março 08, 2004

MEMORABILIA


Há muitos anos atrás, no tempo das sombras e nevoeiros, Portugal tirou o fato de cerimónia do armário, disfarçou as solas rotas, escondeu as cuecas esfiapadas e recebeu com pompa e circunstância a chefe de estado do país com quem celebrou a sua mais antiga aliança militar. Dessa vez, ainda que não tenha ficado perpetuada toponisticamente (como a do seu bisavô), a memória da sua passagem perdurou nas recordações de toda a geração lisboeta sua contemporânea pelo fausto pouco habitual na capital cinzenta de um cinzento país, pelo inusitado do desembarque num Cais das Colunas engalanado para o efeito e pelo uso dado aos já então museológicos coches do homónimo museu.

Descobri estas imagens na arca da família, tiradas por desconhecida mão. Pequenas fotografias de contacto, ganharam vida com as novas tecnologias: caras surgiram dos pequenos pontos anónimos, poses, estilos. Alegria e entusiasmo numa população pouco habituada a manifestações destas.



Pressinto em alguns, uma saudação à Liberdade, à representante de um povo que tinha vencido os exércitos do Eixo; uma saudação à Democracia. Noutros, o deslumbramento pelo fausto, pela fuga ao espírito em tom menor de pequena burguesia então dominante.

De um grupo retiro poses individuais possíveis em filmes europeus dos anos quarenta: imagem embaciada, polícias de quepi, jornalistas de gabardine e chapéu.

Os Restauradores sem placa central: que edifício será aquele, lá no cimo da avenida da Liberdade, tão alto para os padrões da época- o hotel Tivoli ou o S.Jorge?


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