julho 31, 2004

A NOSSA VIDA...

Não conheço filme mais radical no sentido da fé, nem conheço nenhum outro que me tenha feito recuar tão longe na memória da fé que senti quando criança.

O SAPO

Dizem que, se pusermos um sapo numa panela de água a ferver, assistiremos a um vigoroso pulo do animal para a salvação. Pelo contrário, se o colocarmos em água fria e só depois levarmos a água ao lume, o bicho cozinhará tranquilo.
Pela apatia que reina por este país, impensável de prognosticar há quase 10 anos em frente à ponte sobre o Tejo, há 22 nas greves gerais, há 29 em frente à Fonte Luminosa, há 30, em Abril, parece que nos transformámos no mais confortável dos sapos.

COMO É POSSÍVEL?

Como é possível que o país assista nesta letargia venenosa a mais uma desvastadora temporada de incêndios florestais?
Como é possível que se recolha a um silêncio resignado, indicando que nada vale a pena, nenhum protesto, nenhuma revolta, nenhuma acção?
Como é possível passar por cima das promessas efectuadas pelo poder ainda o fumo dos últimos incêndios do ano passado estava por extinguir?

julho 29, 2004

FEIJOADAS

Querida M.,

Eu sei que uma feijoada é uma outra versão da sopa da pedra, correndo aqui o feijão como a pedra dos advertidos, uma desculpa para enfardamento das proteínas armazenadas nos enchidos, nas alcatras, nas barrigas, nos toucinhos. Mas, para mim, uma feijoada é o feijão e o resto são apêndices mais ou menos dispensáveis, mais ou menos desculpáveis.
E há-os de muitas proveniências, vermelhos, pretos, verdes, castanhos, quase todas as cores do arco-íris, com as felizes ausências do azul e do anil (quem aceitaria comer um prato de azuis vegetais, mais uma provocação daliana que uma proposta entusiasmante?).
E de entre as feijoadas, a que se faz por terras de Vera Cruz atrai-me especialmente. É o caldo mata-bicho para anestesiar o efeito das caipirinhas; o molho de pimenta que se espalha generosamente sobre o monturo oloroso e fumegante; o sumo da lima recém-aberta a amargar o travo; a farofa, nevada, para engrossar mais um pouco; o arroz, solto, solto, a completar o preto-e-branco.
Uma cerveja, estupidamente gelada.
E uma rede estrategicamente colocada na parte mais fresca do jardim, para ajudar ao quilo e ao quieto murmurar dos pensamentos.

julho 28, 2004

NO ARAME

Nada no arame. O post Notas de Viagem XXIV - Texas, USA, é um bom exemplo de um olhar atento numa prosa muito bem escrita. Vale a pena por lá deambular em caminhar pausado.
E, no que respeita ao património subaquático, estou contigo Alexandre: pum-pum-pum submarinos ao fundo!

DEFUNTO

Encontrado nos corredores do Ministério do Ambiente, um ser inanimado de tom cinza. Ainda não foi declarado o óbito por o cadáver ainda não cheirar mal e faltar a coragem política para tal. Alguns funcionários mais antigos lembram-se de o ver em actividade e têm uma vaga ideia de que as suas funções tinham a ver com a protecção da natureza.
Parece que se chamava Instituto de Conservação da Natureza .

O SUMIÇO DA SANTA

Será que o que a velhice nos traz de mais enriquecedor é a certeza de que o mais importante é o prazer?
Pelo menos para Jorge Amado, parece ter sido assim. Não deixando de apontar e criticar a desigualdade social, a injustiça dos poderosos, a cupidez e a imbecilidade do poder, a cegueira de alguma (muita) Igreja católica, o livro é um hino ao prazer, ao sexo, à comida, à liberdade dos sentidos.
Se ridendo castigat mores, muito mais se castigam pelo prazer.
(Está muito calor e eu estou esparramado demais para alinhar uma crónica consistente à volta do livro. Leiam-no. Divirtam-se. E comam e amem. E tornem a amar.)

ALFAMA

Ao andar por Alfama sinto-me como um médico no pavilhão oncológico: por mais tratamentos que invente ou receite, tenho a certeza de que, na esmagadora maioria dos casos, eles serão apenas paliativos ou placebos.

DARFUR

A cara presente da irracionalidade chama-se Darfur. Darfur. Num canto perdido do Sudão no continente mais perdido deste planeta.
Darfur.
O espírito humano nunca cessa de me surpreender. Tão perto do sublime e tão desdenhosamente afastado da abjecção que acontece ao lado.
Darfur.
Não me espanta a barbárie. Espanta-me a indiferença com que a acolhemos.

Links: Darfur: A Genocide We Can Stop
            BBC News


julho 27, 2004

ANDROPAUSA

Deixem-me assegurar-vos que a andropausa é um estado infinitamente mais deprimente que a menopausa.
Não há hormonas (ou falta delas) para culpar.

WHO GIVES A DAMN...?

Há um ano, os discursos eram os mesmos, as mesmas as palavras de circunstância, as análises jornalísticas, os comentários, as imagens, as lágrimas, a devastação.
Há um ano, há dois, há dez.
Bem que o anterior ministro já tinha avisado que, caso se repetissem as condições climatéricas, a tragédia se repetiria.
Aparentemente, o conselho de ministros da semana passada tinha informações metereológicas diversas da realidade. Ou não ouviu Figueiredo Lopes há uns meses. Ou é autista. Ou está-se borrifando. As sound-bytes de hoje já não são verdade amanhã.

julho 25, 2004

julho 24, 2004

ARGHQUITECTURA

Se o Expresso desta vez acertou, Troufa Real terá, finalmente, a alegria de ver nascer arquitectonicamente as duas mais profundas referências que se lhe conhecem na obra projectada: os falos e os barcos.

