janeiro 07, 2004

A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (II)

Qual é a fronteira económica a partir da qual se torna irresponsável reabilitar um edifício? A esta pergunta não conheço nenhum responsável (antigo e muito menos actual) que tenha tido a vontade de responder. Se o edifício fôr um monumento nacional, parece simples: não há fronteira; nunca é irresponsável o montante utilizado na sua conservação e manutenção. Se o edifí­cio fôr um anónimo prédio de rendimento, a fronteira também é fácil: se a recuperação fôr mais onerosa do que o ratio nova construção/rendimento, é suicida... (ainda que a legislação proibitiva que temos teime em achar que não - com o dinheiro dos outros é fácil fazer flores).

A dificuldade está naqueles edifí­cios que, por razões históricas, afectivas, de conjunto, estão entre o que gostaríamos e o possí­vel. Reabilitar bem é caro. Reabilitar bem significa reformular, reforçar, renovar estruturas; refazer redes eléctricas, de abastecimento de água, de esgotos; fazer redes de gás. Significa, em muitos casos, criar instalações sanitárias, criar condições de salubridade, criar condições de conforto mí­nimo. Tanta coisa para áreas exí­guas, muitas vezes incumpridoras do Regulamento Geral das Edificações Urbanas. Tanta coisa, o que se traduz em valores por metro quadrado superiores aos fixados para a construção da habitação social. E quem paga o investimento? O Estado, depauperado e em crise financeira? Os senhorios, recebendo rendas irrisórias, a maior parte delas inferior a 5 euros? Os inquilinos, a maioria reformados com reformas mí­nimas? Claramente se torna necessário criar condições de auto-sustentabilidade dos edifícios recuperados - mas como, se não há condições para actualizações de rendas e a oferta arquitectónica (falta de espaço para estacionamento, ausência de elevadores, espaços exí­guos) não são de molde a convencer inquilinos novos?

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