Qual é a fronteira económica a partir da qual se torna irresponsável reabilitar um edifício? A esta pergunta não conheço nenhum responsável (antigo e muito menos actual) que tenha tido a vontade de responder. Se o edifício fôr um monumento nacional, parece simples: não há fronteira; nunca é irresponsável o montante utilizado na sua conservação e manutenção. Se o edifício fôr um anónimo prédio de rendimento, a fronteira também é fácil: se a recuperação fôr mais onerosa do que o ratio nova construção/rendimento, é suicida... (ainda que a legislação proibitiva que temos teime em achar que não - com o dinheiro dos outros é fácil fazer flores).
A dificuldade está naqueles edifícios que, por razões históricas, afectivas, de conjunto, estão entre o que gostaríamos e o possível. Reabilitar bem é caro. Reabilitar bem significa reformular, reforçar, renovar estruturas; refazer redes eléctricas, de abastecimento de água, de esgotos; fazer redes de gás. Significa, em muitos casos, criar instalações sanitárias, criar condições de salubridade, criar condições de conforto mínimo. Tanta coisa para áreas exíguas, muitas vezes incumpridoras do Regulamento Geral das Edificações Urbanas. Tanta coisa, o que se traduz em valores por metro quadrado superiores aos fixados para a construção da habitação social. E quem paga o investimento? O Estado, depauperado e em crise financeira? Os senhorios, recebendo rendas irrisórias, a maior parte delas inferior a 5 euros? Os inquilinos, a maioria reformados com reformas mínimas? Claramente se torna necessário criar condições de auto-sustentabilidade dos edifícios recuperados - mas como, se não há condições para actualizações de rendas e a oferta arquitectónica (falta de espaço para estacionamento, ausência de elevadores, espaços exíguos) não são de molde a convencer inquilinos novos?
Sem comentários:
Enviar um comentário