abril 29, 2005
COMEÇOS
Este é a melhor época do ano para mim.
Quando o frio já é só um futuro longínquo.
Quando as coisas ainda estão para acontecer e apenas começaram.
Quando cheira a terra molhada se chove.
Quando as tardes levam uma imensidão a acabar.
Quando os parques se enchem de inadaptados e a relva é um convite.
A sombra das raparigas em flôr.
Sim, é um bom título.
abril 27, 2005
GANÍDEO
Simplesmente assado (se é que à arte de bem assar se pode chamar simples) com profuso azeite extra-virgem (dispensava a cebola mas aceitava de bom grado um aumento do alho picado sobre ele distribuído), acompanhado por batatas igualmente assadas, temperadas com flôr de sal.
Se o Paraíso existir, que me ofereçam iguarias destas por toda a eternidade.
[Degustado no restaurante "Peixão", onde experimentei a posta de ganídeo mais alta que me passou pelo prato nas últimas décadas]
abril 26, 2005
abril 25, 2005
abril 24, 2005
EMOÇÃO - ESTORIL-BENFICA (NO ALGARVE)
00:11 O Benfica perde em casa com o Estoril
.....
00:30 "frize! deixem jogar o Mantorras!"
.....
00:45 A equipa da casa continua a perder
.....
00:75 Empate. O estádio da Praia da Luz rejubila
.....
00.:79 Se não dá pra ganhar contra 11, joga-se contra 10
.....
00:83 Voilá. 2-1. Os adeptos, os jornalistas - o país! - rejubilam
.....
00:94 Acabem lá com o sofrimento do Estoril. Já basta terem-lhes dito que jogavam em casa e terem de aturar 30 mil caseiros a puxar pelo adversário
.....
00:95 Pronto. Agora vão ser três horas de fila na 2ª circular
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00:30 "frize! deixem jogar o Mantorras!"
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00:45 A equipa da casa continua a perder
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00:75 Empate. O estádio da Praia da Luz rejubila
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00.:79 Se não dá pra ganhar contra 11, joga-se contra 10
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00:83 Voilá. 2-1. Os adeptos, os jornalistas - o país! - rejubilam
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00:94 Acabem lá com o sofrimento do Estoril. Já basta terem-lhes dito que jogavam em casa e terem de aturar 30 mil caseiros a puxar pelo adversário
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00:95 Pronto. Agora vão ser três horas de fila na 2ª circular
abril 22, 2005
PROTESTOS GENERALIZADOS
M. protesta pela afixação nestas páginas de mais um fotografia de pataniscas. Lamento imenso, mas é-me impossível resistir.
HISTÓRIA EXEMPLAR
Mais do que a pouca produtividade dos trabalhadores portugueses, a grande via crucis dos negócios em Portugal é o lento caminho que se tem de percorrer para a obtenção do aval do Estado.
Tenho vindo a acompanhar uma história que, de tão heróica já se transformou em saga e que ilustra bem o quão difícil e acidentado é este percurso.
Em 2000, um homem de negócios teve a ideia de criar um hotel num concelho não muito afastado de Lisboa, aproveitando o excelente parque desportivo existente e a proximidade de um Parque Natural. O negócio após a análise do estudo de viabilidade económica parecia excelente, tanto mais que a realização do EURO2004 prometia uma previsível utilização por parte de uma das selecções intervenientes, garantindo-se assim o desafogo financeiro logo no início da exploração.
Garantida a viabilidade, o passo seguinte foi o da escolha do terreno, tendo o promotor tido o cuidado de ouvir as autoridades locais envolvidas (autarquia, direcção do Parque Natural) de modo a eliminar a hipótese de adquirir um terreno com limitações de construção, de uso, ou de outra das muitas coisas que costumam emperrar a engrenagem de um negócio em Portugal. O terreno foi adquirido com garantias de todos de que o licenciamento seria pouco mais que um pro-forma.
O projecto de arquitectura teve um trajecto fácil, tendo sido aprovado pela Câmara nos prazos normais.
Até que... alguém com poder para isso, exigiu um Estudo de Impacto Ambiental que, não estando previsto por lei para o caso presente, "poderia vir a estar".
...............................................................
