Em relação ao uso dos véus e sua proibição ou não nos diversos países da Europa que JPP promove no Abrupto revelo uma dúvida de fundo: é legítimo à Europa defender a sua visão cultural (no caso vertente, a condição de igualdade entre os dois sexos que se vê atingida pelo uso descriminatório dos véus) proibindo actos que fazem parte de culturas alheias e com isso atingindo uma outra parte dessa mesma cultura que é a da tolerância e liberdade cultural e religiosa?
Olhando do outro lado: faz sentido permitir uma liberdade religiosa "total" a quem, muitas das vezes se mostra irredutivelmente dogmático, sectário, violento na vivência dessa religiosidade?
A mim, a visão de uma muçulmana usando um véu - ou, mais ainda, uma burkha - agride-me porque vejo nele um acto de descriminação, uma declaração de diferença de direitos e deveres entre sexos. E, no entanto, sinto-me compelido, quase obrigado, a respeitar essa descriminação.
Parece-me ainda existir uma corrente mais subterrânea que toca os medos europeus: numa sociedade cada vez mais laicizada, cada vez mais indiferente a valores morais e religiosos aparece cada vez com mais força, um movimento de valores morais e religiosos estranhos, exteriores que tenderão a ocupar esse vazio. À Europa des-religiosada sucederá uma Europa muçulmanizada (num movimento equivalente ao que levou, em alguns países, à ocupação dos orgãos locais oficiais e oficiosos, por grupos activos, ligados politicamenteaos extremos do espectro partidário, na ausência de alternativas)? É mais esse medo de ursupação de valores que me parece estar na base de certas reacções epidérmicas ao que poderia à primeira vista parecer uma simples aposição de um pedaço de tecido na cabeça de uma jovem.
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