Para quem, como nós, pertence a um rectângulo habitado por míseros 10 milhões de consumidores com falta de massa crítica para criar (e sustentar) grande diversidade na produção cultural, é sempre grande motivo de (algum) assombro e (muita) contentação visitar várias cidades de um país GRANDE e verificar quão diferentes podem ser as ofertas, por exemplo, musicais.
As discotecas de Pernambuco abarrotam de experiências de fusão dos ritmos nordestinos com a electricidade mais esgalhada do rock mais duro (e todas radicalmente originais e de caminhos diversos).
As da Bahia da criação, re-criação e re-re-criação da mistura afro-euro-ameríndia que a constituiu.
As do Rio, para além do samba e suas variações, da MPB mais "mainstream", abarrotam de ensaios mais discretos, partindo do choro ou de experiências mais intimistas de compositores de 3ª geração, na senda das experiências iniciais dos seus antecessores.
Uma das editoras locais mais interessantes que por lá se encontram é a Biscoito Fino. Sem preocupações de grandes hits - logo sem as bombásticas promoções ou produções - tem produzido muito boa coisa a maior parte da qual, infelizmente, tarda em fazer-se ouvir por aqui.
Ainda com a frescura gélida dos porões do avião que os trouxe, chegaram-me algumas das suas edições.
El Negro del Blanco é um deles. Dois instrumentos - violão e clarinete - e uma diversidade de temas originários da América Latina - desde Baden Powell a Violeta Parra, passando por Piazolla.
“A visão que o disco propõe é reunir a influência negra na música do continente latino-americano à vertente ibérica do colonizador. Daí, el negro Del blanco e el blanco Del negro”, diz um dos seus autores aqui, no site da editora.
Alex, com o seu entusiasmo habitual, chamar-lhe-à genial. Eu chamo a atenção para ele e digo, muito bom!
Sem comentários:
Enviar um comentário