outubro 31, 2004

AS PRESIDENCIAIS AMERICANAS

Se há jogo político em que os papeis dos eleitores estão invertidos ele é o das eleições americanas. Não tenho dúvidas de que o seu resultado afectará muito mais o futuro dos que nelas não podem participar do que o dos que terão esse direito na próxima terça-feira.
Um dos que não pode votar mas que teve uma contribuição activa foi Bin Laden, com a sua comunicação apresentada ontem via Al-Jazeera.
Terá sido este, provavelmente, o empurrão decisivo para a vitória de Bush.

outubro 30, 2004

BLOGS E PRIVACIDADE

Um dos efeitos mais marcantes que a feitura de um blog tem é a extrema curiosidade que se cria - qual governo da república - sobre tudo o que se relaciona com o mesmo. E quando refiro "que se relaciona", estou a ser literal: tudo que se mantém contacto com o blog - visitantes, notícias, links.
Se há uma coisa que este maravilhoso mundo novo informático faz bem é a capacidade de reter informação: é fácil saber quem de nós "fala" (escreve), quem nos "linka", de onde vêm quase todos os que nos visitam. Difícil, difícil, é descobrir os outros, os que não fazem parte desse "quase".
Consigo surpreender os meus amigos quando lhes falo da visita recente que fizeram a este blog - "Mas consegues saber isso? Como?" - denotando-lhes, na reacção, um susto que vai do assombramento pela "proeza" técnica ao desconforto por se sentirem controlados. Pouco a pouco, fui-me apercebendo o quanto esta curiosidade hedonista se aproxima de outros controlos. Como o que, recentemente, levou à busca judiciária à casa do autor de um Portugal profundo demais na revelação de informações supostamente abrangidas pelo segredo de justiça.
Desviei-me um pouco. Falava dos ignotos visitantes que, de moto próprio, digitam regularmente o meu endereço para - nunca o saberei com toda a certeza - lerem o que escrevo, o que penso, o que sinto. Apesar da página de comentários e do endereço de e-mail, optam por manter a privacidade por, discreta e incognitamente, entrar e sair, guardando para si o que daqui retiveram. É uma pena. Não sabem o quanto apreciaria ouvir os seus comentários, críticas, sugestões.
É o seu direito, o seu inalienável direito. Mas como moem a minha inata cusquice!

outubro 28, 2004

OS LEITORES (a)FEITOS AO SEU PLANETA

A propósito do REBOQUE TURNS GOURMET, escreve a Cláudia,

Pratos Nacionais? Arrisco nas migas que são confeccionadas por todo o País embora de formas distintas (feitas com pão, com broa, com pedacinhos de couve...); diria, também, o bacalhau cozido com batatas, grelos e ovo; lembro-me ainda do cozido à portuguesa, das caldeiradas de peixe e... tan na na na: (também valem sopas?!) o suculento caldo verde ;-)

As migas são, definitivamente uma hipótese. Aceito o envio de receitas. Modesto is my middle name.

A REVOLUÇÃO DE MAIO

"Adeus Manuel... e que Nossa Senhora lhe perdoe...!"

TRANSGÉNICOS

Passou relativamente ignorada a notícia de que, a partir do próximo ano, será possível cultivar-se milho transgénico em Portugal.
É natural. Casos tão transcendentais como a futura zanga de dois cunhados ou as actuais discussões entre uma socialite e uma porno star são muito mais importantes para o futuro dos portugueses dos que as possíveis perturbações físicas que as alterações genéticas dos alimentos lhes poderão causar.
Somos assim, destemidos do futuro e calhandreiros do presente.
Seria interessante, no entanto - que diabo, um pouco de informação também não fica mal! - ler qualquer coisa sobre o assunto. Eu recomendo vivamente o "Alimentos Transgénicos - Um Guia Para Consumidores Cautelosos" de Margarida Silva - doutorada em Biologia Molecular pela Universidade de Cornell - e publicado pela insuspeita (de "contaminações" antiglobalistas) Universidade Católica Editora em 2003.
Pode ser que se assustem. Ou que vão ao MacDo mais próximo afogar as mágoas.

