Se há jogo político em que os papeis dos eleitores estão invertidos ele é o das eleições americanas. Não tenho dúvidas de que o seu resultado afectará muito mais o futuro dos que nelas não podem participar do que o dos que terão esse direito na próxima terça-feira.
Um dos que não pode votar mas que teve uma contribuição activa foi Bin Laden, com a sua comunicação apresentada ontem via Al-Jazeera.
Terá sido este, provavelmente, o empurrão decisivo para a vitória de Bush.
outubro 31, 2004
outubro 30, 2004
BLOGS E PRIVACIDADE
Um dos efeitos mais marcantes que a feitura de um blog tem é a extrema curiosidade que se cria - qual governo da república - sobre tudo o que se relaciona com o mesmo. E quando refiro "que se relaciona", estou a ser literal: tudo que se mantém contacto com o blog - visitantes, notícias, links.
Se há uma coisa que este maravilhoso mundo novo informático faz bem é a capacidade de reter informação: é fácil saber quem de nós "fala" (escreve), quem nos "linka", de onde vêm quase todos os que nos visitam. Difícil, difícil, é descobrir os outros, os que não fazem parte desse "quase".
Consigo surpreender os meus amigos quando lhes falo da visita recente que fizeram a este blog - "Mas consegues saber isso? Como?" - denotando-lhes, na reacção, um susto que vai do assombramento pela "proeza" técnica ao desconforto por se sentirem controlados. Pouco a pouco, fui-me apercebendo o quanto esta curiosidade hedonista se aproxima de outros controlos. Como o que, recentemente, levou à busca judiciária à casa do autor de um Portugal profundo demais na revelação de informações supostamente abrangidas pelo segredo de justiça.
Desviei-me um pouco. Falava dos ignotos visitantes que, de moto próprio, digitam regularmente o meu endereço para - nunca o saberei com toda a certeza - lerem o que escrevo, o que penso, o que sinto. Apesar da página de comentários e do endereço de e-mail, optam por manter a privacidade por, discreta e incognitamente, entrar e sair, guardando para si o que daqui retiveram. É uma pena. Não sabem o quanto apreciaria ouvir os seus comentários, críticas, sugestões.
É o seu direito, o seu inalienável direito. Mas como moem a minha inata cusquice!
Se há uma coisa que este maravilhoso mundo novo informático faz bem é a capacidade de reter informação: é fácil saber quem de nós "fala" (escreve), quem nos "linka", de onde vêm quase todos os que nos visitam. Difícil, difícil, é descobrir os outros, os que não fazem parte desse "quase".
Consigo surpreender os meus amigos quando lhes falo da visita recente que fizeram a este blog - "Mas consegues saber isso? Como?" - denotando-lhes, na reacção, um susto que vai do assombramento pela "proeza" técnica ao desconforto por se sentirem controlados. Pouco a pouco, fui-me apercebendo o quanto esta curiosidade hedonista se aproxima de outros controlos. Como o que, recentemente, levou à busca judiciária à casa do autor de um Portugal profundo demais na revelação de informações supostamente abrangidas pelo segredo de justiça.
Desviei-me um pouco. Falava dos ignotos visitantes que, de moto próprio, digitam regularmente o meu endereço para - nunca o saberei com toda a certeza - lerem o que escrevo, o que penso, o que sinto. Apesar da página de comentários e do endereço de e-mail, optam por manter a privacidade por, discreta e incognitamente, entrar e sair, guardando para si o que daqui retiveram. É uma pena. Não sabem o quanto apreciaria ouvir os seus comentários, críticas, sugestões.
É o seu direito, o seu inalienável direito. Mas como moem a minha inata cusquice!
outubro 28, 2004
OS LEITORES (a)FEITOS AO SEU PLANETA
A propósito do REBOQUE TURNS GOURMET, escreve a Cláudia,
Pratos Nacionais? Arrisco nas migas que são confeccionadas por todo o País embora de formas distintas (feitas com pão, com broa, com pedacinhos de couve...); diria, também, o bacalhau cozido com batatas, grelos e ovo; lembro-me ainda do cozido à portuguesa, das caldeiradas de peixe e... tan na na na: (também valem sopas?!) o suculento caldo verde ;-)
As migas são, definitivamente uma hipótese. Aceito o envio de receitas. Modesto is my middle name.
Pratos Nacionais? Arrisco nas migas que são confeccionadas por todo o País embora de formas distintas (feitas com pão, com broa, com pedacinhos de couve...); diria, também, o bacalhau cozido com batatas, grelos e ovo; lembro-me ainda do cozido à portuguesa, das caldeiradas de peixe e... tan na na na: (também valem sopas?!) o suculento caldo verde ;-)
As migas são, definitivamente uma hipótese. Aceito o envio de receitas. Modesto is my middle name.
TRANSGÉNICOS
Passou relativamente ignorada a notícia de que, a partir do próximo ano, será possível cultivar-se milho transgénico em Portugal.
É natural. Casos tão transcendentais como a futura zanga de dois cunhados ou as actuais discussões entre uma socialite e uma porno star são muito mais importantes para o futuro dos portugueses dos que as possíveis perturbações físicas que as alterações genéticas dos alimentos lhes poderão causar.
Somos assim, destemidos do futuro e calhandreiros do presente.
Seria interessante, no entanto - que diabo, um pouco de informação também não fica mal! - ler qualquer coisa sobre o assunto. Eu recomendo vivamente o "Alimentos Transgénicos - Um Guia Para Consumidores Cautelosos" de Margarida Silva - doutorada em Biologia Molecular pela Universidade de Cornell - e publicado pela insuspeita (de "contaminações" antiglobalistas) Universidade Católica Editora em 2003.
Pode ser que se assustem. Ou que vão ao MacDo mais próximo afogar as mágoas.
É natural. Casos tão transcendentais como a futura zanga de dois cunhados ou as actuais discussões entre uma socialite e uma porno star são muito mais importantes para o futuro dos portugueses dos que as possíveis perturbações físicas que as alterações genéticas dos alimentos lhes poderão causar.
Somos assim, destemidos do futuro e calhandreiros do presente.
Seria interessante, no entanto - que diabo, um pouco de informação também não fica mal! - ler qualquer coisa sobre o assunto. Eu recomendo vivamente o "Alimentos Transgénicos - Um Guia Para Consumidores Cautelosos" de Margarida Silva - doutorada em Biologia Molecular pela Universidade de Cornell - e publicado pela insuspeita (de "contaminações" antiglobalistas) Universidade Católica Editora em 2003.
Pode ser que se assustem. Ou que vão ao MacDo mais próximo afogar as mágoas.
FREITAS DO AMARAL NA RTP
Não há dúvida que a idade - apesar da perda de faculdades físicas, da gordura, da calvície, das escleroses, das rugas, do reumático, do colesterol - traz muitas coisas boas.
O Diogo Freitas do Amaral que agora conversa com Judite de Sousa é um homem equilibrado, ponderado - centrista mesmo. Um democrata. Um homem lúcido (independentemente de se concordar ou não com as suas posições). (Acabou de se reafirmar como "centrista" desde sempre).
Longe vai aquela imagem de "papão" que a presidência do partido menos à esquerda do espectro político pós-revolução lhe conferia. Isso e a voz tremelicante evocadora de uma outra fantasmagórica voz, o ar "beto" e aquele inenarrável sobretudo verde.
O Diogo Freitas do Amaral que agora conversa com Judite de Sousa é um homem equilibrado, ponderado - centrista mesmo. Um democrata. Um homem lúcido (independentemente de se concordar ou não com as suas posições). (Acabou de se reafirmar como "centrista" desde sempre).
Longe vai aquela imagem de "papão" que a presidência do partido menos à esquerda do espectro político pós-revolução lhe conferia. Isso e a voz tremelicante evocadora de uma outra fantasmagórica voz, o ar "beto" e aquele inenarrável sobretudo verde.
outubro 27, 2004
A MAIORIA ASSOBIA E MARCELO PASSA
Ainda bem que existem estas pantominas semanais para nos aliviar um pouco das preocupações nacionais.
