abril 11, 2005

A CML E A REABILITAÇÃO URBANA XIV - FARDAS

Não há português que consiga resistir ao ilusório poder que lhe confere uma posição oficial. Uma farda, seja ela real ou metafórica. Um exemplo flagrante encontra-se nos técnicos camarários incumbidos de analisar os processos de licenciamento. A esmagadora maioria das vezes entrados na Câmara como recém-licenciados, sem experiência de projecto ou de obra, sem "calo" profissional, transformam-se rapidamente em amanuenses limitados pela interpretação pessoal da Regulamentação em vigor, pelos hábitos que lhe são transmitidos pela estrutura camarária e pela sua posição subjectiva perante este ou aquele requerente, este ou aquele projectista. Mas a farda está vestida e a sua autoridade sentem-na, mais que inquestionável, absolutamente verdadeira.
Até há poucos anos apenas tinha conhecimento - todos nós temos conhecimento desta ou daquela história - da aplicação deste princípio de "magister dixit" aos técnicos camarários encarregues de analisar a sua própria especialidade: arquitectos a criticarem subjectivamente a arquitectura dos seus colegas, engenheiros a espiolharem pormenores à procura de faltas insignificantes para a leitura de projecto, trivialidades irritantes e descabidas mas legalmente apoiáveis (ainda que contestáveis). Nos últimos tempos, porém, os sinais de que, também neste ponto, os serviços parecem ter "tomado o freio nos dentes" multiplicam-se. Comecei por ver um parecer de um arquitecto a contestar uma solução estrutural. Estranhei, mas como a quantidade de ignorantes que falam sobre arquitectura é cada vez maior, pensei que se tratava de um acto falhado de retaliação. Até que, no mês passado me chegou às mãos um parecer assinado por uma assessora da Vereadora onde se lê, preto no branco, que um tipo de estrutura proposta numa obra nova não é de aprovar porque é totalmente desaconselhável num bairro histórico.
Wrong, oh so very wrong... A assessora é jurista. Ai sapateiro porque queres tocar rabecão...

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