FREITAS DO AMARAL NA RTP

Não há dúvida que a idade - apesar da perda de faculdades físicas, da gordura, da calvície, das escleroses, das rugas, do reumático, do colesterol - traz muitas coisas boas.
O Diogo Freitas do Amaral que agora conversa com Judite de Sousa é um homem equilibrado, ponderado - centrista mesmo. Um democrata. Um homem lúcido (independentemente de se concordar ou não com as suas posições). (Acabou de se reafirmar como "centrista" desde sempre).
Longe vai aquela imagem de "papão" que a presidência do partido menos à esquerda do espectro político pós-revolução lhe conferia. Isso e a voz tremelicante evocadora de uma outra fantasmagórica voz, o ar "beto" e aquele inenarrável sobretudo verde.

outubro 27, 2004

A MAIORIA ASSOBIA E MARCELO PASSA

Ainda bem que existem estas pantominas semanais para nos aliviar um pouco das preocupações nacionais.
Como seria previsível, Marcelo Rebelo de Sousa - na sua segunda missa pós-demissão - partiu para além da loiça toda, as porcelanas e os cristais, tendo ainda tempo para ridicularizar o copeiro (Rui Gomes da Silva).
Mas, ainda que tivesse alguma piada o ar desencontrado de Paes do Amaral (ainda amigo?), em declarações justificativas ao jornal da TVI, o ridículo da semana fica a cargo dos vários elementos da maioria incitados a comentar as notas do professor:
- Guilherme Silva - como o cientista que concluía que uma mosca sem asas não ouve -, impante, congratula-se por, finalmente, se ter provado não terem existido pressões políticas, só económicas - é seu o dirreito à iluminação;
- O ministro Silva, ensaia um ar firme e retira-se, abrupto, face a perguntas impertinentes dos jornalistas - é seu o direito à indignação;
- O porta-voz do PP assegura que o seu partido não tem nada a ver com isso - é seu o direito à negação;
- Já o primeiro-ministro ensaia uma pose de Estado e, à falta de melhores ideias do seu centro de comunicadores, fica calado - é seu o direito à estagnação.
Será que Jorge Sampaio continua preocupado?
E Marcelo ri, e Marcelo ri...

outubro 26, 2004

NEGRUME

Cavaco Silva confirmou, com as suas palavras desassombradas, o estado duvidoso (to say the least) da nossa economia e o futuro pouco menos que negro do país nos próximos anos.
Será que ele também faz parte da cabala?

REBOQUE TURNS GOURMET

Qual é O prato típico nacional? E qual é O prato típico de Lisboa?

Vá lá, contribuam com a vossa opinião, no Sábado tive 5 respostas diferentes de cinco pessoas. Usem o mail. Dá para repsonder melhor.

outubro 25, 2004

O VOTO ELECTRÓNICO DA FLORIDA

Depois das confusões de há quatro anos, parece ter havido um esforço sério por parte dos responsáveis para agilizar e tornar claro o modo de votação no estado do Florida. Veja-se aqui a demonstração.
(Descoberto via Diário de Lisboa)

outubro 22, 2004

NOVIDADES

Acrescentei mais um capítulo à lista de links lateral: Lusofonias. Já que espalhámos língua e um modo de descodificar o mundo por todo esse mundo (e viva o Sr. Oliveira de Figueira!) porque não procurar o retorno e descodificar o mundo através das palavras dos descendentes desses caçadores de mistérios?

Começo pelo Brasil e espero descobrir (se contribuirem com sugestões ainda melhor!) nas restantes paragens da ex-diáspora novos habitantes da língua portuguesa.

Por agora, Balaio de Siri, Carta Aberta, Carlos Damião, Coluna Extra, Diário de Lisboa (de uma ex-residente em Lisboa) - todos sediados em Florianópolis com vista para o mundo (releiam, se quiserem, o meu Caderno de Viagem sobre a ilha) -, InternETC e D Madrid (de Madrid, mas brasileira).

E mais virão, agora que a minha obsessão se virou para estes lados.

outubro 21, 2004

GOODBYE LENIN

Há vinte anos ouvia eu a uma professora alemã o reconhecimento de que, ainda que inscrita como objectivo na Constituição da República Federal Alemã, a reunificação era uma utopia.

Há 30 anos ofereciam-me estes selos, curiosidades "do lado de lá". Ainda era tempo dos amanhãs que cantarão, as paredes de Lisboa iam-se enchendo de estéticas idênticas, o povo libertava o camarada Arnaldo Matos e o agora indigitado presidente da comissão europeia, entre RGAs e frequências, planeava desvios de mobílias universitárias.

Na segunda metade do século vinte, metade da Europa ouviu ad nauseum estas palavras de ordem sem lhes saborear a verdade.

