Estou , desde ontem, a ouvir o último disco de Caetano. Para além do desgosto de o ver reduzido a crooner de canções alheias, fica a desilusão de uma obra feita para cumprir calendário ou uma tentativa de conquistar (ainda mais?) o mercado anglo-saxão.
Noto aqui uma contradição nesta declaração de amor e reconhecimento pela música americana: é este o mesmo Caetano anarquista, sem lenço nem documento, o Caetano de esquerda que se diz desapontado com Lula? Sim, a arte não tem ideologia nem bandeira... Mas o disco é de um tédio insuportável, a selecção das canções fraquinha e heterogénea demais ("Summertime" com Feelings", "Cry me a River" com "It's all right Ma (I'm only Bleeding)") e a voz de Caetano arrasta-se, arrasta-se... O que resultava noutros tempos e com música de outras latitudes (por exemplo, a doçura da interpretação de "... Paloma") aqui torna-se chato, chato, chato.
Para não me render à quase evidência que Caetano burgueseou, só me resta a esperança de que este ser um disco panfletário, como se Cae dissesse: "vejam, o imperialismo cultural americano é tão forte que me obriga a fazer esta droga de disco com esta droga de música". O que também, convenhamos, é um exagero. Não havia necessidade...
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