agosto 30, 2004

COERÊNCIAS CRISTÃS

Se há coisa que sempre me apaixonou nos povos e na Igreja cristã foi a predominância do conceito de arrependimento sobre todos os outros valores. Quais tolerância, respeito pelos outros, amor ao próximo!
O que importa é que uma pessoa se arrependa, de preferância em profusão e amiúde.
E de preferência de um modo espectacular, o que implica, numa dependência directa, que o erro também o seja.
Veja-se o caso da Inquisição que andou mais de seiscentos anos a queimar tudo quanto era teoria alternativa - que magnificência de arrependimento gerou na Igreja do século XX!
Ou o caso mais actual das cruzadas contra o aborto, contra as mulheres e contra as clínicas - que se estendem da América profunda e rural aos portos da Europa comunitária onde um barco panfletário e provocador pretende atracar. Eles são impropérios, pedradas, manifestações violentas. Onde a palavra de compaixão e de solidariedade do Cristo, onde o amor pregado? No arrependimento futuro. É que não há nada como uma boa dúzia de avé-marias de penitência após um valente par de estalos numa maluca que insiste na arrogância de que uma mulher é livre para decidir tudo sobre si mesma.

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