dezembro 03, 2003

MERCADOS

Fascinados terão ficados pretéritos descobridores perante a exuberância de cores, a explosão de vida, a cacofónica heterogeneidade de um mercado africano. Por aqui, os mercados são tudo isso e mais a berrante invasão dos produtos contrabandeados (essencialmente) da Namíbia, o kuduro explorado até à exaustão (para ouvidos europeus) em “tijolos” também eles introduzidos no país numa anónima viagem candongueira e uma falta de condições sanitárias que, mesmo guardando as condições específicas de uma região que deixou o estado de guerra há pouco mais de um ano, são arrepiantes.

Se os mercados da cidade são herdeiros dos ordeiros mercados pré-independência, conservando um núcleo central com o mínimo dos confortos (tecto, bancas, piso pavimentado) o mercado de S.Pedro, ad-hoc, diário, é uma babel instalada num terreiro contíguo ao cemitério da cidade, sem infra-estruturas, sem equipamentos, sem edifícios. As bancas são montes de terra em torno dos quais circula uma multidão de compradores, vendedores ainda mais ambulantes, curiosos, mendigos, estropiados pela guerra e demais ocupantes, todos pisando um córrego fétido de esgoto súmula de todos os desperdícios que tal ocupação humana pode produzir.

E no entanto... o riso luminoso das vendedoras que explodem numa gargalhada à mais pequena provocação do cliente; os olhos fundos e líquidos das crianças que fazem pela vida vendendo sacos; os bébés que dormem tranquilos nas costas das mães, bem presos nas capulanas ou fitam o mundo que corre à sua frente sugando o maternal peito. Tudo é de um encanto ilusório que enternece e nos faz acreditar que há ainda muito no meio do nada.


Contrastes, morte e vida, repulsa e atracção – África.

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