Meu Deus, os minutos passam tão devagar... Que será tão importante que mereça um anúncio com três dias de antecedência e a a nulação de parte do programa a cumprir nos Açores - iremos enviar mais GNRs para o Iraque? Será criada uma força de paz para a Guiné-Bissau? O Governo descobriu que, afinal, o défice deste ano não ultrapassará os 2%?
Ouvi-lhe uma alusão à descida dos impostos, ao aumento dos funcionários públicos e à manutenção do controlo do défice, tudo em simultaneo - será que Bagão Felix descobriu como obrigar todos os contribuintes a pagar os seus impostos? Ou será que PSL, nas obras de remodelação da sua actual residência, descobriu uma câmara secreta cheia de barras de ouro que Salazar foi escondendo durante a sua vida?
Esta ansiedade... ò tempo, passa depressa!!!
Ouvi-lhe uma alusão à descida dos impostos, ao aumento dos funcionários públicos e à manutenção do controlo do défice, tudo em simultaneo - será que Bagão Felix descobriu como obrigar todos os contribuintes a pagar os seus impostos? Ou será que PSL, nas obras de remodelação da sua actual residência, descobriu uma câmara secreta cheia de barras de ouro que Salazar foi escondendo durante a sua vida?
Esta ansiedade... ò tempo, passa depressa!!!
outubro 09, 2004
outubro 08, 2004
O HOMEM DO LEME
Esta imagem é bem uma imagem deste tempo. À primeira vista, funciona perfeitamente como mais uma fotografia de propaganda governamental: o Primeiro-Ministro de Portugal em convívio entre os grandes do mundo (o que, não sendo a companhia que eu escolheria, é ainda assim uma companhia poderosa).
Quando lerem a legenda, verão no entanto que, a menos que seja esta mais uma peça da silenciada cabala do Professor Marcelo, o nosso Primeiro é, no contexto americano... enfim, leiam. A acreditar nas fontes, tanto foto quanto notícia corream mundo pela AP.
Quando lerem a legenda, verão no entanto que, a menos que seja esta mais uma peça da silenciada cabala do Professor Marcelo, o nosso Primeiro é, no contexto americano... enfim, leiam. A acreditar nas fontes, tanto foto quanto notícia corream mundo pela AP.
outubro 07, 2004
outubro 06, 2004
PAPEIS DISPERSOS - LISBOA ROMANA
(...)
Como era a Lisboa romana? Os variados cataclismos naturais que, ciclicamente , fustigaram a cidade e a contínua intervenção do homem, reconstruindo, adaptando, modificando, impediram a chegada até ao presente de registos claros que permitiriam uma leitura clara e segura da disposição do espaço. Os diversos achados que, maioritariamente nos dois últimos séculos, foram sendo efectuados, em conjugação com a organização clássica das cidades romanas permitem, no entanto, se não uma efectiva e pormenorizada reconstituição, a identificação de manchas de ocupação e de actividades, bem como o traçar de algumas das vias mais importantes.
Como a benesse geográfica não deixa de apontar, seria esta a colina de ocupação primordial, acolhendo no seu seio, para além dos templos, um anfiteatro de traçado clássico, com as “bancadas” integradas na encosta, situado um pouco acima da actual Sé. Na sua base, situar-se-iam, de acordo com as descobertas efectuadas, as indústrias de salga de peixe e os sempre citados “banhos” (ou criptopórtico?) da rua Augusta.
Quanto a nós, no entanto, o que será mais marcante é a ligação ao rio que se delineia e que não se faz só do seu uso como via de transporte ou fornecedor de alimento mas, mais importante, que se constrói a partir da sua visualidade omnipresente face a uma cidade que se instala na encosta para ele virada. Essa presença – a magia de uma côr que se transmuta em consonância com a meteorologia, esse ritmo que um ondular quase imperceptível marca, essa atmosfera – transfere-se para o sentir dos lisboetas e marcará, ainda mais numa Alfama que será, pelo menos na sua parte baixa, moradia de pescadores e comerciantes, esse inevitável de uma cidade onde, em cada rua, no seu final ou na sucessão ritmada de cruzamentos, esperará sempre uma nesga de rio, um surpreendente azul, cinzento, esverdeado, pedaço de rio, enleante, maternal, acolhedor.
Como era a Lisboa romana? Os variados cataclismos naturais que, ciclicamente , fustigaram a cidade e a contínua intervenção do homem, reconstruindo, adaptando, modificando, impediram a chegada até ao presente de registos claros que permitiriam uma leitura clara e segura da disposição do espaço. Os diversos achados que, maioritariamente nos dois últimos séculos, foram sendo efectuados, em conjugação com a organização clássica das cidades romanas permitem, no entanto, se não uma efectiva e pormenorizada reconstituição, a identificação de manchas de ocupação e de actividades, bem como o traçar de algumas das vias mais importantes.
Como a benesse geográfica não deixa de apontar, seria esta a colina de ocupação primordial, acolhendo no seu seio, para além dos templos, um anfiteatro de traçado clássico, com as “bancadas” integradas na encosta, situado um pouco acima da actual Sé. Na sua base, situar-se-iam, de acordo com as descobertas efectuadas, as indústrias de salga de peixe e os sempre citados “banhos” (ou criptopórtico?) da rua Augusta.
Quanto a nós, no entanto, o que será mais marcante é a ligação ao rio que se delineia e que não se faz só do seu uso como via de transporte ou fornecedor de alimento mas, mais importante, que se constrói a partir da sua visualidade omnipresente face a uma cidade que se instala na encosta para ele virada. Essa presença – a magia de uma côr que se transmuta em consonância com a meteorologia, esse ritmo que um ondular quase imperceptível marca, essa atmosfera – transfere-se para o sentir dos lisboetas e marcará, ainda mais numa Alfama que será, pelo menos na sua parte baixa, moradia de pescadores e comerciantes, esse inevitável de uma cidade onde, em cada rua, no seu final ou na sucessão ritmada de cruzamentos, esperará sempre uma nesga de rio, um surpreendente azul, cinzento, esverdeado, pedaço de rio, enleante, maternal, acolhedor.
outubro 05, 2004
QUEM???
A Capital anuncia em primeira página que o próximo secretário-geral do PCP será Jerónimo Sousa. "Morrer, mas morrer puros" parece ser o lema.
Bom, o Portugal político parece ganhar uma nova qualidade que é a dos secretários-gerais exóticos. Depois da errância de PSL, da plasticidade de Sócrates, do glamour de PP é agora a vez da pré-história de Sousa. Fica a faltar o BE. Mas esse já é exótico por si só.
Bom, o Portugal político parece ganhar uma nova qualidade que é a dos secretários-gerais exóticos. Depois da errância de PSL, da plasticidade de Sócrates, do glamour de PP é agora a vez da pré-história de Sousa. Fica a faltar o BE. Mas esse já é exótico por si só.
FALAR COM ELA
Hoje, a 2: está a emitir o "Habla con Ella" e a satisfação é tão grande que me impele a escrevê-la enquanto o vejo. A cultura é isto, José. A arte é isto, José.
Ó PORTUGAL!...
Eu até aceito que digam que o meu raciocínio é primário mas, para mim, é inevitável a analogia com o Portugal de hoje que me provoca o texto de Guerra Junqueiro que o nosso almocreve favorito publicou.
DIÁSPORA
Para nós portugueses, a quem foi vedado desde o século XVI o contacto com outras ortodoxias que não a cristã romana, gestos e procedimentos simples de outras culturas quando integrados num ambiente ocidental aparecem-nos como quase exóticos, completamente fora do contexto.
Trouxe esta mostarda de Paris há uns anos porque ela se tornou a materialização de uma prática que me parecia arcaica - a certificação segundo os cânones judaicos de toda a comida - (ainda por cima numa coisa tão "inofensiva" como a mostarda) e porque achei extraordinária a preocupação de uma empresa forçosamente laica (e francesa e ocidental) em agradar a uma pequena fatia do seu mercado. Descoberta suficiente para guardar (religiosamente!) a etiqueta como exemplo do que pode ser tanto uma estratégia comercial abrangente como um acto de respeito para com uma comunidade em minoria.

CORTO SALGADO
Haverá maneiras tão boas de acabar o dia quanto ler esta "Balada..." ao som de Eleni Karaindrou mas, de momento, não me lembro de nenhuma... Bons sonhos!
outubro 04, 2004
MOVIDA
Este Outono começa sob um aparente signo de mudança. Louvores aos consultores de imagem do PS por se vislumbrar uma inversão no sentimento generalizado de que Sócrates é mais do mesmo Santana. (Louve-se ainda Marcelo Rebelo de Sousa por se ir entretendo, no seu jogo de xadrez dominical, a pôr e dispôr todas as peças políticas deste país de acordo com a sua estratégia de aranha a longo prazo).
Ao contrário do que eu pensava e afirmara, o PS não derivou à esquerda, preferindo a cómoda vantagem do centro. Já se ouve, ao longe, o rumor do afiar das facas, os primeiros preparativos de disposição da baixela para o banquete que se avizinha num horizonte o mais tardar de dois anos. De facto, só um grande terremoto impedirá o partido de reconquistar Lisboa (e provavelmente o Porto), é cada vez mais provável (apesar de Cavaco e por causa de Lopes) a manutenção da Presidência da República e só S. Bento permanece - por enquanto... - uma incógnita.
Esta deriva ao centro - compensatória a curto prazo para muitos - tem o defeito de tornar o sistema ainda mais coxo, com uma alternância entre um bloco cada vez mais à direita e um centro - por força das circunstâncias - cada vez mais liberal. E das duas uma: ou PSD e CDS se fundem num novo partido assumidamente conservador (reerguendo de vez as bandeiras popular e liberal) ou o PSD acorda da sua deriva e se reposiciona ao centro, abandonando o parceiro de coligação (existe também a diminuta hipótese de uma revolução interna defenestrar Paulo Portas). Se a primeira hipótese acabaria com as minhas esperanças de voltar a ver o PSD a fazer jus ao nome, a segunda transformaria de vez as eleições num plebiscito de competências e não de ideologias. O que, dada a quase completa ausência delas que se encontra em todos os discursos que se vão ouvindo, até nem andaria longe da apetência dos nossos actores políticos.
Ao contrário do que eu pensava e afirmara, o PS não derivou à esquerda, preferindo a cómoda vantagem do centro. Já se ouve, ao longe, o rumor do afiar das facas, os primeiros preparativos de disposição da baixela para o banquete que se avizinha num horizonte o mais tardar de dois anos. De facto, só um grande terremoto impedirá o partido de reconquistar Lisboa (e provavelmente o Porto), é cada vez mais provável (apesar de Cavaco e por causa de Lopes) a manutenção da Presidência da República e só S. Bento permanece - por enquanto... - uma incógnita.
