agosto 10, 2004


A primeira vez que ouvi falar em "imbondeiro" foi na minha pré-adolescência: um mini-mercado abriu perto com esse nome. Era a época dos mini-mercados, uma audácia de modernidade face às mercearias no que respeitava à apresentação dos produtos, a mesma exiguidade de espaço, a mesma atenta vigilância do dono "retornado" (palavra entretanto votada ao ostracismo do politicamente correcto) com algum dinheiro preservado, e intacta a necessidade de comerciar. O "Imbondeiro" não durou muito tempo - foi-se na voragem dos anos oitenta, o dono talvez tenha perdido a vontade face à concorrência dos primeiros hipermercados ou se tenha simplesmente fartado dos horizontes limitados de Lisboa. Afinal, um imbondeiro precisa dos grandes espaços, do céu a perder de vista. Um imbondeiro é o centro, perdia-se num vão de prédio, entre stands de automóveis usados, lojas de roupa mal desenhada, populações envelhecidas.
Só voltei a ver imbondeiros na origem, em Angola. São gloriosos, imperiais, o seu bojo prenhe de água. Se o país tivesse visão, instituia-o como símbolo, largava a roda dentada e a catana e colocava-o na bandeira. O mais velho. O mais sábio.

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