Como seria previsível, Marcelo Rebelo de Sousa - na sua segunda missa pós-demissão - partiu para além da loiça toda, as porcelanas e os cristais, tendo ainda tempo para ridicularizar o copeiro (Rui Gomes da Silva).
Mas, ainda que tivesse alguma piada o ar desencontrado de Paes do Amaral (ainda amigo?), em declarações justificativas ao jornal da TVI, o ridículo da semana fica a cargo dos vários elementos da maioria incitados a comentar as notas do professor:
- Guilherme Silva - como o cientista que concluía que uma mosca sem asas não ouve -, impante, congratula-se por, finalmente, se ter provado não terem existido pressões políticas, só económicas - é seu o dirreito à iluminação;
- O ministro Silva, ensaia um ar firme e retira-se, abrupto, face a perguntas impertinentes dos jornalistas - é seu o direito à indignação;
- O porta-voz do PP assegura que o seu partido não tem nada a ver com isso - é seu o direito à negação;
- Já o primeiro-ministro ensaia uma pose de Estado e, à falta de melhores ideias do seu centro de comunicadores, fica calado - é seu o direito à estagnação.
Será que Jorge Sampaio continua preocupado?
E Marcelo ri, e Marcelo ri...
Como seria previsível, Marcelo Rebelo de Sousa - na sua segunda missa pós-demissão - partiu para além da loiça toda, as porcelanas e os cristais, tendo ainda tempo para ridicularizar o copeiro (Rui Gomes da Silva).
Mas, ainda que tivesse alguma piada o ar desencontrado de Paes do Amaral (ainda amigo?), em declarações justificativas ao jornal da TVI, o ridículo da semana fica a cargo dos vários elementos da maioria incitados a comentar as notas do professor:
- Guilherme Silva - como o cientista que concluía que uma mosca sem asas não ouve -, impante, congratula-se por, finalmente, se ter provado não terem existido pressões políticas, só económicas - é seu o dirreito à iluminação;
- O ministro Silva, ensaia um ar firme e retira-se, abrupto, face a perguntas impertinentes dos jornalistas - é seu o direito à indignação;
- O porta-voz do PP assegura que o seu partido não tem nada a ver com isso - é seu o direito à negação;
- Já o primeiro-ministro ensaia uma pose de Estado e, à falta de melhores ideias do seu centro de comunicadores, fica calado - é seu o direito à estagnação.
Será que Jorge Sampaio continua preocupado?
E Marcelo ri, e Marcelo ri...
outubro 26, 2004
NEGRUME
Cavaco Silva confirmou, com as suas palavras desassombradas, o estado duvidoso (to say the least) da nossa economia e o futuro pouco menos que negro do país nos próximos anos.
Será que ele também faz parte da cabala?
Será que ele também faz parte da cabala?
REBOQUE TURNS GOURMET
Qual é O prato típico nacional? E qual é O prato típico de Lisboa?
Vá lá, contribuam com a vossa opinião, no Sábado tive 5 respostas diferentes de cinco pessoas. Usem o mail. Dá para repsonder melhor.
Vá lá, contribuam com a vossa opinião, no Sábado tive 5 respostas diferentes de cinco pessoas. Usem o mail. Dá para repsonder melhor.
outubro 25, 2004
O VOTO ELECTRÓNICO DA FLORIDA
Depois das confusões de há quatro anos, parece ter havido um esforço sério por parte dos responsáveis para agilizar e tornar claro o modo de votação no estado do Florida. Veja-se aqui a demonstração.
(Descoberto via Diário de Lisboa)
(Descoberto via Diário de Lisboa)
outubro 22, 2004
NOVIDADES
Acrescentei mais um capítulo à lista de links lateral: Lusofonias. Já que espalhámos língua e um modo de descodificar o mundo por todo esse mundo (e viva o Sr. Oliveira de Figueira!) porque não procurar o retorno e descodificar o mundo através das palavras dos descendentes desses caçadores de mistérios?
Começo pelo Brasil e espero descobrir (se contribuirem com sugestões ainda melhor!) nas restantes paragens da ex-diáspora novos habitantes da língua portuguesa.
Por agora, Balaio de Siri, Carta Aberta, Carlos Damião, Coluna Extra, Diário de Lisboa (de uma ex-residente em Lisboa) - todos sediados em Florianópolis com vista para o mundo (releiam, se quiserem, o meu Caderno de Viagem sobre a ilha) -, InternETC e D Madrid (de Madrid, mas brasileira).
E mais virão, agora que a minha obsessão se virou para estes lados.
Começo pelo Brasil e espero descobrir (se contribuirem com sugestões ainda melhor!) nas restantes paragens da ex-diáspora novos habitantes da língua portuguesa.
Por agora, Balaio de Siri, Carta Aberta, Carlos Damião, Coluna Extra, Diário de Lisboa (de uma ex-residente em Lisboa) - todos sediados em Florianópolis com vista para o mundo (releiam, se quiserem, o meu Caderno de Viagem sobre a ilha) -, InternETC e D Madrid (de Madrid, mas brasileira).
E mais virão, agora que a minha obsessão se virou para estes lados.
outubro 21, 2004
GOODBYE LENIN
Há vinte anos ouvia eu a uma professora alemã o reconhecimento de que, ainda que inscrita como objectivo na Constituição da República Federal Alemã, a reunificação era uma utopia.
Há 30 anos ofereciam-me estes selos, curiosidades "do lado de lá". Ainda era tempo dos amanhãs que cantarão, as paredes de Lisboa iam-se enchendo de estéticas idênticas, o povo libertava o camarada Arnaldo Matos e o agora indigitado presidente da comissão europeia, entre RGAs e frequências, planeava desvios de mobílias universitárias.
Na segunda metade do século vinte, metade da Europa ouviu ad nauseum estas palavras de ordem sem lhes saborear a verdade.
E o tempo passa e tudo se arrasta para o canto da História. Onde, finalmente, o indivíduo é apagado em favor do colectivo.
E o tempo passa e tudo se arrasta para o canto da História. Onde, finalmente, o indivíduo é apagado em favor do colectivo.
outubro 19, 2004
SÓ PERGUNTAS
Porque morre Lisboa? Porque perdeu Lisboa mais de 200 mil habitantes em 30 anos? Porque é que continua, apesar desse êxodo, a ser sede do emprego da maioria dos que a habitam perifericamente?
Como se inverte este processo?
Porque é que as pessoas continuam convencidas que é muito mais barato comprar casa nos subúrbios, apesar do acréscimo de custos de transporte?
Porque é que à esmagadora maioria dos promotores imobiliários lhes falta a cultura da diferença? Porque é que toda a gente se contenta em se endividar para o resto da vida com um produto sem qualidade? Porque é que toda a gente se resigna a morar em sítios deprimentes?
Que medidas que estratégias que acções para evitar que este estado de coisas se perpetue ad aeternum?
Como se inverte este processo?
Porque é que as pessoas continuam convencidas que é muito mais barato comprar casa nos subúrbios, apesar do acréscimo de custos de transporte?
Porque é que à esmagadora maioria dos promotores imobiliários lhes falta a cultura da diferença? Porque é que toda a gente se contenta em se endividar para o resto da vida com um produto sem qualidade? Porque é que toda a gente se resigna a morar em sítios deprimentes?
Que medidas que estratégias que acções para evitar que este estado de coisas se perpetue ad aeternum?
POIS
Hoje, na Associação 25 de Abril:
"Olha, esta parede parece uma sizada!... Esquece. Foi o Siza que fez o projecto."
