A produção da escola portuguesa do renascimento está repleta de grandes obras, injustamente desvalorizadas, esquecidas nesses sarcófagos que são os museus nacionais ou, pior, em igrejas perdidas de fé e de clientes, geridas por padres ignorantes dos tesouros que têm entre mãos.
No ranking de popularidade dos pintores portugueses, Nuno Gonçalves talvez apareça em primeiro lugar, categoria "mortos e enterrados" mercê das exaltações patriotico-salazarentas às particularidades lusitanas dos Painéis da Capela de S. Vicente cujos ecos ainda hoje perduram e dos aparecimentos - mais ou menos esporádicos - em versão ilustração de capas de livros e de artigos de revistas.
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A pintura foi executada na segunda metade do século XV. A pintura italiana refulgia na sua miríade de descobridores artistas, na sua descoberta da natureza e do papel do homem nessa natureza, na descoberta do próprio homem. A pintura flamenga brilhava igualmente com a exploração da relação do homem com o seu ambiente urbano, espiritual. Em Portugal, país pequeno, pobre, atrasado, um homem ousava interrogar assim, muito antes do tempo. E esta marca, esta pergunta, esta perturbação, de actuais que ainda são, merecem muito mais o prime time do que as obscenas figuras que nos ocupam o tempo neste presente deplorável.
Aproveito para realçar o site de onde retirei a imagem: "Seis séculos de Pintura Portuguesa" é um exemplo raro do que devia ser a divulgação na net da cultura portuguesa. O Estado, sempre tão preocupado em fechar os museus às fotografias e filmagens de visitantes, bem que podia deixar de purismos e publicar os arquivos que possui. É vergonhosa a qualidade dos (poucos) slides à venda.
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