abril 24, 2004

CADERNO DE VIAGEM: BRASIL, ILHA DE STA CATARINA (I)

DIA 1: SANTO ANTÔNIO DE LISBOA E SAMBAQUI


Busco a enseada perfeita, subtropical e tranquila, onde possa descobrir os celebrados frutos-do-mar da ilha. Encontro-a em Sambaqui, na costa oeste da ilha. O mar chão, as montanhas do continente ao fundo. O céu acalma-se: não chove. O Sol parece de Inverno, tímido e frio, enrolado nas nuvens quietas.

O restaurante fica à beira-mar. Uma única mesa ocupada na esplanada, a sala interior vazia. Venham ostras “ao natural”, venham camarões “ao bafo”, mostrem-me finalmente a renomada produção local. Bons estes, superlativas as primeiras.
É provável que os camarões se pareçam em todas as partes do mundo. Não tenho dúvidas que qualquer preparação culinária é um nivelador de sabor, daí o pedido da cozedura simples para testar textura e paladar dos bigodudos. Já as ostras! Cruas não enganam ninguém e os ilhéus, orgulhosos das suas meninas, capricham em apresentá-las recém retiradas do mar. Talvez no pico do Verão, com as cargas dramáticas de turistas, se arrisquem decepções. Neste Outono luminoso de fim de festa estival, cada cliente é um rei e é servido como tal.




Santo Antônio de Lisboa.


Repare-se como é fácil a apropiação do Santo sem necessidade de lhe mudar a cidade: basta um ô fechado em vez do nosso sonoro ó e eis um brasileiro Antônio aportado da longínqua metrópole.

Um dos primeiros pontos de fixação dos emigrantes açorianos, a vila aparece-me como mais um dos pequenos Portugais que tenho encontrado por todo o Brasil. Comovo-me como sempre me acontece, perante este milagre da transposição do tempo e do espaço. Há muito tempo, gente com a mesma matriz cultural que a que recebi por herança genética, aqui viveu, aqui amou e sofreu, aqui festejou e velou, com uma força de vida suficientemente forte para, duzentos e muitos anos depois ainda persistir a sua memória. Portugal. É impossível não se ser ferozmente nacionalista em momentos como este.



Jantar

Depois de três voltas à cidade espraiada à volta do hotel à procura de um restaurante de comida tradicional, com uma diluviana chuva do lado de fora do carro, sucumbimos à letargia própria de citadinos aburguesados e voltámos à primeira casa com aspecto decente que tínhamos encontrado e à qual tínhamos torcido o nariz por demasiado usual.
O que encontrámos foi uma churrascaria em formato dúplice: às carnes usuais, junta-se um rodopiar de pratos de massa que, à falta de português termo, eu exagerado, classifiquei com “exquisite”. Nada de orgíacas quantidades de massa em terrinas gigantes: antes Spaghetti em molho de nozes, Polenta em molho funghi, Conglioni com molho de amêndoas, Gnocchi em molho funghi, servidos em pequenas doses, o suficiente para se provar sem encher e aceitar mais na próxima passsagem.


Os elementos da foto são os sinalizadores. Verde para cima, pode continuar a oferecer. Vermelho, tilt – we’re satisfied.

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