"Olha, esta parede parece uma sizada!... Esquece. Foi o Siza que fez o projecto."
outubro 18, 2004
ARQUITECTURA
De uma certa forma,o que me fascina na arquitectura é a possibilidade que ela oferece de ver o mundo por outros olhos. Não só do arquitecto que projecta a sua visão sobre a pedra (poetica maneira de descrever o riscar sobre o branco vazio do papel) mas de cada um que ocupa a casa, que a habita e a transforma numa extensão de si próprio. Nós somos o nosso mundo, o que implica que o nosso mundo é um espelho de nós.
Seguir por uma avenida de Lisboa é perceber o presente e, principalmente os passados dos que a habitaram; é ser-lhe dado a oportunidade de retirar do turbilhão de testemunhos que perduram, as emoções, os vícios, os sonhos, as angústias de todos os momentos; é poder ouvir todas as vozes. Mundos sobre mundos, sobre mundos. Camadas e camadas que podem ser deslindadas.
Como na arte antiga, nunca os arquitectos das cidades tiveram a consciência do seu papel de artistas. Eram artesãos brilhantes dos espaços, construtores de soluções, adivinhos de ocupações. E, no entanto, como lhes devemos esta múltipla construção de visões, esta oferta de respostas para a vida.
Percorrer uma avenida, uma rua, é caminhar metafórica e geometricamente - para o infinito. Quantos de nós estamos preparados para o aceitar?
Seguir por uma avenida de Lisboa é perceber o presente e, principalmente os passados dos que a habitaram; é ser-lhe dado a oportunidade de retirar do turbilhão de testemunhos que perduram, as emoções, os vícios, os sonhos, as angústias de todos os momentos; é poder ouvir todas as vozes. Mundos sobre mundos, sobre mundos. Camadas e camadas que podem ser deslindadas.
Como na arte antiga, nunca os arquitectos das cidades tiveram a consciência do seu papel de artistas. Eram artesãos brilhantes dos espaços, construtores de soluções, adivinhos de ocupações. E, no entanto, como lhes devemos esta múltipla construção de visões, esta oferta de respostas para a vida.
Percorrer uma avenida, uma rua, é caminhar metafórica e geometricamente - para o infinito. Quantos de nós estamos preparados para o aceitar?
VIAGEM AO PASSADO
Almoço redescoberto no "Dragão De Ouro". Restaurante chinês pré-invasão, decoração portuguesa, empregada portuguesa, é um perfeito anacronismo que merece ser acarinhado. Comida chinesa e tailandesa.
Vão pela tailandesa, vão pela chinesa, vão simplesmente porque igual espaço não encontram. Tem ainda a vantagem de não se encher de famílias de fim-de-semana, é calmo, silencioso, muito anos sessenta, avenidas novas. Pareceu-me ver uma sugestão de Alexandra Alpha, muito de fugida, não me admirei.
Vão lá, vão.
Vão pela tailandesa, vão pela chinesa, vão simplesmente porque igual espaço não encontram. Tem ainda a vantagem de não se encher de famílias de fim-de-semana, é calmo, silencioso, muito anos sessenta, avenidas novas. Pareceu-me ver uma sugestão de Alexandra Alpha, muito de fugida, não me admirei.
Vão lá, vão.
outubro 17, 2004
DORMIU? NÃO DORMIU?
Realmente... O que seria de nós, portugueses, se não fosse a atenção constante do gabinete de imagem - perdão, comunicação - do Governo? Alvo de pérfidos ataques contra o Bom Nome das Instituições e a Honra das Pessoas por parte dos orgãos de comunicação social, como a espúria notícia do Expresso de ontem (a alegada sesta do primeiro-ministro), como poderíamos manter a cabeça fria para julgar positivamente a Grande Obra que este Executivo tem vindo a desenvolver nestes últimos três meses, liderado pelo Grande Timoneiro que é o Senhor Doutor Pedro Santana Lopes?
Francamente, alegar que este Grande Homem dedicou alguns minutos do seu dia a um acto tão mesquinho como descansar é uma vergonha, uma vil acção, uma calúnia!!! Pergunto-me se não haverá nada de errado naquele jornal...
Francamente, alegar que este Grande Homem dedicou alguns minutos do seu dia a um acto tão mesquinho como descansar é uma vergonha, uma vil acção, uma calúnia!!! Pergunto-me se não haverá nada de errado naquele jornal...
O TIO TÓNIO
Há uns dias, o Lourenço referia-se, com alguma razão, à impossibilidade das capelas mortuárias da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Até pode ser.
Mas experimentem entrar na igreja num dia de Sol e digam lá se o impacto dos raios de luz que descem sobre o altar destacando-se na penumbra do resto da sala não provoca uma sentida emoção mesmo ao mais empedernido dos ateus.
Até pode ser.
Mas experimentem entrar na igreja num dia de Sol e digam lá se o impacto dos raios de luz que descem sobre o altar destacando-se na penumbra do resto da sala não provoca uma sentida emoção mesmo ao mais empedernido dos ateus.
MISSA
Afinal Marcelo não resistiu muito tempo ao seu silêncio. Este Sábado, transmissão em diferido da homilia proferida ontem aos amigos jornalistas da TVI, com a amável abertura aos canais concorrentes.
outubro 14, 2004
NOTORIOUS
Alberto "soba" Jardim ontem , num comício em Porto Santo:
"Se não gostam de mim não votem em mim mas também não votem contra mim".
Notável.
"Se não gostam de mim não votem em mim mas também não votem contra mim".
Notável.
outubro 13, 2004
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (XI) - A EBAHL E O CASTELO
À boleia da presente polémica (a que o Céu sobre Lisboa dá um valioso contributo) à volta da cobrança de entrada no Castelo de S. Jorge veio à tona o nome da EBAHL, a já esquecida empresa municipal criada pela coligação PS-PC para a gestão dos equipamentos culturais existentes e a criar nos "bairros históricos" da cidade.
O que começou como uma ideia de eficácia e agilização de processos - ninguém desconhece que os muitos constrangimentos que o Estado sofre no que respeita à contratação de pessoal, à realização de concursos, à "funcionarite" paralisante, à gestão de verbas são muito menores nas empresas públicas - rapidamente se transformou num saco fundo para onde foram atiradas muitas das realizações cuja rapidez impedia o calmo remanso dos processos municipais. A EBAHL foi responsável por algumas das coisas boas que ocorreram durante o consulado PC na Reabilitação Urbana - a gestão dos concursos dos projectos e empreitadas de renovação dos edifícios-âncora (Bernardas, Museu do Fado, por exemplo) -, por algumas coisas más - os gastos desnecessários com instalações, os ordenados de administradores e restantes colocados políticos - e por algumas coisas espúrias - os contratos a prazo feitos por encomenda da CML para contratar técnicos de que a autarquia tinha necessidade e os quais estava impossibilitada de contratar directamente.
Numa tentativa de alcançar a autonomia financeira, previu a criação de uma série de receitas que só poderiam advir da exploração dos espaços que estavam sob a sua gestão - e assim surgiu a bizarra ideia de cobrar a entrada aos visitantes do Castelo. Ideia bizarra porque esquecia a condição de espaço público do mesmo e a fortíssima relação de empatia que os lisboetas - e principalmente os que habitavam as freguesias vizinhas - com ele desde a renovação de 42 mantiveram. O Castelo era o jardim público da colina. Era um espaço aberto. Era um espaço de todos.
A contestação não tardou, começando pelo presidente da junta de freguesia - eleito pelo PC - que recusou liminarmente a hipótese dos seus eleitores pagarem bilhete. A ele se juntaram os presidentes das juntas limítrofes, também eles comunistas da velha guarda, pouco dispostos a aceitar tão (na sua óptica) absurdo imposto. Acredito que a polémica se tenha espalhado pelas opacas paredes de vidro do partido. E começaram as cedências. Primeiro aos moradores da junta do Castelo, depois aos habitantes dos bairros "populares". E a isenção prometida só não chegou a mais porque o vereador percebeu o ridículo da coisa e desistiu da ideia.