POEMA DO ANIMAL FEROZ

quando acho que tenho razão sou um animal feroz
sou um ANIMAL FEROZ quando acho que tenho RAZÃO
sou um  ANIMAL quando acho que tenho RAZÃO FEROZ
sou um FEROZ quando ANIMAL acho que tenho RAZÃO
acho que tenho RAZÃO quando sou um ANIMAL FEROZ
sou um  FEROZ quando acho que tenho RAZÃO ANIMAL
tenho RAZÃO  quando acho que sou um  FEROZ  ANIMAL
quando acho que tenho um ANIMAL FEROZ sou  RAZÃO
quando sou um ANIMAL FEROZ acho que tenho RAZÃO
tenho RAZÃO acho quando sou um FEROZ ANIMAL.

julho 23, 2004

MEDO

Esta fotografia é aterradora:


  fonte: TSF

(Não encontro palavra que consiga ser em simultaneo, menos emotiva e mais certeira)

Obrigado António e Epicentro, pela revelação.

UM ADEUS PORTUGUÊS

Há melodias que trazemos no sangue. Que, na primeira vez que as julgamos ouvir, nos surpreendem num dejá entendu que não sabemos identificar. E que estão tão entranhadas nas raízes da nossa emoção que nos elevam a um outro estado. Fazem-nos dançar, sonhar, cantar mas fazem-nos outros, mais nós e mais de nós.
Uma das melodias da minha vida - e que faz, sempre que a oiço, vibrar uma nota escondida, criar um arrepio na base do pescoço que me iriça os pelos dos braços e me deixa um nó na garganta e a necessidade de afastar a comichão que sinto no canto do olho - é os Verde Anos.
Ela explica-me porque sou português.
Não sei se Carlos Paredes, na sua permanente humildade de criador sublime se terá apercebido da grandeza real e simbólica da obra que nos deixa. Sei que terá sempre sentido a satisfação do dever cumprido, um dever que os seus valores sempre lhe ditaram e que sempre cumpriu. Um homem simples. Um homem maior do que a vida.
Que o seu movimento seja perpétuo.

É "DESLOCALIZAÇÃO" ESTÚPIDO!

Não sei se os escrevinhadores de notícias são mal-intencionados ou simplesmente estúpidos. Eu até compreendo que a maioria não entenda o conceito básico da descentralização. Mas se já não bastava uma análise mínima deixar compreender que uma mudança de enderenço de um ministério ou secretaria de estado apenas traduz uma relocalização do poder, agora até Paulo Portas a refere como "deslocalização". Porque é que continuam a trocar as palavras e a levar ao engano que os ouve e lê?


CONTAS

Estou a ouvir o Governo, pela voz do ministro Morais Sarmento a congratular-se pela diminuição do número de incêndios, de sinistros automóveis, de acidentes balneares.
Para uma única semana de trabalho, é obra!

AQUELE ABRAÇO

... de Narciso Miranda a José Sócrates, diz tudo. De facto, não há diferenças.

A DESISTÊNCIA

Se bem leio as entrelinhas de Francisco José Viegas, a desistência da coligação de esquerda candidata à Câmara de Lisboa nas últimas eleições autárquicas deveu-se a uma estratégia de terra queimada da família Soares. Incêndio a ser ateado pela presidência de Pedro Santana Lopes, entenda-se. Com a deriva à direita do PSD a dar força à ala Soarista do PS. A isto deve ter-se juntado o amuo de João, perante a "ingratidão" dos eleitores. Foi assim Francisco?

PS - Esta estratégia de longo prazo teria já sido utilizada em 86. Sempre achei que a convocação das eleições se deveu mais à certeza de que eleições antecipadas iriam limpar o PRD do espectro político nacional a uma qualquer benignidade em relação a Cavaco ou à ilegitimidade democrática de uma coligação PS/PRD, antes . O que veio a acontecer.

A ESCOLHA CERTA


julho 21, 2004

NOVAS CENTRALIDADES

Ainda que de modo ainda mais aleatório do que o habitual nas grandes metrópoles, também o "centro" de Lisboa se vai alterando. De uma maneira escusa, quase pedindo desculpa pela ousadia, fugindo, fugindo sempre ao rio. Do lento elaborar pelas cercanias da Baixa, à subida da Avenida, às Avenidas Novas, à Avenida de Roma dos anos 60 aos anos 80, 90. E agora? Onde moram os filhos da Avenida de Roma?

julho 20, 2004

OFF THE WALL


A GRÍTICA

Nos meses que passei por aqui já tive oportunidade de assistir às mais diversas estratégias de divulgação de um novo blog.
Há a atitude independente do estilo tou-me-a-cagar-para-a-audiência-quem-quiser-que-me-descubra. Há a atitudde contida, do estilo aqui-está-um-comentário-se-quiser-o-meu-blog-está-à sua-disposição-para-leitura. Há a atitude panfletária que consiste em inundar os comentários com excertos de posts, a maior parte das vezes sem nenhuma relação com o post anfitrião do estilo eu-sou-tão-esmagadoramente-bom-que-ninguém-se-vai-importar-por-esta-atitude-de-cuco. E há a atitude guerrilheira, estilo disparo-primeiro-pergunto-depois. No caso, ataco primeiro, justifico um dia destes.
Isto da experiência tem algumas vantagens. Traz-nos uma prudência que retrai um pouco o gesto, que impede o primeiro impulso de responder com o que nos vai no coração. Espera-se para ver o que, normalmente, é vantajoso. Poupa-se tempo e o atirador desmantela-se de moto próprio.
Concretizando: li os primeiros ecos no Projecto. Um blog de "leigos" a intentar uma página de crítica de arquitectura. Desconfiei. Leigos? Talvez estudantes, aspirantes a profissionais. Crítica? Bom, crítica é uma palavra grande, alberga muitas possibilidades. Esperei.
O anúncio do "programa" para o blog, pareceu-me uma tentativa de o "jornalizar" , tarefa difícil para um meio como este, mas que poderia ser interessante, se bem realizado. Tive, no entanto, uma suspeita: pareceu-me demasiada areia para tão pouco camião e mais uma tentativa encapotada para ganhar audiência através da colaboração alheia.
Há dias, uma diatribe contra um post do Daniel Carrapa. Pouco fundamentada. 'Aqui está a última fase: toca a polemizar para ganhar massa crítica', pensei. Como quem não se sente, não é filho de boa gente, teve a devida resposta. O que chega.
Resumindo, meninos: se a intenção é divertirem-se, fiquem sózinhos com as vossas private jokes. Se a intenção é séria, cresçam (bem) e apareçam depois.
Só voltarei ao assunto quando a página se merecer por ela mesma.


