Ainda a propósito de cemitérios. Quem terão sido os criadores dos nomes do Cemitério dos Prazeres e do Prado do Repouso?
Como não nos curvarmos à elegância cangalheira de um nome como "Repouso" que finta assim a brutalidade da descida à terra (Mas que perde o pé ao trocar "Jardim" ou "Parque" por "Prado" - será que o seu autor estaria recém-chegado de uma visita a Madrid e tenha pretendido criar um novo museu?)?
Como não sorrirmos perante a ironia de um nome que oblitera a dôr do lugar com a recordação dos bons momentos (é claro que os bons momentos tanto poderiam ser os passados como os futuros que o passamento do defunto proporcionaria...)?
Nesta escolha de nomes parece-me ainda reluzir um retrato óbvio das cidades de onde provêem: o sentir muito terra-a-terra nortenho (chamar "jardim" ou "parque" seria amaricar o produto: aquilo é mais prado que jardim e há que chamar os buois pelos nomes), com a subtil alusão ao campo e ao trabalho e o epicuriano estar na vida dos lisboetas (que - segundo os seus detractores - sempre deixaram o trabalho para os outros)para quem até na morte há prazer.
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