Vem agora a empresa sucessora da EBAHL retomar a ideia, justificando-a num comunicado emitido pelo seu Gabinete de Comunicação. Demagógico quanto baste, como parece ser necessário nos tempos correntes, compara o incomparável - os jardins do Castelo não são os jardins de Monserrate, este Castelo não é a Acrópole... - e justifica-se com os custos da reabilitação. O que, a aceitar-se como verdade implicaria que em todos os edifícios camarários se passasse a cobrar portagem aos munícipes aquando da transposição da entrada, numa salutar utilização do princípio de utilizador-pagador. Como passaria a fazer sentido o fecho do Terreiro do Paço - que não ficará atrás do Mosteiro da Batalha ou do Mosteiro dos Jerónimos na qualidade arquitectónica ou no número de visitantes - e a cobrança da passagem para pagamento das obras de reabilitação e manutenção.
O que fica a nú é, mais uma vez, a incapacidade dos responsáveis para inventar soluções criativas para a geração de receitas. O que se passa com as receitas da Olisipónia e do Periscópio? São poucas? Porquê? Quanto paga o restaurante pelo aluguer do espaço? Esses sim são espaços reservados onde é legítimo exigir um pagamento pelo valor acrescentado induzido. E não é obrigação da autarquia conservar os imóveis da qual é proprietária do mesmo modo que a lei exige aos proprietários particulares? Para onde vão então as receitas criadas? Se calhar para reabilitações de edifícios incógnitos pagas a preço de ouro ou em obras desajustadas em edifícios históricos como foi o caso do Museu do Fado ou do Palácio Pancas-Palha hoje alugado por alguns tostões a empresas de amigos...
Com esta recuperação de uma ideia enjeitada pelo próprio criador (o PCP) revela-se mais uma vez a fraca capacidade do PSD de pensar por si próprio os destinos da reabilitação urbana na cidade. Ou talvez neste caso não haja lugar para grandes admirações. A presidente do conselho de administração da EGEAC transitou do mesmo cargo que detinha da EBAHL. E tendo começado como acessora política do gabinete do vereador Vitor Costa (ainda militante do PCP na altura) é natural que não lhe desgoste ver agora aplicada uma medida para a génese da qual tanto contribuiu em 95.
O que começou como uma ideia de eficácia e agilização de processos - ninguém desconhece que os muitos constrangimentos que o Estado sofre no que respeita à contratação de pessoal, à realização de concursos, à "funcionarite" paralisante, à gestão de verbas são muito menores nas empresas públicas - rapidamente se transformou num saco fundo para onde foram atiradas muitas das realizações cuja rapidez impedia o calmo remanso dos processos municipais. A EBAHL foi responsável por algumas das coisas boas que ocorreram durante o consulado PC na Reabilitação Urbana - a gestão dos concursos dos projectos e empreitadas de renovação dos edifícios-âncora (Bernardas, Museu do Fado, por exemplo) -, por algumas coisas más - os gastos desnecessários com instalações, os ordenados de administradores e restantes colocados políticos - e por algumas coisas espúrias - os contratos a prazo feitos por encomenda da CML para contratar técnicos de que a autarquia tinha necessidade e os quais estava impossibilitada de contratar directamente.
Numa tentativa de alcançar a autonomia financeira, previu a criação de uma série de receitas que só poderiam advir da exploração dos espaços que estavam sob a sua gestão - e assim surgiu a bizarra ideia de cobrar a entrada aos visitantes do Castelo. Ideia bizarra porque esquecia a condição de espaço público do mesmo e a fortíssima relação de empatia que os lisboetas - e principalmente os que habitavam as freguesias vizinhas - com ele desde a renovação de 42 mantiveram. O Castelo era o jardim público da colina. Era um espaço aberto. Era um espaço de todos.
A contestação não tardou, começando pelo presidente da junta de freguesia - eleito pelo PC - que recusou liminarmente a hipótese dos seus eleitores pagarem bilhete. A ele se juntaram os presidentes das juntas limítrofes, também eles comunistas da velha guarda, pouco dispostos a aceitar tão (na sua óptica) absurdo imposto. Acredito que a polémica se tenha espalhado pelas opacas paredes de vidro do partido. E começaram as cedências. Primeiro aos moradores da junta do Castelo, depois aos habitantes dos bairros "populares". E a isenção prometida só não chegou a mais porque o vereador percebeu o ridículo da coisa e desistiu da ideia.
Vem agora a empresa sucessora da EBAHL retomar a ideia, justificando-a num comunicado emitido pelo seu Gabinete de Comunicação. Demagógico quanto baste, como parece ser necessário nos tempos correntes, compara o incomparável - os jardins do Castelo não são os jardins de Monserrate, este Castelo não é a Acrópole... - e justifica-se com os custos da reabilitação. O que, a aceitar-se como verdade implicaria que em todos os edifícios camarários se passasse a cobrar portagem aos munícipes aquando da transposição da entrada, numa salutar utilização do princípio de utilizador-pagador. Como passaria a fazer sentido o fecho do Terreiro do Paço - que não ficará atrás do Mosteiro da Batalha ou do Mosteiro dos Jerónimos na qualidade arquitectónica ou no número de visitantes - e a cobrança da passagem para pagamento das obras de reabilitação e manutenção.
O que fica a nú é, mais uma vez, a incapacidade dos responsáveis para inventar soluções criativas para a geração de receitas. O que se passa com as receitas da Olisipónia e do Periscópio? São poucas? Porquê? Quanto paga o restaurante pelo aluguer do espaço? Esses sim são espaços reservados onde é legítimo exigir um pagamento pelo valor acrescentado induzido. E não é obrigação da autarquia conservar os imóveis da qual é proprietária do mesmo modo que a lei exige aos proprietários particulares? Para onde vão então as receitas criadas? Se calhar para reabilitações de edifícios incógnitos pagas a preço de ouro ou em obras desajustadas em edifícios históricos como foi o caso do Museu do Fado ou do Palácio Pancas-Palha hoje alugado por alguns tostões a empresas de amigos...
Com esta recuperação de uma ideia enjeitada pelo próprio criador (o PCP) revela-se mais uma vez a fraca capacidade do PSD de pensar por si próprio os destinos da reabilitação urbana na cidade. Ou talvez neste caso não haja lugar para grandes admirações. A presidente do conselho de administração da EGEAC transitou do mesmo cargo que detinha da EBAHL. E tendo começado como acessora política do gabinete do vereador Vitor Costa (ainda militante do PCP na altura) é natural que não lhe desgoste ver agora aplicada uma medida para a génese da qual tanto contribuiu em 95.
outubro 12, 2004
MICHAEL PALIN NA 2:
Depois da sua participação na melhor troupe humorística televisiva de sempre até ao aparecimento de Jerry Seinfeld (que, a propósito, também está em re-exibição na SICRadical em vários dias da semana, a preparar-nos para a orgia de Novembro com o lançamento dos DVDs das 3 primeiras épocas) e em filmes de humor e sucesso vário, Michael Palin encetou uma outra carreira como viajante ao serviço da BBC.
Continuando a longa tradição anglo-saxónica de exploradores-escritores, Palin transformou-se no "explorador" televisivo por excelência, deixando a milhas a concorrência fraquinha cujos exemplos o canal People & Arts se entretém a mostrar. Bom, a casa-mãe produtora é a BBC que nem agora nestes tempos conturbados se permite produtos fora da legendária "qualidade BBC" - o que também ajuda. Mas Palin, para além de evidentemente muito bem preparado (briefed?) para o que vai encontrar, assume uma postura que, não sendo neutra nem perdendo o humor que sempre o acompanhou, é a de respeito pelo que vê e com quem interage.
Começou por seguir os passos de Phileas Fogg e apresentou "Around the World in 80 Days", continuou com "From Pole to Pole", a tentativa de ligar os dois polos pelo máximo percurso possível por via terrestre". Recentemente vi na 2: o "Sahara", o périplo pelo conhecido deserto. Hoje, apanhei por acaso o "Himalaya" e já não fiz mais nada. Descobri agora no site dele que já tinha perdido (ou a televisão esqueceu-se de mo apresentar, coisas da concorrência) mais umas quantas viagens: "Full Circle" e "Hemingway".
