Como à maior parte dos rapazes da minha geração, a opção - para a vida - pelo clube do coração estava reduzida à escolha entre o Sporting e um outro clube da 2ª Circular cujo nome me está agora a falhar. Sendo a minha família praticamente toda sportinguista e não tendo eu ainda na altura a mania de ser do contra que ganhei com os anos diria, sem grande exagero, que estava geneticamente condicionado a sportinguista ser, ou seja, a ser maravilhosamente masoquista a maior parte da minha adolescência e começo da vida adulta.
Bom. Durante os quase 16 meses que já leva esta página recusei-me a nela alojar as alegrias e tristezas vividas semana a semana com os altos e baixos desportivos (e financeiros e sociais) do meu clube. Simplesmente porque, sendo todas as ligações a clubes paixões assolapadas, a temática não deixaria de transformar este planeta num local ainda mais incoerente (e provavelmente muito menos interessante a prazo) do que ele às vezes é.
Consegui até hoje. E hoje só abro a excepção porque há 18 anos que não ficava tão completamente louco e tão completamente rouco devido aos festejos de um golo como hoje fiquei com a obra-prima de um puto ainda em começo de carreira. Para os não iniciados é, com toda a certeza, um estado incompreensível o que vou descrever, para os que também já o vivenciaram, é partilhável: gritei, pulei, ajoelhei-me, saltei, gritei golo-golo-golo-golo, abracei-me à minha filha, pulei, ergui os braços ao alto gritei gooooooooooolo-gooooooooooolo-gooooooooolo, e só me calei para telefonar a dois fanáticos como eu para partilhar a rouquidão, o deslumbramento, o êxtase perante a corrida de um lagarto franzino que tira um adversário do caminho, faz uma rata ao segundo e ainda tem tempo para perguntar ao guarda-redes por que lado quer ver passar a bola. Um deslumbre. Um desvario. Uma coisa linda de se ver.
Perdemos o jogo nos penalties, fomos roubados por um árbitro que descortinou faltas onde elas não existiram e duplicou critérios que deveriam ser únicos, um nosso ex-jogador marcou um grande golo contra nós que, a dois minutos do fim nos estragou a festa merecida, mas aquele momento, oh aquele momento de magia foi sublime e justificou tudo, tornou-se matéria da que constroi os sonhos e as memórias.
E aqui fica a minha homenagem:
Martinho Martins Mocana - PAÍTO
que multipliques estes momentos mágicos pela tua carreira e que os cries com as riscas verdes e brancas vestidas e o leão ao peito!
[Dedicado ao JPT que, lá longe em Moçambique, se deve ter consumido tanto quanto eu durante os 120 minutos desta noite]
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