Esta deriva ao centro - compensatória a curto prazo para muitos - tem o defeito de tornar o sistema ainda mais coxo, com uma alternância entre um bloco cada vez mais à direita e um centro - por força das circunstâncias - cada vez mais liberal. E das duas uma: ou PSD e CDS se fundem num novo partido assumidamente conservador (reerguendo de vez as bandeiras popular e liberal) ou o PSD acorda da sua deriva e se reposiciona ao centro, abandonando o parceiro de coligação (existe também a diminuta hipótese de uma revolução interna defenestrar Paulo Portas). Se a primeira hipótese acabaria com as minhas esperanças de voltar a ver o PSD a fazer jus ao nome, a segunda transformaria de vez as eleições num plebiscito de competências e não de ideologias. O que, dada a quase completa ausência delas que se encontra em todos os discursos que se vão ouvindo, até nem andaria longe da apetência dos nossos actores políticos.
outubro 03, 2004
CINEMA
O DVD tem esta atracção fatal que nos faz mergulhar na compra obsessiva e na obsessiva revisão de tudo o que nos marcou, de tudo o que nos deveria ter marcado, de tudo o que marcou alguém e do qual a nós chegou testemunho.
Ao rever hoje o Trois coleurs: Blanc, voltou-me a constatação de como está muito mais perto de mim o cinema europeu - do que sou, do que sinto, do que penso - do que qualquer super filme americano por mais bem realizado, bem escrito, bem interpretado que seja. Quer queiramos quer não, há uma matriz que nos forma - que nos condiciona, se a quisermos ver assim - e da qual só escapamos se nos fizermos cegos, surdos e mudos para o mundo.
O Trois coleurs teve ainda a virtude de me relembrar um dos mais importantes compositores contemporâneos que a bondade do cinema permite ouvir com regularidade: Zbigniew Preisner. Ele e Eleni Karaindrou, europeus, nossos. E apesar de tudo o que também delicia os meus ouvidos e que vem do outro lado do Atlântico, nada chega tão longe como o que deles oiço. Que me emociona, que me comove, que me alegra. Que mexe comigo sempre.
PS - Pode-se escutar Preisner aqui
Ao rever hoje o Trois coleurs: Blanc, voltou-me a constatação de como está muito mais perto de mim o cinema europeu - do que sou, do que sinto, do que penso - do que qualquer super filme americano por mais bem realizado, bem escrito, bem interpretado que seja. Quer queiramos quer não, há uma matriz que nos forma - que nos condiciona, se a quisermos ver assim - e da qual só escapamos se nos fizermos cegos, surdos e mudos para o mundo.
O Trois coleurs teve ainda a virtude de me relembrar um dos mais importantes compositores contemporâneos que a bondade do cinema permite ouvir com regularidade: Zbigniew Preisner. Ele e Eleni Karaindrou, europeus, nossos. E apesar de tudo o que também delicia os meus ouvidos e que vem do outro lado do Atlântico, nada chega tão longe como o que deles oiço. Que me emociona, que me comove, que me alegra. Que mexe comigo sempre.
PS - Pode-se escutar Preisner aqui
outubro 01, 2004
setembro 29, 2004
THE VILLAGE
Há um Macguffin perfeito no mais recente filme de Shyamalan, donde se prova que o rapaz, para além de muito capaz, soube aprender com os mestres.
(Sabemos que estamos a entrar na idade da razão quando descobrimos que Ripley se cansou de passear o seu formoso corpo pelo espaço e vive tranquila num remoto vale da América profunda, mãe de um rapagão de 30 anos)
(Sabemos que estamos a entrar na idade da razão quando descobrimos que Ripley se cansou de passear o seu formoso corpo pelo espaço e vive tranquila num remoto vale da América profunda, mãe de um rapagão de 30 anos)
A BARRIGA DA PRODUTIVIDADE (II)
Contaram-me que uma associação ecologista entrou com um pedido de providência cautelar para embargar o processo de licenciamento de uma série de parques eólicos pelo país todo cujo financiamento da união europeia estava em risco de se perder. Já não considerando a perda do investimento e da criação de riqueza (mais um balão de oxigénio para os empreiteiros) e de postos de trabalho, o que me parece grave é o abandono definitivo das metas de Quioto com que Portugal se comprometeu que esta paragem (a acontecer) irá provocar.
Não é só o nosso presente. É também o nosso futuro.
É claro que isto foi uma história que me contaram. Mas, a ser verdade, não há ninguém que ponha uma providência cautelar à actuação destes cretinos?
Não é só o nosso presente. É também o nosso futuro.
É claro que isto foi uma história que me contaram. Mas, a ser verdade, não há ninguém que ponha uma providência cautelar à actuação destes cretinos?
A BARRIGA DA PRODUTIVIDADE (I)
"Finalmente parece que o hotel vai avançar!...", exclamação alegre , seguida das necessárias reticências para quem há mais de dois anos espera pelo começo do projecto.
Eu conto a história em forma de resumo:
No princípio de 2002, era uma vez um promotor que decidiu, após os respectivos estudos de viabilidade que era tempo de iniciar o processo que levaria à construção de um hotel em zona carenciada de equipamentos do tipo. Localizando-se perto de equipamentos desportivos relevantes, achou que a realização do EURO anteciparia o retorno financeiro, tendo portanto orientado tudo para que a inauguração se desse por volta de Abril/Maio de 2004.
Contactou previamente a direcção do parque natural que lhe estava próximo para escolher um terreno isento de problemas e questões ambientais. Comprou o que lhe aconselharam, com área mais que suficiente para construir o dobro da área pretendida.
O presidente da Câmara deliciou-se: o concelho triplicaria o número de camas em oferta.
Tudo rigorosamente pensado, planeado, combinado, sem jogadas por debaixo da mesa.
Até que uma aventesma entendeu que a lei não dizia que era necessário um estudo de impacto ambiental "mas já agora..."
..........
Dois anos e 34 (sim, trinta e quatro!) entidades depois, foi emitido o despacho de aprovação do Ministério. Foi-se o EURO e toda a amortização que já poderia ter sido feita se as coisas andassem a uma velocidade europeia neste país. A culpa deve ser da má formação dos portugueses...
PS - Entre as entidades obrigatoriamente a ouvir estiveram duas associações de caçadores e uma de amigos da fauna local, as quais deixaram esgotar os 30 dias de prazo sem emitir uma opinião. Sorte a deles que se podem escapar a tanta parvoíce.
Eu conto a história em forma de resumo:
No princípio de 2002, era uma vez um promotor que decidiu, após os respectivos estudos de viabilidade que era tempo de iniciar o processo que levaria à construção de um hotel em zona carenciada de equipamentos do tipo. Localizando-se perto de equipamentos desportivos relevantes, achou que a realização do EURO anteciparia o retorno financeiro, tendo portanto orientado tudo para que a inauguração se desse por volta de Abril/Maio de 2004.
Contactou previamente a direcção do parque natural que lhe estava próximo para escolher um terreno isento de problemas e questões ambientais. Comprou o que lhe aconselharam, com área mais que suficiente para construir o dobro da área pretendida.
O presidente da Câmara deliciou-se: o concelho triplicaria o número de camas em oferta.
Tudo rigorosamente pensado, planeado, combinado, sem jogadas por debaixo da mesa.
Até que uma aventesma entendeu que a lei não dizia que era necessário um estudo de impacto ambiental "mas já agora..."
..........
Dois anos e 34 (sim, trinta e quatro!) entidades depois, foi emitido o despacho de aprovação do Ministério. Foi-se o EURO e toda a amortização que já poderia ter sido feita se as coisas andassem a uma velocidade europeia neste país. A culpa deve ser da má formação dos portugueses...
PS - Entre as entidades obrigatoriamente a ouvir estiveram duas associações de caçadores e uma de amigos da fauna local, as quais deixaram esgotar os 30 dias de prazo sem emitir uma opinião. Sorte a deles que se podem escapar a tanta parvoíce.
setembro 27, 2004
ESCRITAS
Curiosamente , julguei que o mais difícil de cumprir num blog seria a disciplina para nele escrever continuada e periodicamente. Agora que este planeta se aproxima do seu primeiro ano de descobertas, concluo que a disciplina até se arranja - eu diria que esta disciplina provém de uma indisciplina nas restantes acções do meu dia a ponto de quase o desarranjar.
Difícil mesmo é combater a neurastenia que, por osmose, a apatia do país me provoca. Debaixo de todos este carnaval (político, mediático, social) que o país vive, corre uma angústia económica e moral que me aflige. As patologias vão irrompendo com cada vez maior frequência e o único remédio que parece estar a ser recomendado é o da novidade: é preciso ir rodando os actores e as peças em palco para que tudo fique, não definitivamente na mesma, mas cada vez um pouquinho pior.
Difícil mesmo é combater a neurastenia que, por osmose, a apatia do país me provoca. Debaixo de todos este carnaval (político, mediático, social) que o país vive, corre uma angústia económica e moral que me aflige. As patologias vão irrompendo com cada vez maior frequência e o único remédio que parece estar a ser recomendado é o da novidade: é preciso ir rodando os actores e as peças em palco para que tudo fique, não definitivamente na mesma, mas cada vez um pouquinho pior.
A LEI DAS RENDAS part IV
Do (pouco) a que já consegui ter acesso não há nada que retire as reticências que já manifestei em relação a algumas opções da lei das rendas:
- É injusta a discriminação de senhorios. Se o objectivo é anular as injustiças provocadas pelo congelamento das rendas, não se percebe porque hão-de continuar a ser os senhorios a subsidiar os inquilinos com mais de 65 anos (dou um exemplo: dois fogos localizados no mesmo prédio, em Lisboa, construido em 1970, alugados na mesma altura; um inquilino tem 78 anos, o outro 60; o primeiro continuará a pagar 25 contos mensais, o segundo verá a sua renda ser actualizada para preços de mercado - cerca de 150 contos - com a penalização acrescida de ter sido o próprio a efectuar obras de conservação no interior do fogo recentemente).
- Não se vislumbra a recuperação dos edifícios mais degradados, precisamente os que apresentam menores rendas e maiores médias etárias dos seus arrendatários (claramente com mais de 65 anos e portanto não abrangíveis pelas actualizações anunciadas).
- Está por esclarecer a obrigatoriedade ou não de se proceder a obras de recuperação e conservação: sabe-se que a actualização das rendas só poderá ser efectuada após as obras - mas será que as mesmas serão obrigatórias? Se o Estado se mostrou incapaz até ao presente de fazer cumprir os artigos 9º e 10º do RGEU como o conseguirá agora?
Mas nem tudo é mau. Saudo a mudança nos pedidos de despejo. O tempo que em princípio se poupará com a retirada do circuito judicial poderá ser mais importante para o aumento de interesse no arrendamento do que todas as restantes medidas anunciadas.
- É injusta a discriminação de senhorios. Se o objectivo é anular as injustiças provocadas pelo congelamento das rendas, não se percebe porque hão-de continuar a ser os senhorios a subsidiar os inquilinos com mais de 65 anos (dou um exemplo: dois fogos localizados no mesmo prédio, em Lisboa, construido em 1970, alugados na mesma altura; um inquilino tem 78 anos, o outro 60; o primeiro continuará a pagar 25 contos mensais, o segundo verá a sua renda ser actualizada para preços de mercado - cerca de 150 contos - com a penalização acrescida de ter sido o próprio a efectuar obras de conservação no interior do fogo recentemente).
- Não se vislumbra a recuperação dos edifícios mais degradados, precisamente os que apresentam menores rendas e maiores médias etárias dos seus arrendatários (claramente com mais de 65 anos e portanto não abrangíveis pelas actualizações anunciadas).
- Está por esclarecer a obrigatoriedade ou não de se proceder a obras de recuperação e conservação: sabe-se que a actualização das rendas só poderá ser efectuada após as obras - mas será que as mesmas serão obrigatórias? Se o Estado se mostrou incapaz até ao presente de fazer cumprir os artigos 9º e 10º do RGEU como o conseguirá agora?
Mas nem tudo é mau. Saudo a mudança nos pedidos de despejo. O tempo que em princípio se poupará com a retirada do circuito judicial poderá ser mais importante para o aumento de interesse no arrendamento do que todas as restantes medidas anunciadas.
setembro 24, 2004
COISA FEIA, A INVEJA
Começa a insinuar-se reptilmente nesta sociedade, destilado pelas insinuações e meias-verdades que interessam ao populismo político de que tanto direita como esquerda se servem em profusão nos tempos que correm, um olhar de ressentimento perante o "outro" que tem mais recursos ou melhor vida.
Há muito da teoria maniqueista que inspirou palavras de ordem como a célebre e imortal "os ricos que paguem a crise!" nos discursos do Governo, especialmente no social-cristão Bagão Félix. Palavras aqui e ali, propagadas por uma comunicação social ávida de antagonismos, por políticos ambicionando os seus quinze minutos de fama, por comentadores generalizantes e por uma esquerda ávida de reerguer bandeiras antigas.
Não aparecendo por acaso, temas como as taxas diferenciadas para a saúde ou para os transportes públicos ou, ainda mais actuais, comparações entre a eficácia das escolas pagas e o encerramento das públicas, consolidam a impressão na classe tola (que é quase toda a sociedade portuguesa) da existência de uma classe priveligiada - "os outros" - que vive à sua conta, quer através de expedientes trapaceiros que iludam o cumprimento das suas responsabilidades (a fuga ao fisco, por exemplo), quer através da exploração, em proveito próprio, das escapatórias da lei (como é o caso do alongamento dos processos judiciais providenciado por advogados experientes pagos a peso de ouro). Desta constatação à identificação errada dos personagens através do que é visível e não do que é real vai um pequeno passo que já começou a ser dado e que não tarda muito a transformar-se num trambulhão social de consequências nefastas.
Dou um exemplo: tornou-se habitual apontar os "profissionais liberais" como os mais importantes actores da crónica fuga ao fisco que se vive neste país. Profissionais cuja actividade os inibe de emitir recibo e como tal serem taxados em sede de IVA e IRS. A associação é imediata: médicos, advogados, engenheiros, economistas ou arquitectos. Se considerarmos que as despesas médicas são dedutíveis e que a maior parte dos clientes dos restantes são empresas - as quais necessitam de recibos para justificar gastos - verificamos que a maior parte destes profissionais declara todos os seus ganhos. Quanto às deduções, serão a contrapartida natural a quem tem uma actividade de risco - hoje há trabalho, amanhã pode não haver (quem diz trabalho, diz rendimentos) - e que optou por criar riqueza por conta própria e não na dependência de terceiros. Da minha experiência de vida posso concluir que a fuga se verifica muito mais profundamente noutros profissionais que estão mais perto do que tradicionalmente se considera "mundo operário" do que da "liberalidade" real - canalizadores, electricistas, taxistas, carpinteiros - ou que fazem parte do também "simpático" pequeno comércio - restauradores, por exemplo. No entanto é aos licenciados que a carapuça se enfia e é a eles que se cola.
Não serão os profissionais liberais os grandes actores da desgraça. São antes as grandes empresas, bancos, seguradoras, grupos económicos - mas estas limitam-se a aproveitar as benesses da lei e os acordos efectuados na sombra dos gabinetes. E são também - e quanto a mim muito mais - todos os que se entretêm a desbaratar os recursos que ainda assim o Estado consegue angariar.
Muito mais do que um profissional a reduzir com artifícios a taxa a pagar pelo seu trabalho de muitas horas choca-me a calma com que um funcionário camarário cumpre o seu horário diário entre as 10-e-qualquer-coisa e as 4-e-pouco com intervalos pelo meio e pouca paciência para despachar o trabalho num tempo inferior ao estipulado muitos anos atrás no tempo das mangas de alpaca.
Há muito da teoria maniqueista que inspirou palavras de ordem como a célebre e imortal "os ricos que paguem a crise!" nos discursos do Governo, especialmente no social-cristão Bagão Félix. Palavras aqui e ali, propagadas por uma comunicação social ávida de antagonismos, por políticos ambicionando os seus quinze minutos de fama, por comentadores generalizantes e por uma esquerda ávida de reerguer bandeiras antigas.
Não aparecendo por acaso, temas como as taxas diferenciadas para a saúde ou para os transportes públicos ou, ainda mais actuais, comparações entre a eficácia das escolas pagas e o encerramento das públicas, consolidam a impressão na classe tola (que é quase toda a sociedade portuguesa) da existência de uma classe priveligiada - "os outros" - que vive à sua conta, quer através de expedientes trapaceiros que iludam o cumprimento das suas responsabilidades (a fuga ao fisco, por exemplo), quer através da exploração, em proveito próprio, das escapatórias da lei (como é o caso do alongamento dos processos judiciais providenciado por advogados experientes pagos a peso de ouro). Desta constatação à identificação errada dos personagens através do que é visível e não do que é real vai um pequeno passo que já começou a ser dado e que não tarda muito a transformar-se num trambulhão social de consequências nefastas.
Dou um exemplo: tornou-se habitual apontar os "profissionais liberais" como os mais importantes actores da crónica fuga ao fisco que se vive neste país. Profissionais cuja actividade os inibe de emitir recibo e como tal serem taxados em sede de IVA e IRS. A associação é imediata: médicos, advogados, engenheiros, economistas ou arquitectos. Se considerarmos que as despesas médicas são dedutíveis e que a maior parte dos clientes dos restantes são empresas - as quais necessitam de recibos para justificar gastos - verificamos que a maior parte destes profissionais declara todos os seus ganhos. Quanto às deduções, serão a contrapartida natural a quem tem uma actividade de risco - hoje há trabalho, amanhã pode não haver (quem diz trabalho, diz rendimentos) - e que optou por criar riqueza por conta própria e não na dependência de terceiros. Da minha experiência de vida posso concluir que a fuga se verifica muito mais profundamente noutros profissionais que estão mais perto do que tradicionalmente se considera "mundo operário" do que da "liberalidade" real - canalizadores, electricistas, taxistas, carpinteiros - ou que fazem parte do também "simpático" pequeno comércio - restauradores, por exemplo. No entanto é aos licenciados que a carapuça se enfia e é a eles que se cola.
Não serão os profissionais liberais os grandes actores da desgraça. São antes as grandes empresas, bancos, seguradoras, grupos económicos - mas estas limitam-se a aproveitar as benesses da lei e os acordos efectuados na sombra dos gabinetes. E são também - e quanto a mim muito mais - todos os que se entretêm a desbaratar os recursos que ainda assim o Estado consegue angariar.
Muito mais do que um profissional a reduzir com artifícios a taxa a pagar pelo seu trabalho de muitas horas choca-me a calma com que um funcionário camarário cumpre o seu horário diário entre as 10-e-qualquer-coisa e as 4-e-pouco com intervalos pelo meio e pouca paciência para despachar o trabalho num tempo inferior ao estipulado muitos anos atrás no tempo das mangas de alpaca.
BLUE HILL
Perto de Nova Iorque, um restaurante em alta: Blue Hill at Stone Barns.
Hoje em dia (hoje em dia...!), o marketing vale tanto como o produto e parte da estratégia de promoção passa pela net. À falta do local, a visita da sua webpage é uma viagem interessante de onde se poderão retirar alguns ensinamentos.
A Food Mission and Philosophy que adopta é uma clara influência de Covey mas um indicador de um novo modo de "vender comida" que seria interressante copiar para o nosso torrão:
Blue Hill at Stone Barns is a platform, an exhibit, a classroom, a conservatory, a laboratory, and a garden. The restaurant will reflect the spirit of the farm, the terroir, and the market. The kitchen will express the humanity and the fervor of the educators, preservationists, farmers, cooks, and servers who learn and work at the Center.The road ingredients travel from harvest to the dinner table becomes a part of their "character". Simplifying this path changes the taste, often enhancing it. Actively reconnecting the farm and the table creates a distinct consciousness. Through our choices of food and ingredients, we - chefs, waiters, diners - are inescapably active participants in not just eating, but in agriculture. This awareness adds to the pleasure of eating.Ultimately, that is the true mission of Blue Hill at Stone Barns: to highlight the pleasure of eating, the delight that comes from valuing the good health of the garden, because you will see our gardens - the sight of good pastures, because you will see the pasture and taste their essence in your food. "Fast Food" at Blue Hill at Stone Barns means from the farm to the kitchen without obstacle or delay.
Hoje em dia (hoje em dia...!), o marketing vale tanto como o produto e parte da estratégia de promoção passa pela net. À falta do local, a visita da sua webpage é uma viagem interessante de onde se poderão retirar alguns ensinamentos.
