Agora que parece confirmar-se a notícia da extrema-unção dada a João Paulo II e que as especulações acerca dos seus possíveis sucessores começam a circular com mais intensidade, recordo uma "ferroada" que um jesuíta amigo me contou há muitos anos:
"Deus aparece a João Paulo II durante as suas orações e concede-lhe a resposta a três perguntas.
Sua Santidade pergunta:
- Será que algum dia as mulheres serão ordenadas padres?
- Meu filho, responde-lhe Deus, isso não acontecerá durante a tua vida.
- E será que algum dia o comunismo dominará o mundo?
- Meu filho, isso não acontecerá durante a vida dos homens.
Mais animado, o Papa avança uma pergunta mais pessoal:
- E quando voltará a haver um Papa polaco?
-Ah meu filho, responde Deus com ar grave, isso não acontecerá na minha vida!"
A ferroada justificava-se. No pontificado do presente pontífice, a Companhia de Jesus foi perdendo o poder e influência que sempre deteve na Cúria Romana (apesar do voto que todo o jesuíta faz de não ocupar cargos de poder eclesiástico) a favor de uma entidade que lhe é tão intrínsecamente antagónica como a Opus Dei.
Será muito interessante de seguir a silenciosa disputa de poder que se seguirá ao falecimento do presente Papa. Conseguirá a obra de Deus assegurar o lugar para um dos que lhe são favoráveis? Assistiremos à sua substituição pela emergente Comunhão e Libertação? Ou uma vaga de fundo dos que ainda preferem a palavra de Jesus à palavra da intolerância colocará na cadeira de Pedro um reformista progressista?
E como as personalidades deste país persistem em ser hipóteses para lugares-chave internacionais, será que, quando o Habemus Papa! fôr triunfantemente declamado da varanda do Vaticano, teremos a satisfação de ver assomar como tal o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo?
março 31, 2005
POPULICES
"O povo já se manifestou no mês passado; agora só precisamos dele outra vez para as próximas eleições."
É assim que eu traduzo a mais recente tomada de posição do PCP na questão do aborto, defendendo a revogação da lei vigente pelo Parlamento e descartando a hipótese do referendo.
Aliás, os referendos só são bons quando as sondagens nos são favoráveis, não é?
É assim que eu traduzo a mais recente tomada de posição do PCP na questão do aborto, defendendo a revogação da lei vigente pelo Parlamento e descartando a hipótese do referendo.
Aliás, os referendos só são bons quando as sondagens nos são favoráveis, não é?
março 29, 2005
CADERNO DE VIAGEM - NORTE ALENTEJANO (XIII)
Cabeço de Vide: as termas serão um meio importante de manter a vida nesta aldeia do Alentejo menos visitado. Estavam fechadas, neste Inverno desesperado por uma gota de chuva e inundado de Sol.

Interessante esta edificação, avistada do castelo. Turismo rural? Requintes para uma casa particular de quem pode? Arquitecto agricultor?
Gostava de saber.

Interessante esta edificação, avistada do castelo. Turismo rural? Requintes para uma casa particular de quem pode? Arquitecto agricultor?
Gostava de saber.

PROPAGANDA
Para além da discussão teológica e da validade do dogma, fica a tremenda eficácia da máquina de propaganda do Estado Novo - sessenta e cinco anos depois e o cartaz ainda está em forma.
março 26, 2005
CADERNO DE VIAGEM - NORTE ALENTEJANO (XII)
Talvez por ter sido solo para tantos locais de adoração, perduram no Alentejo esta infindável influência fálica:





