dezembro 03, 2003

CAALA


A estrada que liga o Huambo a Caala é a maior recta que já percorri. Grande o suficiente para aparecer como um rasgo da razão nos mapas da província (um grande risco vermelho traçado à régua numa só passagem, no meio de sinuosas curvas de nível e quase aleatórias manchas de povoações) no seu troço final permite a contemplação de uma fabulosa paisagem, característica deste planalto: ponteado por manchas verdes escuras, de um verde que lembra os ciprestes da Toscânia (e uma tela onde o giovanotto Leonardo deixou o princípio da sua obra), um verde quase pastel de onde irrompem, telúricas, grandes massas de rocha. Dela se faz a memória visual deste espaço. Totemicas, silenciosas orações geológicas da terra ao céu, assistiram ao começo do mundo e ao piscar momentâneo de tempo que ocupou num passado recente os habitantes deste lugar numa barbárie desenfreada, felizmente já passada.

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