A Food Mission and Philosophy que adopta é uma clara influência de Covey mas um indicador de um novo modo de "vender comida" que seria interressante copiar para o nosso torrão:
Blue Hill at Stone Barns is a platform, an exhibit, a classroom, a conservatory, a laboratory, and a garden. The restaurant will reflect the spirit of the farm, the terroir, and the market. The kitchen will express the humanity and the fervor of the educators, preservationists, farmers, cooks, and servers who learn and work at the Center.The road ingredients travel from harvest to the dinner table becomes a part of their "character". Simplifying this path changes the taste, often enhancing it. Actively reconnecting the farm and the table creates a distinct consciousness. Through our choices of food and ingredients, we - chefs, waiters, diners - are inescapably active participants in not just eating, but in agriculture. This awareness adds to the pleasure of eating.Ultimately, that is the true mission of Blue Hill at Stone Barns: to highlight the pleasure of eating, the delight that comes from valuing the good health of the garden, because you will see our gardens - the sight of good pastures, because you will see the pasture and taste their essence in your food. "Fast Food" at Blue Hill at Stone Barns means from the farm to the kitchen without obstacle or delay.
AINDA A NOVA LEI DAS RENDAS
Para além das excelentes oportunidades de negócio que se abrem com a criação dos "Certificados de Habitabilidade" os quais implicam vistorias, obras de reabilitação, eventualmente projectos(?), fica uma questão por responder que me parece fundamental:
- O que vai acontecer aos fogos que não ficam abrangidos pelo aumento das rendas, isto é, os que têm por locatários reformados e pensionistas e que, como tal, não precisarão do certificado? Vão continuar sem reabilitação?
Considerando que, dos 260 mil fogos alugados, 170 mil se incluem neste grupo, isso implica que cerca de 65% do total - precisamente os mais antigos e mais degradados - terão toda a probabilidade de continuar o seu caminho para a demolição.
Para uma lei virtuosa que se anuncia como panaceia para todos os males da habitação, parece um começo demasiado negativo.
- O que vai acontecer aos fogos que não ficam abrangidos pelo aumento das rendas, isto é, os que têm por locatários reformados e pensionistas e que, como tal, não precisarão do certificado? Vão continuar sem reabilitação?
Considerando que, dos 260 mil fogos alugados, 170 mil se incluem neste grupo, isso implica que cerca de 65% do total - precisamente os mais antigos e mais degradados - terão toda a probabilidade de continuar o seu caminho para a demolição.
Para uma lei virtuosa que se anuncia como panaceia para todos os males da habitação, parece um começo demasiado negativo.
PORTUGUESES DE SEGUNDA
A tomar como credíveis as notícias vindas nos jornais, Portugal apresta-se a retomar uma tradição abandonada no 25 de Abril: a classificação oficial dos portugueses em "de primeira" e "de segunda".
Ou de que outro modo se pode encarar a medida que se anuncia inscrita nas nova lei das rendas de impedir os senhorios de locatários com mais de 65 anos de actualizar a renda? Assim, enquanto aos portugueses de primeira estarão reservados os direitos e deveres do mercado livre, aos restantes apenas restará o dever de continuar a subsidiar a inépcia do Estado.
Concordo com a manutenção dos noveis actuais de rendas para reformados e pensionistas; não concordo que sejam os senhorios os prejudicados só porque tiveram o azar de alugar os seus fogos antes de tempo.
Ou de que outro modo se pode encarar a medida que se anuncia inscrita nas nova lei das rendas de impedir os senhorios de locatários com mais de 65 anos de actualizar a renda? Assim, enquanto aos portugueses de primeira estarão reservados os direitos e deveres do mercado livre, aos restantes apenas restará o dever de continuar a subsidiar a inépcia do Estado.
Concordo com a manutenção dos noveis actuais de rendas para reformados e pensionistas; não concordo que sejam os senhorios os prejudicados só porque tiveram o azar de alugar os seus fogos antes de tempo.
setembro 23, 2004
AI, AI, AI...
Acabo de ouvir as declarações do presidente da CML a confirmar a aquisição do Pavilhão de Portugal pela autarquia. Das duas uma: ou o homem teve alguma dificuldade em explicar o brilhantismo da solução ou a transação não passa de mais um frete político a uma empresa pública em dificuldades económicas notórias as quais nenhum Governo teve coragem em assumir como inevitáveis na grande operação de reabilitação da zona oriental da cidade.
Uma coisa seria fazer uma dotação orçamental para liquidação do saldo negativo da ParqueExpo - não me escandalizaria uma vez que, como provado, tão grande operação não se pagaria a si mesma e era consensual o interesse nacional da mesma.
Outra, muito diferente e muito mais gravosa, é a obtenção de receitas por todos os meios, desrespeitando compromissos assumidos com moradores, densificando exageradamente uma zona vendida como de nível superior, terciarizando, descaracterizando o que foi a experiência urbanística mais marcante em Lisboa desde as intervenções do Eng. Duarte Pacheco.
E o que disse o Eng. Carmona Rodrigues?
- Que a compra do Pavilhão de Portugal se inseria numa acção mais vasta de regularização da dívidas da CML à Parque EXPO (?). Então a CML tem um défice superior a 80 milhões de euros, deve dinheiro à EXPO e ainda se vai endividar mais?
- Que há outras formas de pagamentos que não em dinheiro, antes em espécie, designadamente terrenos. Ou seja, abre caminho ao alastramento da densidade que já se verifica na zona da EXPO às áreas circundantes.
Como se vê, uma maneira fantástica de gerir maravilhosamente a cidade.
Uma coisa seria fazer uma dotação orçamental para liquidação do saldo negativo da ParqueExpo - não me escandalizaria uma vez que, como provado, tão grande operação não se pagaria a si mesma e era consensual o interesse nacional da mesma.
Outra, muito diferente e muito mais gravosa, é a obtenção de receitas por todos os meios, desrespeitando compromissos assumidos com moradores, densificando exageradamente uma zona vendida como de nível superior, terciarizando, descaracterizando o que foi a experiência urbanística mais marcante em Lisboa desde as intervenções do Eng. Duarte Pacheco.
E o que disse o Eng. Carmona Rodrigues?
- Que a compra do Pavilhão de Portugal se inseria numa acção mais vasta de regularização da dívidas da CML à Parque EXPO (?). Então a CML tem um défice superior a 80 milhões de euros, deve dinheiro à EXPO e ainda se vai endividar mais?
- Que há outras formas de pagamentos que não em dinheiro, antes em espécie, designadamente terrenos. Ou seja, abre caminho ao alastramento da densidade que já se verifica na zona da EXPO às áreas circundantes.
Como se vê, uma maneira fantástica de gerir maravilhosamente a cidade.
EM BRAGA HÁ PEDRADAS
Nunca pensei que a situação do país me afetasse tanto. Habituei-me a uma relação de alguma distância com ele, as dificuldades, a pequenez da nossa vida política impressionavam-me mas não a ponto de me alterar a disposição, os humores, a auto-estima.
Agora é diferente. A minha apreensão não reside no presente mas nas perspectivas do futuro. Acho que não há saída. Acho que, para além da nossa incapacidade de construir uma economia equilibrada, a nova ordem económica mundial que se configura a médio prazo com a ascensão da China e da Índia será catastrófica para a Europa - e, por maioria de razão, muito mais para Portugal.
Não temos futuro de jeito. Não somos bons para o construir e, mesmo que o tentássemos, o cenário exterior é totalmente opressivo para o conseguirmos.
Entretanto, os sintomas vão correndo por aí. Mongos sem mais nada para fazer ou para pensar ocupam o tédio à pedrada a outros que tais. Aí estão os estádios "familiares" do Euro a perder o verniz com que foram embrulhados na propaganda oficial. Bom sítio para levar os filhos a aprender o mundo cão em que vivem. Também o estádio está numa antiga pedreira. Queriam o quê...
Agora é diferente. A minha apreensão não reside no presente mas nas perspectivas do futuro. Acho que não há saída. Acho que, para além da nossa incapacidade de construir uma economia equilibrada, a nova ordem económica mundial que se configura a médio prazo com a ascensão da China e da Índia será catastrófica para a Europa - e, por maioria de razão, muito mais para Portugal.
Não temos futuro de jeito. Não somos bons para o construir e, mesmo que o tentássemos, o cenário exterior é totalmente opressivo para o conseguirmos.
Entretanto, os sintomas vão correndo por aí. Mongos sem mais nada para fazer ou para pensar ocupam o tédio à pedrada a outros que tais. Aí estão os estádios "familiares" do Euro a perder o verniz com que foram embrulhados na propaganda oficial. Bom sítio para levar os filhos a aprender o mundo cão em que vivem. Também o estádio está numa antiga pedreira. Queriam o quê...
setembro 21, 2004
CAM, LUNCHTIME
As incríveis salas vazias de visitantes dos museus portugueses. Os meus passos a ecoarem no silêncio, num sincromismo quase perfeito com os passos do segurança que me segue desocupado. Uma curta-metragem da Ana Hatherly, fantástica porque de 75, o ano de todos. Gosto (já não sei se é gosto se é hábito) do encadear dos fragmentos de olhares, catazes, pixagens, a voz do Ot(h)elo em fundo, o povo, as palavras de ordem. Tempo sem tempo.
A Mãe da Paula Rego (como tudo o que já vi da Paula Rego) é de uma preversidade inquietante. Lembro-me da imagem quase cliché de uma cebola, dos layers e layers (sou snob ao utilizar o termo inglês?) que, sucessivos, se vão descobrindo.
Interesso-me pelos cadernos de esboços do Ruy Leitão que estão em exposição temporária. Hoje em dia, interesso-me por todos os cadernos de apontamentos que encontro. A história da vida da Menez é uma tragédia. Será que os artistas precisam de uma lâmina mais afiada para melhor destilarem o seu génio?
O CAM é de uma frieza exagerada. O tempo passa pelas suas paredes e transforma o despojamento original em desencanto.
A Mãe da Paula Rego (como tudo o que já vi da Paula Rego) é de uma preversidade inquietante. Lembro-me da imagem quase cliché de uma cebola, dos layers e layers (sou snob ao utilizar o termo inglês?) que, sucessivos, se vão descobrindo.
Interesso-me pelos cadernos de esboços do Ruy Leitão que estão em exposição temporária. Hoje em dia, interesso-me por todos os cadernos de apontamentos que encontro. A história da vida da Menez é uma tragédia. Será que os artistas precisam de uma lâmina mais afiada para melhor destilarem o seu génio?
O CAM é de uma frieza exagerada. O tempo passa pelas suas paredes e transforma o despojamento original em desencanto.
setembro 20, 2004
setembro 19, 2004
REFORMAS
Ai como este país seria o melhor do mundo se cada incompetente tivesse direito, após o seu despedimento, a ser reformado com 90% do seu ordenado...
AJUDEM-ME QUE EU NÃO PERCEBO!
