abril 08, 2004

ABOUT THE PRECEDENT PHOTO

A câmera digital e o software de tratamento de imagem permitem-me trabalhar sobre quase nada.
Permitem-me trabalhar depressa, de um modo não impositivo para os locais, capturar instantes de tempo mais do que capturar enquadramentos, equilíbrios de côr e de tons, tensões, figuras. Gostar ou não gostar, guardar ou deitar fora sem o hiato de espera pela revelação, sem o peso do investimento em tempo e película. Posteriormente, o trabalho no computador permite descobrir pormenores antes despercebidos, possibilita enquadramentos, deixa criar novas realidades.
A foto de ontem foi tirada para integrar a série dedicada às tascas lisboetas. À medida que fui trabalhando nela (depois de quase a apagar por não lhe sentir nenhuma força) fui-me apercebendo da tensão existente no confronto entre a mulher que atravessa a rua e os carros que dela se aproximam - estarão parados ou irão atropelá-la? E a mulher - estacou amedrontada ou enfrenta-os decidida? O papel que se destaca do vidro funciona igualmente como um pano de palco: afasta-se para descobrir a acção. Por outro lado, o facto desta cena se observar reflectida na montra dá-lhe uma medida de irrealidade, de ficção que acentua a tensão.
Numa fotografia tradiconal, tudo isto se teria perdido.

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