O discurso sobre o nível de produtividade dos portugueses já enjoa de tão repetidamente errado. As respostas pret-a-porter para políticos debitarem em prime-time têm destas coisas: ainda que sirvam para muitos ajustam-se rigorosamente a muito poucos. Ficam ligeiramente enfoladas nos ombros. Um pouco largas no peito. Alguns centímetros curtas nas extremidades.
Como se mede a produtividade? Como é que a mesma influencia na riqueza nacional? Se não me falha a memória, ela é a razão entre o produto bruto e o número de trabalhadores, qualquer coisa como a riqueza produzida per capita. Um pensamento apressado não terá dúvidas em concluir que mais riqueza implica maior produtividade o que, mantendo-se o número de trabalhadores, implicará o aumento do produto bruto. O qual, naturalmente, terá de ser produzido pelos citados trabalhadores. Em termos simples, maior produção no trabalho de cada um implicará maior riqueza para todos (neste caso, para as empresas e, indirectamente, para o país). Este o raciocínio simples, colocado na boca de todos, políticos, jornalistas e comentadores (curiosamente, não o oiço muito na boca dos economistas e gestores privados).
Ensinou-me a experiência que se há coisa que a economia sabe fazer bem é encontrar variados caminhos para se chegar ao mesmo resultado final. O que, no caso presente, significa que se pode produzir o mesmo aumento da produtividade através da diminuição do número de trabalhadores - ou seja, garantir que menos originem o mesmo resultado final. É uma equação que funciona ao agrado das empresas: menos custos fixos, maiores lucros. Funcionará bem para o Estado? Com mais desemprego (a exigir maior gastos sociais) e sem aumentar o produto gerado, parece-me que não. E no entanto...
Vejamos agora um outro factor: quantas empresas - privadas - se queixam da pouca produção dos seus trabalhadores? Eu não conheço nenhuma. Simplesmente porque, através de incentivos, de pressões várias, de estratégias diversas, as empresas - porque têm absoluta necessidade disso - alcançam os seus objectivos. As que não os alcançam acabam por falir. Onde se nota então a falta de produtividade? Obviamente no Estado. No Estado que emprega 5 trabalhadores para fazer um trabalho que, no privado, 1 ou 2 fazem. No Estado que necessita de 6 meses para executar um trabalho que, no sector privado, é feito em dois ou três. No Estado que, ainda mais gravemente, faz reflectir no sector privado esta produtividade coxa, ao lhe impôr, pela burocracia exigida, pelos prazos próprios reclamados, uma lentidão desesperante.
É fácil aliviar o peso das nossas costas para cima das costas dos outros. Não resolve nada, no entanto. Mas enquanto o pau vai e vem...
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