Eu sei que essa coisa dos costumes se castiga muito melhor a rir, mas há afirmações e actos públicos que, por mais hilariantes que possam ser, se tornam sérios pela gravidade das suas implicações.
Com que então, senhor Engenheiro CIVIL Carmona Rodrigues, "já não se levam a concurso obras com o projecto de execução elaborado"... Hum. Ou a minha ilusão cibernética se tornou de tal maneira real que eu vivo mesmo noutro planeta, ou este senhor estaria preso por incumprimento fiscal caso a asneira pagasse imposto.
Saberá do que está a falar? (Incidentalmente e para os não-iniciados: é na fase de projecto de execução - a tal 5ª fase que o presidente-em-exercício tenta desvalorizar... - que se definem coisas tão "desnecessárias" para o lançamento de um concurso público como a pormenorização de todas as peças e pormenores construtivos, o caderno de encargos que inclui as condições técnicas que devem presidir à elaboração da obra e - last but not at all least! - as medições das quantidades de trabalho e a previsão orçamental da mesma! Imagine-se, pôr-se a concurso uma obra pedindo-se preços para algo que não está totalmente definido! Se calhar faz-se isso, faz-se... nesse tal planeta que não é o meu...) Ou será que a obra do túnel do Marquês foi lançada por preço global e por concepção/construção, tendo-se estado estes anos todos a discutir/embargar/defender uma coisa que ainda não estava definida, assim a modos de ser? De qualquer dos modos, Carmona confunde duas coisas: a definição da solução (apanágio do projecto) com a definição do processo construtivo para a realizar (que é usualmente determinada e apresentada pelo construtor). Apresentar a segunda como explicação para a inexistência da primeira é atabalhoado e demonstra impreparação técnica para além de uma clara intenção de confundir quem pergunta e quem acusa (sendo bem sucedido neste último ponto: nem Carrilho nem os jornalistas detectaram o logro).
De facto em país provinciano governado por juristas que somos, quem tem um semi-olho técnico é rei: basta-lhe usar meia dúzia de palavras estranhas e apresentar um canudo da área para, de espinhela dobrada, abrirmos alas ao "especialista" que se apresenta.
É grave, senhor Carmona. É triste, senhor Carmona.
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