(Este post parece mais um detector de spin, com licença do Paulo Gorjão)
Escreve um ignoto escriba do Jornal da Noite da TVI: "As rendas vão baixar com a nova lei das rendas".
Pronto. Lá estou eu aos pulos e aos berros com o ecran a exigir explicações: "Como? COMO? COOOOMO????? " Ninguém me explica. Aliás, a peça é toda uma falácia. Os especialistas (é apenas um) que, supostamente, sustentam a frase apenas dizem que, se houver mais casas no mercado, as rendas, por força da concorrência, tenderão a baixar. Mas porque é que haverá mais casas no mercado de arrendamento? Porque há casas reabilitadas? E porque é que há casas reabilitadas? Porque há mais mercado de arrendamento? E porque é que há mais mercado de arrendamento? Porque há mais pessoas a arrendar???
Juro que não percebo onde está o truque.
Escreve um ignoto escriba do Jornal da Noite da TVI: "As rendas vão baixar com a nova lei das rendas".
Pronto. Lá estou eu aos pulos e aos berros com o ecran a exigir explicações: "Como? COMO? COOOOMO????? " Ninguém me explica. Aliás, a peça é toda uma falácia. Os especialistas (é apenas um) que, supostamente, sustentam a frase apenas dizem que, se houver mais casas no mercado, as rendas, por força da concorrência, tenderão a baixar. Mas porque é que haverá mais casas no mercado de arrendamento? Porque há casas reabilitadas? E porque é que há casas reabilitadas? Porque há mais mercado de arrendamento? E porque é que há mais mercado de arrendamento? Porque há mais pessoas a arrendar???
Juro que não percebo onde está o truque.
NOVIDADES DA MPB
Para quem, como nós, pertence a um rectângulo habitado por míseros 10 milhões de consumidores com falta de massa crítica para criar (e sustentar) grande diversidade na produção cultural, é sempre grande motivo de (algum) assombro e (muita) contentação visitar várias cidades de um país GRANDE e verificar quão diferentes podem ser as ofertas, por exemplo, musicais.
As discotecas de Pernambuco abarrotam de experiências de fusão dos ritmos nordestinos com a electricidade mais esgalhada do rock mais duro (e todas radicalmente originais e de caminhos diversos).
As da Bahia da criação, re-criação e re-re-criação da mistura afro-euro-ameríndia que a constituiu.
As do Rio, para além do samba e suas variações, da MPB mais "mainstream", abarrotam de ensaios mais discretos, partindo do choro ou de experiências mais intimistas de compositores de 3ª geração, na senda das experiências iniciais dos seus antecessores.
Uma das editoras locais mais interessantes que por lá se encontram é a Biscoito Fino. Sem preocupações de grandes hits - logo sem as bombásticas promoções ou produções - tem produzido muito boa coisa a maior parte da qual, infelizmente, tarda em fazer-se ouvir por aqui.
Ainda com a frescura gélida dos porões do avião que os trouxe, chegaram-me algumas das suas edições.
El Negro del Blanco é um deles. Dois instrumentos - violão e clarinete - e uma diversidade de temas originários da América Latina - desde Baden Powell a Violeta Parra, passando por Piazolla.
“A visão que o disco propõe é reunir a influência negra na música do continente latino-americano à vertente ibérica do colonizador. Daí, el negro Del blanco e el blanco Del negro”, diz um dos seus autores aqui, no site da editora.
Alex, com o seu entusiasmo habitual, chamar-lhe-à genial. Eu chamo a atenção para ele e digo, muito bom!
As discotecas de Pernambuco abarrotam de experiências de fusão dos ritmos nordestinos com a electricidade mais esgalhada do rock mais duro (e todas radicalmente originais e de caminhos diversos).
As da Bahia da criação, re-criação e re-re-criação da mistura afro-euro-ameríndia que a constituiu.
As do Rio, para além do samba e suas variações, da MPB mais "mainstream", abarrotam de ensaios mais discretos, partindo do choro ou de experiências mais intimistas de compositores de 3ª geração, na senda das experiências iniciais dos seus antecessores.
Uma das editoras locais mais interessantes que por lá se encontram é a Biscoito Fino. Sem preocupações de grandes hits - logo sem as bombásticas promoções ou produções - tem produzido muito boa coisa a maior parte da qual, infelizmente, tarda em fazer-se ouvir por aqui.
Ainda com a frescura gélida dos porões do avião que os trouxe, chegaram-me algumas das suas edições.
El Negro del Blanco é um deles. Dois instrumentos - violão e clarinete - e uma diversidade de temas originários da América Latina - desde Baden Powell a Violeta Parra, passando por Piazolla.
“A visão que o disco propõe é reunir a influência negra na música do continente latino-americano à vertente ibérica do colonizador. Daí, el negro Del blanco e el blanco Del negro”, diz um dos seus autores aqui, no site da editora.
Alex, com o seu entusiasmo habitual, chamar-lhe-à genial. Eu chamo a atenção para ele e digo, muito bom!
setembro 18, 2004
JE RENTRE À LA MAISON
Presumo que a todos é difícil esquecer as impressões de uma primeira experiência. A mim, custou-me a apagar a propositada teatralidade do "Amor de Perdição", o tom artificioso das falas, a contradição aparente que é tratar uma câmara - que é dinâmica por natureza - de um modo tão estático. Os - pouquíssimos! - filmes que depois vi do Manuel de Oliveira pareceram confirmar essa impressão primeira de actores sorumbáticos, de falas terrivelmente artificiais. A reacção alérgica que em mim - espectador habituado a ver o cinema como um fim (contador de uma história, de uma experiência, de uma visão do mundo) e não como um meio (transmissor de um texto)- estas continuavam a causar, obliterava qualquer tentativa de deixar a obra falar comigo.
Em boa-hora o Público fez acompanhar a sua edição de Sábado passado de 3 DVDs do realizar a um preço simpático para pelintras recentes (a crise, a crise...!) como eu.
Vi o "Je Rentre à la Maison" há dois dias e ainda me mantenho no meu estado levitário, impressionadíssimo com as reacções que me causou: de admiração, de identificação, de emoção pela profundidade do olhar, de comoção pela percepção do estado de absoluto esgotamento a que o personagem chega.
Aqui as palavras começam a faltar. Talvez tudo tenha uma hora para acontecer e tudo tenho um tempo próprio para ser vivido, disfrutado, percebido. Talvez não tivesse ainda vivido o suficiente, sofrido o suficiente, sentido o suficiente para perceber esta obra antes. Talvez sim ou talvez não, talvez tudo ou talvez nada.
Talvez fosse a enormíssima intepretação do Michel Piccoli a desanuviar a minha retracção perante actores declamatórios e a disfrutar o filme sem preconceitos.
E se não bastasse o maravilhar-me que o filme me fez, ainda, como extra, as palavras complementares de Manuel de Oliveira que vêm como extra complementaram o meu estado... desalinhado. A extrapolação personagem-sociedade actual / cansaço-desorientação que faz, é uma lição.
Em boa-hora o Público fez acompanhar a sua edição de Sábado passado de 3 DVDs do realizar a um preço simpático para pelintras recentes (a crise, a crise...!) como eu.
Vi o "Je Rentre à la Maison" há dois dias e ainda me mantenho no meu estado levitário, impressionadíssimo com as reacções que me causou: de admiração, de identificação, de emoção pela profundidade do olhar, de comoção pela percepção do estado de absoluto esgotamento a que o personagem chega.
Aqui as palavras começam a faltar. Talvez tudo tenha uma hora para acontecer e tudo tenho um tempo próprio para ser vivido, disfrutado, percebido. Talvez não tivesse ainda vivido o suficiente, sofrido o suficiente, sentido o suficiente para perceber esta obra antes. Talvez sim ou talvez não, talvez tudo ou talvez nada.
Talvez fosse a enormíssima intepretação do Michel Piccoli a desanuviar a minha retracção perante actores declamatórios e a disfrutar o filme sem preconceitos.
E se não bastasse o maravilhar-me que o filme me fez, ainda, como extra, as palavras complementares de Manuel de Oliveira que vêm como extra complementaram o meu estado... desalinhado. A extrapolação personagem-sociedade actual / cansaço-desorientação que faz, é uma lição.
setembro 16, 2004
VACATURAS (II)
Segundo dados oficiais, há cerca de 550 mil fogos vagos no país. Destes, 170 mil estão no mercado de venda ou aluguer, os restantes (380 mil!), nem uma coisa nem outra - limitam-se a estar abandonados.
Hipótese 1: A lei das rendas revela-se eficaz em reanimar o mercado do arrendamento - principal objectivo da sua aprovação - e a maioria dos fogos agora vagos é arrendada. O que acontece com o mercado da construção, o qual representa cerca de 30% do PIB? Se continua no mesmo ritmo vai produzir para não vender. Se pára, onde vão ser absorvidos os excedentes de mão-de-obra e como vão cobrir as autarquias as receitas em falta?
Hipótese 2: O mercado de arrendamento continua estagnado (porque não é a actualização de rendas antigas por si só que vai afectar os valores das novas rendas) e a única coisa que a nova lei vai realmente conseguir é penalizar, mais uma vez, a classe média da faixa etária entre os 45 e os 65 anos, aquela que se casou antes da grande explosão da compra de habitação própria.
Espero que o Governo tenha analisado todas as vertentes deste problema em profundidade.
Hipótese 1: A lei das rendas revela-se eficaz em reanimar o mercado do arrendamento - principal objectivo da sua aprovação - e a maioria dos fogos agora vagos é arrendada. O que acontece com o mercado da construção, o qual representa cerca de 30% do PIB? Se continua no mesmo ritmo vai produzir para não vender. Se pára, onde vão ser absorvidos os excedentes de mão-de-obra e como vão cobrir as autarquias as receitas em falta?
Hipótese 2: O mercado de arrendamento continua estagnado (porque não é a actualização de rendas antigas por si só que vai afectar os valores das novas rendas) e a única coisa que a nova lei vai realmente conseguir é penalizar, mais uma vez, a classe média da faixa etária entre os 45 e os 65 anos, aquela que se casou antes da grande explosão da compra de habitação própria.
Espero que o Governo tenha analisado todas as vertentes deste problema em profundidade.
VACATURAS (I)
Segundo dados oficiais, há cerca de 550 mil fogos vagos no país. Destes, 170 mil estão no mercado de venda ou aluguer, os restantes (380 mil!), nem uma coisa nem outra - limitam-se a estar abandonados.
Um destes últimos, é o apartamento onde a minha avó viveu até à sua morte há nove anos. O senhorio não se mostrou disponível para o vender, nem aos herdeiros nem a qualquer interessado. Não se mostrou igualmente disponível para o arrendar, emprestar, oferecer. Não se mostrou disponível para lhe dar uso.