O PAVILHÃO DE PORTUGAL

Nesta história mal contada da venda do Pavilhão de Portugal, duas aproximações se podem fazer. A primeira, óbvia e metafórica, traça o paralelismo entre o edifício e o país, entre a venda desenfreada e a todo o custo dos aneis possíveis e a desvalorização de símbolos.
A segunda, mais privada, aponta a ligeireza com que, neste país sem riqueza, se esbanja dinheiro. O pavilhão de Portugal não encontra ocupante porque não terá ocupação possível. É uma coisa em forma de muito mas sem função de nada - porque foi projectado sem programa. Siza limitou a sua intervenção ao feérico e deixou uma sucessão de espaços interiores indefinidos adjacentes.  Nada disso teria muita importância se o dinheiro abundasse. Se não fosse preciso tapar o buraco financeiro da ParqueExpo. As catedrais góticas também perderam a sua função inicial e continuam belas, deslumbrantes, um gesto magnífico dos homens na direcção do céu. A pala é um traço libertário que desafia a física e agiganta o espaço. Não serve. Apenas é. Nasceu no local errado, na altura errada. Arrisca-se a ser um defunto incómodo. Ou uma compra mal-querida para cumprir um favor ao erário público.

PS - Reli o post e fiquei com a sensação de não ter escrito uma coisa muito coerente. Bear with me: são quase quatro da manhã. No entanto, pode ser que esta incoerência levante alguns protestos e acenda a discussão. Wishfull thinking.

(IN)DEPENDÊNCIA

Já voltei a ter sinal.
Maldita internet. Sem ela até parece que o mundo anda coxo.

julho 18, 2004

SENSIBILIDADE E BOM-SENSO

"-Senhora Ministra da Cultura, que comentário tem a fazer ao seu predecessor?
- É muito simpático!"

julho 17, 2004

SABER ESCOLHER (V)

José Luís Arnaut como ministro das Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento Regional.
Está certo. Foi ele que tratou dos estádios do Europeu de Futebol. Toda a gente sabe que os estádios foram construídos em cidades, em comunhão com as autarquias locais, perto de prédios de habitação e que foram factores de desenvolvimento regional, principalmente nas áreas das indústrias de salsicharia, panificação e cervejeira e do comércio de couratos e bejecas.

SABER ESCOLHER (IV)

Luís Nobre Guedes no ministério do Ambiente e Ordenamento do Território.
Sendo reconhecido pela sua calma e urbanidade, é o homem certo.

SABER ESCOLHER (III)

Louve-se o equilíbrio com que este Governo foi formado.
O número de representantes da Opus Dei e da Opus Gay é aproximadamente igual.
 
(Para efeitos de natureza jurídica: zero também é número)

SABER ESCOLHER (II)

Fernando Negrão no Ministério da Segurança Social.
Está certo. Ele foi director da Polícia Judiciária... A Judiciária é uma força de segurança pública... Público quer dizer sociedade... Sociedade quer dizer social...
Contrate-se o homem.

julho 16, 2004

SABER ESCOLHER

O homem contém em si o gene da incompetência mas é um mestre a disfarçar.
Previam um governo perdulário e despesista? Escolha-se para ministro das Finanças alguém que se destacou no anterior Governo pela sovinice na distribuição de verbas.
O Presidente avisa que é preciso manter a política externa? Escolha-se para ministro dos Negócios Estrangeiros um diplomata de carreira com uma folha pouco menos que irrepreensível.
Avisam pelo desnorte da economia? Escolha-se para ministro um gestor público de prestígio.
 
A oposição está tão engasgada que à falta de razões credíveis para atacar as escolhas,  se continua a martelar na estafada tecla da legitimidade. E depois é a direita que olha para o passado.

FUTURO BRILHANTE

Um Partido Comunista que já morreu mas ainda não começou a cheirar mal.
Um Bloco de Esquerda que começa a salivar perante a perspectiva de ser poder a médio prazo.
Um Partido Socialista que não sabe se há-de estar à direita do BE ou ao centro do PSD.
Um Partido Social-Democrata em vias de ser Popular Democrata.
Um Partido Popular em vias de ser Popular Democrata.
 
Dois Duponds a pretenderem ser em tudo diferentes mas que são em tudo iguais.

NOVIDADES BLOGGER

Continuando a evolução, o host da maioria dos blogs nacionais brinda-nos com a possibilidade de compor posts com a mesma facilidade do Word.
Agora que eu e o HTML estávamos quase a fazer as pazes...

ACTUALIZAÇÕES (II)

Aproveito um pouco de tempo livre para actualizar links de interesses entretanto aparecidos e corrijo uma injustiça: o Classe Média já lá deveria estar há muito.

ACTUALIZAÇÕES (I)

Só por ter colocar o Brideshead Revisited no Olimpo, o Bruno Alves já mereceria destaque por aqui. Mas tudo o mais da Desesperada Esperança merece leitura frequente. Entra directamente para os links da coluna do lado.

julho 15, 2004

OS HOMENS DO PODER



DESCUBRA AS DIFERENÇAS






OFICIAL

E pronto, é oficial: Sócrates é candidato.

O BE agradece.

BAGÃO feliz

"(Bagão Félix) tem uma sólida formação moral, o que para este cargo é muito importante"
João Salgueiro à SIC Notícias.

Ele lá sabe.

TEMPUS FUGIT

UTOPIA

Eu sei que é uma ideia sem futuro, mas vou propô-la à mesma:

E se, com esta segunda vida pós fuga de Barroso, a blogosfera se empenhasse num debate profundo à volta das características essenciais a um candidato à presidência da Câmara de Lisboa?
Não estamos todos já fartos das tretas do costume tipo "Lisboa cidade competitiva", "Lisboa viva", "Amar os bairros históricos", etc., etc., etc.?

LAMENTO DA ESQUERDA AO SEU PRESIDENTE

Temas perenes na história do mundo. Em 1735 George Frideric (née Georg Friedrich) Haendel escrevia o desespero de uma amante voraz e egoísta que se sentia traída pelo que julgava seu amor.
Em vez de nos dar padeiros de rolo na mão, bem que podia o BE contribuir para a cultura do povo, passeando carros alegóricos à frente de Belém com este recitativo accompagnato da ópera Alcina num volume considerável:

Ah! Ruggiero crudel, tu non mi amasti!
Ah! che fingesti amor, e m'ingannasti!
E pur ti adora ancor fido mio core,
Ah! Ruggiero crudel, sei traditore!


(Chapeau para Alex pelo empréstimo)

julho 14, 2004

LISBOA TEM MAIS ENCANTO... NA HORA DA DESPEDIDA (II)

"Os Paços do Concelho foram poucos para albergar os funcionários da Câmara de Lisboa que vieram assistir à despedida de Santana Lopes", ouvi na TSF.

Era para terem a certeza que o homem não voltava mais uma vez com a palavra atrás.

LISBOA TEM MAIS ENCANTO... NA HORA DA DESPEDIDA (I)

"Quem ama Lisboa cuida de Lisboa", despediu-se com estas palavras o nóvel Primeiro e ex-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Bom, que cambada de amantes mentirosos!

A OPUS AO PODER QUE OS FILHOS JÁ LÁ ESTÃO!

Bagão Felix nas Finanças.

(Como eu esperava, qual António Borges, qual Ernâni Lopes!)

THEIR MASTER'S VOICE

Isto é que é resposta pronta da "nova" geração ao apelo de António Vitorino de subida ao poder no partido! Acabo de ouvir na SIC Notícias a previsão da candidatura à liderança de António José Seguro.
Já só falta Jamila Madeira.

PS - Com tanta "juventude", os cabelos brancos de Sócrates correm o risco de o transformar num cota indesejável.

julho 13, 2004

VITORINO OUT

Como se sentirá a ala não populista e não aparatchik do PS - orfã? Como se sentirão os seus apoiantes, esperançados num secretário-geral eficiente e com ideias - orfãos? Como se sentirá Paulo Gorjão?

Com o anunciado e pré-vencedor do congresso Sócrates, quem ganha é o BE.

RESPOSTA N.1

Está escolhido o novo presidente da CML, uma não-surpresa. Se a resposta da Procuradoria ao pedido do PS não fôr muito contudente, Carmona Rodrigues tomará posse como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Como penso já ter escrito, é a menos má das soluções. Ainda assim, continuam escancaradas as portas para o candidato do PS nas próximas eleições. Mega Ferreira?

E porque não uma candidatura inteligente, abrangente, com o Arq. Ribeiro Telles à cabeça?

julho 12, 2004

À DIREITA TAMBÉM VIVE A INDIGNAÇÃO

Ainda que esparsas, vão continuando a ouvir-se algumas vozes indignadas provindas de dentro da maioria.
Não exactamente de dentro, mas de muito perto e muito por dentro, Maria João Avillez assina uma crónica duríssima na sua coluna do Expresso.
A quem teria uma muito maior legitimidade para se reclamar Sá-Carneirista fica muito bem esta bofetada de mão bem aberta na cara de todos os que determinaram o percurso do PSD nas últimas semanas. A minha chapelada.

RECENTRALIZAÇÕES

Estes "sound-bytes" têm muito que se lhe diga. Já não sei se são os jornalistas que, na ânsia de títulos sonantes passam por cima da lógica, se são os assessores do homem que são incultos, se tanto faz, p'ra quem é, carapau basta.
Se se pretende colocar o Ministério da Agricultura em Santarém isso não é descentralização coisa nenhuma - é recentralização!!!
Descentralização seria criar polos regionais e pô-los a trabalhar em rede. (Vocábulo que, certamente, os autores da ideia só reconhecem das artes da pesca.)

julho 11, 2004

ESTA É A IDOSA BAIXA MINHA AMADA

LÁ FORA, NA DISTANTE PÉRSIA

E já que me é vedada a participação na batalha, volto, ignoto, ao meu jogo de xadrez.

MALEFÍCIOS

Querida M.,

Escrevo-lhe de cama, o portátil estrategicamente colocado do meu lado direito de modo a permitir que, com apenas um leve vestígio de movimento de braço, lhe consiga mandar notícias de mim. Valha ao menos o progresso para nos permitir manter a correspondência em dia já que, quanto à medicina, estamos conversados.
Seria de esperar que, após um ano de comprimidos ininterruptos anti-colesterol, o meu corpo tivesse ganho resistências mais ou menos sólidas a uma invasão pontual de gordurites excedentárias. Que soubesse mobilizar os necessários exércitos para as combater. E que me deixasse em paz na minha contemplação da vida enquanto fazia o que tinha de fazer.
Ora malditos comprimidos que apenas conseguem uma ilusória aparência de felicidade no cadastro limpo dos resultados das análises! Estou aqui que nem posso, depois de uma jantarada que meteu o meu patê favorito, duas garrafas de Chateauneuf du Pape, um pão alentejano e uma imensidão de azeitonas britadas...
Não diga, que eu já sei o que vai dizer. Mas há mais de dois anos que não fazia o petisco! Alguma vez experimentou a felicidade alquímica de transformar por acção do fogo uma massa de consistência e cheiro repugnantes num dos maiores prazeres que é dado ao palato saborear? Divagar criterioso entre ervas e especiarias, imaginando o subtil travo que dará um carácter especial à obra? E o orgulho da partilha? O orgulho da exposição? Ocasiões especiais requerem mimos especiais - como poderia resistir a esta provocação?
Pois, não resistimos. Nem eu nem o meu fígado.
E por isso lhe escrevo assim, mexendo só as pontas dos dedos e esperando arduamente que este vago tremor de musculos não se comunique ao irado vulcano lá de baixo para bem da relação respeitosa que com ele mantenho.

PS - Já sei que, com a sua resposta, virá a curiosidade. Vá procurando fornecedor de confiança para o fígado de porco e a banha. Descubra onde vendem pimenta verde fresca. O meu estado de letargia é tal que me poupo, por agora, de lhe descrever o método.

Seu,

julho 10, 2004

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS (II)

Num registo mais sério: com a coligação de direita no poder é, para mim, ponto assente que o próximo presidente da República terá a sua origem numa candidatura vinda da esquerda. Fica a dúvida se essa origem será inicialmente do centro-esquerda, tipo Freitas do Amaral ou António Guterres ou da esquerda pura e dura, como Ferro Rodrigues ou Manuel Alegre.
Já alguém se lembrou de pôr a poesia em Belém?

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Paulo Gorjão lança a hipótese Ferro Rodrigues para o candidato presidencial a escolher pelo PS. Atendendo à História, acabou sempre por ganhar o candidato que apresentava um currículo mais medíocre em funções governativas.
Foi assim com Mário Soares que soube disfarçar a sua ligeireza técnica com o inegável instinto político e com Jorge Sampaio, o mais paralisante e paralisado presidente que os Paços do Concelho da Câmara de Lisboa viram.
Daí que eu sugira a escolha de António Guterres. É que, do outro lado, Durão não vem e Santana estará entretido com o osso da governação. São maiores as hipóteses de continuidade.

CML

Quem será o próximo presidente da Câmara Municipal de Lisboa eleito?
Mega Ferreira poderia ser uma hipótese interessante desde que se comprometesse a não densificar as zonas históricas para saldar os défices da sua administração...

UM NOVO ESQUEMA POLÍTICO

Com a decisão de Sampaio parecem-me criadas as condições iniciais para o nascimento de um novo partido no espectro político português.
Como já escrevi, é inevitável uma radicalização de posições nos dois maiores partidos. Santana Lopes tem toda a vocação e todo o interesse para fundear o seu "PPD/PSD" à direita: torna o desaparecimento do CDS inevitável ganhando os votos deste e cria expectativas de uma nova maioria absoluta para o partido, contando com os votos daqueles que têm memória e pouca confiança na capacidade gestora do Partido Socialista.
Já o PS terá, por simetria e oposição, de marcar a sua vocação de esquerda precisando, para alcançar maioria absoluta de roubar votos ao PC e empatias aos votantes "light" do BE. Serão ainda uma esperança os votos daqueles que não perdoam Santana ou que, sendo sociais-democratas da velha linha, não perdoarão a viragem à direita do seu antigo partido.
Com este acentuar de radicalismos, tão contrário ao espírito português de navegação ao centro, a criação de um partido-charneira do tipo Partido Liberal Alemão que teria uma palavra decisória no sentido da governação, parece possível e aconselhável. Assim se consiguisse preencher com quadros de qualidade e com políticos com espírito de serviço público. Tarefa titânica.

NOMES PARA MINISTÉRIOS (II)

Ministra da Obras Públicas - Eduarda Napoleão

A experiência de trabalho com Santana fazem dela a escolha ideal. O facto de não possuir formação na área não deve constituir impedimento. Tem a grande qualidade de suportar sem um queixume as habituais descomposturas públicas do chefe.

NOMES PARA MINISTÉRIOS

Ministro das Finanças - João César das Neves

Consegue reunir um currículo suficientemente mediático com o low profile ideal para não fazer sombra ao chefe. As suas ligações à Obra Divina são indicador de que aceitará com humildade mais este sacrifício pessoal.

julho 09, 2004

INVOLUÇÃO NA CONTINUIDADE

Não sei qual é o espanto. Sampaio limitou-se a cumprir o papel de bom aluno certinho e obediente que cumpriu em toda a sua vida política. Sempre o achei a versão política daqueles filhinhos da mãmã muito obedientes, muito conscenciosos, que nunca sujavam os sapatos no futebol nem se metiam em brigas que infringissem os códigos. Cumpridores, mas chatos. Insuportavelmente chatos.
Sampaio foi um presidente da câmara que não ficou para a história. Parou a cidade durante mais de um ano porque era preciso pensar. Nunca se apercebeu dos prejuízos causados mas terá ficado convencido de que tinha cumprido o seu dever: criou páginas e páginas de legislação municipal. Foi tão inibido pela sua vontade de fazer bem que não fez nada, a ponto de João Soares ter anunciado, quando lhe tomou o cargo "agora é que as coisas vão avançar".
Como presidente da República manteve esse jeito meticuloso de cumprir escrupulosamente a letra da lei. Certinho. Sem risco. Solene. Bocejante.
Agora fez o que sempre tem feito. Um discurso de mil palavras quando meia-dúzia chegariam. Uma enormidade de dias para pensar quando dois ou três seriam suficientes. Uma resolução que não é resolução.
A aceitação de um novo governo do PSD será, formalmente, a decisão mais acertada, mais dentro do espírito da lei. Mas será a melhor, principalmente com a obra governativa do nome provável a indigitar como primeiro-ministro? A decisão de Sampaio, que se pedia política, foi neutra. E aquele protesto que lhe surgiu na semana passada "O presidente decide por si! O presidente não é a raínha de Inglaterra!" foi apenas um protesto formal, quase pavloviano. Às vezes há actos falhados que falam por si. O presidente é, de facto e apesar de qualquer esbracejar futuro, o notário da República.

A LAVAGEM DAS MÃOS

Pilatos cumpriu a ordem romana que deixava ao cargo das leis dos paises ocupados a resolução dos problemas internos. Pilatos também foi recto, equilibrado. Decidiu não decidindo, presuroso de manter a estabilidade, não atentar contra a paz social e, sobretudo, desejoso de evitar acusações de parcialidade. Estranhamente, após tantos cuidados, a História recusou-lhe a sageza. Porquê?

ECCE HOMO



Caros governados, pautar-me-ei sempre pelo estrito cumprimento da lei, pelo garante da estabilidade das instituições e pelo que entender como melhor para o país que represento.



(aos legítimos autores das fotografias originais usadas nesta colagem este blog agradece a sua identificação para evitar confusões de direitos de autor)

julho 08, 2004

LA IKEA



Eu provinciano me confesso: nunca fui em excursão a uma das mega-lojas da IKEA em Espanha. Aliás, antes da instalação da dita, nunca tinha ouvido falar dela.
Fui visitá-la um dia destes e engrossei a fila de basbaques que, de saco da feira debaixo do braço, lápis enfiado nos dedos em equilíbrio com o catálogo e a folha das encomendas, olhos esbugalhados de admiração e boca aberta de êxtase, deambulavam pelo enorme espaço. Eu, que não gosto do Algarve porque me julgo um elitista de bom-gosto, que fujo da Costa da Caparica porque não tenho paciência nem para as filas da ponte nem para os Nelos, as Kátias, os pit-bulls que pela trela passeiam aspirantes a marginais de gang, a falta de espaço e o excesso de berros, vi-me assim metido numa procissão de parolos, não sei se mais motivados pela diferença de design oferecida se pelos preços de feira de ciganos que as etiquetas ostentavam. Irrealidade ou súbito aumento de rendimentos? Tirando o facto óbvio de serem fabricados nos confins do mundo que habitualmente até as aulas de Geografia liceais têm por hábito esquecer, pátria de todos os ignorados explorados&ofendidos que enchem páginas e páginas de folhetos de ONG's bem-intencionadas, de revistas de Domingo e de editoriais tipo Laurinda-Alves-quando-acorda-com-uma-vontade-enorme-de-abraçar-o-mundo, tirando o óbvio facto da redução de preço obtida pela sua fabricação em série, tirando o óbvio facto de serem repetida, monótona e globalmente expostos para venda e consumo no resto do mundo onde os explorados&ofendidos o são mais dissimuladamente, a explicação para tais preços escapa-me.
Bom. Dei de caras com um moinho de pimenta com um decidido ar eficaz&horroroso - é o habitual no Braz&Braz; é o habitual nas festas de aldeia onde almocreves globetrotters expõem os produtos que sobraram da festa da aldeia anterior; é habitual até no Ministério das Finanças! mas aqui? Fiquei na dúvida outra vez.
(Devo dizer que tenho uma história longa de desamores com moinhos de pimenta que começa na Habitat de onde proveio o meu primeiro moinho com pedigree, lindo na sua madeira polida mas com tão má concepção que encravou no primeiro grão a sério que encontrou como um dente cariado por onde se enfia uma graínha de uva mal-intencionada (gemeu, gemeu e recusou-se a mastigar) e que se prolonga até à mais recente experiência com um espécime transparente, esbelto, de tecnologia garantida mas que sempre se recusou a moer grãos de diâmetro superior aos da mostarda.)
Voltando ao moinho IKEA: envolvido pela febre consumista que me cercava, envergonhado já pela ausência de saco das compras no sovaquilho, derrotado pelo carácter solitário do meu passeio - sem jovem-nubente-entusiasmada-a-comprar-os-últimos-tarecos-para-a-casa-nova, nem agregado-familiar-completo-mãe-filhos-e-sogra-a-remodelar-o-quarto-do-puto-que-está-grande-e-não-quer-os-posteres-do-arry-póter-do-ano-passado-e-já-agora-mudamos-a-caminha-da-vanessa-cristina, nem sequer companheira-encantada-por-poder-pôr-móveis-com-design-sem-gastar-balúrdios - peguei ostentoso num exemplar - o meu oscar!, a minha ordem do infante! - e lá percorri os restantes 20 quilómetros de corredores marcados no chão e entaipados pelos milhares de peças à venda, até à fila mais curta que consegui encontrar no terminal da caixas registadoras.
Olhei, sereno e ufano para os meus companheiros de aventura. No meio dos candeeiros de pé, das rectangulares caixas de móveis, dos sacos tamanho família a abarrotar de estranhas desconstruções de futuras formas domésticas reconhecíveis, era também um vencedor. Vencera a depressão cinzenta das lojas de móveis e artefactos nacionais. Vencera a exploração violenta das lojas de decoração das avenidas novas. Vencera finalmente séculos e séculos de periferia europeia. O moinho era meu.

Epílogo - Como, enquanto escrevo, uma sanduiche (uma sandes, uma sande) de queijo fresco, perfumado com um tapete vulcânico de pimenta ralada no meu moinho novo. Tirando a necessária adaptação a um vazamento tão exuberante face às pinguices dos modelos anteriores, sou um homem realizado. A única coisa que me perturba é ter uma amiga a telefonar-me irritada porque, informa-me ela, os preços do IKEA de Madrid são muito mais reduzidos do que os daqui. Não lhe serve de nada eu dizer-lhe que o poder de compra dos espanhois é largamente inferior ao nosso - eles têm de pagar impostos... Teimosa, não se desconvence que a causa está no acordo de preços afixado entre os suecos e os tremelentes concorrentes nacionais. A mim, que não acredito em teorias da conspiração, custa-me a crer.

AINDA ME FALTA A RESPOSTA

Porquê, José Manuel, porquê a escolha do teu maior opositor para te suceder?

E SE...

Como seriam as reacções, as adjectivações, os argumentos - da oposição, da maioria, do Presidente da República, dos analistas, dos comentadores, dos manifestantes, dos protestantes, dos impávidos, dos nervosos, dos alheados, dos ignorantes - se, em vez da bête noire, (Durão) Barroso se tivesse decidido por uma evolução na continuidade, elegendo, por exemplo, o número dois do Governo para lhe suceder na pasta enquanto o Congresso próximo não elegesse novo lider?

julho 07, 2004

O PRIMEIRO...

Já começou a campanha de rua de Santana.
Eis o projecto do primeiro outdoor.

