março 25, 2004

IT'S DISMISSED!

O arquivamento do processo da queda da ponte de Entre-os-Rios decidido hoje era inevitável. Seria difícil pôr meio país na prisão.

vejamos: era lógico acusar o engenheiro que investigou as fundações e concluiu pelo seu mau-estado sem acusar o director que recebeu o seu relatório e o comunicou às chefias? Acusar as chefias por não terem imediatamente decidido construir uma nova ponte e interditar a exsitente sem acusar o secretário de estado, o ministro e o primeiro-ministro que não disponibilizaram verbas? E porquê disponibilizar verbas para esta e não para todas as outras nas mesmas circunstâncias? Quantas pontes existem no mesmo estado? Inúmeras. Quantos viadutos, obras de arte, muros de suporte, edifícios? Inúmeros. Pode-se interditar tudo e construir tudo de novo em simultâneo?

O problema de Entre-os Rios foi que, ao contrário do que é habitual em Portugal, os deuses não sorriram ao poder público - a ponte caiu antes de tempo. Ou seja, a ponte caiu quando todos os factores passíveis de afectar a sua estabilidade ocorreram todos em simultâneo, o que, felizmente para o estado de espírito nacional, é raro.

Já me referi várias vezes neste blog (ver posts sobre reabilitação urbana, links ao lado) ao péssimo estado de conservação da maior parte dos edifícios existentes nas zonas históricas de Lisboa. Não tenho dúvidas de que, na ocorrência de um sismo com uma magnitude superior ao de 1969, muitas fachadas ruirão, muitos pisos colapsarão, muitas vidas sossobrarão. Para alguns, um sismo não será preciso: bastará que se verifique a mesma conjugação infortuna verificada há três anos atrás, para simplesmente ruirem. E haverá um inquérito que, provavelmente, será arquivado uns anos depois. Porque, a acusar alguém, todos teremos de ser acusados. Todos pactuamos com este varrer de responsabilidades para debaixo do tapete. Todos achamos que deverá haver prioridades, não se fazendo tudo ao mesmo tempo. Todos dobramos os cantos da lei, porque, já se vê, a lei não pode ser integralmente cumprida. Todos poupamos nos impostos. Todos somos parcos no levabtar da voz quando o tema é o investimento do estado na segurança e no bem-estar dos outros.

A culpa em Entre-os-Rios morre sózinha, sim. Como tem morrido sempre. Como morreu no Chiado quando os bombeiros tiveram de passar a 2 à hora na gincana da Rua do Carmo aprovada por Nuno Abecasis. Como morreu no aeroporto de Faro quando um avião charter caiu por falta de equipamento de pista actualizado. Como morre em todas as estradas deste país, nos traçados mal-pensados da serra do Marão, do IP3, do IP5, nos traçados mal-conservados espalhados pelo país. Porque é que acharam que, desta vez (e a três anos-três de distância) haveria de ser diferente?

Sem comentários: