janeiro 05, 2005

BUCHHOLZ

O aviso chegou-me por mail e já a li espalhada por alguns blogs (por exemplo no Lutz, conterrâneo do seu fundador): a livraria Buchholz aproxima-se da falência.
No passado pré-FNACs gostava de lá ir: gostava das coisas que se conseguiam descobrir por lá (no meu caso, a história da arte e a gastronomia), gostava do espaço desdobrado, gostava de por lá andar sem ser chateado (e ficava sempre com a sensação que me agradeciam que não chateasse muito - uma espécie de disponibilidade só para compradores habituais, um clube do qual nunca me senti parte). Gostava das tentações da discoteca - e não gostava nada de não ter dinheiro para trazer metade dos discos que lá estavam - uma caverna de ali-bábá cheia de segredos importantes, de versões definitivas ou de indispensáveis obras desconhecidas . Num Portugal ainda à procura da Europa, a Buchholz era a Europa possível e possibilitada.
Feliz ou infelizmente, as FNACs vieram pôr a nú as suas insuficiências. A partir da sua abertura tornou-se possível perambular por entre livros e discos até à meia-noite - e verificar que o curto horário da livraria da Duque de Palmela era exasperante quando à sua porta se chegava e já ninguém lá estava para nos atender (porque é que tenho de sair mais cedo para lá ir quando posso ir nas calmas ao outro lado?). Tornou-se possível igualmente a alternância entre estilos musicais - da clássica para o jazz para a pop para as novas tendências para a clássica - e uma interacção mais "íntima" com os vendedores (e a glacialidade alemã da livraria ficou mais exposta). À medida que os corredores da FNAC se enchiam quase se começou a sentir o pó a assentar nas prateleiras da sua antecessora. O tempo cristalizou no seu interior e começou a parecer-se cada vez mais com mais um dos pontos de paragem de uma imaginária peregrinação pelos caminhos da esquerda cultural de sessenta/setenta.
Frequentar a Buchholz começou a tornar-se um acto de militância. E talvez por isso, com as militâncias tão burguesamente arrumadas apenas na prateleira das grandes causas, a Buchholz se aproxime do fim.

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