fevereiro 16, 2004
ARGQUITECTURA (II)
A arquitectura de pronto-a-vestir em falta a que se referia Silva Dias (ver pormenores n'O Céu sobre Lisboa) tem neste belo exemplar de coisa nenhuma um exemplo pela negativa. "Isto" não é um prédio de engenheiro - é um prédio de um convencido, de alguém que se julga bom a fazer o que faz. É também um prédio de um chico-esperto que descobriu um lote no meio de Lisboa e lhe deu um toque de algarve cosmopolita - o dos bifes que se recusam a aprender português e só frequentam bares que se chamam pubs propriedade de outros iguais nos modos e nas arrogâncias, o dos portugueses pategos que pensam que sabem falar inglês, o dos construtores que julgam que o que promovem não são casas de emigrantes, o dos projectistas que desenrascam qualquer coisa porque é preciso ganhar a vidinha.
Repare-se: janelas em arco e janelas à esquadria; planos recuados e planos avançados; mansardas a fingir de mansardas. Há uma razão específica para qualquer destas opções? Apenas estão lá, como outras poderiam estar: janelas triangulares, telhdos invertidos, óculos... Este é também um desenho de má consciência: quem o faz, sabe que não tem nem arte nem engenho para mais; e disfarça assim, assobiando para o lado enquanto o rato distraído vai traçando mais uns floreados no autocad.
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