janeiro 02, 2004

EU NÃO ARQUITECTO, TU ARQUITECTO

Voltando à Arquitectura.

Se um dos modos de definir (superficialmente) a Arquitectura passa pela constatação da sua (chamemos-lhe assim) "extroversão" ou "introversão", gostaria de chamar a atenção para uma vertente menos visível ao espectador (ao que apenas vê, ao que dela retém apenas os sinais) mas muito sentida pelo seu utente: a da sua praticabilidade.

Entendo por praticabilidade não só a sua funcionalidade ou o modo como resolve as exigências dos seus utilizadores; incluo a sua capacidade de resistência ao uso, às agressões intrínsecas e extrínsecas. E incluo igualmente o modo como o arquitecto soube descer do pedestal da "grande concepção" (a imagem que fica: os alçados, os volumes, as plumas e as lantejoulas) para resolver a miríade de pormenores que, domage!, têm sempre de ser resolvidos. Pormenores tão comezinhos como a exequibilidade das soluções; a coordenação dos elementos das várias especialidades num todo coerente entre si e com a arquitectura; a durabilidade das opções; a ligação dos elementos; e tanta mais coisa que, para além da prática, só a inteligência ajuda a não olvidar.

Dei por mim a pensar nisto quando passei há umas horas pelo Estádio Taveira XXI e, parado num semáforo, descobri mais umas quantas coisas mal-cosidas - panos de alvenaria descontinuados, estruturas à vista esteticamente coxas, ajulejos a descolar e com sinais de velhice (estes últimos, na versão do autor, da exclusiva responsabilidade do empreiteiro).

Dei por mim a pensar nisto e, por associação de ideias cheguei ao nosso Oscar, não! ao nosso Nobel, não! ao nosso Pritzker: apesar de todos os deslumbramentos que algumas das vistas de algumas das suas obras me causam, não lhe perdoo as traseiras do Grandela, o falhanço do Chiado, os pormenores marados da Igreja de Marco de Canavezes e, principalmente, a cloaca que nos fez no meio do Largo do Chiado.

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