março 25, 2005
1/PRINCÍPIO DE PETER
Portugal, do alto da sua originalidade de país com as mais antigas fronteiras delimitadas do mundo, insiste em inverter um dos princípios mais universais que rege a vida das organizações: o princípio de Peter.
Com efeito, se cada vez parece mais consensual que toda a gente é promovida até à sua máxima incompetência, a carreira pública dos políticos portugueses mais ilustres encarrega-se de demonstrar precisamente o axioma inverso - só após um máximo de incompetência é que a verdadeira competência se manifesta.
Vejam-se os exemplos mais paradigmáticos:
- Mário Soares que, de primeiro-ministro razoavelmente incompetente, garante a promoção a Presidente da República;
- Jorge Sampaio que, de presidente da Câmara de Lisboa sofrível (compare-se a sua actuação com a do seu sucessor), garante igualmente a sua promoção ao mais alto cargo da República;
- Durão Barroso que, de primeiro-ministro falhado e fujão, obtém a sua promoção à presidência da Comissão Europeia;
- E agora António Guterres que, de primeiro-ministro mole e desistente, está na calha para alto-comissário da ONU para os Refugiados.
(E ainda falta conhecer-se o destino de Santana Lopes...)
Com efeito, se cada vez parece mais consensual que toda a gente é promovida até à sua máxima incompetência, a carreira pública dos políticos portugueses mais ilustres encarrega-se de demonstrar precisamente o axioma inverso - só após um máximo de incompetência é que a verdadeira competência se manifesta.
Vejam-se os exemplos mais paradigmáticos:
- Mário Soares que, de primeiro-ministro razoavelmente incompetente, garante a promoção a Presidente da República;
- Jorge Sampaio que, de presidente da Câmara de Lisboa sofrível (compare-se a sua actuação com a do seu sucessor), garante igualmente a sua promoção ao mais alto cargo da República;
- Durão Barroso que, de primeiro-ministro falhado e fujão, obtém a sua promoção à presidência da Comissão Europeia;
- E agora António Guterres que, de primeiro-ministro mole e desistente, está na calha para alto-comissário da ONU para os Refugiados.
(E ainda falta conhecer-se o destino de Santana Lopes...)
março 23, 2005
PLANETA GLASGOW
Os blogs são como as folhas das árvores - uns mais perenes do que os outros. Eu gosto de ler muitos, de estar com eles, de seguir os passos de quem os faz. E fico triste quando se vão, folhas caídas em rios sem retorno.
Recentemente, tive uma boa surpresa com uma portuguesa que vive longe e se dá ao trabalho de manter laços com os que ainda ficaram. Dava-se, porque a sua escrita parou por aqui (e nem posso indicar o link, porque o corte foi tão radical que acabou com o endereço).
Mandou-me uma mensagem de despedida simpática e muito bonita e eu resolvi fazer-lhe a maldade de publicar as fotografias que me enviou. Curiosa temática, fotografias do renascer, numa carta de despedida:



Recentemente, tive uma boa surpresa com uma portuguesa que vive longe e se dá ao trabalho de manter laços com os que ainda ficaram. Dava-se, porque a sua escrita parou por aqui (e nem posso indicar o link, porque o corte foi tão radical que acabou com o endereço).
Mandou-me uma mensagem de despedida simpática e muito bonita e eu resolvi fazer-lhe a maldade de publicar as fotografias que me enviou. Curiosa temática, fotografias do renascer, numa carta de despedida:
PRIMAVERA DE GLASGOW (ou como deBlogar se VOAVA longe)



(all pics: copyright by Veronica N.)
março 22, 2005
AND THE OSCAR GOES TO
CADERNO DE VIAGEM - NORTE ALENTEJANO (X)
Se isto não é o arquétipo do alentejo profundo, então não sei qual será:

CADERNO DE VIAGEM - NORTE ALENTEJANO (IX)
Faço um desvio da estrada principal, em direcção a Cabeço de Vide. Orientar-me-à este masoquista destino português de contemplar um passado em ruínas? Li algures que a estação ferroviária local morre lentamente abandonada, possuidora de um dos mais característicos conjunto de paineis de azulejos das estações da CP.

Afinal os textos perdem actualidade, por uma vez pela positiva. A estação está toda recuperada para albergar uma pousada. E os azulejos brilham, na sua singeleza naif, retratos de um Portugal que, há muito, se quis assim idealizado. Não sei se chegou a ser. Sei que já não é.





Afinal os textos perdem actualidade, por uma vez pela positiva. A estação está toda recuperada para albergar uma pousada. E os azulejos brilham, na sua singeleza naif, retratos de um Portugal que, há muito, se quis assim idealizado. Não sei se chegou a ser. Sei que já não é.





