O Rio de Janeiro está em estado de sítio não declarado. Não sei se as televisões contribuem para empolar a imagem. Sei que, durante este fim-de-semana, a favela da Rocinha, a maior da América Latina, esteve em guerra. Não guerra fictícia, metafórica - guerra, com um grupo de traficantes a tentar tomar o poder à força de fuzis e granadas.
Tomar o poder.
A Rocinha é um estado dentro do Estado. Tem leis, valores, um equilíbrio que agrada a todos, sejam eles moradores ou traficantes, polícia ou políticos. Foi este equilíbrio que se quebrou agora. Civis mortos à entrada de casa ou à varanda, alvos incógnitos de uma bala perdida das muitas que cruzaram os ares e cujo rasto se tornava visível no negro da noite. Polícias militares mortos à bala ou à granada. Traficantes de ambos os lados.
Para quem não sabe, a Rocinha situa-se no extremo da zona Sul do Rio de Janeiro, após as mitificadas praias de Copacabana, Ipanema e Leblon e antes da estrada para a Barra da Tijuca, verdadeira zona Sul (isto é, zona nobre) da cidade desde os anos oitenta. Toda a gente passa pelo seu sopé. Isto é, toda a gente que tem dinheiro e que se habituou a transitar nas suas imediações sem grandes medos (sim, de vez em quando o túnel que atravessa o morro também é alvo de ataques - muito esporádicos).
Compreende-se o alarido televisivo.
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