É uma prerrogativa dos proprietários.
Só que o proprietário é o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, ou seja, a Segurança Social, ou seja o Estado. Seguindo a sábia interpretação do senhor ministro das Finanças, de que o orçamento do Estado é como o orçamento das famílias, não seria melhor pôr os bens a render para pagar as dívidas? Na minha família é o que se costuma fazer.
Um destes últimos, é o apartamento onde a minha avó viveu até à sua morte há nove anos. O senhorio não se mostrou disponível para o vender, nem aos herdeiros nem a qualquer interessado. Não se mostrou igualmente disponível para o arrendar, emprestar, oferecer. Não se mostrou disponível para lhe dar uso.
É uma prerrogativa dos proprietários.
Só que o proprietário é o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, ou seja, a Segurança Social, ou seja o Estado. Seguindo a sábia interpretação do senhor ministro das Finanças, de que o orçamento do Estado é como o orçamento das famílias, não seria melhor pôr os bens a render para pagar as dívidas? Na minha família é o que se costuma fazer.
setembro 15, 2004
ALTO E PAIRA O BAILE!
Escrevia eu há uns dias acerca da intromissão dispendiosa do Museu da Cidade nas obras das zonas históricas que a lei prevê. Nem de propósito: o Expresso anunciava no fim-de-semana passado o embargo das obras do parque de estacionamento do Largo das Portas do Sol por, alegadamente, não se ter submetido um projecto de alterações à análise das autoridades competentes.
Este projecto está previsto no "Plano de Urbanização de Alfama" aprovado, se não me falha a memória, em 1996. A falta de verbas e a velocidade de decisão da autarquia levaram a que só agora a empreitada tenha sido lançada e adjudicada - para imediatamente ter sido embargada, diria eu, "sine die".
Não se sabe quanto tempo irá durar a campanha arqueológica. Sabe-se, com toda a certeza que irá ser muito cara.
E aos comerciantes - os poucos que ainda há - só lhes resta confinarem-se aos seus clientes do bairro, já que aos forasteiros automobilizados não lhes resta outra alternativa que a partida para outros bairros já que, com a proibição de estacionamento na freguesia do Castelo e com a extinção - para instalação do estaleiro - dos poucos lugares de estacionamento que havia no largo, não há sítio para pararem. Economia de subsistência, tão longe da necessidade de "auto-sustentação" do bairro, buzzword que tantas vezes ouvi vinda da boca dos responsáveis...
Este projecto está previsto no "Plano de Urbanização de Alfama" aprovado, se não me falha a memória, em 1996. A falta de verbas e a velocidade de decisão da autarquia levaram a que só agora a empreitada tenha sido lançada e adjudicada - para imediatamente ter sido embargada, diria eu, "sine die".
Não se sabe quanto tempo irá durar a campanha arqueológica. Sabe-se, com toda a certeza que irá ser muito cara.
E aos comerciantes - os poucos que ainda há - só lhes resta confinarem-se aos seus clientes do bairro, já que aos forasteiros automobilizados não lhes resta outra alternativa que a partida para outros bairros já que, com a proibição de estacionamento na freguesia do Castelo e com a extinção - para instalação do estaleiro - dos poucos lugares de estacionamento que havia no largo, não há sítio para pararem. Economia de subsistência, tão longe da necessidade de "auto-sustentação" do bairro, buzzword que tantas vezes ouvi vinda da boca dos responsáveis...
setembro 14, 2004
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (IX) - MUDANÇAS
Com a criação de uma Direcção Municipal específica (DMRU), oficializou-se uma consciência de preservação dos edifícios mais antigos, da traça e da "ambiência" (palavra perigosa" dos bairros históricos. Como sempre, as novas atitudes são de disseminação lenta, tanto no interior das instituições como nos aparentes benificiários da mesma.
A estes dois edifícios une-os a mesma necessidade ou a mesma cupidez:


O que difere é apenas o tempo. Um clandestino foi feito antes, o outro depois, do nascimento da DMRU.
A estes dois edifícios une-os a mesma necessidade ou a mesma cupidez:


O que difere é apenas o tempo. Um clandestino foi feito antes, o outro depois, do nascimento da DMRU.
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (VIII) - RECRIA
Penso já ter escrito por aqui que o RECRIA foi criado com o pensamento nos edifícios oitocentistas que pululam em Lisboa, ignorando que o estado de profunda degradação dos edifícios dos chamados Bairros Históricos exige intervenções muito mais profundas que a superficial mudança de cobertura e revestimento das paredes exteriores, de vãos e, eventualmente de infra-estruturas eléctricas e de águas e esgotos.
Com a inocente boa-vontade que a caracterizou no início, a Direcção Municipal de Reabilitação Urbana patrocionou muitas intervenções com o apoio do RECRIA que seguiam, em passos latos, o que deveria ser uma intervenção num edifício oitocentista das avenidas novas, com patologias medianas e uma qualidade de construção razoável.
O resultado previsível pode-se ver, por exemplo, neste edifício

intervencionado há cerca de 10 anos.
Não causa assim admiração a fuga para os bairros novos da periferia (igualmente mal construídos mas com um período de degradação mais longo) ou para os caixotes deprimentes dos subúrbios.
Com a inocente boa-vontade que a caracterizou no início, a Direcção Municipal de Reabilitação Urbana patrocionou muitas intervenções com o apoio do RECRIA que seguiam, em passos latos, o que deveria ser uma intervenção num edifício oitocentista das avenidas novas, com patologias medianas e uma qualidade de construção razoável.
O resultado previsível pode-se ver, por exemplo, neste edifício

intervencionado há cerca de 10 anos.
Não causa assim admiração a fuga para os bairros novos da periferia (igualmente mal construídos mas com um período de degradação mais longo) ou para os caixotes deprimentes dos subúrbios.
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (VII) - SEGREDOS
Todas as políticas aplicadas pela primeira vez são passíveis de falhas, estão abertas a enganos, são caminho possível para erros. Não serão eles o aspecto mais gravoso da actuação pública, desde que identificados e corrigidos a tempo. Gravoso é não se criarem mecanismos para a sua identificação e mortal (principalmente para o objecto dessa política) é não se discutirem as suas causas e consequências e as correcções possíveis.
Da actuação da Reabilitação Urbana no consulado da coligação PS/PCP muito ficou por perguntar. Não houve disponibilidade ideológica para tal (o terreno era um feudo quase exclusivo do PC) e, provavelmente, capacidade técnica ou intelectual suficiente para o fazer com competência.
Uma das primeiras experiências de intervenção profunda em edifícios com pretensa qualidade histórica foi efectuada neste edifício situado na área de intervenção do Gabinete Local de Alfama e Colina do Castelo.

Foi um segredo bem guardado o valor final da empreitada que permitiria apurar o custo da intervenção por metro quadrado, ainda o melhor monitor da relação investimento/significado histórico que eu conheço. Cabe dizer que áreas como a que o edifício disponibiliza seriam liminarmente recusadas por qualquer candidato a habitante de fogo social e que, passados mais ou menos 10 anos, são notórias e múltiplas as patologias visíveis.
Portanto: 600 a 700 contos por metro quadrado de intervenção, uma péssima qualidade de habitação e uma obra que apenas disfarçou os problemas da construção. Não mereceria isto mais do que o silêncio?
Da actuação da Reabilitação Urbana no consulado da coligação PS/PCP muito ficou por perguntar. Não houve disponibilidade ideológica para tal (o terreno era um feudo quase exclusivo do PC) e, provavelmente, capacidade técnica ou intelectual suficiente para o fazer com competência.
Uma das primeiras experiências de intervenção profunda em edifícios com pretensa qualidade histórica foi efectuada neste edifício situado na área de intervenção do Gabinete Local de Alfama e Colina do Castelo.

Foi um segredo bem guardado o valor final da empreitada que permitiria apurar o custo da intervenção por metro quadrado, ainda o melhor monitor da relação investimento/significado histórico que eu conheço. Cabe dizer que áreas como a que o edifício disponibiliza seriam liminarmente recusadas por qualquer candidato a habitante de fogo social e que, passados mais ou menos 10 anos, são notórias e múltiplas as patologias visíveis.
Portanto: 600 a 700 contos por metro quadrado de intervenção, uma péssima qualidade de habitação e uma obra que apenas disfarçou os problemas da construção. Não mereceria isto mais do que o silêncio?
FINANÇAS
NOTAVELmente abjecto.
Não me lembro de alguma vez ter concordado com as palavras do Partido Comunista mas hoje à noite a sua caracterização da comunicação ao país do ministro das finanças não podia ser mais certeira: foi uma conversa em família medíocre, com um insuportável discurso de mestre-escola.
Sem alma.
Sem calor.
Pequenino.
Ideologicamente, o rato está a comer a montanha.
Não me lembro de alguma vez ter concordado com as palavras do Partido Comunista mas hoje à noite a sua caracterização da comunicação ao país do ministro das finanças não podia ser mais certeira: foi uma conversa em família medíocre, com um insuportável discurso de mestre-escola.
Sem alma.
Sem calor.
Pequenino.
Ideologicamente, o rato está a comer a montanha.
setembro 12, 2004
RITUAIS
A propósito do ritual maçónico efectuado na Basílica da Estrela em homenagem a Nunes de Almeida:
- Não seria pedagógico que, para além da declaração de rendimentos, fosse obrigatória a publicitação, por parte dos titulares de todos os cargos públicos (e já agora, judiciais e do Estado), das eventuais ligações a organizações secretas ou "anónimas" (Maçonaria, Opus Dei, Opus Gay, etc, etc, etc)?
- Não seria pedagógico que, para além da declaração de rendimentos, fosse obrigatória a publicitação, por parte dos titulares de todos os cargos públicos (e já agora, judiciais e do Estado), das eventuais ligações a organizações secretas ou "anónimas" (Maçonaria, Opus Dei, Opus Gay, etc, etc, etc)?
HUM, VOCÊ DISSE...?
"O orçamento de um país é como o orçamento de uma família (...)" - Bagão Felix, actualmente ministro das Finanças deste país.
Hum. Poucos se lembrarão. Provavelmente nem Bagão Felix, a frase ter-lhe-à saído pedagógica, pedantemente pedagógica como é o seu estilo. Mas há coisas que não se devem esquecer - mesmo a um ministro de direita católico, conservador e apoiante ou participante da Opus Dei. Citar Salazar, que diabo!, só a este deveria lembrar.