Três anos depois, o Estudo foi aprovado. Três anos depois. Após a audição de 37 entidades, entre as quais a Associação Nacional de Municípios, a Associação Nacional de Juntas de Freguesia, o conselho Científico do Instituto Superior Técnico, a Ordem dos Biólogos, a Ordem dos Engenheiros, a Associação Nacional de Bombeiros, a Liga para a Protecção da Natureza, uma associação de caçadores ( tudo entidades com um interesse manifesto em opinar sobre um hotel a ser construído nos arrabaldes de Lisboa!)... Três anos depois e três meses depois da conclusão do evento que supostamente asseguraria um bom arranque financeiro ao empreendimento.
Mas o que é ridículo não é isto - até agora a história é apenas deprimente.
Ridículo é, após estes anos de auscultações, pareceres e decisões, vir agora a direcção do Parque Natural impedir o alargamento do caminho de acesso ao terreno - o qual actualmente é de terra batida e tem uma largura inferior a 2 metros - porque não lhe parece bem.
Três anos e meio depois de ter indicado o mesmo terreno como ideal para a implantação de um hotel, dois anos depois de ter elaborado um parecer em que afirma não ver inconveniente à construção do mesmo.
Não lhe perguntaram se via inconveniente na construção de uma estrada de 600 metros de acesso ao mesmo, pois não... mas custava muito avisar que do seu ponto de vista, hoteis e parque naturais são entidades que se querem em concelhos diferentes?
Tenho vindo a acompanhar uma história que, de tão heróica já se transformou em saga e que ilustra bem o quão difícil e acidentado é este percurso.
Em 2000, um homem de negócios teve a ideia de criar um hotel num concelho não muito afastado de Lisboa, aproveitando o excelente parque desportivo existente e a proximidade de um Parque Natural. O negócio após a análise do estudo de viabilidade económica parecia excelente, tanto mais que a realização do EURO2004 prometia uma previsível utilização por parte de uma das selecções intervenientes, garantindo-se assim o desafogo financeiro logo no início da exploração.
Garantida a viabilidade, o passo seguinte foi o da escolha do terreno, tendo o promotor tido o cuidado de ouvir as autoridades locais envolvidas (autarquia, direcção do Parque Natural) de modo a eliminar a hipótese de adquirir um terreno com limitações de construção, de uso, ou de outra das muitas coisas que costumam emperrar a engrenagem de um negócio em Portugal. O terreno foi adquirido com garantias de todos de que o licenciamento seria pouco mais que um pro-forma.
O projecto de arquitectura teve um trajecto fácil, tendo sido aprovado pela Câmara nos prazos normais.
Até que... alguém com poder para isso, exigiu um Estudo de Impacto Ambiental que, não estando previsto por lei para o caso presente, "poderia vir a estar".
...............................................................
Três anos depois, o Estudo foi aprovado. Três anos depois. Após a audição de 37 entidades, entre as quais a Associação Nacional de Municípios, a Associação Nacional de Juntas de Freguesia, o conselho Científico do Instituto Superior Técnico, a Ordem dos Biólogos, a Ordem dos Engenheiros, a Associação Nacional de Bombeiros, a Liga para a Protecção da Natureza, uma associação de caçadores ( tudo entidades com um interesse manifesto em opinar sobre um hotel a ser construído nos arrabaldes de Lisboa!)... Três anos depois e três meses depois da conclusão do evento que supostamente asseguraria um bom arranque financeiro ao empreendimento.
Mas o que é ridículo não é isto - até agora a história é apenas deprimente.
Ridículo é, após estes anos de auscultações, pareceres e decisões, vir agora a direcção do Parque Natural impedir o alargamento do caminho de acesso ao terreno - o qual actualmente é de terra batida e tem uma largura inferior a 2 metros - porque não lhe parece bem.
Três anos e meio depois de ter indicado o mesmo terreno como ideal para a implantação de um hotel, dois anos depois de ter elaborado um parecer em que afirma não ver inconveniente à construção do mesmo.
Não lhe perguntaram se via inconveniente na construção de uma estrada de 600 metros de acesso ao mesmo, pois não... mas custava muito avisar que do seu ponto de vista, hoteis e parque naturais são entidades que se querem em concelhos diferentes?
