julho 09, 2004

INVOLUÇÃO NA CONTINUIDADE

Não sei qual é o espanto. Sampaio limitou-se a cumprir o papel de bom aluno certinho e obediente que cumpriu em toda a sua vida política. Sempre o achei a versão política daqueles filhinhos da mãmã muito obedientes, muito conscenciosos, que nunca sujavam os sapatos no futebol nem se metiam em brigas que infringissem os códigos. Cumpridores, mas chatos. Insuportavelmente chatos.
Sampaio foi um presidente da câmara que não ficou para a história. Parou a cidade durante mais de um ano porque era preciso pensar. Nunca se apercebeu dos prejuízos causados mas terá ficado convencido de que tinha cumprido o seu dever: criou páginas e páginas de legislação municipal. Foi tão inibido pela sua vontade de fazer bem que não fez nada, a ponto de João Soares ter anunciado, quando lhe tomou o cargo "agora é que as coisas vão avançar".
Como presidente da República manteve esse jeito meticuloso de cumprir escrupulosamente a letra da lei. Certinho. Sem risco. Solene. Bocejante.
Agora fez o que sempre tem feito. Um discurso de mil palavras quando meia-dúzia chegariam. Uma enormidade de dias para pensar quando dois ou três seriam suficientes. Uma resolução que não é resolução.
A aceitação de um novo governo do PSD será, formalmente, a decisão mais acertada, mais dentro do espírito da lei. Mas será a melhor, principalmente com a obra governativa do nome provável a indigitar como primeiro-ministro? A decisão de Sampaio, que se pedia política, foi neutra. E aquele protesto que lhe surgiu na semana passada "O presidente decide por si! O presidente não é a raínha de Inglaterra!" foi apenas um protesto formal, quase pavloviano. Às vezes há actos falhados que falam por si. O presidente é, de facto e apesar de qualquer esbracejar futuro, o notário da República.

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