SIC TRANSIT GLORIA MUNDI

Os anúncios de parede são ainda mais transitórios que as palavras de jornal. Dão trabalho, são filhos de horas de reflexão, graficamente pensados, sintetizados, eficazes no imediatismo da sua mensagem.
Do que publicitam ficará uma memória, um registo. Deles, nem isso, rectângulos de cordel, varridos pelo momento de um vandalismo, uma chuva, uma sobreposição de novos interesses.
Mas, no tempo que duram, no tempo que é seu, congregam-se em mosaicos tentadores e fascinantes, aleatórios e heterogéneos, anárquicos e de uma realidade que, em simultâneo, pertence e se esquiva a este mundo.

julho 06, 2004

LÁ VEM O REUMÁTICO OUTRA VEZ

Está cada vez mais difícil aceder aos blogs abrigados no blogspot. Continuem assim que perdem a clientela toda.
(NOTA- Eu já tentei mudar em tempos para o weblog, mas nunca percebi muito bem a técnica necessária...)

SOL DE POUCA DURA

Ah, o clamor do vil metal!... A 2: que com tão boas intenções começou, vai resvalando lentamente para os horários de antanho. O Jornal a começar mais tarde e a enviar as séries para as onze... Uma da manhã e as conversas da Ana Sousa Dias são cada vez mais secretas. (If I may be so bold, a word of advice, Ana - não discuta a obra com o seu criador; provoque-o antes com a sua (dele) visão do mundo).
A quem será que serão entregues as chaves do canal caso Manuel Falcão suba a ministro?

julho 05, 2004

PEIXARIA PORTUGAL

Chegou-me via mail, reenvio, de reenvio, de reenvio. Curiosamente, pelos nomes que vieram atrás dos vários percursos, a personagem é tanto bombo de festa à esquerda quanto à direita.

julho 04, 2004

SHARK ATTACK

A QUADRATURA DO CÍRCULO

Carlos Andrade perguntava aos seus entrevistados na Quadratura do Círculo: 'Qual a solução melhor para o país: a ida de Barroso para a Comissão Europeia ou a sua manutenção no cargo de primeiro-minsitro?'
Eu que não sou entrevistado mas espectador, respondo com outra pergunta: 'O que é melhor para o futebol português: ser campeão europeu ou estar financeiramente saneado?'

julho 03, 2004

MUDANÇA E EVOLUÇÃO

Parece-me quase indiscutível que a face mais mediática - e com mais audiência - da blogosfera portuguesa tenha sido desde o seu início a do debate político. Polémicas, comentários mais ou menos propositados, mais ou menos graciosos, mais ou menos imbecis, análises sérias, marcadamente tendenciosas ou plenas de honestidade intelectual, da esquerda, da direita, do centro, presenças de figuras públicas ou anónimas, de tudo isto viveu no pouco mais de um ano da sua idade adulta. Penso que, apesar da disseminada e porventura cada vez maior aversão pela política que os portugueses demonstram ter (que se vai traduzindo em preocupantes e crescentes níveis de abstenção nas consultas eleitorais), o assunto será dos que mais facilmente inquietam as emoções e inflamam o verbo sendo assim natural a sua liderança. Mais que política, só o futebol - basta passear pelos diversos blogs e verificar o número de comentários suscitados por um post relacionado com um destes dois temas.
Já discutir arte ou arquitectura ou literatura - para não falar das ciências exactas, da filosofia ou de temas ainda mais recolhidos na sua concha como a nanotecnologia, a semiótica ou a física das partículas elementares - pressupõe muito tempo anterior dedicado à sua reflexão, à sua contemplação e poucos arriscam um comentário deslocado sentindo-se já deslocados à partida.
A política parece assim uma actividade que nos é mais natural, provavelmente por nos ser inata, provavelmente por se situar maioritariamente - como o futebol - ao nível dos afectos. Somos "deste" ou "daquele" partido como somos "deste" ou "daquele" clube. Apupamos e aplaudimos tanto goleadas históricas como vitórias de secretaria, muito poucos temos o fair-play para reconhecer (pelo menos publicamente) que a outra equipa foi melhor, mereceu ganhar. Num sistema de alternância ao centro, é fácil esbaterem-se ideologias e acentuarem-se clubites e a clubite induz reacções, gritos de apoio ou apupos de oposição. É claro que há os extremos - e há-os por aqui, meritórios ou ilusórios - mas são uma minoria, excepções a confirmar a regra.
Algo no entanto mudou e essa ruptura parece ser mais uma das filhas da decisão de (Durão) Barroso de aceitar o convite para presidente da Comissão Europeia: o debate político parece começar a transformar-se em combate político. A blogosfera não é mais apenas um espaço de cruzamento ou manifestação de visões, antes começando-se a desenhar como um instrumento de intervenção real. São as convocatórias de manifestações por SMS que têm o seu início em posts publicados, por exemplo, no Barnabé. São as declarações de voto, de intenções, de recusa que Pacheco Pereira expõe no Abrupto e que se reflectem em notícias televisivas e radiofónicas. São os apoios do mesmo às vozes críticas que se revelam no PSD e são as contrapartidas a uma informação que parece manobrada (veja-se a denúncia do caso Ferreira Leite onde o seu pedido de desculpas no Conselho Nacional aparece como real nos jornais e é desmentido por JPP no Abrupto). Mais do que posições políticas, estes são instrumentos de política.
Há ainda outras figuras políticas que se aventuram por estas águas internéticas como tal e não como meros cidadãos. Aparentemente, ligados como estão ao poder interno ou à disciplina dos seus partidos, não parece ser fácil neles, a curto prazo, esta migração. No entanto, a acontecer - ou quando acontecer - , será a confirmação de um novo poder. Ou contrapoder.
E a haver esta confirmação que novo sistema emergirá?

1ª MEDIDA

Pronto, lá voltámos nós à parolice do PPD/PSD.

julho 02, 2004

BREVE

É oficial, o país entrou de férias.
Falta apenas confirmar se são as da Páscoa ou do Carnaval.

O PAÍS REAL

Histórias verídicas do país real:
1 - Problemas no apartamento a necessitar de reparação urgente. Contacto telefónico feito com empresa de considerável dimensão, afiliada de empreiteiro de obras públicas. Após a visita, o técnico da empresa apresenta o orçamento. E acrescenta, '(...) mas eu também faço uns trabalhos ao fim-de-semana e consertava-lhe isto tudo por metade do preço. Sem IVA'
2 - Cano rebetado, inundação, chão destruído. Accionado o seguro, desloca-se o perito ao local do sinistro para avaliar os estragos. 'Sabe, fez aqui umas alterações que lhe anulam a validade do seguro... Mas já agora: que tipo de chão quer pôr? É que eu sou sócio de uma empresa que é especialista nesse tipo de acabamento...'
Não há-de o homem ter fugido.