BOAS NOTÍCIAS - BIS
Os vereadores PSD da Câmara de Lisboa deslocaram-se à sede do partido para pedir (ou ouvir) explicações acerca do afastamento de Pedro Santana Lopes.
Ora aqui está uma boa oportunidade para se solidarizarem com o futuro ex-chefe, recusando qualquer hipótese de inclusão nas listas candidatas às próximas eleições.
Ora aqui está uma boa oportunidade para se solidarizarem com o futuro ex-chefe, recusando qualquer hipótese de inclusão nas listas candidatas às próximas eleições.
BOAS NOTÍCIAS
O presidente do PSD anunciou que o candidato do partido à Câmara de lIsboa será o Prof. Carmona Rodrigues.
Isaltino Morais não será o candidato do PSD à Câmara de Oeiras.
Marques Mendes começa muito bem: a tralha barroso-santanista começa a ser varrida (esperemos que não seja só para debaixo do tapete).
Isaltino Morais não será o candidato do PSD à Câmara de Oeiras.
Marques Mendes começa muito bem: a tralha barroso-santanista começa a ser varrida (esperemos que não seja só para debaixo do tapete).
abril 20, 2005
A INQUISIÇÃO NO PODER (IX)
O que levará um cardeal a escolher o nome de Bento/Bendito/Abençoado? Um subsconsciente desejo de confirmar que a sua nomeação foi um acto de Espírito Santo para além de uma vitória de secretaria longamente preparada nos corredores do Vaticano e com o acordo do seu antecessor?
A INQUISIÇÃO NO PODER (VIII)
"Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada."
Frei Betto in "Dez conselhos para os militantes de esquerda"
Hum. Imagino um homem do aparelho a ler isto.
Frei Betto in "Dez conselhos para os militantes de esquerda"
Hum. Imagino um homem do aparelho a ler isto.
A INQUISIÇÃO NO PODER (VII)
"Quem subverte o Concílio: L. Boff ou o Card. J.Ratzinger?" texto interessante de Leonardo Boff e que dá um pequeno exemplo das posições que o nóvel Papa tomou em relação à posição da Igreja no mundo
A INQUISIÇÃO NO PODER (VI)
Ouvir dizer, como diz a esmagadora maioria dos jornalistas e comentadores, que Ratzinger será um Papa de transição, é angustiante - transição para quê, se o cardeal era a face visível do lado mais conservador de João Paulo II?
Se a lógica euclidiana é aplicável neste caso, ela ensina que não se avança com um recuo.
Se a lógica euclidiana é aplicável neste caso, ela ensina que não se avança com um recuo.
A INQUISIÇÃO NO PODER (V)
Clérigos-comentadores tentam apaziguar lembrando João XXIII - também nessa altura as pessoas se sentiram desiludidas perante o anúncio de um novo Papa que não se parecia em nada com o seu antecessor, Pio XII, e o seu pontificado foi uma gratíssima surpresa.
Esquecem-se de acrescentar que o cardeal de Veneza era uma figura querida da sua cidade, sem o passado de intolerância nem a autoria de algumas das mais conservadoras posições da Igraja nas últimas décadas.
Ratzinger, como Bento XVI, pode renascer das cinzas e voltar aos seus tempos iniciais de Bispo de Munique, mas quem acredita verdadeiramente nisso quando a sua primeira decisão é a escolha simbólica de um nome que evoca um Papa notabilizado pelo seu combate às "heresias" do seu tempo?
Esquecem-se de acrescentar que o cardeal de Veneza era uma figura querida da sua cidade, sem o passado de intolerância nem a autoria de algumas das mais conservadoras posições da Igraja nas últimas décadas.
Ratzinger, como Bento XVI, pode renascer das cinzas e voltar aos seus tempos iniciais de Bispo de Munique, mas quem acredita verdadeiramente nisso quando a sua primeira decisão é a escolha simbólica de um nome que evoca um Papa notabilizado pelo seu combate às "heresias" do seu tempo?
