novembro 21, 2003

CONTOS DO GIN TONIC (I)


Quando é que se vai perder esta ideia absurda de que os edifícios se preservam mantendo-lhes a fachada?

É um compromisso típico português: "nós até queríamos que se mantivesse todo o edifício, mas como não temos coragem nem imaginação para propor soluções que tornem economicamente vantajosa a manutenção desse edifício e como não temos coragem para assumir a ruptura, criamos esta meia-verdade que é a de que a memória da cidade se mantém se a fachada antiga ficar".

Isto é um aborto mental.

Ou se mantém o edifício na sua totalidade ou não é uma referência descontextualizada que vai fazer a diferença. Não sei se por gozo puro ou por descuido, existe um prédio na Av. Almirante Reis que levou esta prática ao extremo: na fachada, e de um modo diferente do original, foram reintegrados o pórtico de entrada, um friso e as janelas da moradia pré-existente. Que memória é aquela?

Situação eventualmente ainda mais no limite, é a da reconstrução da Casa dos Bicos. Por mais irónicas que as janelas dos arquitectos José Daniel Santa Rita e Manuel Vicente sejam, a lembrar que os dois pisos superiores são reconstruções, a ideia que prevalece é a de um pastiche neo-romântico. (mas talvez este não seja um bom exemplo... logo se vê pelas tuas reacções).

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