No Portugal antigo, as relações cidadão/Estado eram mantidas por medo - o "respeitinho é que é preciso" de O'Neill espelha bem a hipocrisia e rasteirice que reinava. Infelizmente, trocou-se este respeitinho pelo desrespeito quando o que se pedia era um respeito mútuo. É no que deu uma revolução mal gerida que varreu numa mesma penada tanto práticas e concepções anquilosadas como valores que, por fundamentais à sobrevivência de uma sociedade, deveriam ter sido cuidados e preservados a todo o custo.
Vem esta teoria toda a propósito da crescente banalização do protesto a que se assiste no presente.
Exasperamos por o Ministério não nos colocar uma escola à porta de casa? Vamos a Lisboa em procissão e oferecemos um burro ao Ministro.
Temos esse direito.
Não gostamos que nos apontem falhas de formação profissional? Depomos capacetes e abafadores à porta do Governo Civil.
Temos esse direito.
O Senado troca-nos as voltas e vota com quorum mas sem a nossa presença? Fechamos a Universidade a cadeado.
Temos esse direito.
O Estado não baixa os impostos? Aldrabamos a contabilidade.
Temos esse direito.
O comboio não chega a horas? Vandalizamos a estação.
Temos esse direito.
Não gostamos da vida que nos dão? Assaltamos bancos ou insultamos a polícia.
Temos esse direito.
Se não percebemos onde estão os limites como é que temos a lata de exigir que não ultrapassem os nossos?
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