fevereiro 01, 2004

AARGHQUITECTURA (I)

(Inspiração do brasileiro ARGTETURA)



Série nova. Inicialmente pensei em colocar as fotografias, sem comentários. Mas que diabo, se estas arquitecturas me fazem impressão, se me incomodam ao ponto de as rejeitar, não faria sentido perguntar-me porquê e tentar explicá-lo?

A primeira impressão provém do desconforto das cores. Ocres e derivados, qualquer aproximação ao castanho, são uma espécie de cinzento colorido, uma côr dos pobres, de construtores civis em época de saldos. Pode também ser um acto de assumida rebeldia do arquitecto, uma espécie de desafio ao gosto e hábitos instalados (Manuel Graça Dias é um perito: o pavilhão de Portugal em Sevilha 92 foi ganho com um desafio do estilo) - uma forma de marcar uma posição e opção estética. Mas estes edifícios são mais do que essa tentativa: são uma imposição.

São dogmáticos.

Reparem-se nas verticais e horizontais que marcam os ritmos da fachada: impositivas, na sua pureza indicam como se deve olhar, marcam uma cadência onde não cabe o aleatório da visão de cada um, impedem a fruição do espectador. Marcam um ritmo monótono, sempre igual. Para esta arquitectura autocrática acresce a posição cimeira que os edifícios apresentam face à maioria dos passantes: são símbolos de um poder que nos escapa. São símbolos irritantes porque impostos (no Instituto Superior Técnico, Pardal Monteiro recorreu à mesma ideia: no cimo de uma colina, a universidade situa-se acima dos edifícios circundantes - uma acrópole do saber).

Finalmente, a aglomeração de planos do edifício do hipermercado que une as duas torres - os ritmos mais livres perdem o impacto pela unicidade da côr (o cinzentismo, mais uma vez) que se anula para o logotipo da marca poder sobressair.

Ao longe avistam-se as torres de Chelas com as fachadas redecoradas por Tomás Taveira. Outra maneira de intervir. Outra maneira de reagir. Bem que gostaria de ler o que antropólogos e sociológos teriam a dizer acerca da reacção negativa dos seus habitantes após as obras.

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