A INQUISIÇÃO NO PODER (IV)
Leonardo Boff à TSF: "Ratzinger é a direita da direita na Igreja"
Buhs! dessa mesma direita - Opus Dei, Comunhão e Libertação - que viu reconfirmado o seu poder com esta eleição
Buhs! dessa mesma direita - Opus Dei, Comunhão e Libertação - que viu reconfirmado o seu poder com esta eleição
A INQUISIÇÃO NO PODER (II)
Ver o cardeal Ratzinger envergar as vestes papais e lembrar-me de todos os teólogos e sacerdotes obrigados ao silêncio sob pena de excomunhão pela Congregação para a Doutrina da Fé presidida pelo homem que agora se tornou infalível. Homens puros de coração e com uma fé pelo menos tão grande como a dos seus inquisidores.
Pensar que "Congregação para a Doutrina da Fé" é um nome novo para uma Inquisição velha de séculos e de intransigência.
Saber que o poder secular da Igreja se construiu sobre os muitos cadáveres sacrificados à pureza de uma ideologia que, nesse ponto, se afastou diametralmente do espírito de perdão, tolerância e compreensão pregado por Cristo.
Nuvens negras no fumo branco da Capela Sistina.
Pensar que "Congregação para a Doutrina da Fé" é um nome novo para uma Inquisição velha de séculos e de intransigência.
Saber que o poder secular da Igreja se construiu sobre os muitos cadáveres sacrificados à pureza de uma ideologia que, nesse ponto, se afastou diametralmente do espírito de perdão, tolerância e compreensão pregado por Cristo.
Nuvens negras no fumo branco da Capela Sistina.
A INQUISIÇÃO NO PODER (I)
Ainda tive um momento de esperança quando ouvi, via rádio, a voz do cardeal anunciar, após o "Habemus Papam!", "Domenicus Joseph..." - "é José, é José, pode ser português...!", para logo a seguir, em anti-climax, ouvir "... Ratzinger!"
Para além de ter sido a crónica de uma morte anunciada - a morte da esperança na renovação, numa surpresa de última hora que trouxesse a possibilidade de um Papa que continuasse a abertura da Igreja ao mundo e que invertesse o caminho de intransigência intra-muros aprofundado (ou continuado) por João Paulo II (afinal há Papabili que saiem Papas) - foi a confirmação de um Poder que me afasta (afastará?) se não definitivamente, pelo menos nos anos mais próximos, de uma casa que me considera - uma vez que não estou com ela - contra ela (e eis uma visão cristã que está nos antípodas da que eu defendo).
Para além de ter sido a crónica de uma morte anunciada - a morte da esperança na renovação, numa surpresa de última hora que trouxesse a possibilidade de um Papa que continuasse a abertura da Igreja ao mundo e que invertesse o caminho de intransigência intra-muros aprofundado (ou continuado) por João Paulo II (afinal há Papabili que saiem Papas) - foi a confirmação de um Poder que me afasta (afastará?) se não definitivamente, pelo menos nos anos mais próximos, de uma casa que me considera - uma vez que não estou com ela - contra ela (e eis uma visão cristã que está nos antípodas da que eu defendo).
abril 19, 2005
DESCOBERTAS
Depois de anos a ouvir os ministros da tutela dizer que não havia necessidade de aumentar o número de faculdades de medicina eis que o ministro da Saúde anuncia um plano de acolhimento de médicos de outros países para fazer face à falta de profissionais portugueses.
Pois.
Pois.
abril 15, 2005
CULINÁRIA LISBOETA
Os tempos vão maus, sabe... Os escritórios têm vindo a fechar, as pessoas estão cada vez mais velhas e com menos poder de compra... Ainda outro dia estive a arrumar uns papeis e vi preços de serviços em 98 mais caros do que levamos agora. Os restaurantes da moda também não ajudam. O que vale é que continuamos a poder orgulharmo-nos da nossa cozinha - quantas casas em Lisboa se podem gabar do mesmo número de prémios que nós conquistámos?
CONCURSOS
Os concursos para o preenchimento dos cargos intermédios de chefia da Função Pública não passam de poeira para os olhos dos distraídos. Continuarão a ser escolhidos os desejados, quer através da adequação dos termos do concurso ao candidato preferido quer através de nomeações temporárias enquanto decorrem os prazos de análise das reclamações, contestações, impugnações...
PERSPECTIVAS
José Shocras à RTP: "Não queremos um julgamento sobre o passado".