Hum. Poucos se lembrarão. Provavelmente nem Bagão Felix, a frase ter-lhe-à saído pedagógica, pedantemente pedagógica como é o seu estilo. Mas há coisas que não se devem esquecer - mesmo a um ministro de direita católico, conservador e apoiante ou participante da Opus Dei. Citar Salazar, que diabo!, só a este deveria lembrar.
setembro 11, 2004
FUTEBOLÊS
"A partida entre o Gil Vicente e o Boavista é o exemplo daquilo que não deve ser um jogo de futebol e explica a razão porque os estádios, um pouco por todo o País, têm cada vez menos espectadores." (in abola.pt )
Então o futebol não ia passar a ter assistências grandiosas graças ao conforto dos estádios do Euro???
Então o futebol não ia passar a ter assistências grandiosas graças ao conforto dos estádios do Euro???
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (VI) - ESCAVAÇÕES
Pelo menos nas zonas dos chamados "Bairros Históricos" da cidade de Lisboa, existe uma obrigatoriedade legal de, nas obras que envolvam escavações, se comunicar o facto ao Museu da Cidade, que disponibilizará um técnico para as supervisionar, com o direito de suspender as mesmas durante o tempo que entender necessário para a análise e investigação do subsolo e de eventuais vestígios arqueológicos que possam aparecer.
É uma obrigatoriedade louvável. Em primeiro lugar porque permite garantir a recolha científica de elementos que poderão contribuir para um melhor conhecimento da história da cidade. Em segundo lugar porque poupa à autarquia as verbas consideráveis que seriam necessárias para a realização de campanhas que visassem a obtenção de resultados semelhantes.
Existe só um pequeníssimo senão.
Eu quero acreditar que a intenção do legislador fosse apenas a de aproveitar a boleia de trabalhos que seriam efectuados de qualquer maneira (a escavação), oferecendo graciosamente os préstimos de técnicos habilitados para acompanhamento das operações. Que dela estivesse afastado qualquer espírito proxeneta de lucrar com o trabalho dos outros. No entanto - e como em tantas leis deste país... - no espírito prático da lei esbarra esse quase irrelevante pormenor que se chama realidade. Que as empreitadas custam dinheiro até os funcionários públicos sabem - o Estado também as paga. O que, aparentemente, os funcionários públicos parecem desconhecer são os custos associados aos atrasos é às paragens das obras: os que se pagam ao empreiteiro por imobilização do estaleiro e, mais importantes e muito maiores, os de imobilização dos capitais, os dos juros dos empréstimos bancários que sustentam na esmagadora maioria das vezes a operação imobiliária, os lucros adiados pelo adiamento da venda do produto final, os lucros cessantes pela perca de oportunidades de negócio. É que as paragens não são de dias - são de semanas, podendo ser de meses se o achado se perspectivar como relevante. E nem valeria a pena mencionar, por irrelevante neste contexto, o material e a mão-de-obra de apoio que a instituição requer ao dono da obra... Logo, o que é previsível que aconteça na maioria dos casos é o inverso que se pretende, com a realização "clandestina" das escavações e a rápida destruição de achados, antes que a palavra chegue à instituição. Não se pense que isto é ficção ou especulação sobre uma possibilidade da lei. Conheci vários casos, tanto de paragens prolongadas de obras quanto de trabalhos realizados "por duendes".
Quando a obra é pública, os custos financeiros da paragem, face aos restantes, não serão de muita monta e, como disse, os restantes não existem (ou pelo menos não se contabilizam), correndo, quase sempre, as coisas de acordo com o legislado. Excepto quando a obra é anunciadamente propagandística e cada dia de atraso conta - e muito -nos índices de popularidade. Como por exemplo na obra de reconstrução dos Paços do Concelho e do parque de estacionamento adjacente que o mayor João Soares se comprometeu a realizar num ano. Esquecendo o pormenor da inversão no tempo que as datas de assinatura do contrato e de início da obra tiveram, quantas pessoas souberam dos fantasmas arquelógicos que por ali andaram?
Richard Wagner escreveu uma ópera que, se não me engano, em português se chama "O Navio Fantasma", não é?
É uma obrigatoriedade louvável. Em primeiro lugar porque permite garantir a recolha científica de elementos que poderão contribuir para um melhor conhecimento da história da cidade. Em segundo lugar porque poupa à autarquia as verbas consideráveis que seriam necessárias para a realização de campanhas que visassem a obtenção de resultados semelhantes.
Existe só um pequeníssimo senão.
Eu quero acreditar que a intenção do legislador fosse apenas a de aproveitar a boleia de trabalhos que seriam efectuados de qualquer maneira (a escavação), oferecendo graciosamente os préstimos de técnicos habilitados para acompanhamento das operações. Que dela estivesse afastado qualquer espírito proxeneta de lucrar com o trabalho dos outros. No entanto - e como em tantas leis deste país... - no espírito prático da lei esbarra esse quase irrelevante pormenor que se chama realidade. Que as empreitadas custam dinheiro até os funcionários públicos sabem - o Estado também as paga. O que, aparentemente, os funcionários públicos parecem desconhecer são os custos associados aos atrasos é às paragens das obras: os que se pagam ao empreiteiro por imobilização do estaleiro e, mais importantes e muito maiores, os de imobilização dos capitais, os dos juros dos empréstimos bancários que sustentam na esmagadora maioria das vezes a operação imobiliária, os lucros adiados pelo adiamento da venda do produto final, os lucros cessantes pela perca de oportunidades de negócio. É que as paragens não são de dias - são de semanas, podendo ser de meses se o achado se perspectivar como relevante. E nem valeria a pena mencionar, por irrelevante neste contexto, o material e a mão-de-obra de apoio que a instituição requer ao dono da obra... Logo, o que é previsível que aconteça na maioria dos casos é o inverso que se pretende, com a realização "clandestina" das escavações e a rápida destruição de achados, antes que a palavra chegue à instituição. Não se pense que isto é ficção ou especulação sobre uma possibilidade da lei. Conheci vários casos, tanto de paragens prolongadas de obras quanto de trabalhos realizados "por duendes".
Quando a obra é pública, os custos financeiros da paragem, face aos restantes, não serão de muita monta e, como disse, os restantes não existem (ou pelo menos não se contabilizam), correndo, quase sempre, as coisas de acordo com o legislado. Excepto quando a obra é anunciadamente propagandística e cada dia de atraso conta - e muito -nos índices de popularidade. Como por exemplo na obra de reconstrução dos Paços do Concelho e do parque de estacionamento adjacente que o mayor João Soares se comprometeu a realizar num ano. Esquecendo o pormenor da inversão no tempo que as datas de assinatura do contrato e de início da obra tiveram, quantas pessoas souberam dos fantasmas arquelógicos que por ali andaram?
Richard Wagner escreveu uma ópera que, se não me engano, em português se chama "O Navio Fantasma", não é?
POR FAVOR, QUEM É QUE ME PODE DESPACHAR ISTO?
De entre os procedimentos institucionais que me irritam, o que talvez me exaspere mais é o de tentar evitar um comportamento ilegal com a complicação do acto que o pode originar. Eu dou um exemplo: toda a gente compreende a possibilidade de, na encomenda pública de um serviço, se lesar o Estado, quer através da sobrefacturação do mesmo, quer na escolha de um fornecedor outro que não o mais competente. Não deveria acontecer e o Estado tem toda a legitimidade - toda a obrigação - para o impedir. Ora o que acontece em Portugal é que, à força de o prevenir ao invés de o castigar, se tornam processos simples tão complicados e tão morosos que o dinheiro eventualmente poupado na ilegalidade se multiplica no tempo consumido ou nas oportunidades perdidas.
Espero que, do que acabei de escrever, ninguém infira que defendo qualquer tipo de laxismo no combate à fraude ou à corrupção. Antes pelo contrário. Defendo, isso sim, que se procurem manter os processos simples; que se tornem eficazes os mecanismos de controlo dos resultados; e que se castiguem exemplarmente os culpados. (E na função pública seria tão simples: processo sumário de despedimento com a proibição vitalícia de reintegração). É difícil? Não seria mais fácil do que levar um ano para lançar uma empreitada (é practicamente impossível, respeitando totalmente a lei, fazê-lo em menos tempo, ver cair prédios porque a papelada não foi despachada a tempo, etc, etc, etc?
Espero que, do que acabei de escrever, ninguém infira que defendo qualquer tipo de laxismo no combate à fraude ou à corrupção. Antes pelo contrário. Defendo, isso sim, que se procurem manter os processos simples; que se tornem eficazes os mecanismos de controlo dos resultados; e que se castiguem exemplarmente os culpados. (E na função pública seria tão simples: processo sumário de despedimento com a proibição vitalícia de reintegração). É difícil? Não seria mais fácil do que levar um ano para lançar uma empreitada (é practicamente impossível, respeitando totalmente a lei, fazê-lo em menos tempo, ver cair prédios porque a papelada não foi despachada a tempo, etc, etc, etc?
ASSIM É DIFÍCIL...
Julgo que será cada vez mais difícil para os comediantes arranjar público em Portugal. Quem quererá gastar dinheiro a ouvir piadas requentadas quanto tanto disparate é debitado diária e gratuitamente via canais generalistas?
O José Eduardo Moniz referindo-se a um novo concurso: "Tem imensa piada... o concorrente pode perder quase tudo que tem em casa" (sorriso alarve, sorriso alarve...);
Uma peça jornalística que refere que os portugueses já sentem no bolso a retoma, seguida da reportagem sobre os salários em atraso na Casa do Douro;
O Ministro do Ambiente que já copiou o tique do seu colega da Defesa de apertar os esfinteres para ficar mais direito na cadeira (mais pose de Estado, mais pose de Estado) a citar ufano - com pausas dramáticas - o relatório da Comissão de inquérito ao acidente nas instalações da GALP de Matosinhos, acusando a empresa de conduta negligente e o presidente executivo da mesma a responder sorridente, no dia seguinte e após reunião com o ministro, que "aquilo" foi "um acidente de pequena dimensão" e que tudo "está bem".
Lamento mas não ouvi a prédica diária do senhor Primeiro-Ministro.
O José Eduardo Moniz referindo-se a um novo concurso: "Tem imensa piada... o concorrente pode perder quase tudo que tem em casa" (sorriso alarve, sorriso alarve...);
Uma peça jornalística que refere que os portugueses já sentem no bolso a retoma, seguida da reportagem sobre os salários em atraso na Casa do Douro;
O Ministro do Ambiente que já copiou o tique do seu colega da Defesa de apertar os esfinteres para ficar mais direito na cadeira (mais pose de Estado, mais pose de Estado) a citar ufano - com pausas dramáticas - o relatório da Comissão de inquérito ao acidente nas instalações da GALP de Matosinhos, acusando a empresa de conduta negligente e o presidente executivo da mesma a responder sorridente, no dia seguinte e após reunião com o ministro, que "aquilo" foi "um acidente de pequena dimensão" e que tudo "está bem".
