dezembro 12, 2003

POPULISTA? QUEM, EU?

Decididamente, ando com azar nas intervenções do presidente da CML que apanho na televisão: não sei se por perversos efeitos da montagem ou por arreliadoras avarias no som, as frases soam sempre sem nexo, sem lógica ou sem razão. Não sei porquê, fazem-me lembrar um comentário que ouvi na rádio Eclesia de Luanda - um jornalista comentava as palavras de um ministro dizendo que era preciso "analisá-las dentro do contexto etílico em que foram proferidas". Longe de mim empregar tal frase em relação às declarações ouvidas esta manhã - longe de mim, porque não as considero aplicáveis. Lembrei-me apenas que, já que estamos na época natalícia, época de festas de natal na empresa, ontem teria calhado a vez à TVI e talvez a mesma se tenha estendido um pouco demais e que, talvez, os seus efeitos se tenham estendido a uma montagem mais original das declarações.

É que, coisas como (cito livremente) "estamos a trabalhar para que o subsolo fique para os transportes privados e a superfície para os públicos" (fala-se de quê? - do metro, dos estacionamentos, de La Defense?) parecem-me um pouco surreais. E depois das paragongas publicitárias da proibição de circulação automóvel em Alfama - quando qualquer cego que por lá tenha passado sabe que em mais de 50% dos arruamentos do bairro não consegue circular um triciclo quanto mais um automóvel - vir agora com a ideia peregrina de impôr uma taxa de circulação automóvel na Baixa e no Chiado soa-me mais a prova de vida política do que a uma ideia estruturada e bem fundamentada. Se não, vejamos:

- Esta medida é para aplicar a todos os passantes ou só aos "estacionantes"? É que, para se ir para Santa Apolónia ou para o Cais Sodré se torna quase inevitável passar pela Baixa...
- Aplica-se igualmente aqueles que vão estacionar nos parques públicos, duplicando-se assim o imposto?
- Os moradores também vão ser taxados?

Sendo ainda afirmado que o dinheiro da taxa servirá para pagar as melhorias nos transportes públicos (não sabia que a Carris, o Metro e a Rádio Taxis de Lisboa eram pertença da CML) será que esse dinheiro será investido na compra de mais veículos, na decoração dos existentes com cores mais bonitas e estofos mais alegres, na aquisição de equipamento de som para prolongar aos transportes públicos o traumatismo musical inventado para a Baixa ou, seguramente a medida mais eficaz, na colocação de cartazes por todo o lado com a frase inscrita: "Já reparou que lhe cobrámos mais uma taxazita para a cidade continuar a malbaratar dinheiro?"?

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