janeiro 20, 2004

BRASÍLIA

Apesar das ideias sintetizadas nas frases transcritas no post anterior, apesar da generosa e enorme boa-vontade de todos os intervenientes na planificação e criação da cidade (boa-vontade e preocupação com o homem que se estende a todo o movimento moderno), Brasília é uma cidade que falhou. Linda, extasiante de se ver - mais ainda se fôr "vista" nos planos, nas vistas aéreas, nas fotografias, nos pormenores - e de se ler, Brasília tem uma convivência difícil com os seus habitantes e mesmo com os seus visitantes (à partida, devotos fieis). A taxa de suicídios é elevada, a secura opressiva (níveis de humidade baixíssimos que nem o lago artifical conseguiu evitar), a falta de "vida" - bulício, anarquia, ritmos heterogéneos - evidente. É uma cidade impossível de ser conhecida a pé.

Demasiada racionalidade na sua concepção? Reduzido tempo de maturação?

E, no entanto, há gestos, riscos, tão avassaladores que enchem o dia. As vigas, mãos, que se erguem em oração na Catedral; a geometria depurada das duas cúpulas do Senado e Câmara de Deputados; o pássaro/avião/cruz que, pousada no planalto, anuncia a alvorada de uma nova ordem; a escultura/arquitectura de Niemeyer que tudo reinventa. Gestos, riscos...

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