Não. Querem uma desculpa para o futuro.
Não. Querem uma desculpa para o futuro.
abril 14, 2005
abril 13, 2005
abril 11, 2005
POLCO DOCE
É inevitável sentir-me uma personagem de Lobo Antunes quando janto sózinho num restaurante chinês. Ao inerente carácter sorumbático do facto por si mesmo (jantar sem companhia realça toda a solidão - real ou imaginária - do nosso mundo), junta-se a uniformidade melancólica que qualquer destes restaurantes traz inscrita. Uma uniformidade deprimente (como funcionará a cabeça do autor da decoração?) que ainda assusta mais quando se pensa que à China caberá o papel de superpotência dominante num futuro próximo.
Tudo piora se ao restaurante escolhido faltar a presença de comensais. Já experienciaram um restaurante vazio de clientes mas cheio de empregados inexpressivos em português e a numerosa família dos donos excitadíssima em cantonês? É a inversão do estado de turista-curiosidade em terras exóticas: somos estranhos na nossa própria casa. Há algo mais deprimente do que entrarmos na nossa sala e não percebermos sequer o tema da conversa?
E como o vazio é um estado que tem sempre a possibilidade de ser aprofundado, imagine-se a excitada família posicionada em torno de um aparelho de televisão onde passam karaokês devidamente legendados na língua original. Lobo Antunes torna-se insuficiente. Mesmo as fantasias eróticas com as empregadas orientais, que me assaltam quase sempre nestas ocasiões não conseguem ser tão surrealistas.
Tudo piora se ao restaurante escolhido faltar a presença de comensais. Já experienciaram um restaurante vazio de clientes mas cheio de empregados inexpressivos em português e a numerosa família dos donos excitadíssima em cantonês? É a inversão do estado de turista-curiosidade em terras exóticas: somos estranhos na nossa própria casa. Há algo mais deprimente do que entrarmos na nossa sala e não percebermos sequer o tema da conversa?
E como o vazio é um estado que tem sempre a possibilidade de ser aprofundado, imagine-se a excitada família posicionada em torno de um aparelho de televisão onde passam karaokês devidamente legendados na língua original. Lobo Antunes torna-se insuficiente. Mesmo as fantasias eróticas com as empregadas orientais, que me assaltam quase sempre nestas ocasiões não conseguem ser tão surrealistas.
A CML E A REABILITAÇÃO URBANA XIV - FARDAS
Não há português que consiga resistir ao ilusório poder que lhe confere uma posição oficial. Uma farda, seja ela real ou metafórica. Um exemplo flagrante encontra-se nos técnicos camarários incumbidos de analisar os processos de licenciamento. A esmagadora maioria das vezes entrados na Câmara como recém-licenciados, sem experiência de projecto ou de obra, sem "calo" profissional, transformam-se rapidamente em amanuenses limitados pela interpretação pessoal da Regulamentação em vigor, pelos hábitos que lhe são transmitidos pela estrutura camarária e pela sua posição subjectiva perante este ou aquele requerente, este ou aquele projectista. Mas a farda está vestida e a sua autoridade sentem-na, mais que inquestionável, absolutamente verdadeira.
Até há poucos anos apenas tinha conhecimento - todos nós temos conhecimento desta ou daquela história - da aplicação deste princípio de "magister dixit" aos técnicos camarários encarregues de analisar a sua própria especialidade: arquitectos a criticarem subjectivamente a arquitectura dos seus colegas, engenheiros a espiolharem pormenores à procura de faltas insignificantes para a leitura de projecto, trivialidades irritantes e descabidas mas legalmente apoiáveis (ainda que contestáveis). Nos últimos tempos, porém, os sinais de que, também neste ponto, os serviços parecem ter "tomado o freio nos dentes" multiplicam-se. Comecei por ver um parecer de um arquitecto a contestar uma solução estrutural. Estranhei, mas como a quantidade de ignorantes que falam sobre arquitectura é cada vez maior, pensei que se tratava de um acto falhado de retaliação. Até que, no mês passado me chegou às mãos um parecer assinado por uma assessora da Vereadora onde se lê, preto no branco, que um tipo de estrutura proposta numa obra nova não é de aprovar porque é totalmente desaconselhável num bairro histórico.