Para quem, como eu, colecciona tudo o que apanha de literatura de viagem - leiam por exemplo Theroux, leiam - claro! - Chatwin, leiam Rosa Mendes, por exemplo - ver estas "aventuras" é um divertimento.
Não haverá por aí um produtor interessado em financiar as minhas próprias viagens? Juro pela minha saúde que não se ia arrepender com o resultado final.
Continuando a longa tradição anglo-saxónica de exploradores-escritores, Palin transformou-se no "explorador" televisivo por excelência, deixando a milhas a concorrência fraquinha cujos exemplos o canal People & Arts se entretém a mostrar. Bom, a casa-mãe produtora é a BBC que nem agora nestes tempos conturbados se permite produtos fora da legendária "qualidade BBC" - o que também ajuda. Mas Palin, para além de evidentemente muito bem preparado (briefed?) para o que vai encontrar, assume uma postura que, não sendo neutra nem perdendo o humor que sempre o acompanhou, é a de respeito pelo que vê e com quem interage.
Começou por seguir os passos de Phileas Fogg e apresentou "Around the World in 80 Days", continuou com "From Pole to Pole", a tentativa de ligar os dois polos pelo máximo percurso possível por via terrestre". Recentemente vi na 2: o "Sahara", o périplo pelo conhecido deserto. Hoje, apanhei por acaso o "Himalaya" e já não fiz mais nada. Descobri agora no site dele que já tinha perdido (ou a televisão esqueceu-se de mo apresentar, coisas da concorrência) mais umas quantas viagens: "Full Circle" e "Hemingway".
Para quem, como eu, colecciona tudo o que apanha de literatura de viagem - leiam por exemplo Theroux, leiam - claro! - Chatwin, leiam Rosa Mendes, por exemplo - ver estas "aventuras" é um divertimento.
Não haverá por aí um produtor interessado em financiar as minhas próprias viagens? Juro pela minha saúde que não se ia arrepender com o resultado final.
NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO
Com estas coisas da política tenho andado mesmo distraído com o resto dos acontecimentos. Então houve um ajustamento do acordo ortográfico e ninguém comentou? Foi preciso a National Geographic do mês passado - um destacável onde se referia "começe agora as suas férias" - e agora o Instituto Fraco-Português no seu site - com a propaganda à "5ª Festa do Cinema Françês" - para me avisarem da mudança da regra do uso do çê çedilhado? Porra, pá, que amigos da onça voçês me saíram!!!
outubro 11, 2004
BOM POVO PORTUGUÊS!... (IV)
Se já não bastava a intervenção propagandística em si, o episódio do anúncio da escolha da RTP como o veículo da sua transmissão e a secreta cedência da cassete com o discurso às restantes estações televisivas é tão absurdo, tão canhestro, tão deplorável, tão IDIOTA, que consegue fazer esquecer o affaire Marcelo.
Para além de um Governo-propaganda temos um Governo-sabonete, com teasers, surpresas de última hora, acordos de exclusivos torpedeados e, novidade das novidades! a antecipação de uma comunicação de Estado - de ESTADO... - por um canal concorrente.
Se isto já é o grau zero do grau zero, até onde se conseguirá descer mais?
Para além de um Governo-propaganda temos um Governo-sabonete, com teasers, surpresas de última hora, acordos de exclusivos torpedeados e, novidade das novidades! a antecipação de uma comunicação de Estado - de ESTADO... - por um canal concorrente.
Se isto já é o grau zero do grau zero, até onde se conseguirá descer mais?
BOM POVO PORTUGUÊS!... (III)
(LUSA)
Gostam do quadro que está atrás de mim? Foi mandado fazer especialmente para estes tempos de antena. Já viram como o branco me realça a figura e lhe confere uma aura de Estado?BOM POVO PORTUGUÊS!... (II)
(LUSA)
"Mantemos o compromisso do Governo de observar o tecto de três por cento no que se refere ao défice, mas o respeito com esse compromisso não nos impedirá com equilibrio de baixar o IRS, de aumentar as pensões, subir os vencimentos de toda a função pública". Não sabemos como, mas isso agora também não interessa nada.BOM POVO PORTUGUÊS!... (I)
(LUSA)
Aproveito para anunciar a descida do IRS, o aumento dos salários da função pública e a demissão do senhor Ministro das Finanças.CICLONES
Em conversa hoje com um amigo manifestava-lhe a minha admiração pelo peso que a situação política e económica de Portugal está a ter no meu equilíbrio emocional. Parece estranho não é, alguém andar deprimido porque não vê solução para tanta incompetência, desleixo e egopatia. Mas eu estou assim, deprimido.
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (X) - OS INGLESINHOS
Recebi os mails e li os diversos posts em vários blogs sobre o condomínio fechado que se pretende fazer sobre as ruínas do Convento dos Inglesinhos no Bairro Alto. Estive alguns dias sem escrever nada, para ver se conseguia distinguir melhor as coisas depois de assentar a poeira levantada por toda esta agitação.
Num primeiro momento, senti-me tentado a endossar palavras de apoio aos manifestantes, a palavrar contra a destruição de mais uma memória, a incentivar os protestos. Isto porque, lá bem no fundo, sou um anarquista militante que defende que só a contestação permite a discussão e que é só a partir desta que é possível tornar visíveis os erros e perceptíveis as suas correcções. Nada pior do que as águas estagnadas para enquinar ainda mais o ambiente.
Aprendi, no entanto, que a cabeça fria nunca fez mal a ninguém (veja-se o caso notável da ascensão do ex-mini-ministro do ambiente de António Guterres a futuro primeiro-ministro de Portugal) e que muita da nossa paixão é vergonhosamente condicionada para servir de instrumento aos interesses particulares de terceiros, mais aptos para manipular do que nós próprios.
Ora neste caso dos Inglesinhos, esta necessidade de cabeça fria parece-me óbvia. O que é que se discute: a queda em ruína de um convento lisboeta? A "estranha" venda do património imobiliário de uma Instituição de Solidariedade Social tutelada pelo Estado a um grupo privado (terá havido concurso? terá sido a CML notificada da mesma?)? O não interesse da CML em exercer o direito de preferência (porquê, quando o faz perante S. Jorges, ou edifícios de habitação decadentes, ou ruínas que, a custo, se podem considerar reeregíveis?)? Não, não e não. À boa maneira portuguesa, discute-se a conclusão e não as premissas.
Contestar o quê, agora, quando não se apresentou em tempo a proposta de classificação do edifício (ou não se lutou por ela), quando não se apresentaram propostas de uso do edificado, quando não se protestou pelo abandono a que o convento foi votado pelos seus anteriores proprietários?
Por outro lado, todos os argumentos agora apresentados se parecem terrivelmente com as vetustas ideias da anterior coligação (que a actual não negou) de manutenção da composição social dos Bairros Históricos (o primeiro director municipal da reabilitação urbana resumiu-as numa frase célebre, repetida até à exaustão - "há que evitar a todo o custo a gentrificação dos Bairros!"), misturada com a bem portuguesa inveja do "sucesso" dos outros ("a gente não quer que venham pr'aqui os ricos darem cabo disto tudo com condomínios fechados", ouvi a manifestantes entrevistados pelas televisões). Porque é que um bairro histórico não pode ser interclassista, ao contrário do que é defendido para as zonas mais recentes da cidade (Olivais, Alto do Lumiar)? Que urbanismo de postal é este?
Quanto ao demonizado "condomínio fechado" não vejo onde está o mal - qual é o quarteirão do Bairro Alto que é aberto? Quantos moradores estariam dispostos a abrir os seus logradouros à fruição pública?
