novembro 18, 2003

LISBOA: RECICLAGEM PRECISA-SE

Ainda motivado pela proposta de construção de três torres de 105m de altura em Alcântara.

A construção em altura iniciou-se nas principais cidades dos Estados-Unidos como forma de escapar aos constrangimentos devidos ao pouco espaço disponível nas zonas mais apetecíveis para instalação de serviços (donwtown). Construir “para cima” era uma forma de ocupar pouco terreno com muita construção, para além de, complementarmente, servir de imagem ao “vencer na vida” tão querido do “american way of life”.

Construir em altura, cada vez mais alto, tornou-se igualmente uma proeza técnica e transformou-se assim num símbolo do progresso e da capacidade técnica e económica das sociedades.

CONSTRUIR EM ALTURA EM LISBOA, PORQUÊ?

Há falta de espaço?

Há falta de prédios construídos?

Há falta de áreas construídas destinadas à habitação?

Não. Não. Não.

É óbvio que enche muito mais a vista de quem passa, uma torre de 105 andares do que um prédio oitocentista reabilitado (e isso dependerá sempre da cultura de quem olha e da cultura de quem fez).

É óbvio que enche muito mais um programa eleitoral.

É óbvio que se autointitula como uma rotura e isso pode ser considerado como um avanço, como sinal de uma modernidade à qual o exterior já chegou e que a nós ainda nos faz falta.

Mas,

Com tantos metros quadrados – uns amplos, outros esconsos, uns acolhedores outros nem por isso, uns implantados em zonas nobres da cidade, outros em zonas históricas, uns com vista para o rio, outros para o vizinho, uns em colinas, outros em vales, uns em prédios gaioleiros, outros em prédios “de placa”, uns pombalinos, outros raul-linos, outros ainda semi-clandestinos – por aí abandonados, filhos de um deus menor que não os protegeu da semimorte a que o tempo e o senhorio os condenou.

Com tanta gente a abandonar a cidade em exílio para os subúrbios por falta de oferta destinada ao seu bolso ou à sua paciência para procurar.

Com tanta necessidade que a urbe tem em revitalizar os seus bairros, em devolver uma qualidade de vida que escapa a todos, principalmente a si própria (não faz nada bem à saúde, este receber milhares e milhares de viaturas de manhã para as ver partir ao fim do dia, este rasgar de vias de acesso sobredimensionadas para uso em poucas horas do dia, este esventrar de passeios para acolher intrusos que os deixarão abandonados nas 12 horas em que poucos trabalham).

PORQUE NÃO RECICLAR?

Recebem-se menos taxas? Acabam-se muitos negócios? Afagam-se menos egos?

Ah.

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