Não me irrita mesmo nada a derrota do Partido Popular nas eleições de ontem em Espanha - aquele bigode mínimo e fora de moda do seu presidente sempre me pareceu a expressão visível de uma certa arrogância política e social, cujo exemplo maior, para mim, português, foi o caso Prestige. Não me alegra especialmente a vitória dos socialistas - não acredito que por aí venha mais solidariedade ibérica ou que o Governo de Madrid passe a dar a mesma protecção às empresas portuguesas que se queiram instalar em Espanha que dá às suas próprias indústrias. Nos tempos que correm - não é só cá - as mudanças de fundo entre centro direita e centro esquerda não acontecem, nos grandes temas - economia, União Europeia, cultura, comércio e relações exteriores. Existe desde há muito um consenso de interesse nacional que ultrapassa a luta partidária. Onde as diferenças acontecem é nas pequenas coisas, no maior ou menor respeito pelos cidadãos, pelos seus direitos, no modo como o poder se relaciona com os mesmos, na forma como se dirige a cada um. Aí, talvez os socialistas sejam uma boa notícia.
Apesar disso, o que me irrita profundamente é a sensação de que os socialistas não ganharam por mérito próprio, antes por demérito de Aznar e Rajoy no tratamento do atentado do dia 11. Mais, o que me irrita, decepciona e preocupa é a quase certeza de que, mais do que uma vitória a Zapatero, as eleições de ontem em Espanha tenham dado a primeira vitória democrática a Bin Laden.
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