abril 11, 2005

POLCO DOCE

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É inevitável sentir-me uma personagem de Lobo Antunes quando janto sózinho num restaurante chinês. Ao inerente carácter sorumbático do facto por si mesmo (jantar sem companhia realça toda a solidão - real ou imaginária - do nosso mundo), junta-se a uniformidade melancólica que qualquer destes restaurantes traz inscrita. Uma uniformidade deprimente (como funcionará a cabeça do autor da decoração?) que ainda assusta mais quando se pensa que à China caberá o papel de superpotência dominante num futuro próximo.
Tudo piora se ao restaurante escolhido faltar a presença de comensais. Já experienciaram um restaurante vazio de clientes mas cheio de empregados inexpressivos em português e a numerosa família dos donos excitadíssima em cantonês? É a inversão do estado de turista-curiosidade em terras exóticas: somos estranhos na nossa própria casa. Há algo mais deprimente do que entrarmos na nossa sala e não percebermos sequer o tema da conversa?
E como o vazio é um estado que tem sempre a possibilidade de ser aprofundado, imagine-se a excitada família posicionada em torno de um aparelho de televisão onde passam karaokês devidamente legendados na língua original. Lobo Antunes torna-se insuficiente. Mesmo as fantasias eróticas com as empregadas orientais, que me assaltam quase sempre nestas ocasiões não conseguem ser tão surrealistas.

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