dezembro 03, 2003

HUAMBO (I)

No caminho do aeroporto para o centro da cidade, moradias coloniais semi-recuperadas da destruição da guerra civil olham o visitante. Fachadas cobertas pelo acne macilento do reboco não pintado que recobre as marcas do tiros. Caixilhos mal enquadrados com os vãos, alterados por uma morteirada.


“Vais ao Huambo? Bom... boa-sorte” disseram-me todos aqueles que não esqueceram as imagens cuidadosamente seleccionadas pelos telejornais de até há um ano atrás. A cidade não é um monte de escombros mas levará muito tempo até recuperar parte da sua anterior grandeza provincial.

Maioritariamente constituída por edifícios de pequena altura, pespontam aqui e ali, “arranha-céus” que passariam despercebidos em Lisboa, prédios que, pela sua altura, constituíram alvos óbvios para a falta de manutenção e para snipers avulsos. Relíquias de uma era de expansão económica, são feridas na paisagem urbana, as suas paredes de tijolo nu cobertas gradualmente pelo negro da humidade e da pobreza.

Há um parque com cara de ter sido a menina dos olhos dos colonos. O matagal é, no presente, dono e senhor. Um antigo jardim zoológico exibe a decrepitude: dois macacos obscenamente prisioneiros numa jaula minúscula, infecta. Dos penúltimos habitantes, a jibóia foi levada para Luanda para tratamento e não voltou, o crocodilo morreu à fome. Presumo que os restantes terão sido comidos por uma população faminta por 45 dias de combates rua a rua.

Sem comentários: