Este Outono começa sob um aparente signo de mudança. Louvores aos consultores de imagem do PS por se vislumbrar uma inversão no sentimento generalizado de que Sócrates é mais do mesmo Santana. (Louve-se ainda Marcelo Rebelo de Sousa por se ir entretendo, no seu jogo de xadrez dominical, a pôr e dispôr todas as peças políticas deste país de acordo com a sua estratégia de aranha a longo prazo).
Ao contrário do que eu pensava e afirmara, o PS não derivou à esquerda, preferindo a cómoda vantagem do centro. Já se ouve, ao longe, o rumor do afiar das facas, os primeiros preparativos de disposição da baixela para o banquete que se avizinha num horizonte o mais tardar de dois anos. De facto, só um grande terremoto impedirá o partido de reconquistar Lisboa (e provavelmente o Porto), é cada vez mais provável (apesar de Cavaco e por causa de Lopes) a manutenção da Presidência da República e só S. Bento permanece - por enquanto... - uma incógnita.
Esta deriva ao centro - compensatória a curto prazo para muitos - tem o defeito de tornar o sistema ainda mais coxo, com uma alternância entre um bloco cada vez mais à direita e um centro - por força das circunstâncias - cada vez mais liberal. E das duas uma: ou PSD e CDS se fundem num novo partido assumidamente conservador (reerguendo de vez as bandeiras popular e liberal) ou o PSD acorda da sua deriva e se reposiciona ao centro, abandonando o parceiro de coligação (existe também a diminuta hipótese de uma revolução interna defenestrar Paulo Portas). Se a primeira hipótese acabaria com as minhas esperanças de voltar a ver o PSD a fazer jus ao nome, a segunda transformaria de vez as eleições num plebiscito de competências e não de ideologias. O que, dada a quase completa ausência delas que se encontra em todos os discursos que se vão ouvindo, até nem andaria longe da apetência dos nossos actores políticos.
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