E o tempo passa e tudo se arrasta para o canto da História. Onde, finalmente, o indivíduo é apagado em favor do colectivo.

outubro 19, 2004

SÓ PERGUNTAS

Porque morre Lisboa? Porque perdeu Lisboa mais de 200 mil habitantes em 30 anos? Porque é que continua, apesar desse êxodo, a ser sede do emprego da maioria dos que a habitam perifericamente?

Como se inverte este processo?

Porque é que as pessoas continuam convencidas que é muito mais barato comprar casa nos subúrbios, apesar do acréscimo de custos de transporte?

Porque é que à esmagadora maioria dos promotores imobiliários lhes falta a cultura da diferença? Porque é que toda a gente se contenta em se endividar para o resto da vida com um produto sem qualidade? Porque é que toda a gente se resigna a morar em sítios deprimentes?

Que medidas que estratégias que acções para evitar que este estado de coisas se perpetue ad aeternum?

CHUVA

Se já não temos agricultura, porque é que continua a chover?

POIS

Hoje, na Associação 25 de Abril:
"Olha, esta parede parece uma sizada!... Esquece. Foi o Siza que fez o projecto."

outubro 18, 2004

ARQUITECTURA

De uma certa forma,o que me fascina na arquitectura é a possibilidade que ela oferece de ver o mundo por outros olhos. Não só do arquitecto que projecta a sua visão sobre a pedra (poetica maneira de descrever o riscar sobre o branco vazio do papel) mas de cada um que ocupa a casa, que a habita e a transforma numa extensão de si próprio. Nós somos o nosso mundo, o que implica que o nosso mundo é um espelho de nós.
Seguir por uma avenida de Lisboa é perceber o presente e, principalmente os passados dos que a habitaram; é ser-lhe dado a oportunidade de retirar do turbilhão de testemunhos que perduram, as emoções, os vícios, os sonhos, as angústias de todos os momentos; é poder ouvir todas as vozes. Mundos sobre mundos, sobre mundos. Camadas e camadas que podem ser deslindadas.
Como na arte antiga, nunca os arquitectos das cidades tiveram a consciência do seu papel de artistas. Eram artesãos brilhantes dos espaços, construtores de soluções, adivinhos de ocupações. E, no entanto, como lhes devemos esta múltipla construção de visões, esta oferta de respostas para a vida.
Percorrer uma avenida, uma rua, é caminhar metafórica e geometricamente - para o infinito. Quantos de nós estamos preparados para o aceitar?

VIAGEM AO PASSADO

Almoço redescoberto no "Dragão De Ouro". Restaurante chinês pré-invasão, decoração portuguesa, empregada portuguesa, é um perfeito anacronismo que merece ser acarinhado. Comida chinesa e tailandesa.
Vão pela tailandesa, vão pela chinesa, vão simplesmente porque igual espaço não encontram. Tem ainda a vantagem de não se encher de famílias de fim-de-semana, é calmo, silencioso, muito anos sessenta, avenidas novas. Pareceu-me ver uma sugestão de Alexandra Alpha, muito de fugida, não me admirei.
Vão lá, vão.

outubro 17, 2004

DORMIU? NÃO DORMIU?

Realmente... O que seria de nós, portugueses, se não fosse a atenção constante do gabinete de imagem - perdão, comunicação - do Governo? Alvo de pérfidos ataques contra o Bom Nome das Instituições e a Honra das Pessoas por parte dos orgãos de comunicação social, como a espúria notícia do Expresso de ontem (a alegada sesta do primeiro-ministro), como poderíamos manter a cabeça fria para julgar positivamente a Grande Obra que este Executivo tem vindo a desenvolver nestes últimos três meses, liderado pelo Grande Timoneiro que é o Senhor Doutor Pedro Santana Lopes?
Francamente, alegar que este Grande Homem dedicou alguns minutos do seu dia a um acto tão mesquinho como descansar é uma vergonha, uma vil acção, uma calúnia!!! Pergunto-me se não haverá nada de errado naquele jornal...

O TIO TÓNIO

Há uns dias, o Lourenço referia-se, com alguma razão, à impossibilidade das capelas mortuárias da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Até pode ser.
Mas experimentem entrar na igreja num dia de Sol e digam lá se o impacto dos raios de luz que descem sobre o altar destacando-se na penumbra do resto da sala não provoca uma sentida emoção mesmo ao mais empedernido dos ateus.

MISSA

Afinal Marcelo não resistiu muito tempo ao seu silêncio. Este Sábado, transmissão em diferido da homilia proferida ontem aos amigos jornalistas da TVI, com a amável abertura aos canais concorrentes.