novembro 10, 2003

QUE FUTURO?

Se me perguntares se eu acredito no fim desta espiral de desobediência civil, eu respondo-te que não.

Antes que me acuses de me estar a transformar num neo-velho do antigo regime, deixa-me esclarecer que este assunto não vem à baila pelo continuar do movimento estudantil. Nem sequer do ridí­culo das manifestações que, por dá cá aquela palha, paralisam serviços, cortam estradas, chateiam toda a gente. Essas são expressão de um mal-estar colectivo e talvez a sua explicação se radique na incapacidade do Estado em se fazer entender e se dar ao respeito.

Não. A desobediência civil de que falo é o pequeno desrespeito à lei que todos nós fazemos, todos os dias. Todos nós. Néscios e intelectuais activos. Novos ricos ou velhos pobres. Trabalhadores por conta de outrém ou empresários por conta própria. Nacionais emprenhados ou habitantes por força do destino.

Cidadão ou Estado.

Portugal não respeita a lei porque entende que a lei está mal feita. Muitas vezes até estará, mas é desculpa suficiente para o seu incumprimento a nossa discordância?

O 25 de Abril acabou com o medo. Não o substituiu pela responsabilidade. Esquecemo-nos todos (nós, vós, eles) de aprender, de explicar, de fazer acreditar que, boa ou má, certa ou errada, inteligente ou estúpida, A LEI É PARA SE CUMPRIR MESMO SE EM SIMULTÂNEO SE CONTESTE.

Cidadania é saber separar as águas é, citando um outro contexto, uma outra visão, "não concordar com o que tu dizes mas defender até à morte o direito de o dizeres".

E volto ao princí­pio: acredito que esta ideia alguma vez se enraíze no espí­rito dos meus concidadãos? Não. Quem a irá impôr? Nestes tempos de populismos e demagogias múltiplas, onde encontrar o caminho para o implementar? Onde encontrar nos dirigentes a visão e a determinação necessárias, custe o que custar? Nos jovens que agoram se formam? Onde é que isso está escrito? Onde o exemplo de pais, professores e restante sociedade para o sedimentar? (E em que televisão tais valores seriam comerciáveis?)

Vês para onde me dirijo? Há alturas em que, numa sociedade, só uma revolução consegue impôr novos padrões.

E compreendes: não me apetecem ditaduras.

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