março 21, 2005
INTERESSES
"Passou-se alguma coisa de muito interessante nos últimos minutos aí na Assembleia?", pergunta o pivot da SICNotícias à repórter que cobre o debate do programa do Governo.
Para a esmagadora maioria dos portugueses não se passa nada de interessante no hemiciclo há muuuuuuitos anos.
Para a esmagadora maioria dos portugueses não se passa nada de interessante no hemiciclo há muuuuuuitos anos.
março 20, 2005
RACKETING
Recentemente, um amigo viu ser-lhe chumbado um projecto de alterações para um edifício de sua propriedade situado numa zona cada vez mais apetecível da cidade, com base em razões puramente subjectivas e altamente discutíveis do ponto de vista técnico. Fosse este meu amigo um total leigo na matéria e a redacção da apreciação do projecto feita pelos técnicos camarários e respectivas chefias teria originado, no mínimo, umas horas de discussão tensa com os autores do projecto em torno da sua efectiva competência para executar projectos. Felizmente este não é o caso e as coisas lá foram resolvidas com alguns contorcionismos de desenho e concepção para acomodar as bizantinices do relatório camarário.
Tudo isto não acrescentaria nada à já longa e antiquíssima história das relações entre projectistas, as autarquias deste país e seus respectivos técnicos.
Novidade, novidade, é este meu amigo ter sido contactado, menos de uma semana depois do "chumbo", por alguém muito interessado em comprar-lhe o imóvel, supostamente um mono sem préstimo nem possibilidade de sofrer obras de aumento de área.
Coincidência, sem dúvida.
Tudo isto não acrescentaria nada à já longa e antiquíssima história das relações entre projectistas, as autarquias deste país e seus respectivos técnicos.
Novidade, novidade, é este meu amigo ter sido contactado, menos de uma semana depois do "chumbo", por alguém muito interessado em comprar-lhe o imóvel, supostamente um mono sem préstimo nem possibilidade de sofrer obras de aumento de área.
Coincidência, sem dúvida.
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (XIII) - DESVARIOS
Desde sempre, um dos objectivos do pelouro da Reabilitação Urbana da Câmara de Lisboa foi o da melhoria das condições de habitabilidade dos fogos e edifícios implantados na sua área de intervenção. Tal melhoria implicava a introdução - quer nas obras coercivas quer nas obras municipais, quer nas obras efectuadas ao abrigo do RECRIA quer nas obras particulares - de, entre outras benfeitorias, instalações sanitárias que comportassem, pelo menos, uma base de chuveiro, uma sanita e um lavatório. E como era elevado o número de fogos (principalmente em Alfama e na Mouraria) de fogos que as não possuiam de raiz!
Apesar de todos os progressos efectuados em matéria de legislação sobre qualidade construtiva (através da introdução de regulamentos sobre redes de águas e esgotos, de electricidade, de telefones, de condicionantes térmicos e acústicos, de prevenção de incêndios), Portugal mantém em efectividade (ainda que com actualizações) um regulamento de edificações urbanas (RGEU)que data dos anos cinquenta do século passado. O que, entre outros, levanta - para quem lhe quiser pegar - o problema da total incompatibilidade de medidas mínimas pensadas para edifícios novos quando aplicadas à reabilitação de edifícios existentes. Traduzindo, um projecto de alterações de um edifício de construção anterior à entrada em vigor do RGEU, corre o risco de ser chumbado porque variados itens não cumprem (nem nunca poderão cumprir) o previsto na legislação.
Ridículo? Claro. Não existe bom-senso para perceber a especificidade destes casos? Até agora tem existido.
Até agora.
Recentemente, a Direcção Municipal de Gestão Urbanística chumbou a emissão de licenças de utilização de fogos objecto de obras recentes. Razão? Não cumpriam o RGEU na totalidade (entre outras razões, porque as casas-de-banho introduzidas não tinhas as áreas mínimas da lei). Curiosidade: os fogos "chumbados" estão todos implantados em áreas históricas e as obras ou foram aprovadas pelos serviços da câmara ou foram, em alguns casos, obras coercivas ou municipais. Curiosidade maior: a Direcção Municipal da Gestão Urbana também o é da Reabilitação (DMGRU), pelouro de onde sairam as tais indicações iniciais para a introdução das casas-de-banho.
Terá tudo isto algumas coisa a ver com as guerras de poder que agitam os bastidores e que há muito ultrapassaram a guerrilha ideológica e partidária inicial da mudança de côr política da vereação?