INFLEXÕES

Paulo Portas, no seu comunicado de hoje, só se referiu ao seu partido pelo nome original.
Nova estratégia de charme ao eleitorado ou saudades dos 14% de votos dos primórdios?
Em qualquer das hipóteses, esvai-se das entrelinhas um princípio de preparação de eleições. O que sabe PP que (Durão) Barroso não sabia?

julho 01, 2004

IMPREVISTOS

"O pior que pode acontecer aos empresários, é a falta de previsibilidade". António Perez Metello na TVI.
De facto, com este governo era tudo muito previsível.

MOMENTO EM QUE PAÍS É QUE O SENHOR VIVE?

"O país não aguenta 4 a 5 meses parado". Empresário português, dono da Logoplaste.

MOMENTO NÃO ME TIREM DO TACHO

"O momento é de estabilidade". Miguel Horta e Costa, presidente da PT.

LAPSUS LINGUAE

"Um momento de União Nacional", deputado do PSD na Assembleia da República. Hoje.

PORTAS DIXIT

Ahahahahahahahah
"A boa e velha tradição do CDS (...)" ahahahahahahahahahahahahah
desculpem, mas ahahahahahahah a boa e velha ahahahahahahahha CDS, ahahahahahahaha desculpem, não consigo evitar ahahahahahahahah

PESSIMISMO

Hum.
Os gregos estão a jogar de azul.
O estádio do Dragão tem a fama de favorecer as equipas que equipam de azul.
Os italianos também equipam de azul.
Parece-me que os checos vão ser despachados com um golo rançoso.

AS MERCEARIAS DOS OUTROS

Paulo Gorjão numa história de evidências.

ARQ+

Pois é Lourenço, isso é giro.

MÁS-VONTADES

Miguel Sousa Tavares é um homem cheio de más-vontades. Não sei se o é conjunturalmente ou conjecturalmente. A mim que vou tendo memória, parece-me que depende ou da azia com que acorda de manhã ou dos objectivos que quer alcançar.
Ainda não me esqueci do modo como, há cerca de três anos (antes da era Mourinho) pedia semanalmente a cabeça de Pinto da Costa - que estava velho, gasto, incapaz que fazer retornar o Porto aos anos de glória. Pois. Agora, uma taça UEFA e uma Liga dos Campeões depois, trá-lo nas palminhas.
Também ainda não me esqueci do modo como chorou as benesses concedidas pela Câmara de Lisboa a Sporting e Benfica no âmbito da construção dos novos estádios, por comparação com as pobres migalhas esmoladas pelo seu FCP ao erário camarário. Pois. Parece que a Judiciária e o actual presidente da Câmara estão renitentes em concordar com essas migalhas, mas MST já mudou de agulha.
Do que MST não se parece ter esquecido é da afronta feita por Scolari a milhares de portistas ao trocar o "grande Vitor Baía" por Ricardo e, como tal, não desperdiça a oportunidade de desfazer o pobre do guardião montijense que tem feito possíveis e impossíveis por desfazer a má impressão por si deixada no último ano de trabalho. A última crónica na Bola (ou a penúltima) era disso perfeito exemplo: desatinado e incompetente Ricardo que, para além de se atirar sempre para o lado contrário da bola, só defendeu por sorte e ainda ia falhando o penalti que marcou.
Na 3ªfeira à noite na televisão de Queluz a sua má-vontade estava ao rubro. Eu até o compreendo. Eu até partilho as sua ideias no que respeita à necessidade de eleições antecipadas. Agora atacar PSL por fugir da Câmara de Lisboa e o desconhecimento de quem será o seu sucessor omitindo o que se passou em 95 com Jorge Sampaio e a sua sucessão já me parece um pouco tendencioso demais...

LÁ VAI A NAU CATRINETA

ESCRITO NAS ESTRELAS(*)

Pacheco Pereira usa as armas que tem à mão no combate de forças desproporcionadas no interior do PSD.
Quero só acrescentar algumas considerações aos exemplos que vai buscar à governação da Câmara de Lisboa para demonstrar o que poderão ser os resultados da via populista de PSL.
Sendo a tomada de decisões errada e baseada numa análise primária da sensibilidade reinante no eleitorado (ou na audiência), ela poderia ser mitigada pela escolha de um staff de apoio - vereadores, assessores, chefes de gabinete, directores municipais - com competência suficiente para indicar escolhos e perigos, soluções exequíveis ou resoluções disparatadas. Infelizmente - e por causa dessa mesma visão imediatista e "espectacular" - o que se verificou na CML foi o inverso. Os assessores são yes-men partidários sem currículo profissional relevante nem experiência suficiente para opinar de modo competente sobre os assuntos respectivos, os vereadores políticos carreiristas de segunda linha com uma carreira feita à sombra de nomeações partidárias ou com habilitações completamente inadequadas para as áreas que tutelam (e a excepção, Carmona Rodrigues, acabou chutada para o Governo), os directores municipais que não transitaram da presidência de João Soares (na qual também sobreviviam personagens só compreensíveis pelas curtas vistas partidárias da coligação), escolhas incompreensíveis tecnicamente mas de fotogenia assegurada nas fotos de propaganda.
Ora a repetirem-se estes critérios - e nada indica que não se repitam - na escolha de um Governo, será de prever que à festa despesista do último Governo Guterres lhe suceda um executivo Sempre em Festa de muita propanda e poucos resultados, precisamente o que o PSD de (Durão) Barroso anunciou combater (com resultados dúbios é certo) nos dois anos da sua sobrevivência.
(*) Citando Pacheco Pereira

ÚLTIMA HORA

O sr. Presidente acaba de escolher o homem que vai gerir os destinos de Portugal nos próximos dois anos:



(Foto sem indicação de autoria aqui)