Não, defnitivamente não estou contra esta promoção do grupo Amorim. Estou contra a destruição do convento, porque acho que é sempre possível reinventar os edifícios - principalmente quando estes não são criminosa e propositadamente deixados ao abandono e à intervenção do tempo e dos agentes atmosféricos. Estou contra a CML porque prefere deitar dinheiro fora em reabilitações duvidosas e de retorno - financeiro e social - impossível a usar o direito de preferência que a lei lhe confere para evitar o desaparecimento de edifícios que se podem constituir como polos de renascimento de zonas da cidade. Estou contra este país que se preocupa mais com o fio dental de um novo-rico aspirante a vedeta do que com a qualidade de vida nas suas cidades. Estou contra aqueles que, tendo a cultura e o conhecimento necessário, despertam tarde e a más horas para o que os cerca, numa espécie de ressabiamento tolo perante a desenvoltura negocial dos outros. Estarei contra os tolos que se irão publicitar nas revistas sociais nos salões pagos a preço de ouro e que não valem mais do que lata. Mas não estou contra quem viu uma oportunidade de negócio e soube actuar, aproveitando a passividade de uns e a incompetência de outros.
E repito o que já comentei no Céu de Lisboa: antes um condomínio privado que uma ruína pública.
Num primeiro momento, senti-me tentado a endossar palavras de apoio aos manifestantes, a palavrar contra a destruição de mais uma memória, a incentivar os protestos. Isto porque, lá bem no fundo, sou um anarquista militante que defende que só a contestação permite a discussão e que é só a partir desta que é possível tornar visíveis os erros e perceptíveis as suas correcções. Nada pior do que as águas estagnadas para enquinar ainda mais o ambiente.
Aprendi, no entanto, que a cabeça fria nunca fez mal a ninguém (veja-se o caso notável da ascensão do ex-mini-ministro do ambiente de António Guterres a futuro primeiro-ministro de Portugal) e que muita da nossa paixão é vergonhosamente condicionada para servir de instrumento aos interesses particulares de terceiros, mais aptos para manipular do que nós próprios.
Ora neste caso dos Inglesinhos, esta necessidade de cabeça fria parece-me óbvia. O que é que se discute: a queda em ruína de um convento lisboeta? A "estranha" venda do património imobiliário de uma Instituição de Solidariedade Social tutelada pelo Estado a um grupo privado (terá havido concurso? terá sido a CML notificada da mesma?)? O não interesse da CML em exercer o direito de preferência (porquê, quando o faz perante S. Jorges, ou edifícios de habitação decadentes, ou ruínas que, a custo, se podem considerar reeregíveis?)? Não, não e não. À boa maneira portuguesa, discute-se a conclusão e não as premissas.
Contestar o quê, agora, quando não se apresentou em tempo a proposta de classificação do edifício (ou não se lutou por ela), quando não se apresentaram propostas de uso do edificado, quando não se protestou pelo abandono a que o convento foi votado pelos seus anteriores proprietários?
Por outro lado, todos os argumentos agora apresentados se parecem terrivelmente com as vetustas ideias da anterior coligação (que a actual não negou) de manutenção da composição social dos Bairros Históricos (o primeiro director municipal da reabilitação urbana resumiu-as numa frase célebre, repetida até à exaustão - "há que evitar a todo o custo a gentrificação dos Bairros!"), misturada com a bem portuguesa inveja do "sucesso" dos outros ("a gente não quer que venham pr'aqui os ricos darem cabo disto tudo com condomínios fechados", ouvi a manifestantes entrevistados pelas televisões). Porque é que um bairro histórico não pode ser interclassista, ao contrário do que é defendido para as zonas mais recentes da cidade (Olivais, Alto do Lumiar)? Que urbanismo de postal é este?
Quanto ao demonizado "condomínio fechado" não vejo onde está o mal - qual é o quarteirão do Bairro Alto que é aberto? Quantos moradores estariam dispostos a abrir os seus logradouros à fruição pública?
Não, defnitivamente não estou contra esta promoção do grupo Amorim. Estou contra a destruição do convento, porque acho que é sempre possível reinventar os edifícios - principalmente quando estes não são criminosa e propositadamente deixados ao abandono e à intervenção do tempo e dos agentes atmosféricos. Estou contra a CML porque prefere deitar dinheiro fora em reabilitações duvidosas e de retorno - financeiro e social - impossível a usar o direito de preferência que a lei lhe confere para evitar o desaparecimento de edifícios que se podem constituir como polos de renascimento de zonas da cidade. Estou contra este país que se preocupa mais com o fio dental de um novo-rico aspirante a vedeta do que com a qualidade de vida nas suas cidades. Estou contra aqueles que, tendo a cultura e o conhecimento necessário, despertam tarde e a más horas para o que os cerca, numa espécie de ressabiamento tolo perante a desenvoltura negocial dos outros. Estarei contra os tolos que se irão publicitar nas revistas sociais nos salões pagos a preço de ouro e que não valem mais do que lata. Mas não estou contra quem viu uma oportunidade de negócio e soube actuar, aproveitando a passividade de uns e a incompetência de outros.
E repito o que já comentei no Céu de Lisboa: antes um condomínio privado que uma ruína pública.
THREE MO' TENORS
Não sei se o DVD já foi editado por cá, pelo que fica por esclarecer se o que vou escrever a seguir é comprovável, mas lá vai de qualquer maneira.
Se os espectáculos dos 3 Tenores tiveram a graça da novidade no início, rapidamente se tornaram num exercício penoso de seguir pela monotonia com que se repetiam e com a progressiva e acentuada quebra de qualidade sonora que os três artistas começaram a exibir ( a idade não perdoa). Ora, em 2000, três tenores americanos resolveram unir-se num espectáculo que deixou a quilómetros o que, deste lado do Atlântico se tinha iniciado.
O espectáculo, gravado pela PBS é um notável exercício de versatilidade (só possível por aquelas paragens) e de amor a todos os tipos de música. Um enormíssimo espectáculo.
Fico sem palavras. É de ver e rever e (aplica-se muito bem aqui) chorar por mais.
Ler mais um pouco aqui , aqui (os comentários do compradores)
THIS SUSPENSE IS KILLING ME
Ainda faltam tantas horas para a comunicação ao país do Primeiro-ministro... Meu Deus, os minutos passam tão devagar... Que será tão importante que mereça um anúncio com três dias de antecedência e a a nulação de parte do programa a cumprir nos Açores - iremos enviar mais GNRs para o Iraque? Será criada uma força de paz para a Guiné-Bissau? O Governo descobriu que, afinal, o défice deste ano não ultrapassará os 2%?
Ouvi-lhe uma alusão à descida dos impostos, ao aumento dos funcionários públicos e à manutenção do controlo do défice, tudo em simultaneo - será que Bagão Felix descobriu como obrigar todos os contribuintes a pagar os seus impostos? Ou será que PSL, nas obras de remodelação da sua actual residência, descobriu uma câmara secreta cheia de barras de ouro que Salazar foi escondendo durante a sua vida?
Esta ansiedade... ò tempo, passa depressa!!!
Ouvi-lhe uma alusão à descida dos impostos, ao aumento dos funcionários públicos e à manutenção do controlo do défice, tudo em simultaneo - será que Bagão Felix descobriu como obrigar todos os contribuintes a pagar os seus impostos? Ou será que PSL, nas obras de remodelação da sua actual residência, descobriu uma câmara secreta cheia de barras de ouro que Salazar foi escondendo durante a sua vida?
Esta ansiedade... ò tempo, passa depressa!!!
outubro 09, 2004
outubro 08, 2004
O HOMEM DO LEME
Esta imagem é bem uma imagem deste tempo. À primeira vista, funciona perfeitamente como mais uma fotografia de propaganda governamental: o Primeiro-Ministro de Portugal em convívio entre os grandes do mundo (o que, não sendo a companhia que eu escolheria, é ainda assim uma companhia poderosa).
Quando lerem a legenda, verão no entanto que, a menos que seja esta mais uma peça da silenciada cabala do Professor Marcelo, o nosso Primeiro é, no contexto americano... enfim, leiam. A acreditar nas fontes, tanto foto quanto notícia corream mundo pela AP.
