setembro 21, 2005

LISBOA - AUTÁRQUICAS (II)

Uma das características mais óbvias dos candidatos politico-generalistas que aterram quase de improviso na área que se propõem tutelar sem passado reconhecido na mesma é a naturalidade com que, julgando afirmar verdades absolutas, debitam absolutos disparates.

Veja-se o caso de Carrilho e o ar absolutamente incisivo com que acusa o adversário de, com o túnel do Marquês (o tal que, de acordo com a planta a que recorreu para dele falar, começará nos limites da cidade) trazer mais automóveis para a cidade. (Sim, estou a imaginar a quantidade de automobilistas de fim-de-semana que pensarão após a sua inauguração, "Túnel? Marquês? Passar a levar o meu carro? É que é já a seguir!...")

O erro do túnel não é esse. O pecado original dos seus promotores foi o de, pretendendo descongestionar a zona das Amoreiras, não terem percebido que apenas estariam a mudar o engarrafamento de sítio. E, mais grave, continuarem na bem portuguesa tradição de correr atrás dos problemas com o balde das soluções pontuais na mão, ao invés de procurar intervir ao nível das causas que os originam.

O túnel é desnecessário porque não resolve nada. Porque cria problemas adicionais (a potenciação do risco e da pericolosidade de acidentes pela "interiorização" da pendente da avenida Joaquim António de Aguiar, a excessiva proximidade com o túnel do Metro). E porque, principalmente, não dá um sinal claro da vontade anunciada da Câmara em reduzir as entradas de veículos particulares na cidade (sinal claro seria, por exemplo, construir silos automóveis dissuasores com um número razoável de lugares - que não os parques "de brincar" construídos em Odivelas e no Senhor Roubado - junto de estações de Metro ou de comboio, utilizando as verbas orçamentadas para o túnel).

O que, podendo não parecer ser muito diferente na forma do spin propalado por Carrilho faz toda a diferença em termos de rigor. Rigor que, para um candidato que se pretende sério e - culto! - faz toda a diferença.

Repetindo frases sussurradas por assessores pouco inspirados, Carrilho aparece como mais um desses "papagaios" que tão na moda têm estado nas manchetes jornalísticas.

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