Eu adoro a Itália, se pudesse passava a vida num passeio folgado entre os canais de Veneza e as planícies da Toscânia, os lagos do Norte e o passado de Roma. É na Itália que eu me sinto em paz com o mundo, prestes a saborear qualquer repasto que me apresentem com a certeza de que me vou deliciar, prestes a perder-me em qualquer pintura com a certeza de que vou aprender a olhar ainda um novo modo. Itália da luz da laguna, do verde da Umbria, do negro dos cabelos e do vermelho dos sorrisos. Itália do cantar siciliano.
Tudo eu adoro em Itália.
Tudo, menos essa significância que é agora primeiro-ministro e, fundamentalmente, menos o seu futebol. Como é que a mesma terra que produziu Verdi e Rossini pariu esse método embrulhado de ganhar jogos e campeonatos que consiste em engromelar o adversário até à exaustão num jogo tão monótono onde até a assistência adormece, onde o golo vitorioso aparece tão camuflado que ninguém dá por ele? Como é que o solo que viu brotar as audazes legiões romanas se permitiu vomitar estes modernos exércitos de engonhas que mais não fazem que embalar os virtuosos adversários em trocas de bola de caracacá que os levam à perdição? Como se permitiu trocar a visionária engenharia romana por aritméticas de pacotilha em que três empates são preferíveis à arriscada valentia de uma vitória?
Não entendo. E não aceito.
E por isso, ontem, gozei com aquele empate nórdico tão certinho, tão fabricado nos tabloides italianos que ditou a eliminação da squadra azzurra. Finalmente pude ver ópera num relvado da selecção italiana - vi riso e choro quase em simultâneo nos últimos segundos. Vi a glória de um braço no ar transformar-se na tragédia de um corpo agachado no chão a soluçar.
Justiça feita. História reposta.
E completamente harmonizado fiquei com os italianos quando ouvi uma desiludida adepta, gritando à saída do estádio "Trappattoni va fan culo!"
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