Quando lerem a legenda, verão no entanto que, a menos que seja esta mais uma peça da silenciada cabala do Professor Marcelo, o nosso Primeiro é, no contexto americano... enfim, leiam. A acreditar nas fontes, tanto foto quanto notícia corream mundo pela AP.
outubro 07, 2004
outubro 06, 2004
PAPEIS DISPERSOS - LISBOA ROMANA
(...)
Como era a Lisboa romana? Os variados cataclismos naturais que, ciclicamente , fustigaram a cidade e a contínua intervenção do homem, reconstruindo, adaptando, modificando, impediram a chegada até ao presente de registos claros que permitiriam uma leitura clara e segura da disposição do espaço. Os diversos achados que, maioritariamente nos dois últimos séculos, foram sendo efectuados, em conjugação com a organização clássica das cidades romanas permitem, no entanto, se não uma efectiva e pormenorizada reconstituição, a identificação de manchas de ocupação e de actividades, bem como o traçar de algumas das vias mais importantes.
As escavações efectuada no pátio do claustro da Sé na década passada conduziram à descoberta de uma via com características romanas, de dimensões tais que permitem afirmar ter sido uma via importante no contexto da cidade. A orientação nascente-poente e o conhecimento de uma importante via originada na cidade e conducente à estrada que ligava Olissipo a outras cidades da província, com orientação aproximada sul-norte, logo perpendicular a esta, e com um percurso que passaria pelas futuras portas do Ferro e do Sol [1] levam à possível conclusão que este seria o traçado do cardo e do decumano. A ser assim, o centro da Lisboa romana, ponto de cruzamento das duas vias, situar-se-ia provavelmente perto da actual localização da Sé, a meio caminho entre o topo da colina e o rio. Os templos de que as descobertas arqueológicas registam situam-se não muito afastados desta zona, o que realça a importância da mesma.
Como a benesse geográfica não deixa de apontar, seria esta a colina de ocupação primordial, acolhendo no seu seio, para além dos templos, um anfiteatro de traçado clássico, com as “bancadas” integradas na encosta, situado um pouco acima da actual Sé. Na sua base, situar-se-iam, de acordo com as descobertas efectuadas, as indústrias de salga de peixe e os sempre citados “banhos” (ou criptopórtico?) da rua Augusta.
Destes esparsos elementos, que leitura se poderá fazer? A nossa proposta é a de uma urbe que, respeitando as condicionantes locais, não esquece as regras urbanísticas do ocupante romano e as adapta: os eixos principais ortogonais, o teatro junto ao seu ponto de encontro, os templos distribuídos de acordo com as regras definidas para os deuses a quem eram dedicados, a indústria idealmente localizada, perto da matéria-prima e de vias de acesso e transporte e uma admirável clareza nas ligações entre os vários sectores.
Quanto a nós, no entanto, o que será mais marcante é a ligação ao rio que se delineia e que não se faz só do seu uso como via de transporte ou fornecedor de alimento mas, mais importante, que se constrói a partir da sua visualidade omnipresente face a uma cidade que se instala na encosta para ele virada. Essa presença – a magia de uma côr que se transmuta em consonância com a meteorologia, esse ritmo que um ondular quase imperceptível marca, essa atmosfera – transfere-se para o sentir dos lisboetas e marcará, ainda mais numa Alfama que será, pelo menos na sua parte baixa, moradia de pescadores e comerciantes, esse inevitável de uma cidade onde, em cada rua, no seu final ou na sucessão ritmada de cruzamentos, esperará sempre uma nesga de rio, um surpreendente azul, cinzento, esverdeado, pedaço de rio, enleante, maternal, acolhedor.
Como era a Lisboa romana? Os variados cataclismos naturais que, ciclicamente , fustigaram a cidade e a contínua intervenção do homem, reconstruindo, adaptando, modificando, impediram a chegada até ao presente de registos claros que permitiriam uma leitura clara e segura da disposição do espaço. Os diversos achados que, maioritariamente nos dois últimos séculos, foram sendo efectuados, em conjugação com a organização clássica das cidades romanas permitem, no entanto, se não uma efectiva e pormenorizada reconstituição, a identificação de manchas de ocupação e de actividades, bem como o traçar de algumas das vias mais importantes.
As escavações efectuada no pátio do claustro da Sé na década passada conduziram à descoberta de uma via com características romanas, de dimensões tais que permitem afirmar ter sido uma via importante no contexto da cidade. A orientação nascente-poente e o conhecimento de uma importante via originada na cidade e conducente à estrada que ligava Olissipo a outras cidades da província, com orientação aproximada sul-norte, logo perpendicular a esta, e com um percurso que passaria pelas futuras portas do Ferro e do Sol [1] levam à possível conclusão que este seria o traçado do cardo e do decumano. A ser assim, o centro da Lisboa romana, ponto de cruzamento das duas vias, situar-se-ia provavelmente perto da actual localização da Sé, a meio caminho entre o topo da colina e o rio. Os templos de que as descobertas arqueológicas registam situam-se não muito afastados desta zona, o que realça a importância da mesma.
Como a benesse geográfica não deixa de apontar, seria esta a colina de ocupação primordial, acolhendo no seu seio, para além dos templos, um anfiteatro de traçado clássico, com as “bancadas” integradas na encosta, situado um pouco acima da actual Sé. Na sua base, situar-se-iam, de acordo com as descobertas efectuadas, as indústrias de salga de peixe e os sempre citados “banhos” (ou criptopórtico?) da rua Augusta.
Destes esparsos elementos, que leitura se poderá fazer? A nossa proposta é a de uma urbe que, respeitando as condicionantes locais, não esquece as regras urbanísticas do ocupante romano e as adapta: os eixos principais ortogonais, o teatro junto ao seu ponto de encontro, os templos distribuídos de acordo com as regras definidas para os deuses a quem eram dedicados, a indústria idealmente localizada, perto da matéria-prima e de vias de acesso e transporte e uma admirável clareza nas ligações entre os vários sectores.
Quanto a nós, no entanto, o que será mais marcante é a ligação ao rio que se delineia e que não se faz só do seu uso como via de transporte ou fornecedor de alimento mas, mais importante, que se constrói a partir da sua visualidade omnipresente face a uma cidade que se instala na encosta para ele virada. Essa presença – a magia de uma côr que se transmuta em consonância com a meteorologia, esse ritmo que um ondular quase imperceptível marca, essa atmosfera – transfere-se para o sentir dos lisboetas e marcará, ainda mais numa Alfama que será, pelo menos na sua parte baixa, moradia de pescadores e comerciantes, esse inevitável de uma cidade onde, em cada rua, no seu final ou na sucessão ritmada de cruzamentos, esperará sempre uma nesga de rio, um surpreendente azul, cinzento, esverdeado, pedaço de rio, enleante, maternal, acolhedor.
outubro 05, 2004
QUEM???
A Capital anuncia em primeira página que o próximo secretário-geral do PCP será Jerónimo Sousa. "Morrer, mas morrer puros" parece ser o lema.
Bom, o Portugal político parece ganhar uma nova qualidade que é a dos secretários-gerais exóticos. Depois da errância de PSL, da plasticidade de Sócrates, do glamour de PP é agora a vez da pré-história de Sousa. Fica a faltar o BE. Mas esse já é exótico por si só.
Bom, o Portugal político parece ganhar uma nova qualidade que é a dos secretários-gerais exóticos. Depois da errância de PSL, da plasticidade de Sócrates, do glamour de PP é agora a vez da pré-história de Sousa. Fica a faltar o BE. Mas esse já é exótico por si só.
FALAR COM ELA
A maioria dos filmes deixa-me tranquilo, limitando-se a uma pequena impressão apreciativa ou depreciativa na minha memória. De tempos a tempos, uma chama refulge, e o prazer intenso que me provoca prolonga-se pelos tempos, requerendo uma segunda e uma terceira e mais uma e mais outra revisão.
