fevereiro 10, 2004

PêDêMê

Para os iniciados, PDM significa Plano Director Municipal, capa esburacada onde não passa quase nada que pretenda ir além da mediania instituída mas por onde se esgueira muita esperteza saloia que saiba aproveitar bem as omissões e ambiguidades que qualquer lei portuguesa sabe conter.

Em Lisboa, PDM significa, por exemplo, cortar cabeças a muitos projectos. Ou seja, cortar cerce cérceas que se pretendam esticar acima dos vizinhos, por aspirações de notoriedade dos seus autores ou de solvência dos seus proprietários. Por outro lado, tem o mérito de introduzir algumas regras, alguma ordem, num espaço que, sem ele, seria muito mais "salve-se quem poder", muito mais aberto a arbítrios e jogadas de bastidor. É mau, é castrante, mas é melhor que nada. Significa também uma óptima capa que políticos desinspirados podem acenar quando pretendem justificar proibições ou incompetências. Está feito para todas as medidas: tanto serve de bandeira para os que defendem acerrimamente o status quo como para os que, a coberto da "modernização" essa palavra tão doce e tão competente, pretendem virar o prato para o seu lado da mesa.

O processo de revisão do PDM de Lisboa está em marcha. Ao invés de ser aproveitado para uma discussão séria sobre o futuro desejável para a capital do país, centro microcéfalo de uma região macrocéfala, o projecto em discussão da autoria da maioria que comanda politicamente os destinos da Câmara apenas se preocupa em legalizar modos de ultrapassagem das condicionantes existentes.

Espero sinceramente que, pelo menos por aqui (*) , arquitectos, urbanistas, lisboetas e demais interessados se disponham a uma dissecação séria do mesmo. Se a música saiu da Baixa, pode ser que outras coisas consigam ser mudadas também.

(*) - Aqui, na esfera dos blogs

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