
Esta obra de transição que encontrei no Louvre contém esse momento de passagem. As personagens ainda emergem de um espaço abstracto, não concretizado (o espaço não é importante; é a acção - o castigo - que importa), mas já não são arquétipos, são gente de carne e osso, palpável, identificável.
Não perdeu ainda, no entanto, essa inocência medieval quase infantil, que permitia o uso da maior crueza, no meio da graça celeste de azuis cerúleos e dourados gloriosos. Repare-se na cabeça do primeiro frade executado que rola perdida aos pés de Cristo, no detalhe da ferida aberta no pescoço do sentenciado

e no aparente prazer com que o artista vincou o martírio dos santos: a sentença é executada em dois movimentos, como se o primeiro golpe servisse apenas para preparar a cena para o momento fixado no quadro.
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