Lamento mas não ouvi a prédica diária do senhor Primeiro-Ministro.
setembro 09, 2004
A PIADA DO DIA
"Agora que o défice está controlado e se vê a retoma económica fruto das políticas do Governo (...)" (PM-PSL na comunicação diária ao país via comunicação social)
setembro 08, 2004
DES(GRAÇAS)
Não fora o facto de vidas estarem realmente em jogo e toda esta história do rapto dos jornalistas franceses no Iraque daria uma risível história em argumento hollywoodiano. Primeiro o rapto e a incomodidade das gentes: "Mas franceses...? A França não participou na invasão... foi contra... perdeu até o exclusivo das batatas fritas nos Estados Unidos...". Depois as explicações científicas, aparentemente comprovadas pelos próprios raptores: "É por causa da proibição dos símbolos religiosos nas escolas públicas... Um ataque mais grave ao Islão do que a deposição de Sadam..." Finalmente, após uma fatwa esclarecedora, a verdade pura e dura: 5 milhões de euros.
É, it's a dog's world out there.
É, it's a dog's world out there.
setembro 07, 2004
PRODUTIVIDADES
O discurso sobre o nível de produtividade dos portugueses já enjoa de tão repetidamente errado. As respostas pret-a-porter para políticos debitarem em prime-time têm destas coisas: ainda que sirvam para muitos ajustam-se rigorosamente a muito poucos. Ficam ligeiramente enfoladas nos ombros. Um pouco largas no peito. Alguns centímetros curtas nas extremidades.
Como se mede a produtividade? Como é que a mesma influencia na riqueza nacional? Se não me falha a memória, ela é a razão entre o produto bruto e o número de trabalhadores, qualquer coisa como a riqueza produzida per capita. Um pensamento apressado não terá dúvidas em concluir que mais riqueza implica maior produtividade o que, mantendo-se o número de trabalhadores, implicará o aumento do produto bruto. O qual, naturalmente, terá de ser produzido pelos citados trabalhadores. Em termos simples, maior produção no trabalho de cada um implicará maior riqueza para todos (neste caso, para as empresas e, indirectamente, para o país). Este o raciocínio simples, colocado na boca de todos, políticos, jornalistas e comentadores (curiosamente, não o oiço muito na boca dos economistas e gestores privados).
Ensinou-me a experiência que se há coisa que a economia sabe fazer bem é encontrar variados caminhos para se chegar ao mesmo resultado final. O que, no caso presente, significa que se pode produzir o mesmo aumento da produtividade através da diminuição do número de trabalhadores - ou seja, garantir que menos originem o mesmo resultado final. É uma equação que funciona ao agrado das empresas: menos custos fixos, maiores lucros. Funcionará bem para o Estado? Com mais desemprego (a exigir maior gastos sociais) e sem aumentar o produto gerado, parece-me que não. E no entanto...
Vejamos agora um outro factor: quantas empresas - privadas - se queixam da pouca produção dos seus trabalhadores? Eu não conheço nenhuma. Simplesmente porque, através de incentivos, de pressões várias, de estratégias diversas, as empresas - porque têm absoluta necessidade disso - alcançam os seus objectivos. As que não os alcançam acabam por falir. Onde se nota então a falta de produtividade? Obviamente no Estado. No Estado que emprega 5 trabalhadores para fazer um trabalho que, no privado, 1 ou 2 fazem. No Estado que necessita de 6 meses para executar um trabalho que, no sector privado, é feito em dois ou três. No Estado que, ainda mais gravemente, faz reflectir no sector privado esta produtividade coxa, ao lhe impôr, pela burocracia exigida, pelos prazos próprios reclamados, uma lentidão desesperante.
É fácil aliviar o peso das nossas costas para cima das costas dos outros. Não resolve nada, no entanto. Mas enquanto o pau vai e vem...
Como se mede a produtividade? Como é que a mesma influencia na riqueza nacional? Se não me falha a memória, ela é a razão entre o produto bruto e o número de trabalhadores, qualquer coisa como a riqueza produzida per capita. Um pensamento apressado não terá dúvidas em concluir que mais riqueza implica maior produtividade o que, mantendo-se o número de trabalhadores, implicará o aumento do produto bruto. O qual, naturalmente, terá de ser produzido pelos citados trabalhadores. Em termos simples, maior produção no trabalho de cada um implicará maior riqueza para todos (neste caso, para as empresas e, indirectamente, para o país). Este o raciocínio simples, colocado na boca de todos, políticos, jornalistas e comentadores (curiosamente, não o oiço muito na boca dos economistas e gestores privados).
Ensinou-me a experiência que se há coisa que a economia sabe fazer bem é encontrar variados caminhos para se chegar ao mesmo resultado final. O que, no caso presente, significa que se pode produzir o mesmo aumento da produtividade através da diminuição do número de trabalhadores - ou seja, garantir que menos originem o mesmo resultado final. É uma equação que funciona ao agrado das empresas: menos custos fixos, maiores lucros. Funcionará bem para o Estado? Com mais desemprego (a exigir maior gastos sociais) e sem aumentar o produto gerado, parece-me que não. E no entanto...
Vejamos agora um outro factor: quantas empresas - privadas - se queixam da pouca produção dos seus trabalhadores? Eu não conheço nenhuma. Simplesmente porque, através de incentivos, de pressões várias, de estratégias diversas, as empresas - porque têm absoluta necessidade disso - alcançam os seus objectivos. As que não os alcançam acabam por falir. Onde se nota então a falta de produtividade? Obviamente no Estado. No Estado que emprega 5 trabalhadores para fazer um trabalho que, no privado, 1 ou 2 fazem. No Estado que necessita de 6 meses para executar um trabalho que, no sector privado, é feito em dois ou três. No Estado que, ainda mais gravemente, faz reflectir no sector privado esta produtividade coxa, ao lhe impôr, pela burocracia exigida, pelos prazos próprios reclamados, uma lentidão desesperante.
É fácil aliviar o peso das nossas costas para cima das costas dos outros. Não resolve nada, no entanto. Mas enquanto o pau vai e vem...
LEITURAS
As férias trazem coisas engraçadas. Como arrebanharmos uma carrada de livros que fomos comprando ao longo do ano e não tivemos tempo de esgotar, na esperança de nos pormos em dia com o atraso. E depois lê-los todos e catar mais alguns perdidos de expedições idênticas de anos anteriores.
E assim li - finalmente? - o On the Road . Atrasado uma ou duas gerações em relação aos contemporâneos do livro escapa-me a emoção que muitos deles devem ter sentido ao lê-lo. A emoção de encontrar o mesmo tipo de desassossego que sentiam - um desassossego muito pouco pessoano e muito caracteristicamente novo-mundista, muito próprio de sociedades que ultrapassaram o tempo da sobrevivência e se preocupam com a ocupação dos dias da abundância. Bom, li o On the Road quarenta e sete anos após a sua publicação e muitas águas passadas por todas as pontes do mundo. E, ainda que não me ocupe muito a necessidade de fazer quilómetros para buscar o outro lado do continente porque o actual parece esgotado de soluções, dei comigo a traçar, no atlas cá de casa, os caminhos percorridos no livro. A criar variantes. A inventar novas viagens.
Eu português descendente do senhor Oliveira de Figueira me confesso: o mundo é a derradeira curiosidade e percorrê-lo a última resposta.
E assim li - finalmente? - o On the Road . Atrasado uma ou duas gerações em relação aos contemporâneos do livro escapa-me a emoção que muitos deles devem ter sentido ao lê-lo. A emoção de encontrar o mesmo tipo de desassossego que sentiam - um desassossego muito pouco pessoano e muito caracteristicamente novo-mundista, muito próprio de sociedades que ultrapassaram o tempo da sobrevivência e se preocupam com a ocupação dos dias da abundância. Bom, li o On the Road quarenta e sete anos após a sua publicação e muitas águas passadas por todas as pontes do mundo. E, ainda que não me ocupe muito a necessidade de fazer quilómetros para buscar o outro lado do continente porque o actual parece esgotado de soluções, dei comigo a traçar, no atlas cá de casa, os caminhos percorridos no livro. A criar variantes. A inventar novas viagens.
Eu português descendente do senhor Oliveira de Figueira me confesso: o mundo é a derradeira curiosidade e percorrê-lo a última resposta.
NASCIDOS PARA MATAR
Se é verdade que o olhar de um artista nos revela algo sobre o objecto da sua observação, então pode ser que se consiga aprender alguma coisa sobre o modo como os americanos justificam as suas guerras a partir de um filme como "Full Metal Jacket".
"The reason we help vietnamits is because inside each one is an american craving to get out".
Acho que esta frase se pode aplicar ao presente Iraque. Aliás parece-me que resume magnificamente a presunção americana de que todos os povos desejam a democracia, todos os povos merecem a democracia e, com os diabos!, todos os povos a terão a bem ou a mal.
"The reason we help vietnamits is because inside each one is an american craving to get out".
Acho que esta frase se pode aplicar ao presente Iraque. Aliás parece-me que resume magnificamente a presunção americana de que todos os povos desejam a democracia, todos os povos merecem a democracia e, com os diabos!, todos os povos a terão a bem ou a mal.
setembro 03, 2004
O ABORTO (I)
Ai a extrema-esquerda, a extrema-esquerda... Estragar assim a intervenção gratuita da CML no prédio do PP...
setembro 01, 2004
VOU ALI JÁ VOLTO
Voltar para Lisboa a trabalho é uma seca. Entrar desprevenido no IC19 direcção Sintra-Lisboa às oito da manhã é um susto para quem como eu insiste em morar na capital e está, como tal, resguardado destas torturas.
Felizmente que existem caminhos escusos que, mais ou menos, asseguram a ligação entre Rio de Mouro e S. Domingos de Rana e uma auto-estrada menos entupida e a CREL e uma estação de serviço para trocar de carro como alternativa. Tudo isto para conseguir chegar a horas a uma reunião em Tomar.
Vou mas é de férias outra vez.
Felizmente que existem caminhos escusos que, mais ou menos, asseguram a ligação entre Rio de Mouro e S. Domingos de Rana e uma auto-estrada menos entupida e a CREL e uma estação de serviço para trocar de carro como alternativa. Tudo isto para conseguir chegar a horas a uma reunião em Tomar.
Vou mas é de férias outra vez.
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