outubro 04, 2004

MOVIDA

Este Outono começa sob um aparente signo de mudança. Louvores aos consultores de imagem do PS por se vislumbrar uma inversão no sentimento generalizado de que Sócrates é mais do mesmo Santana. (Louve-se ainda Marcelo Rebelo de Sousa por se ir entretendo, no seu jogo de xadrez dominical, a pôr e dispôr todas as peças políticas deste país de acordo com a sua estratégia de aranha a longo prazo).
Ao contrário do que eu pensava e afirmara, o PS não derivou à esquerda, preferindo a cómoda vantagem do centro. Já se ouve, ao longe, o rumor do afiar das facas, os primeiros preparativos de disposição da baixela para o banquete que se avizinha num horizonte o mais tardar de dois anos. De facto, só um grande terremoto impedirá o partido de reconquistar Lisboa (e provavelmente o Porto), é cada vez mais provável (apesar de Cavaco e por causa de Lopes) a manutenção da Presidência da República e só S. Bento permanece - por enquanto... - uma incógnita.
Esta deriva ao centro - compensatória a curto prazo para muitos - tem o defeito de tornar o sistema ainda mais coxo, com uma alternância entre um bloco cada vez mais à direita e um centro - por força das circunstâncias - cada vez mais liberal. E das duas uma: ou PSD e CDS se fundem num novo partido assumidamente conservador (reerguendo de vez as bandeiras popular e liberal) ou o PSD acorda da sua deriva e se reposiciona ao centro, abandonando o parceiro de coligação (existe também a diminuta hipótese de uma revolução interna defenestrar Paulo Portas). Se a primeira hipótese acabaria com as minhas esperanças de voltar a ver o PSD a fazer jus ao nome, a segunda transformaria de vez as eleições num plebiscito de competências e não de ideologias. O que, dada a quase completa ausência delas que se encontra em todos os discursos que se vão ouvindo, até nem andaria longe da apetência dos nossos actores políticos.

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