Apesar de todos os progressos efectuados em matéria de legislação sobre qualidade construtiva (através da introdução de regulamentos sobre redes de águas e esgotos, de electricidade, de telefones, de condicionantes térmicos e acústicos, de prevenção de incêndios), Portugal mantém em efectividade (ainda que com actualizações) um regulamento de edificações urbanas (RGEU)que data dos anos cinquenta do século passado. O que, entre outros, levanta - para quem lhe quiser pegar - o problema da total incompatibilidade de medidas mínimas pensadas para edifícios novos quando aplicadas à reabilitação de edifícios existentes. Traduzindo, um projecto de alterações de um edifício de construção anterior à entrada em vigor do RGEU, corre o risco de ser chumbado porque variados itens não cumprem (nem nunca poderão cumprir) o previsto na legislação.
Ridículo? Claro. Não existe bom-senso para perceber a especificidade destes casos? Até agora tem existido.
Até agora.
Recentemente, a Direcção Municipal de Gestão Urbanística chumbou a emissão de licenças de utilização de fogos objecto de obras recentes. Razão? Não cumpriam o RGEU na totalidade (entre outras razões, porque as casas-de-banho introduzidas não tinhas as áreas mínimas da lei). Curiosidade: os fogos "chumbados" estão todos implantados em áreas históricas e as obras ou foram aprovadas pelos serviços da câmara ou foram, em alguns casos, obras coercivas ou municipais. Curiosidade maior: a Direcção Municipal da Gestão Urbana também o é da Reabilitação (DMGRU), pelouro de onde sairam as tais indicações iniciais para a introdução das casas-de-banho.
Terá tudo isto algumas coisa a ver com as guerras de poder que agitam os bastidores e que há muito ultrapassaram a guerrilha ideológica e partidária inicial da mudança de côr política da vereação?
março 18, 2005
JURÁSSICO
Quando um investigador do futuro se debruçar sobre a música popular produzida pela cultura ocidental na década de setenta do século vinte terá provavelmente a mesma reacção que sentimos hoje quando ouvimos estas variações tailandesas sobre a mesma. (Página geral da tv tailandesa)
Só não sei é explicar que tipo de reacção temos...
[link com mais explicações aqui]
Só não sei é explicar que tipo de reacção temos...
[link com mais explicações aqui]
QUANTO MAIS MELHOR
O Governo pretende estender a escolariedade obrigatória até aos 18 anos.
Quando o PCP mandava no pelouro da reabilitação urbana da Câmara de Lisboa, o então director municipal insistia que uma das obrigações principais do pelouro era impedir que os moradores abandonassem os Bairros Históricos. Para além de ninguém ter conseguido definir eficazmente a política a seguir para atingir tal desiderato, nunca percebi qual o objectivo pretendido a menos que submersa, houvesse uma intenção de os transformar em Gulags ou reavivar-lhes o seu passado de Guetos. Na altura defendi que, sendo a sociedade portuguesa uma sociedade democrática e, de alguma forma, liberal, cada um era livre de construir o seu destino (o que incluía a escolha do seu lugar de residência) desde que cumprisse as leis vigentes e não pusesse em causa os direitos dos seus concidadãos. Proporcionem-se condições para que habitar os Bairros históricos seja agradável e ninguém quererá sair de lá.O problema com a escolariedade obrigatória parece-me o mesmo, ou seja, coloca-se a enfâse na obrigatoriedade de frequência para supostamente se conseguir uma educação à força, ao invés de, através das melhores oportunidades de trabalho proporcionadas por uma educação de maior nível, criar a apetência pela prossecução dos estudos.
O que vem sucedendo na educação no Portugal pós-25 de Abril é consequência dessa obsessão: baixou-se o nível de exigência para que os filhos das classes menos favorecidas não se sentissem marginalizados pelo que se pressopunha fossem barreiras culturais demasiado altas, conseguindo-se com isso o efeito contrário - a escola não prepara, a escola não ensina, a escola não dá - mesmo a prazo - dinheiro, logo abandona-se. Segunda consequência, o afrouxar dos níveis de exigência estendeu-se ao ensino superior quer na capacidade dos alunos para apreender matéria mais aprofundada quer na capacidade que as universidades deixaram de ter de acompanhar as solicitações do exterior - gerando-se deste modo as ausências de saída profissional para inúmeras licenciaturas.
Porquê então aumentar a obrigatoriedade de frequência escolar para os 18 anos? Para além da questão programática (que é quase demagógica pelo que expus), pressuponho que ela ajudará a baixar, senão as estatísticas do desemprego, pelo menos a pressão social que tanto jovem desocupado cria. Mas, a ser assim, não valeria mais a pena estender a obrigatoriedade até à licenciatura? Pelo menos resolvia-se de uma vez por todas o nosso défice de licenciados!
março 17, 2005
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