Wrong, oh so very wrong... A assessora é jurista. Ai sapateiro porque queres tocar rabecão...
Até há poucos anos apenas tinha conhecimento - todos nós temos conhecimento desta ou daquela história - da aplicação deste princípio de "magister dixit" aos técnicos camarários encarregues de analisar a sua própria especialidade: arquitectos a criticarem subjectivamente a arquitectura dos seus colegas, engenheiros a espiolharem pormenores à procura de faltas insignificantes para a leitura de projecto, trivialidades irritantes e descabidas mas legalmente apoiáveis (ainda que contestáveis). Nos últimos tempos, porém, os sinais de que, também neste ponto, os serviços parecem ter "tomado o freio nos dentes" multiplicam-se. Comecei por ver um parecer de um arquitecto a contestar uma solução estrutural. Estranhei, mas como a quantidade de ignorantes que falam sobre arquitectura é cada vez maior, pensei que se tratava de um acto falhado de retaliação. Até que, no mês passado me chegou às mãos um parecer assinado por uma assessora da Vereadora onde se lê, preto no branco, que um tipo de estrutura proposta numa obra nova não é de aprovar porque é totalmente desaconselhável num bairro histórico.
Wrong, oh so very wrong... A assessora é jurista. Ai sapateiro porque queres tocar rabecão...
abril 08, 2005
JP II
Expressão da popularidade de um Papa que se soube dar ao mundo, os milhões de fieis que compareceram às suas exéquias assistiram a mais um acto da crescente abertura da Igreja Católica Romana a outras Igrejas, com a celebração dos rituais de encomendamento do defunto segundo os ritos das Igrejas Orientais. Derradeiro acto de um pontificado muito marcado pelos gestos - sinceros - de aproximação ao "outro", espero vê-lo continuado noa acção do seu sucessor.
Por momentos, tive a ilusão de que tanta gente de tanta cultura diferente reunida num mesmo espaço para a homenagem a um homem Bom (criticável em alguns aspectos mas intrinsecamente um homem bom)poderia lançar as bases para uma nova era de fraternidade universal.
Por momentos, tive a ilusão de que tanta gente de tanta cultura diferente reunida num mesmo espaço para a homenagem a um homem Bom (criticável em alguns aspectos mas intrinsecamente um homem bom)poderia lançar as bases para uma nova era de fraternidade universal.
abril 07, 2005
COMUNHÃO E CONTRADIÇÃO
Hoje, por dever de Amizade, assisti a uma reunião de preparação para uma acção católica. E devo dizer que se me acentuou a ideia de que a Igreja Católica se encontra numa situação muito próxima da do Partido Comunista: estando impossibilitada de mudar de acordo com os tempos para não perder a sua identidade, vê a cada dia diminuir o número de fieis muito por culpa desse mesmo imobilismo. Pior, a redução de vocações leva - como no PCP - a aproveitar todos os que ficam - tenham ou não capacidades para evangelizar ou para servir de exemplo à comunidade.
Digo-vos que assistir a um penoso, disperso e incoerente discurso de uma hora seguido de uma ríspida admoestação aos presentes não fez nada bem à minha tolerância ecuménica.
Digo-vos que assistir a um penoso, disperso e incoerente discurso de uma hora seguido de uma ríspida admoestação aos presentes não fez nada bem à minha tolerância ecuménica.
abril 06, 2005
abril 03, 2005
JP II
Passam pela enésima vez imagens de arquivo no canal que agora a minha televisão sintoniza. Perante as diversas imagens do Papa durante os anos do seu apostolado, o que me atingiu como uma revelação foi a imagem plena de morte que nós carregamos durante a vida: o nosso corpo é um mapa claro desse caminhar inevitável, lento e seguro, para a degradação dos tecidos, dos órgãos, dos sentidos, às vezes do espírito. E chocou-me a constatação de que estes últimos 26 anos aconteceram num ápice: em 78 acabava o liceu; em 82 emocionei-me contra vontade quando o vi passar no Saldanha (em 82 era um universitário apaixonado em vão por quem me não queria) e por essa altura ouvia à minha professora alemã falar do sonho impossível da reunificação; em 89, recém-casado, julgava-me um iluminado racional e a caminho de uma fulgurante carreira profissional; nos anos 90 achei uma traição a falta de um beijo na pátria timorense por quem (achava eu) coerente se devia manter (e à minha vida sobrepôs-se uma monotonia tão grande que não dei pela rápida passagem dos anos). E na sua última visita achei uma extrapolação de algum modo forçada a explicação do 3º segredo de Fátima com a sua experiência pessoal.
