maio 19, 2004

OS EDIFÍCIOS POMBALINOS SÃO RESISTENTES A SISMOS!

Ando há umas semanas para comentar a notícia que correu jornais e televisões sobre a investigadora do Técnico que foi premiada pelo Governo pela sua tese sobre a resistência da construção pombalina tipo a solicitações sísmicas (esta das "solicitações"... seria de esperar uma palavra mais agressiva, um sismo não solicita, exige, mas enfim... os engenheiros sempre foram pessoas sem alma de poeta).
Quando a ouvi pela primeira vez, desconfiei: há muito que me convenci, pela observação directa que fui fazendo ao longo dos anos, que a Baixa do presente tem muito pouco a oferecer da segurança inventada pelos técnicos do senhor Marquês há 250 anos, tantas foram as adulterações efectuadas à estrutura em gaiola original.
Depois lá ouvi a senhora engenheira e percebi que a investigação se centrara num modelo original de gaiola - e mesmo esse apresentava algumas deficiências ao nível da ligação entre pavimentos e paredes resistentes periféricas.
Ora abóbora! Que o original era bom, já se sabia (está bem, agora sabe-se não só empiricamente como matematicamente). O que me parece seria importante fazer era o levantamento de todos os edifícios, as suas alterações - acrescento de pisos, vazamento de pisos térreos, destruição de paredes resistentes ao nível da cave, como eu vi!- criar um modelo tipo da estrutura alterada e, então sim, estudar o seu comportamento às solicitações sísmicas. Ficaríamos bem mais próximos da realidade.
E provavelmente da inquietação.
Assincronias destas, entre a realidade e o mundo teórico, são hábito nas nossas universidades, mas o mundo português continua contente: os jornalistas com mais uma notícia feliz, o Governo com mais um português que investiga, o Técnico com mais um investigador premiado, a engenheira com mais uma estrela no currículo. A Baixa? Bom, se ainda houver por aí algum edifício pombalino que mantenha as características originais, pode ficar descansado: se os cálculos estiverem correctos, vai aguentar-se no sismo que está para vir.

2 comentários:

Anónimo disse...

Há textos que não merecem ser comentados... Existem uns coeficientes denominados por coeficientes de segurança que, de certa forma, contabilizam essas divergências entre os modelos e a realidade.
Quanto à palavra "solicitações" é o termo usualmente utilizado para fazer referência aos esforços e acções induzidas numa estrutura.

Pedro Cruz Gomes disse...

Há comentadores que deveriam ler os textos vários vezes antes de os comentar...
Tem a certeza de que os coefs de segurança se aplicam a este modelo? Se tem, explique como, porque me parece muito redutor considerar que os coefs regulamentares são passíveis de cobrir a distância estrutural que existe entre um modelo perfeito da gaiola pombalina e a realidade actual dos edifícios da Baixa