Hoje, a 2: está a emitir o "Habla con Ella" e a satisfação é tão grande que me impele a escrevê-la enquanto o vejo. A cultura é isto, José. A arte é isto, José.
Hoje, a 2: está a emitir o "Habla con Ella" e a satisfação é tão grande que me impele a escrevê-la enquanto o vejo. A cultura é isto, José. A arte é isto, José.
Ó PORTUGAL!...
Eu até aceito que digam que o meu raciocínio é primário mas, para mim, é inevitável a analogia com o Portugal de hoje que me provoca o texto de Guerra Junqueiro que o nosso almocreve favorito publicou.
DIÁSPORA
Para nós portugueses, a quem foi vedado desde o século XVI o contacto com outras ortodoxias que não a cristã romana, gestos e procedimentos simples de outras culturas quando integrados num ambiente ocidental aparecem-nos como quase exóticos, completamente fora do contexto.
Trouxe esta mostarda de Paris há uns anos porque ela se tornou a materialização de uma prática que me parecia arcaica - a certificação segundo os cânones judaicos de toda a comida - (ainda por cima numa coisa tão "inofensiva" como a mostarda) e porque achei extraordinária a preocupação de uma empresa forçosamente laica (e francesa e ocidental) em agradar a uma pequena fatia do seu mercado. Descoberta suficiente para guardar (religiosamente!) a etiqueta como exemplo do que pode ser tanto uma estratégia comercial abrangente como um acto de respeito para com uma comunidade em minoria.
Trouxe esta mostarda de Paris há uns anos porque ela se tornou a materialização de uma prática que me parecia arcaica - a certificação segundo os cânones judaicos de toda a comida - (ainda por cima numa coisa tão "inofensiva" como a mostarda) e porque achei extraordinária a preocupação de uma empresa forçosamente laica (e francesa e ocidental) em agradar a uma pequena fatia do seu mercado. Descoberta suficiente para guardar (religiosamente!) a etiqueta como exemplo do que pode ser tanto uma estratégia comercial abrangente como um acto de respeito para com uma comunidade em minoria.
CORTO SALGADO
Haverá maneiras tão boas de acabar o dia quanto ler esta "Balada..." ao som de Eleni Karaindrou mas, de momento, não me lembro de nenhuma... Bons sonhos!
outubro 04, 2004
MOVIDA
Este Outono começa sob um aparente signo de mudança. Louvores aos consultores de imagem do PS por se vislumbrar uma inversão no sentimento generalizado de que Sócrates é mais do mesmo Santana. (Louve-se ainda Marcelo Rebelo de Sousa por se ir entretendo, no seu jogo de xadrez dominical, a pôr e dispôr todas as peças políticas deste país de acordo com a sua estratégia de aranha a longo prazo).
Ao contrário do que eu pensava e afirmara, o PS não derivou à esquerda, preferindo a cómoda vantagem do centro. Já se ouve, ao longe, o rumor do afiar das facas, os primeiros preparativos de disposição da baixela para o banquete que se avizinha num horizonte o mais tardar de dois anos. De facto, só um grande terremoto impedirá o partido de reconquistar Lisboa (e provavelmente o Porto), é cada vez mais provável (apesar de Cavaco e por causa de Lopes) a manutenção da Presidência da República e só S. Bento permanece - por enquanto... - uma incógnita.
Esta deriva ao centro - compensatória a curto prazo para muitos - tem o defeito de tornar o sistema ainda mais coxo, com uma alternância entre um bloco cada vez mais à direita e um centro - por força das circunstâncias - cada vez mais liberal. E das duas uma: ou PSD e CDS se fundem num novo partido assumidamente conservador (reerguendo de vez as bandeiras popular e liberal) ou o PSD acorda da sua deriva e se reposiciona ao centro, abandonando o parceiro de coligação (existe também a diminuta hipótese de uma revolução interna defenestrar Paulo Portas). Se a primeira hipótese acabaria com as minhas esperanças de voltar a ver o PSD a fazer jus ao nome, a segunda transformaria de vez as eleições num plebiscito de competências e não de ideologias. O que, dada a quase completa ausência delas que se encontra em todos os discursos que se vão ouvindo, até nem andaria longe da apetência dos nossos actores políticos.
Ao contrário do que eu pensava e afirmara, o PS não derivou à esquerda, preferindo a cómoda vantagem do centro. Já se ouve, ao longe, o rumor do afiar das facas, os primeiros preparativos de disposição da baixela para o banquete que se avizinha num horizonte o mais tardar de dois anos. De facto, só um grande terremoto impedirá o partido de reconquistar Lisboa (e provavelmente o Porto), é cada vez mais provável (apesar de Cavaco e por causa de Lopes) a manutenção da Presidência da República e só S. Bento permanece - por enquanto... - uma incógnita.
Esta deriva ao centro - compensatória a curto prazo para muitos - tem o defeito de tornar o sistema ainda mais coxo, com uma alternância entre um bloco cada vez mais à direita e um centro - por força das circunstâncias - cada vez mais liberal. E das duas uma: ou PSD e CDS se fundem num novo partido assumidamente conservador (reerguendo de vez as bandeiras popular e liberal) ou o PSD acorda da sua deriva e se reposiciona ao centro, abandonando o parceiro de coligação (existe também a diminuta hipótese de uma revolução interna defenestrar Paulo Portas). Se a primeira hipótese acabaria com as minhas esperanças de voltar a ver o PSD a fazer jus ao nome, a segunda transformaria de vez as eleições num plebiscito de competências e não de ideologias. O que, dada a quase completa ausência delas que se encontra em todos os discursos que se vão ouvindo, até nem andaria longe da apetência dos nossos actores políticos.
outubro 03, 2004
CINEMA
O DVD tem esta atracção fatal que nos faz mergulhar na compra obsessiva e na obsessiva revisão de tudo o que nos marcou, de tudo o que nos deveria ter marcado, de tudo o que marcou alguém e do qual a nós chegou testemunho.
Ao rever hoje o Trois coleurs: Blanc, voltou-me a constatação de como está muito mais perto de mim o cinema europeu - do que sou, do que sinto, do que penso - do que qualquer super filme americano por mais bem realizado, bem escrito, bem interpretado que seja. Quer queiramos quer não, há uma matriz que nos forma - que nos condiciona, se a quisermos ver assim - e da qual só escapamos se nos fizermos cegos, surdos e mudos para o mundo.
O Trois coleurs teve ainda a virtude de me relembrar um dos mais importantes compositores contemporâneos que a bondade do cinema permite ouvir com regularidade: Zbigniew Preisner. Ele e Eleni Karaindrou, europeus, nossos. E apesar de tudo o que também delicia os meus ouvidos e que vem do outro lado do Atlântico, nada chega tão longe como o que deles oiço. Que me emociona, que me comove, que me alegra. Que mexe comigo sempre.
PS - Pode-se escutar Preisner aqui
Ao rever hoje o Trois coleurs: Blanc, voltou-me a constatação de como está muito mais perto de mim o cinema europeu - do que sou, do que sinto, do que penso - do que qualquer super filme americano por mais bem realizado, bem escrito, bem interpretado que seja. Quer queiramos quer não, há uma matriz que nos forma - que nos condiciona, se a quisermos ver assim - e da qual só escapamos se nos fizermos cegos, surdos e mudos para o mundo.
O Trois coleurs teve ainda a virtude de me relembrar um dos mais importantes compositores contemporâneos que a bondade do cinema permite ouvir com regularidade: Zbigniew Preisner. Ele e Eleni Karaindrou, europeus, nossos. E apesar de tudo o que também delicia os meus ouvidos e que vem do outro lado do Atlântico, nada chega tão longe como o que deles oiço. Que me emociona, que me comove, que me alegra. Que mexe comigo sempre.
PS - Pode-se escutar Preisner aqui
outubro 01, 2004
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