Nestes últimos anos, admirei a sua coragem, a lucidez que mantinha apesar da doença, ainda que me parecesse perigosamente no fio da navalha, numa ténue linha entre a coerência dos seus valores e a clarividência de continuar uma Real Politik que permitisse à Igreja Romana manter o estatuto de referência moral e política. Sempre difícil.
Agora morreu. Caminhou para o Paraíso segundo os cristãos, extinguiu-se fisicamente na perspectiva dos restantes ainda que tenha ganho o direito à imortalidade dos livros de História. E com a sua morte sinto que ficou para trás mais um bocadinho de mim.
Nestes últimos anos, admirei a sua coragem, a lucidez que mantinha apesar da doença, ainda que me parecesse perigosamente no fio da navalha, numa ténue linha entre a coerência dos seus valores e a clarividência de continuar uma Real Politik que permitisse à Igreja Romana manter o estatuto de referência moral e política. Sempre difícil.
Agora morreu. Caminhou para o Paraíso segundo os cristãos, extinguiu-se fisicamente na perspectiva dos restantes ainda que tenha ganho o direito à imortalidade dos livros de História. E com a sua morte sinto que ficou para trás mais um bocadinho de mim.
JP II
Quem são estes dois homens que, contraditórios na imagem, me olham com mais de vinte anos de intervalo? Pode o tempo reinventar em tão pouco? Entre a figura desempenada, segura de si, calorosa e magestática (a nós portugueses fica-nos sempre bem o culto pela autoridade) e o homem alquebrado pela doença e pela degradação física trazida pela idade que a vontade férrea não conseguia mais disfarçar ficam apenas pouco mais de duas décadas. Mas que décadas!
Fica o fim do século XX - não o fim ditado pelo calendário mas o fim da organização política mundial fundada pelo século, o fim das ideologias, o primado absoluto da materialidade. E para um Papa que, contra a urgência contemporânea de adequação da sua Igreja aos valores actuais, sempre se bateu pela manutenção dos seus valores - fossem eles os da defesa intransigente da vida humana (e em campos tão diversos como são os da contracepção, do aborto, da eutanásia ou da denúncia de atropelos das liberdades individuais ou da exploração dos mais pobres) ou da manutenção das tradições eclesiásticas - talvez a mais irónica, a mais desalentadora nota do seu pontificado seja a da derrota desta visão de um mundo mais espiritual, mais justo, mais cristão, naquilo que a mensagem cristã tem de mais universal e que é comum a todas as outras grandes religiões.
E eis como um texto que comecei com uma intenção autobiográfica se transforma numa reflexão sobre o bem e o mal.
Fica o fim do século XX - não o fim ditado pelo calendário mas o fim da organização política mundial fundada pelo século, o fim das ideologias, o primado absoluto da materialidade. E para um Papa que, contra a urgência contemporânea de adequação da sua Igreja aos valores actuais, sempre se bateu pela manutenção dos seus valores - fossem eles os da defesa intransigente da vida humana (e em campos tão diversos como são os da contracepção, do aborto, da eutanásia ou da denúncia de atropelos das liberdades individuais ou da exploração dos mais pobres) ou da manutenção das tradições eclesiásticas - talvez a mais irónica, a mais desalentadora nota do seu pontificado seja a da derrota desta visão de um mundo mais espiritual, mais justo, mais cristão, naquilo que a mensagem cristã tem de mais universal e que é comum a todas as outras grandes religiões.
E eis como um texto que comecei com uma intenção autobiográfica se transforma numa reflexão sobre o bem e o mal.
abril 01, 2005
PORTUGAL NO CORAÇÃO
Choveu brevemente no princípio da semana, trazendo alguma esperança aos que ainda restam no sector primário deste país.
Um novo rurality show começou, trazendo alegria aos muitos primários que ainda restam neste país.
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